Fanfic: Royal Blood | Tema: Light Novel
Meu nome é XYZ.
Meu nome é ABC.
Meu nome é fulano.
Meu nome é ciclano.
Meu nome é Mia Blaschke.
Quando nascemos nós recebemos um nome, algo que vamos levar para o resto da vida, aquilo que vai definir quem nós somos. Você já se perguntou o que as pessoas pensam sobre o seu nome? Ele representa quem você é, a sua personalidade acaba se agarrando nele. Com o tempo isso acaba se tornando algo normal, seu nome é apenas o seu nome.
Para mim, meu nome era a única coisa durante aquele inverno.
Meus pais se deitavam na neve banhados com o próprio sangue. Eles significavam tudo para mim. Eu não precisava de um lar enquanto estivesse com eles.
Os lobos vieram para comer a sua carne. Enquanto lhes despedaçavam encontraram uma carne fresca e macia.
Foi nesse momento que eu vi a morte pela primeira vez.
Meu sangue começou a correr quente, frio e como se fosse ferro. Tudo a minha volta era preto no branco e branco no preto. Minhas memórias passavam na minha frente.
Eu era nova, foi rápido.
De todo o espectro de emoções a escolha mais plausível era o medo, mas por algum motivo a única coisa que veio a minha mente era raiva.
Um dos lobos me encarava, ele era muito maior do que eu.
Todo o medo se transmutou em raiva.
A raiva fez fluir algo dentro de mim. Esse “algo” era meu poder ascendendo. Em questão de milissegundos o jogo se inverteu. Eu estava de pé vitoriosa e o lobo caído no chão cortado em pedaços. Eu não era a caça, mas sim a caçadora.
“Eu não quero morrer, então vai ter que ser você”.
Uma enorme alcateia de lobos se reuniu à minha volta. Eu sabia que não conseguiria aguentar todos, mas ia levar pelo menos a metade.
Foi então que comecei uma obra de arte naquela terra gelada.
Um quadro que usava muito vermelho. Eu chamaria de “Matando metade de uma alcateia de lobos durante uma nevasca”.
Tsc, eu não sou criativa com nomes.
Eu não tinha experiência em lutas pra saber como manter a guarda. Fazia o meu melhor, mas não conseguia evitar os dentes e garras.
Meu corpo estava completamente ferido e isso começou a me esgotar.
Em meio ao vermelho a minha volta uma figura surgiu: uma mulher, cabelos longos, corpo escultural, devia estar na casa dos vinte e cinco anos. Sua roupa, cabelos e até mesmo os olhos, eram vermelhos.
Com um único balançar de sua espada ela matou todos os lobos restantes.
*
Acordei em um chalé. O frio já não me alcançava. Sentada do meu lado havia uma garota com cabelos prateados, pele branca como a neve e olhos azuis como o céu. Usava uma touca felpuda cobrindo as orelhas, um casaco cinza, calças grossas, botas de cano alto, e luvas de lã. Era um pouco exagerado até para o frio lá fora, mais tarde descobri que aquele era seu "visual". Quando notou que eu havia acordado me recebeu de maneira calorosa, me ajudando a ficar sentada. Foi ela que havia tratado dos meus ferimentos. Seu sorriso transbordava amor e pureza. A única maneira que encontrei de como descrevê-la foi como um anjo prateado.
Em frente à cama a mulher de vermelho estava sentada em uma escrivaninha, escrevendo uma carta ou algo do tipo.
Ela sentou do meu lado e gentilmente levou minha cabeça ao seu colo. Acariciando o meu rosto ela falou de que sentia pelo o que aconteceu com meus pais, que seria algo difícil, mas eu precisava ser forte.
Aquela sensação me fez desabar em lágrimas.
Era como se estivesse deitada no colo da minha mãe.
Chorei até esgotar a última lágrima. A mulher de vermelho continuava me apoiando, fazendo seu melhor para me confortar. Seu olhar passava o conforto necessário e seus olhos eram vermelhos. Aquela era a coisa mais linda no mundo para mim.
*
Depois que consegui parar de chorar ela se apresentou como Regina Scarlet, mais conhecida como Scarlet Queen, rainha dos Thaumaturgos. Thaumaturgos? Meu pai havia falado algo sobre isso, mas não lembro o que. Em seguida ela apresentou a garota ao lado, mas de alguma maneira eu não consigo lembrar seu nome. Foi nessa hora que descobri que havia uma terceira pessoa no chalé.
A porta se abriu e então um rosto de boneca surgiu, puxando vários fios de ouro ao seu decorrer, olhos cor de mel, seu corpo era pequeno, mas não demonstrava nenhum sinal de fragilidade. Era perfeita em todos os sentidos.
Idiotas ficariam caídos pela sua beleza, mas para mim o que vinha em mente era a sua presença. A presença de um demônio. Nunca vou esquecer aquele momento, aquela sensação de medo e admiração. A única maneira que encontrei de como descrevê-la foi como um demônio dourado.
*
O restante da minha infância foi feliz. Nossa vida era baseada em treinos, missões e piqueniques com nossa mãe. Sim, nossa mãe. Eu não via Regina Scarlet como uma líder política ou algo do tipo, “mãe” era a única maneira de descrevê-la.
O tempo passou rápido e eu finalmente era feliz, mas sentia a falta de uma vida normal, como uma garota normal. Tudo aquilo era bom, mas eu sentia que havia algo ou alguém me esperando. Então tomei a decisão de abandonar minha vida como thaumaturgo e se tornar apenas uma colegial. Estudei por meses as regras da sociedade “normal” e maneiras de socializar.
Quando cheguei à nova cidade acabei me perdendo. Senti os efeitos da ausência das outras instantaneamente, afinal eu sempre seguia elas para todo lado. Tentei dar meus próprios passos, mas não chegava a lugar nenhum.
Foi quando um garoto apareceu para me ajudar. Não sei explicar o porquê, mas meu coração que era frio como minha terra se derreteu na hora como gelo jogado numa caldeira de fundição.
Segundo os livros que usei como guia, aquilo era descrito como “amor”.
*
Descobri que a sorte estava ao meu lado, pois acabei na mesma escola que ele, mas infelizmente não na mesma classe. Não foi difícil me enturmar, as pessoas da minha classe eram simpáticas e se acaso quisessem arrumar problemas eu estaria à disposição de resolver.
Entrei no clube de kendo, pois não queria parar de praticar a esgrima. Com exceção do meu professor, o restante dos alunos não oferecia desafio.
Durante os intervalos eu observava meu crush. Ele sentava com um garoto de cabelos vermelhos e uma garota que ficava me encarando de maneira estranha.
O resto da história vocês já sabem.
Sim, ele se declarou, nós estamos namorando de maneira ainda não oficial.
Bem, não dá pra começar esse tipo de relacionamentos sem conhecer direito um ao outro. Acho que alguém já falou sobre isso.
Estava tudo perfeito, mas sabem como funciona a Lei de Murphy: Qualquer coisa que possa ocorrer mal ocorrerá mal, no pior momento possível.
Foi assim que reencontrei uma velha "amiga".
Ao chegar ao colégio na segunda-feira, reconheci uma aura única e incontestável, só poderia ser "aquela pessoa". Eu não sabia o porquê, mas...
O Demônio Dourado estava no colégio.
*
Um turbilhão de pensamentos passou pela minha cabeça, ela não era o tipo de pessoa que viria fazer uma visita para uma “velha amiga” (até porque nós nunca fomos exatamente amigas), a vida das outras duas Marias se baseava apenas em fazer missões, por mais perigosas que pudessem ser.
Eu tinha um mau pressentimento em relação aquilo, consegui sentir de longe sua intenção assassina. Teria ela vindo para me eliminar?
Não, se fosse esse o caso ela não deixaria ser notada.
Ou teria deixado ser notada propositalmente para que eu pensasse dessa maneira?
Havia algo muito estranho em tudo aquilo, porque uma thaumaturgo andaria por escolas de “pessoas normais”, afinal não... Merda.
Eu não era a única thaumaturgo naquela escola. Mas quem? Acho que eu tinha uma noção.
O inútil e imprestável estorvo sem sal. Nossa mãe finalmente ia se livrar dele?
Fazia tempo que não tinha essa sensação de medo, o meu corpo inteiro tremia.
Um súbito impulso tomou conta do meu corpo e eu corri desesperada.
Quase arrombei a porta da sala ao chegar, o que normalmente faria com que todos olhassem pra mim, mas para o meu desespero a atenção de todos estava voltada à uma garota de cabelos dourados no meio da sala.
O Demônio Dourado estava aqui.
Na sua frente à janela estava quebrada, e lá fora podia se ver o rastro de sangue e um corpo sendo jogado ao horizonte.
O corpo de Pietro.
**
Vocês não acham que eu iria morrer por tão pouco né? Afinal, eu sou o protagonista.
Aonde foi que eu parei mesmo? Ah sim, a garota nova não era minha amiga de infância, mas sim o próprio demônio.
Não apenas um demônio colorido, era o próprio.
Ela era muito linda, tão linda que eu não conseguiria descrever em palavras.
Tão linda que... Eu não sei se sou capaz de falar isso. Eu realmente não consigo compreender como isso é possível, é algo que desafia as leis da química, física e da realidade em si. Eu estava vivendo um sonho, na realidade, um pesadelo. Aquilo realmente não deveria ser possível. Ela era a encarnação da heresia, o pecado mais grave da humanidade, um crime sem perdão. Ela era mais bonita que a Luna.
Meu cérebro explodiu incontáveis vezes, foi literalmente um mindblow. Toda a minha compreensão do universo se resumia em Luna é a coisa mais linda dentro dele. Nada havia quebrado minha ideologia e nada iria quebrar, mas algo quebrou. Minha vontade era ver aquela garota deixando de existir e assumir aquilo apenas como um bug na Matrix. Eu fechava meus olhos e tentava imaginar minha Deusa me cumprimentando com seu lindo sorriso, mas o que acabava vindo a minha mente era aquele olhar frio e enigmático da garota a minha frente. Tudo o que eu acreditei durante minha vida inteira havia acabado, toda minha crença se despedaçou em frente aos meus olhos.
Afinal, qual o sentido da vida?
Qual a origem da vida?
Existe algum Deus nesse mundo?
Existe vida em outros planetas?
O gato de Schroedinger está vivo ou morto afinal?
Qual a importância de Isaac Newton na física moderna?
Capitu traiu Bentinho?
Nada mais fazia sentido.
Quando voltei à cruel realidade, a garota de cabelos dourados estava se apresentando.
“Meu nome é Bella Visconti, prazer em conhecê-los”.
Teve alguma imigração em massa vinda da Europa Central?
Ela veio em minha direção. Malditos clichês, já não conversamos sobre isso não ser uma comédia romântica?
Seu olhar se manteve fixo ao nada enquanto caminhava em minha direção. Por impulso meus olhos seguiam seus movimentos. A minha percepção de tempo havia parado.
Tudo a minha volta parecia branco no preto e preto no branco. Ela parou ao lado da minha carteira. Meu coração palpitava forte.
Ela inclinou seu rosto na minha direção.
Seus olhos eram vermelhos.
Eu podia jurar que eram castanhos da cor do mel, mas eram vermelhos escarlates.
Seu olhar deixou bem claro que suas intenções comigo não eram das melhores, era uma clara e nítida intenção assassina, pela primeira vez na vida eu senti o medo da morte. Eu não tive chances de esboçar qualquer reação.
Não sei com o que, mas de alguma maneira ela me acertou em questão de segundos e meu corpo foi lançado pela janela. Eu caia lentamente sob o seu olhar.
**
Quando vi Pietro sendo atirado para fora do prédio acabei por abafar um grito, e me preparei para um eventual confronto.
Quem ataca antes se defende depois.
Eu não sei exatamente qual o nível de poder do Kogane no Akuma, mas preciso ser honesta comigo mesma. Eu sou a mais fraca das três. A questão não é exatamente a minha força, mas o fato é que os poderes das outras duas anulam completamente o meu. Naquela situação, a minha única alternativa era um ataque surpresa.
Quem ataca antes se defende depois.
Eu estava prestes a criar uma espada quando Enzo me puxou pelo braço e agarrou minha cintura. Eu estava ansiosa por aquilo, mas aquele não era o momento.
“Você não vai conseguir”
“Esperava que você tivesse mais esperança em mim”
“Ela já te percebeu”
Ele percebeu que ela me percebeu? Que? Quando notei já estávamos descendo as escadas do prédio, Enzo começou a digitar no celular enquanto corria.
“O que você pretendia fazer?”
“Quem ataca antes se defende depois, é a terceira vez que digo isso”.
“Postura ofensiva? Nada mal, mas acho que ela não tinha interesse em lutar contra você”.
“Porque ela atacou o Pietro?”
Paramos de correr e sentamos em alguns bancos próximos à saída, ele havia acabado de mandar uma mensagem pelo celular. Estávamos lado a lado.
“A Rainha Escarlate cansou da procrastinação do Pietro”.
Na verdade ela cansou já faz muito tempo.
“Ela designou o retorno imediato dele pra sociedade thaumaturgo. Bianca tentou contestar a favor dele, mas as ordens da Rainha são absolutas”.
“Mas qual a necessidade de ela estar aqui?”
“Também não sei ao certo, tudo que sei foi o que Bianca me contou. Mas se me permite um palpite, eu diria que a questão não se resume a se Pietro quer voltar ou não. É óbvio que ele iria se recusar por isso sua mãe mandou alguém como ela”.
“Tudo bem que ela fez uma apresentação de impacto, mas qual o problema dele voltar?”
“Ele voltar não é um problema, a questão aqui são as circunstâncias, alguém acabou de colocar cinco das pessoas mais fortes no planeta inteiro em um colégio normal, seis se contarem comigo, mas eu sou aquele procurando evitar que ocorra algum conflito, porque se ele acontecer eu não sei o que vai restar dessa cidade”.
Cinco? Eu sou uma delas, Enzo se colocou como a possível sexta pessoa. A Kogane no Akuma sem dúvida era uma delas. Acho que Pietro também se encaixa, mas as outras duas – a ficha finalmente caiu. Agora entendia o porquê da preocupação de Enzo. Seus olhos notaram minha reação.
“Isso não é uma coincidência do destino, é alguém brincando conosco e a única maneira de acabar com isso é falando diretamente com essa pessoa”.
Ele me estendeu seu celular com um número já discado.
Um número familiar.
O número da minha mãe.
O número da Rainha Escarlate.
**
Passei alguns segundos acreditando que era possível voar. O impacto do meu corpo contra o chão terminou de quebrar as costelas que não foram quebradas com o chute daquele demônio. Aquele lindo, deslumbrante e encantador demônio.
Ela veio ao meu encontro. Provavelmente se apaixonou por mim enquanto me encarava. Ela gentilmente me colocou uma coleira no pescoço. Gentilmente, começou a me puxar pela corrente como se eu fosse seu cachorrinho. Naquele momento eu queria ser o seu cachorrinho. O sol quente batia na minha cara enquanto eu era arrastado por uma linda garota, um cenário perfeito para romance.
“Bella?”
Fui ignorado.
“Senhorita Bella?”
Double Kill.
“Senhora Bella?”
Dois a Um. Mas pela irritação que ela mostrou acho que foi um ponto extra. Empate.
“Para onde exatamente você está me levando?”
“Casa”
“A sua? Isso é maravilhoso, mas eu sou um cara meio tímido com garotas estranhas”.
“Porque não cala a merda da boca?”
“Porque não me beija como se fosse uma italiana?”
“Eu sou italiana”
“Você nem tem sotaque”
“Prática”
“Quantas línguas você fala?”
“Todas”
“Ah, por favor, isso é impossível”.
“Não, é possível, passei pelas quatro etapas em todas as línguas não extintas, exceto as de algumas tribos indígenas e russo”.
“Você não consegue falar russo?”
Por algum motivo isso deixou ela irritada e eu fui ignorado mais uma vez.
Como vocês podem perceber eu tenho dom de ser inconveniente com as palavras.
O susto de levar um ataque de surpresa havia passado e eu finalmente comecei a colocar minha cabeça em ordem. Era realmente possível existir uma garota mais linda que Luna; Enzo havia me avisado sobre essa possibilidade à muito tempo atrás e eu simplesmente ignorei isso como um simples ato de heresia. “Luna é a mais bela e nada pode mudar isso” foi a minha filosofia de vida e frase de impacto.
Eu havia rejeitado várias garotas durante minha vida, apenas para ser fiel a uma garota que nunca me amou. Eu tomei a decisão de levar a sério essa filosofia depois de ter falhado algumas vezes com ela. Como eu falei, eu já tive meu primeiro beijo, na verdade não foi apenas um e eu não estou contando beijar meu melhor amigo nisso. Fiquei com algumas garotas aleatórias durante minha vida, pode não parecer, mas eu sou popular, afinal, quem resiste a um ruivo/ruiva? Esses beijos não vão influenciar em nada a história, apenas influenciaram o meu remorso e me fizeram me dar contar de como sou fraco. Até hoje eu constantemente falo sobre como sou apaixonado pela Luna, mas nesse exato momento tem uma garota me arrastando pelo pescoço e eu acho que ela possivelmente roubou meu coração.
Se eu tivesse a força que Luna pensa que tenho, eu gravaria no metal da minha pele o seu desenho. No entanto, sou fraco e não estou apenas usando isso como uma desculpa para flertar com outras garotas.
Eu apenas estou sendo honesto. Eu não sou o mocinho de um filme de romance. Eu sou um canalha e o máximo que posso fazer a respeito é assumir meu erro.
Luna não é a garota que eu verdadeiramente amo, depois de tanto tempo eu finalmente compreendi porque ela nunca aceitou sair comigo, porque falou tudo aquilo sobre casamentos e principalmente, porque não me deu uma resposta efetiva sobre meus sentimentos – Espere, ela me respondeu com um talvez.
A última esperança da chama que ardia em meu peito, AINDA NÃO HAVIA ACABADO e não era assim que tudo podia acabar. Tudo isso não passa de uma ilusão criada por esse demônio que está me arrastando para o inferno.
Naquele momento meu corpo se encheu de energia e eu tive força o suficiente pra me colocar de pé, enquanto gritava desesperadamente fui a encontro daquela garota para mostrar toda força de vontade que eu ainda tinha.
Ela me derrubou com um hip toss e me espancou com tapas, chutes e joelhadas.
Aquilo não era um demônio, era a chave do paraíso.
*
Era o fim da linha. O máximo que eu poderia fazer era me aproveitar da situação para contemplar aquela garota.
Uma leve brisa batia em seu cabelo, fazendo com que fios avulsos voassem, brilhando contra os raios do sol. O laço preto em seu cabelo balançava levemente.
Não conseguia ver o seu rosto devido a minha posição pouco favorável. Também não conseguia ver a parte de cima do seu corpo, mas a impressão era de que não fosse muito avantajada, já a sua cintura possuía uma forma mais definida. Pela estatura do seu corpo poderia julgar que tinha uns quinze anos, embora sua altura e seios fossem menores do que as outras garotas nessa faixa etária, ela não aparentava ser uma garota recém-púbere.
Seus cabelos eram louros, mas realmente davam a impressão de serem dourados.
Conforme meu olhar ia seguindo seu corpo eu finalmente encontrei o que me interessava. Ela estava usando uma saia até a altura dos joelhos, o que me deu a chance de observar sua roupa íntima.
Lá vem você querendo julgar minha moralidade.
Ela está me arrastando como um saco de lixo para um lugar que eu não conheço. Eu posso ser morto, estuprado, perder os meus rins no mercado negro ou ser obrigado a comer brócolis. Eu acho que é uma troca justa.
Eu observava com atenção, qualquer brisa podia ser a brecha pra conhecer a oitava maravilha do mundo. Meus olhos estavam pregados naquelas pernas se movendo, naquela altura eu já tinha perdido a capacidade de piscar.
Aqueles eram os milésimos de segundos mais preciosos da minha vida.
Mais um pouco.
Ainda não.
Quase.
Talvez agora.
Estava quase perdendo as esperanças, comecei a rezar desesperado para Bóreas.
Eu só queria um pouco, apenas um frame para guardar na minha memória e poder contar aos meus netos sobre aquela explosão de felicidade.
Apenas um misero fragmento do tempo e espaço. Talvez rezar para Bóreas seja inútil? Quem sabe aquela garota mágica arqueira, talvez ela me livre do labirinto dessa bruxa. Se bem me lembro, Bóreas nem ao menos era adorado na Grécia Antiga, ou era? Realmente não consigo me lembrar, minha cabeça está totalmente ocupada com essa saia preta. Está na altura dos joelhos, isso é considerado minissaia? Também não sei dizer. APENAS QUERO QUE ELA SE MOVA LEVEMENTE PARA CIMA.
Oito horas, treze minutos, quarenta segundos, alguns milésimos de segundos.
Jamais vou esquecer aquela sensação ou aquela cena.
Senti uma leve brisa na ponta dos pés e consequentemente percorrendo meu corpo. Finalmente minha prece se cumpriu. Meus olhos se manteriam fixos sem perder nada.
A leve brisa gentilmente acariciou aquele pano sem reflexão e o puxou para cima.
Ao alto de suas coxas definidas finalmente encontrei o ápice da minha existência.
Eu vi, eu finalmente vi.
Sua cor era –
“Certas coisas os leitores não precisam saber”
– Fui espancado novamente. Toda a dor possível não atingiria minha felicidade.
Bóreas e aquela garota mágica acabam de ganhar um devoto.
*
Finalmente estávamos chegando ao portão do colégio. Nosso colégio não é tão grande assim, mas pelo tempo que levou desde ser arremessado pela janela até agora parece que demos alguma volta pelo colégio. Teria ela se perdido no meio do caminho? Não tem muito segredo, ela teria que ser péssima com direções pra não encontrar o caminho de volta. No fim, acho que foi apenas a minha noção de tempo que parou.
Já era possível ver a saída e os possíveis mistérios que me aguardavam, mas o clima mudou de repente. O que antes era apenas uma cena cômica com sadomasoquismo, agora era um clima realmente sério.
Havia algo nos observando ao longe e algo se aproximando lentamente. Dava pra ouvir uma música de tragédia na orquestra ao fundo. O clima se solidou denso e sombrio.
Por alguns segundos, o silêncio reinou. Bella começou a se mover cautelosamente.
Era a calmaria antes da tempestade.
*
“Essa não é uma maneira educada de se tratar um irmão”
Eu conhecia aquela voz.
“Talvez eu deva lhe reeducar, Kogane no Akuma”.
Isso é demônio dourado em japonês certo? Acho que é um título justificável.
“Seria um prazer, irmãzinha”.
Uma silhueta conhecida surgiu das sombras à nossa frente. Aquele rosto que eu conhecia muito bem e aquele sorriso que alegrava meu coração todos os dias.
Bianca Scarlet.
Agora eu finalmente entendi o que estava acontecendo. A garota de cabelos dourados na minha frente era ninguém menos que a Primeira Maria ou “A Demônio Dourado” como era conhecida. Ela deve ter vindo a mando de minha mãe para que eu voltasse ao reino ou algo do tipo. Não é a primeira vez que ela tenta fazer isso, mas dessa vez eu não conseguiria evitar. Não apenas pela força, mas eu iria para aonde esse demônio me puxasse sem ao menos reclamar. O que me preocupa nessa situação é que Bianca não vai entregar o irmão tão fácil para a “vadia que roubou minha mãe”, seja lá o que ela pensa sobre as outras Marias. O conflito parece ser inevitável.
“Eu vou conversar com ‘nossa mãe’ para deixar Pietro pelo menos por mais um tempo, eu já estou terminando de convencer ela, então pra evitar que você faça um trabalho em vão, apenas espere um pouco, Okay?”
Bianca puxou seu celular e tudo seria resolvido de maneira pacífica, mas Bella não queria sair dali de mãos abanando, por isso escolheu as piores (ou melhores?) palavras possíveis.
“Okay, irmãzinha. Ou deveria dizer... Quarta Maria?”
Bianca sorriu, levantou a cabeça e lançou um olhar medonho para Bella.
Alguém havia tirado o capuz da Senhora Morte.
“Você tem coragem, vaquinha dourada”.
“Você também, puta de ferro”.
“Vocês não vão me deixar fora da brincadeira, vão?”
Essa última fala não foi minha. Mas eu também conhecia essa voz muito bem.
Como se o pior dos meus pesadelos se tornasse realidade, outra “silhuete misteriosa” surgiu no cenário e começou a se mover em nossa direção.
Seu sorriso malicioso, seu olhar frustrado pela ausência de atenção recebida em seu retorno. Formou-se então um novo triângulo mortal. O triângulo das calcinhas?
Bianca e Bella além de um nome de dupla sertaneja raiz, também representava dois dos maiores perigos da humanidade (na verdade, thaumaturgidade?), mas elas não chegavam perto da nova garota introduzida de forma conveniente na história.
A cruel.
A insana.
A devoradora de sonhos.
A destruidora de infâncias.
A macabra.
A doentia.
A desprezível.
A fujoshi.
Milena de Gasperi.
*
Uma irmã, uma amiga e uma paixão. As três garotas na minha volta estavam prontas pra matar uma à outra em uma luta caótica e apocalíptica. O caos estava instalado. A princípio Bianca e Milena iriam cooperar para lidar com Bella, mas conhecendo o temperamento das duas elas acabariam se empolgando e atacando uma a outra.
Aquilo era mais tenso que um clímax de novela mexicana, as três trocavam olhares entre si freneticamente, esperando pelo primeiro movimento da outra pra começar a “brincadeira”. Nada que eu pudesse falar ou fazer seria capaz de intervir em algo daquele tipo. Tudo que podia fazer era esperar por um milagre ou dar meu melhor pra minimizar os danos, no caso a primeira opção.
Bella estendeu sua mão à frente e de alguma maneira começou a materializar uma arma. Era uma lança? Não, era uma foice? Não, era uma...
Alabarda.
Nunca achei que meu conhecimento sobre armas brancas seria útil. Foi graças a este conhecimento que eu sei denominar aquilo como uma alabarda. Você não sabe o que é uma alabarda? Pesquise no G**gle.
Bella empunhou a alabarda girando-a no ar e se colocando em posição de batalha.
Milena respondeu a altura invocando suas armas favoritas: duas pistolas amadeiradas empunhadas em suas mãos, uma espada raper presa à cintura e um mosquete preso às costas através de um laço vermelho.
Bianca também reagiu, mas ainda é muito cedo pra dedurar o seu poder, mas basta dizer que ela estava de mãos limpas.
Os preparativos estavam prontos, era hora de partir pras preliminares. Eu observava tudo de camarote, sem esboçar nenhuma reação, pois bem, eu não sabia exatamente como reagir naquela situação. Eu gostaria de estar em casa deitado na minha cama.
Antes da guerra começar, soou uma música estranha. Essa música salvou nossa escola da destruição. Era Bella recebendo uma ligação.
A ligação no caso durou nada além do que alguns segundos, tempo o suficiente para a voz no telefone falar “Missão Abortada” ou algo do tipo. Bella desfez sua alabarda e abriu sua guarda. Seja lá o que foi dito no telefone, fez com que a Kogane no Akuma recuasse. Ela estava pronta pra voltar pra casa, mas nem tudo é tão simples.
Movendo-se como um vulto minha irmã surgiu na sombra de Bella e começou a abocanhar sua presa. Minha irmãzinha só precisa de uma brecha para acabar com qualquer luta, mas o Kogane no Akuma não havia abrido assim tão facilmente.
Bella saltou acima do abraço mortal de minha irmãzinha, apoiou suas mãos nos ombros de Bianca e usando a inércia do salto levou seus dois joelhos em direção as costas de minha irmã. Ela sabia da vantagem de Bianca, pois não tocou sequer um fio de cabelo dela. Venceu no seu melhor estilo de combate, e ainda por cima usou o golpe assinatura de Bianca. Uma vitória completa.
Antes que Bella partisse para um segundo combo, Milena se impôs em sua frente, travando seu caminho. Bella apenas deu as costas e seguiu seu caminho.
Na verdade, ela acabou voltando porque foi pelo lado errado.
Ela realmente era péssima com direções.
*
Depois de checar se minha irmã estava bem, fugir daquela fujoshi maldita e ser obrigado à levar Bella até ao metrô da cidade, pois é, foi uma sequência bem longa, mas extremamente resumida.
No intervalo estávamos novamente os quatro mosqueteiros reunidos de volta, mas tudo estava diferente. Eu não conseguia encarar Luna depois de ter minhas convicções rasgadas e jogadas ao lixo. Mia e Enzo me explicaram a situação, desde o que minha mãe fez nas sombras da trama e a ligação que Mia fez pedindo pra adiar meu retorno. Bianca certamente não iria gostar de saber aquilo, os seus protestos não tinham valor enquanto os de Mia eram atendidos na hora.
Mia e Enzo agora eram oficialmente namorados, depois de salvar minha juventude, Mia acabou tomando ofensiva e os dois foram pegos pelo faxineiro se amassando na sala de ciências. Os dois acabaram por assumirem seu relacionamento pra fugir da situação. Bem, na verdade todos do colégio já sabiam.
Normalmente eu seria rodeado pelos meus colegas de classe pra saber o que havia acontecido com a ”garota misteriosa”, mas pelo que entendi Bella era uma Unterwerfung por isso era fácil ocultar tudo o que aconteceu da camada da “realidade normal”. Eu sei que isso é confuso, eu também acho e assim que tiver oportunidade eu explico para todo mundo como isso funciona, mas é que as regras ainda não tem importância na história. No fim, minha rotina finalmente voltou ao normal.
**
(Em algum lugar do mundo)
Meu plano falhou. Na verdade, estava condenado a falhar desde o princípio, esse era o real objetivo dele. Mas falhou miseravelmente. Quando recebi aquela ligação, tive que parar a brincadeira antes de começar. Você sabe muito bem do que eu estou falando não é mesmo? Poderia aplaudir sua sagacidade, mas é o mínimo que espero de você.
Aquela voz misteriosa voltou a me atormentar. Não tinha qualquer característica pra deixar rastros, não era feminina ou masculina, velha ou nova, era apenas um ruído estranho no ar. Talvez, não fosse humana.
“Satisfeita? Eu falei que isso acabaria acontecendo”.
“Eu sei, mas você melhor do que eu deveria saber como é divertido assistir aos humanos. São tão magníficos, indigentes, curiosos, misteriosos, eles realmente conseguem prender sua atenção. Quando estão no auge da juventude é ainda mais emocionante”.
“Realmente é divertido, mas acho que não foi algo de impacto suficiente pra história”.
A figura na minha frente carregava uma máscara esquisita cheia de círculos representando o sistema solar.
Eu não podia ver seu rosto, mas sabia que estava sorrindo.
“Então o que você sugere?”
“Deixe-me dirigir os próximos capítulos e eu garanto uma boa reviravolta”.
“Pretende matar alguém?”
“Não... exatamente”
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Houve então uma guerra nos céus.
Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram.
Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus.
O grande dragão foi lançado fora.
Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo.
Ele e os seus anjos foram lançados a terra.
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Autor(a): killernokto
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Cinquenta e duas horas, treze minutos e zero segundos após a primeira aparição do Demônio Dourado e três horas, doze minutos e cinco segundos para a segunda aparição do demônio dourado. * Eu fui abandonado. Mia e Enzo estão desfilando por ai com o título de “casal mais bonito da escola ...
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