Fanfics Brasil - Propaganda Enganosa Royal Blood

Fanfic: Royal Blood | Tema: Light Novel


Capítulo: Propaganda Enganosa

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Cinquenta e duas horas, treze minutos e zero segundos após a primeira aparição do Demônio Dourado e três horas, doze minutos e cinco segundos para a segunda aparição do demônio dourado.


 


*


 


Eu fui abandonado. Mia e Enzo estão desfilando por ai com o título de “casal mais bonito da escola”, fazendo todos à volta ficarem boquiabertos. Luna ficou em casa engripada. Pela primeira vez desde que entrei no colégio eu estou passando o intervalo sozinho. O tédio e a solidão preenchem minha alma.


Faria qualquer coisa por alguém pra conversar.


A cadeira se moveu e alguém sentou na minha frente. Alguém conhecida como Milena.


Esquece a penúltima linha. Eu consegui evitar ela o dia inteiro, mas parece que minha vida de paz e sossego acaba por aqui.


“É realmente necessário ficar me evitando?”


“Nunca dá pra saber o que você vai aprontar em seguida”


“Hã? Ser alguém surpreendente não é uma qualidade?”


“No seu caso, acho que ‘imprevisível’ se encaixa melhor”.


“As pessoas amadurecem Pietro, só porque na infância eu era uma fujoshi lunática isso não significa que vou ser assim pra sempre”.


“Então você não é mais uma?”


Ela cruzou seus dedos indicadores sobre a boca, formando um pequeno ‘x’.


“Não, eu não...”.


Talvez ela tenha razão, afinal se eu como garoto já estou me tornando um adulto, ela como garota já poderia ser considerada uma mulher. Os mesmo hormônios que irão provocar o terror em seu marido são responsáveis por um amadurecimento mais rápido. É uma questão de vantagens e desvantagens entre os gêneros, por isso as garotas se tornam mais responsáveis que os garotos na adolescência. Milena era um prodígio, não iria ficar presa nessa obsessão.


“... pelo menos não a parte ‘lunática’”.


Por alguns segundos, eu acreditei no que falei.


“Ou seja, você continua a mesma?”


“Errado. Eu ainda acho esse tipo de coisa interessante, mas não ao ponto de fazer meus dois melhores amigos de infância...”.


“PARE AI MESMO” meus reflexos seguraram firme a boca dela pra impedir que continuasse.


“Não precisa ser tão agressivo...”.


Ela corou e disfarçou o olhar para o lado.


“Acho que gostei dessa mudança. Agora estamos no mesmo patamar e o sofrimento não vai ser apenas meu”.


“Não vá interpretando meus fetiches apenas com minhas ações. O masoquista por aqui é você”.


“Tem certeza que não gostaria que eu calasse um pouco mais a sua boca?”


“Não, eu acho”


“Hey, vamos lá, gostar de ser maltratado é total e puramente conversão do impulso de dor para o de prazer. Isso é bem melhor do que as coisas bizarras que tu curtias”.


“Em primeiro lugar você tem fetiche por irmãs mais novas, incluindo a própria irmã mais nova”.


Não sei por que todos do elenco acreditam fielmente nisso.


“E em segundo lugar, homossexualismo não é ‘algo bizarro’, você está querendo arrumar pra obra um processo por homofobia? E em terceiro lugar, você deve ser daqueles que vivem reclamando de boyslove, mas na hora de se masturbar esquece que lésbicas também é homossexualismo”.


“Agora é você quem está errada. Eu absolutamente e totalmente respeito qualquer tipo de amor, mas eu sei muito bem que você não curte apenas isso”.


“Você está apenas paranoico porque se considera uma vítima”


“Podemos dar uma olhada no histórico do seu navegador da internet?”


“Não”.


“É claro que não, você poderia ao menos tentar disfarçar”.


“Recuso-me, Deus nos deu o livre arbítrio para escolhermos nosso próprio estilo de vida”


Uma bela fala de efeito para defender algo banal.


 


*


 


Ficamos conversando até o final do intervalo sobre nossos fetiches, cada um tentando convencer o outro que o seu era mais natural. Quando o intervalo acabou e novamente cada um iria para sua sala, acabei por falar automaticamente.


“Desculpa”


“Hã?”


“Me desculpe, Milena”


“Por quê?”


“Por ter tentado te evitar. Eu achei que me afastar de você seria uma boa ideia, mas no fim eu apenas esqueci como é bom estar ao seu lado”.


“Não precisa se desculpar. Boas memórias foram feitas para guardar no fundo do peito, mas não podemos ficar preso a elas, é preciso criar novas memórias. Apenas não se esqueça desses momentos para viver a nostalgia”.


“Eu prometo que não vou esquecer”.


“Pietro, você acha que o mundo inteiro gira ao seu redor, mas não vá pensando que eu também não te evitei”.


“Sério?”


“Um pouquinho’”.


Ela falou com um sorriso no rosto e piscando o olho direito pra mim.


“Eu combinei com Enzo de irmos visitar Luna hoje à noite. Durante a aula de ontem não consegui encontrar ela, durante a tarde acabei perdendo muito tempo com a mudança e hoje ela ficou engripada. Ela é a única do nosso antigo grupo que ainda não consegui reencontrar”.


“Vocês vão que horas?”


“Acho que por volta das seis, pode vir nos acompanhar, eu sei que você não perderia uma oportunidade de encontrar a sua ‘Deusa’”.


Não quis falar naquele momento, porque não havia tempo suficiente pra discutir o assunto, mas eu tinha sérias dúvidas se ela ainda ocupava essa posição.


 


*


 


Numa tentativa frustrada de demonstrar que ainda havia interesse e que Luna ainda era o amor da minha vida, tentei o meu melhor e usei de tudo que aprendi nesses anos de flerte fracassado. Deixei minha irmãzinha em casa e parti em uma jornada em busca do melhor presente possível. Ela estava engripada, então comer chocolate talvez não seja algo muito saudável, excluído.


Já que ela estava engripada levar um lenço decorado da época vitoriana talvez seja uma boa opção? Bem, eu não entendo o suficiente sobre a moda vitoriana e talvez seja necessário algo mais sutil.


Um buquê de flores? Clichê demais.


Prefiro algo diferente e inovador, por isso eu escolhi o cacto, também conhecido como a tsundere do mundo vegetal.


Chegar com um presente tão inusitado pode causar muito espanto, então pra disfarçar acho que devo levar mais alguma coisa pra acompanhar. Mas o que diabos podem agradar alguém doente? Eu nunca fiquei engripado então realmente não sei como isso funciona. Resolvi pesquisar passatempos de pessoas resfriadas na Internet.


Segundo minhas pesquisas o melhor passatempo possível é ler algum livro. Se estiver na Internet sem dúvidas é verdade. Fui até a livraria procurar por algum livro que pudesse interessa-la, se eu não me engano ela começou a ler Steampunk na semana passada.


Não conheço muitas obras desse gênero, será que ela já leu Full Metal Alchemist? Não encontrava nenhuma obra que eu conhecesse. Depois de muito procurar acabei escolhendo um livro de Sherlock Holmes, foi o que me chamou mais atenção, se acaso ela não gostar fica pra mim.


Um livro e um cacto, a combinação perfeita pra conquistar o coração de qualquer garota, todos esses anos sendo ignorado valeram pra alguma coisa. As chances de sucesso estão acima de cento e um por cento, sinta-se livre pra testar essa ideia algum dia.


Eu ainda tinha tempo de sobra até o horário marcado pra me encontrar com o restante do pessoal, por isso decidi ir direto para a casa de Luna, uma jornada ao desconhecido e inesperado, foi quando sofri outro grande choque de realidade que me fez perder a fé em mim mesmo e desabar ao chão. Em todos esses anos, eu nunca havia ido até à casa de Luna, eu nem ao menos sabia onde diabos ela morava. Luna sempre esteve comigo a vida inteira, mas eu nunca sequer havia parado para pensar onde ela descansava sua beleza quando ia embora.


Abalado psicologicamente cogitei voltar para casa, mas eu já estava no meio do caminho e retornar seria extremamente cansativo. Demonstrando como sou um símbolo de heresia, decidi ir para casa da Milena. Ela não era tão fabulosa quanto milady para receber uma visita de um gentleman como eu, mas era o endereço mais próximo que eu conhecia.


Vagando pelo deserto escaldante de asfalto, trocando o lado da rua para desviar de obstáculos, empunhando um cacto em minha mão direita e uma sacola de presentes na esquerda. Eu vagava lentamente para o destino da morte, também conhecida como Milena.


O apartamento onde Milena morava era localizado próximo a uma praça pública, com árvores enormes que concediam sombra para os visitantes. Sentei em um dos bancos da praça, próximo ao playground. Coloquei o cacto e a sacola do meu lado e entrei na caixa do vazio, passando alguns minutos olhando fixo para frente sem pensar em nada específico. Uma criança usava o balanço na minha frente, ia e voltava movendo o seu cabelo...


... Dourado.


 


*


 


Tarde demais, meu cansaço fez com que eu não processasse as informações à minha volta, não era nenhuma criança (embora o corpo ainda fosse), era ninguém mais ninguém menos que aquela conhecida como Demônio Dourado.


Seu balanço foi diminuindo a velocidade lentamente, mostrando que ela também havia percebido minha presença. Moveu rapidamente sua cabeça na minha direção, me fitando por cima de seus ombros. Os impulsos do meu modo gentleman diziam que não era muito educado sair correndo. Poderia ter ficado paralisado, mas tive forças para levantar a mão e acenar para ela. Ela freou seu balanço com os pés, ficou parada por alguns segundos, provavelmente pensando se deveria simplesmente me ignorar, e então se levantou vindo em minha direção.


Era uma visão simplesmente deslumbrante.


Seu olhar recaiu sobre mim. Não havia mais aquela áurea sombria, mas era nítida a sensação de desprezo.


“Boa Tarde, milady”.


“Milady?”


Acenei que sim com a cabeça.


“Gostaria de me fazer companhia?”


“Na verdade não, mas se eu simplesmente ignorasse você continuasse meu caminho você iria agir da mesma forma?”


“Eu acho que seria algo bem rude”


“Por qual parte exatamente?”


“Pela parte que até ontem você estava me arrastando pelo pescoço como se eu fosse um cachorro morto”.


“Você não me pareceu muito incomodado com aquilo”.


Nenhum pouco.


“Exatamente por tais motivos eu creio que podemos dar início a uma boa relação”.


“Que tipo de relação?”


“Pura e simplesmente amizade entre um garoto e uma garota”.


“Conheço muito bem tipinhos como você”.


“Devo alertá-la que já possuo conhecimento sobre esse diálogo clichê. Já vivenciei outras ocasiões como esta e o resultado foi o mesmo. No fim nenhuma garota resistiu à tentação de ter um ruivo só para si”.


“Ou seja, você é um mulherengo descarado”.


“Não exatamente, na verdade eu me preservei muito mais do que você imagina, além do mais, essa ocasião eu realmente não pretendo efetuar nenhuma iniciativa”.


Eu realmente não pretendo, eu realmente vou me dedicar a uma garota.


“Significa que já sabe que não tem chances nenhuma?”


“Infelizmente sim”.


Mesmo após entregar as cartas, ela continuou arisca como um gato.


“E porque eu seria amiga de um porco imundo como você?”


“Já tive conhecimento de comentários mais pejorativos sobre minha pessoa, mesmo assim suas palavras ainda possuem poder para ferir meus sentimentos e orgulho próprio”.


“Quem diabos vocês está tentando impressionar falando formal dessa maneira?”


“Mudança de atitude”


“Sua mudança de atitude é irritante”


“Devo pausá-la enquanto me dirijo a você?”


“Por favor, `Senhor Gentleman`”


 


*


 


“E o que exatamente você faz por aqui? Eu achei que tinha me livrado deixado você na rodoviária”.


Ela corou, deixando bem claro que estava envergonhada de falar sobre.


“Sim, você realmente me deixou”.


“E?”


“E-e-e-eu”


“Eu?”


“Eu me perdi”.


Eu realmente não sabia como digerir essa informação.


“Você está me dizendo que ao invés de entrar e comprar uma passagem pra seja lá onde você mora você conseguiu se perder no caminho e acabar parando aqui?”


“Sim”.


“Em que mundo você vive?”


“...”


“Você ao menos consegue andar uma quadra sem se perder?”


“Talvez”


“Você gostaria de comprar um GPS pessoal?”


“Fale mais alguma coisa e eu te mato, literalmente”.


“Okay. Você gostaria que eu levasse você até a rodoviária de novo e me certificasse que você ia conseguir voltar pra casa?”


“Não vai ser necessário”


“Tem certeza?”


“Sim, liguei pra uma amiga, eu estou aqui esperando ela vir me buscar”.


“Fico feliz que até mesmo alguém ácida como você consegue criar laços de amizade”.


“Eu não sou tão ácida como você está dizendo, eu só não vou com a tua cara”.


“Então porque te chamam de Demônio Dourado?”


“Sei lá, pergunte pra quem me colocou esse nome”.


“Na verdade eu tenho uma sugestão. O ‘Demônio’ é na verdade um elogio pra sua beleza algo do tipo ‘tão bela que parece um demônio’ já a parte do ‘dourado’ é por causa do seu cabelo”.


“É uma conclusão bem óbvia, mas você realmente acha que sou um demônio belo?”


“Sim”


“Vou levar isso como um elogio, dizem que quanto mais belo é um demônio mais perigoso ele é, mas pessoalmente, nunca vi nenhum que seja algo próximo do ‘belo’”.


“Você conhece demônios pessoalmente?”


“Eu mato eles”.


 


*


 


“Sua amiga vai demorar muito?”


“Eu não sei, ela precisa encontrar esse lugar”.


“ELA POR ACASO VAI REALMENTE VIR?”


“Esse tipo de coisa realmente fácil para ela, ela pode chegar a qualquer momento”.


“Ela mora aqui por perto?”


“Não, mas ela já decorou o mapa-múndi então vai saber como chegar aqui”.


Para um demônio dourado destruidor de civilizações ela é um tanto quanto ingênua.


“Sua inocência me impressiona, o mapa-múndi é apenas uma folha de papel, não tem como ela saber esse tipo de coisa”.


“A sua inocência me surpreende. Quando eu digo ‘mapa-múndi’ não estou me referindo a uma folha de papel, estou falando literalmente do mapa-múndi, estou falando do mapa do planeta inteiro. Ela decorou. Todos os detalhes, diga um endereço ou descreva um local e ela vai saber quais as possíveis localidades dele”.


“Por acaso ela é outro demônio?”


“Não exatamente, as pessoas consideram sua beleza angelical então demônio não se encaixa”.


Eu certamente estava curioso em conhecer essa tal amiga, mas no momento havia uma questão mais importante, eu queria me tornar amigo dela. Queria ver a cara me apresentando com “esse é meu amigo Pietro”, sem dúvidas a sua beleza me encantava e fazia meu coração disparar forte, mas eu estava convicto das minhas decisões e mesmo involuntariamente foi ela que despertou isso em mim novamente. Ela poderia ser a garota mais linda do mundo (e provavelmente é), mas não vai conseguir me conquistar novamente.


A garota que quase me matou ontem (o que para ela deve ter sido apenas uma segunda-feira normal), aquela que é conhecida como “demônio dourado”, a garota chamada...


?


? ? ?


“Eu realmente não consigo lembrar seu nome”


Ela me encarou pensativa provavelmente algo “como diabos ele mudou o assunto dessa maneira?”, bem a resposta é simples: poder do protagonismo.


“Pensando bem, acho que você se apresentou como Isabela alguma coisa”.


“Bella Visconti”.


“E esse é seu verdadeiro nome?”


“Não sou nenhuma espiã internacional para me apresentar com identidades falsas”


“Er... Bella Visconti gostaria de tomar um sorvete comigo?”


“Desculpa, estou esperando uma amiga”.


“Se não me engano tem uma sorveteria na esquina do outro lado da praça, você não vai perder sua amiga de vista acaso ela aparecer”.


“Prefiro não correr riscos”.


“Eu posso ir comprar enquanto você espera por aqui”.


“Não quero um favor da sua parte”.


“Que sabor você quer?”


“Chocolate”


 


*


 


Fui comprar os sorvetes e pra minha surpresa ela não aproveitou a oportunidade pra fugir, ou talvez ela tenha tentado, mas acabou se perdendo no caminho e voltado pro mesmo lugar. Estiquei a mão e mesmo relutante ela aceitou o seu sorvete.


“O que leva nessa sacola?”


“Um monte de coisas”.


“E pra quem essas coisas?”


“Aposto que não é você”.


“Isso é um livro de Sherlock Holmes?”


Não estava assim tão visível, ela com certeza andou mexendo nas minhas coisas.


“Você com certeza andou mexendo nas minhas coisas”.


“Elementar meu caro Watson”.


Oh, eu já vi essa referência.


“Você gosta de romances policiais?”


“Pra falar a verdade eu só ouvi falar sobre, é a primeira vez que pego um livro de Sherlock Holmes”.


Ela ficou claramente decepcionada por não ter encontrado alguém pra conversar sobre.


“E você gosta?”


“De Sherlock Holmes nem tanto, é um uso abusivo de Deus Ex Machina, prefiro histórias menos surrealistas, aquelas em que você pode acompanhar o ponto de vista do narrador e adivinhar o mistério por conta própria ou ver como o detetive usa apenas raciocínio pra deduzir as coisas e não um método pré-determinado”.


“Isso foi bem específico”.


“Eu estou falando de Agatha Christie”.


E eu nunca ouvi falar. Ela continuou falando despreocupadamente sobre sua paixão pela escritora enquanto eu apenas tentava focar atenção na conversa. Depois de alguns minutos ela se deu conta que eu estava boiando totalmente.


“Por que tem um cacto aqui?”


“Presente para uma amiga”


“Mas que merda de presente é esse? Você está se esforçando pra ser ‘diferentão’?”


“Também”.


“Por que não escolhe apenas um buque de rosas?”


“Clichê demais”.


“Às vezes não tem problema em ser clichê”.


“Mas um cacto não é uma escolha ruim”.


“É a porra de um cacto”.


“Sim, pode ser uma planta cheia de espinhos, que precisa de muito cuidado ao se aproximar, mas resiste aos piores cenários possíveis permanecendo intacta e principalmente: se você cuidar bem dela, poderá desfrutar da beleza do seu florescer”.


“Poético”.


“Parece alguém que eu conheço”.


“O que você quer dizer com isso?”


“Garota-cacto”.


Eu ia apanhar muito por aquela comparação ou ser insultado por alguns minutos, mas Bella foi interrompida por uma voz ao longe.


[Bella! Achei você].


Havia alguém acenando ao longe para ela, alguém vestido com roupas de inverno em plena luz do dia, alguém... Uma garota? Alguém... Linda, tão linda que podia competir com Bella. Alguém...


Eu acho que havia alguém lá. Não tenho certeza, seu rosto e até mesmo sua voz pareciam irreconhecíveis. Era como se estivesse olhando por um vidro embaçado e ouvindo alguém falar enquanto usava fones de ouvido com música alta.


Eu não conseguia mais ver ou ouvir aquele alguém, era como se estivesse sido apagada da minha mente no momento em que eu tirava os olhos dela.


Eu acho que... Eu apenas deduzi que havia alguém lá, mas não havia realmente alguém.


Mas para Bella aquele alguém era visível, audível e compreensível.


Desnorteado com aquele alguém não consegui raciocinar quando Bella me apresentou como “meu mais novo amigo Pietro Scarlet”.


[Muito prazer em conhecê-lo, Irmãozinho].


O alguém me fez lembrar, tecnicamente eu e Bella somos irmãos, então se ela me chamou assim é porque somos irmãos também? Irmã da Bella? Não.


Acho que nessa altura vocês já entenderam quem era ela, mas assim como vocês eu ainda não consigo entender ela: A Terceira Maria.


É a única conclusão lógica, afinal ela ainda não havia dado as caras e mesmo agora em minha frente, eu não era capaz de ver ela.


A única coisa que me restou a fazer foi chamar a atenção da Bella e lhe entregar um presente. Luna me desculpe, mas ela vai ter que aceitar apenas o livro, eu entreguei o cacto nas mãos do demônio dourado, que me encarou com uma cara estranha.


“Combina com você”.


A minha visão se escurecia enquanto eu deitava no banco, a última coisa que consiga me lembrar foi a conversa das duas ao meu lado.


[Acho que o nocauteei sem querer]


“Sem problemas, daqui uns cinco minutos ele se acorda, eu também acabei fazendo isso com metade da escola dele”.


[Acho que vamos embora então]


“Sim, tchau irmão... Zinho”.


[Tchauzinho irmão]


Fiquei desacordado por um tempo quando uma moça loira me acordou. Eu não havia sonhado, mas acordei em um pesadelo.


 


*


 


“Quer dizer que você teve encontros sobrenaturais e acabou dormindo no banco da praça?”


“Isso mesmo”.


“Você continua o mesmo Pietro”.


“Você também continua a mesma Milena, pode me explicar porque tem um pôster do Enzo na sala de estar?”


“Esse pôster não é meu”.


“O pôster é meu”.


Mia saiu do seu quarto, ela estava recém-acordada e com olheiras horríveis.


“Algum problema com as minhas decorações?”


“Eu acho que não”.


“Achou bem”.


Tenho medo de até que ponto essa relação pode chegar.


- - -  


Não vai chegar tão longe assim como ele estava pensando. Na verdade nossa relação estava cada dia melhor. Era como se nós tivéssemos nascidos um para o outro. Confesso que também sentia medo da relação estar indo rápido demais e do fato de ser boa demais, mas toda vez que essas coisas vinham à minha cabeça, Enzo acabava me ligando por estar preocupado com o mesmo tipo de coisa. Erámos perfeitos demais até para a perfeição.


“Que porra você tá fazendo com a minha narrativa sua emo gótica?”


“Eu posso narrar a história tão bem quanto você, não se lembra da introdução do segundo capítulo?”


“Você não pode fazer isso quando eu estou em cena!”


“Eu posso fazer isso a qualquer momento”


“Tanto faz, mas agora é a minha vez”.


Infelizmente tenho que concordar com ele, essa sequência e muito menos esse capítulo teria necessidade disso, mas depois que comecei a namorar o Enzo parece que perdemos o foco dentro da história (ele principalmente), então é bom ter a atenção para si de vez em quando.


Mas como o momento realmente é dele, não vou mais interferir, Hasta La Vista Baby.


- - –


Isso foi estranho. Muito estranho.


“Preciso ir ao banheiro”.


Milena apontou para o corredor a sua esquerda. Passando pelo corredor vi duas portas com vários anúncios de “NÃO ENTRE”. Eu não vou entrar, eu apenas quero me aliviar.


Mas é claro que depois de me aliviar eu vou ceder à curiosidade e entrar em um dos quartos delas. Mia era namorada do meu melhor amigo então é melhor não invadir coisas que ele ainda não invadiu. Por mais que eu fosse encontrar algum conteúdo homossexual no quarto de Milena, era algo tolerável, o que me interessava é o que estava depois disso.


O que eu não conseguiria imaginar é que o conteúdo homossexual era muito maior do que eu imaginava. Era algo totalmente explícito. Minha cabeça foi preenchida por cenas obscenas entre homens sem censura alguma.


O asco era tanto que eu não conseguia me mover. Foi quando uma mão surgiu no meu ombro direito e eu apaguei novamente.


 


*


 


Quando Enzo chegou ao apartamento das meninas me encontrou pendurado no teto por uma corda em plena sala de estar.


Eu o recepcionei com um sorriso e ele retribuiu.


Após passar alguns minutos conversando finalmente me desceram da maneira mais gentil possível. NÃO Estávamos todos prontos para ir visitar a casa da Luna.


Caminhamos por uns trinta minutos conversando alegremente. Era uma sensação nostálgica. Embora Mia não fosse parte do nosso grupo na infância ela havia se encaixado perfeitamente conosco. Só faltava a minha garota, Luna Gaigher.


Enquanto conversava fui tentando decorar o caminho para poder visita-la na hora que quisesse, mas eu não sabia que aquilo era totalmente inútil. Sua casa era comum, mas era grande e possuía dois andares. Não tivemos resposta alguma. Talvez Luna estivesse dormindo e seus pais ocupados, mas havia um clima sombrio na casa dos Gaigher.


Me encostei no portão para descansar e foi quando ele caiu junto comigo. Foi quando notamos que o cadeado estava arrombado. Nós quatro fomos tomados pelo desespero e saímos em disparada. Enzo arrombou a porta com a investida da corrida enquanto eu e as garotas saltamos por cima dele. Gritávamos pelo nome de Luna, mas não havia resposta alguma. Dividimo-nos em duplas e começamos a procurar pela casa. Eu segui junto de Milena, passando pela cozinha, um dos banheiros até chegar ao quarto dos seus pais.


A cena que nós vimos ao abrir a porta era grotesca. Eu nunca cheguei a conhecer os pais de Luna e nunca teria o prazer, pois no momento os dois não passavam de um embolado de carne e vísceras no chão. Milena resistiu, mas eu acabei vomitando no corredor.


Escrito com o sangue deles havia um endereço e um horário “Rua Cleveland, Zona Oeste, 00h00min”.


Todos estavam cientes da situação, ninguém queria ver Luna morta e seja lá quem havia feito aquilo, iria pagar muito caro.


Pensamos em bolar algum tipo de plano, mas não sabíamos quem era nossos inimigos e muito menos o que se esperar deles. Acabamos por fazendo o que o roteiro pedia.


Esperamos no local indicado, apreensivos com o que nos aguardava. Era pontualmente meia-noite quando surgiram vários sujeitos com máscaras aleatórias andando calmamente pela rua. No fundo havia aquele que devia liderar o bando, usando vestes escuras e uma máscara que simbolizava o sistema solar. Ele trazia Luna em sua frente e empunhava uma faca contra o pescoço dela.


“Larguem as arm. -“.


Antes mesmo que ele tivesse tempo de concluir alguma frase Milena disparou contra, mas ele desviou e o tiro pegou de raspão.


“TENTE MAIS ALGUMA GRACINHA E ELA MORRE. Eu não vim aqui pra essas brincadeiras de criança, vocês realmente acham que eu não fiz preparativos pra qualquer tipo de situação?”


Ficamos em silêncio.


“Vocês já se perguntaram como se começa uma boa história?”


Continuamos em silêncio.


“Com um assassinato”.


Nós estávamos prestes a romper o silêncio, mas fomos interrompidos.


“NÃO FALAM UMA PALAVRA SEQUER. Vocês entenderam errada a situação. Sequestradores? Revolucionários? Estamos muito além de algo tão simples. Eu não vim aqui pra conversar, o único motivo foi pra que vocês pudessem testemunhar o começo do fim. Em breve o mundo se tornará em caos, eu já vi esse clima várias vezes, afinal, fui eu quem deu a partida pra todos esses ‘apocalipses’. Meus atos não possuem nenhum sentido e nem foram feitos para ter algum. Vocês ficam atordoados sem entender ‘mas que merda está acontecendo?’, procuram entender quem eu sou, quem é a pessoa atrás da máscara ou algo do tipo. Não existe ninguém atrás dessa máscara. A hora de despertar chegou, mas certas pessoas precisam ficar fora do mapa por algum tempo. Esse sacrifício não será em vão”.


Suas palavras não faziam sentido, a única conclusão é que era algum grupo de lunáticos, só precisávamos esperar para o momento correto de entrar em ação.


Mas esse momento não chegou.


O homem com máscara de sistema solar começou a conclusão do seu monólogo.


“Não se preocupem, quando tudo chegar ao fim, vocês finalmente iram notar que tudo isso acontece por algum motivo. Guardem bem minhas palavras. Humanos, thaumaturgos, todos irão perecer em breve, todos vão ser engolidos em um mar de sangue. O fim acabou de começar”.


Nenhum de nós poderia prever o que o lunático poderia fazer e por mais poderosos que fossemos, não houve tempo algum de reação.


Pela segunda vez em minha vida, o mundo era branco no preto e preto no branco.


Os lábios de Luna se moveram pela última vez formando um “Desculpa”.


A ponta da faca se moveu contra seu pescoço e seu sangue começou a jorrar.


A garota da minha vida, a garota que eu tanto amei, havia acabado de morrer em minha frente. Toda a nossa vida juntos agora era um sonho distante.


Eu fui totalmente impotente. Todo esse tempo, eu sempre fui impotente e ela sabia disso.


Todos ficaram chocados com a cena. O corpo de Luna lentamente tocava o chão.


Eu olhei para Enzo e implorei como um cão.


“Por favor”.


Pela primeira vez, Enzo retirou a adaga de meu coração e eu finalmente pude extrapolar.


Eu não lembro o que exatamente aconteceu a seguir, mas começando pelo mascarado com a faca, começou a chover sangue.


Uma pintura com sangue... Humano.


Todos aqueles que carregavam máscaras se tornaram poças de sangue na minha mão.


Os outros tentaram salvar Luna, mas era tarde demais, havia sido um golpe fatal.


Coloquei o corpo de Luna no meu colo e as lágrimas do meu rosto começaram a se misturar com a chuva.


Nada daquilo fazia sentido algum.


O fim do mundo? A humanidade engolida em um mar de sangue? Nada daquilo me importava.


Nada daquilo fazia sentido algum.


Do que me importa ser um humano normal se a minha garota não está comigo?


Nada daquilo fazia sentido algum.


Mas algo eu havia entendido, seja lá quem eram eles, eu iria matar todos, um por um.


O REI FINALMENTEACORDOU PARA MATAR.



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Autor(a): killernokto

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Janelas quebradas, portas arrombadas e tecidos ardendo em chamas. O cenário era de absoluto caos. Observando com seus pequenos e vívidos olhos, uma pequena garotinha via tudo aquilo com desprezo. Andando lentamente pelos corredores inundados de sangue e imundícies, no que um dia já havia sido algo no mínimo limpo e organizado. Era um local ...


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