Fanfic: Onde Você Está Agora? - Vondy | Tema: Vondy

  Versão da Autora:

 -Eu ainda não entendo o motivo dela ter terminado com você, não faz sentido!- Dul exclama irritada e Nick lhe dá um sorriso de desculpas e da de ombros, as meninas não sabiam do jeito maníaco de sua ex, elas achavam que ela só era tímida e na dela e por isso não gostava que eles saíssem em grupo, muito diferente da realidade.

 A ex de Nick apenas não suportava pensar em Dulce e May, imaginando com qual delas o namorado a traía. Ela não suportava a ideia de ficar perto delas sem colocá-las na parede, e Nick era bom demais pra deixar as amigas sofrerem com o ciúmes da namorada. Ex-namorada.

 -Ela achava que eu estava traindo ela- explica calmo, ocultando apenas com quem ela achava que ele a traía, Dulce faz uma careta e bufa debochada, ela conhecia Nick o suficiente pra saber que ele era o homem mais fiel da terra- Não quero falar disso, mudança de assunto?- pergunta esperançoso e Dul concorda, mesmo que estivesse se coçando pra saber mais.

 A noite estava parada demais e até agora não tinham tido nenhuma chamada urgente no hospital, o que era bom claro, menos pessoas entre a vida e a morte, mas ruim pra quem tinha que trabalhar com isso.

 -Oi crianças!- May diz chegando animada e os dois acenam em comprimento, May se recosta no balcão junto com eles e também fica olhando pro pronto-socorro praticamente vazio, apenas com alguns leitos com pacientes com pequenos machucados, alguns bêbados e algum parente discutindo com uma enfermeira- Tá calmo demais hoje né?- pergunta desanimada, mas assim que pronuncia essas palavras o celular dos três tocam relatando que uma ambulância estava chegando.

 -Não!- Dul sussurra assim que os amigos correm pra fora do pronto-socorro pra esperar a ambulância e Dul recebe mais uma mensagem notificando o que tinha acontecido com a vítima.

  “Mulher negra. 23/24 anos. Grávida de 7 meses. Vítima de estupro e espancamento coletivo.”

 -Não!- repete horrorizada e quando ouve a sirene da ambulância corre desesperada pra fora do pronto-socorro junto com May e Nick, que quando veem sua expressão apavorada ficam preocupados e Dul acena com o celular- Estupraram uma mulher grávida!- explica com a voz rouca e eles arregalam os olhos e May olha pra amiga preocupada, Dulce sempre ficava emocionada e aterrorizada quando eles recebiam ocorrências de estupro, era sempre difícil pra ela.

 -Você quer ficar fora?- May pergunta preocupada, mas Dulce nega firme e com o olhar em chamas.

 -Eu quero ajudar essa mulher e esse bebê!- rebate séria e May concorda junto com Nick, que mesmo tendo descoberto a história no dia anterior, já sabia que a amiga era sensível a casos como esses.

 Eles viraram as cabeças quando a ambulância vira na esquina e poucos segundos depois para na frente deles. Os três correm e abrem as portas, deixando os paramédicos saírem com a maca e Dulce se controla pra não chorar ao ver o rosto na mulher irreconhecível e cheio de sangue e cortes. Ela mal nota quando seu chefe passa por ela e começa a perguntar o relatório completo enquanto vão com a maca pra dentro do hospital.

  Versão da Dulce:

 -Foi encontrada caída em um beco a quatro quadras daqui, um pedestre viu e chamou o 190. Várias costelas quebradas, hemorragia interna e possível falência de órgãos, tem 7 meses de gravidez e não conseguimos descobrir sua identidade - narra o paramédico como um robô.

 -Ela vai precisar de uma cesariana de emergência, chamem a ginecologista e pediatra de plantão. Saviñon e Perroni estão no caso, VAMOS!- Dr. Lucas grita acima do barulho das vozes e máquinas, eu e May não exitamos e corremos pro lado da mulher e começamos os procedimentos básicos.

 Checo seu pulso: fraco. Vejo a reação das pupilas: minímas. Vejo sua garganta: liberada e sem obstrução. May sai correndo pra pedir os exames necessários e eu continuo com a checagem, apertando certos pontos e anotando tudo, até que sinto um aperto no meu braço que me faz pular. Olho pro meu braço e vejo a mão da paciente me segurando com força, olho em sua direção e dois olhos verdes me encaram suplicantes.

 -Meu bebê- sussurra com dificuldade e eu em inclino em sua direção com lágrimas nos olhos, sabendo que eu faria a mesma pergunta, não me preocupando com mais ninguém além do meu filho.

 -Estamos fazendo os exames, mas vamos ter que fazer uma cesariana de emergência, a senhora está muito machucada. Mas você e o bebê vão ficar bem!- prometo mesmo sem ter nenhuma certeza, a mulher estava muito machucada, mas ela nega e me aperta com força, mas não a ponto de machucar.

 -O bebê… primeiro- diz com a voz falha e eu quase não entendo, mas assim que as palavras ficam compreensíveis eu concordo com o coração na boca e ela me dá um sorriso, seus dentes cheios de sangue fresco- É uma garotinha, se… se chama Luna, era… o nome da minha mãe- explica com os olhos cheios e eu concordo tentando não chorar.

 -Entendi, eu preciso saber o seu nome!- digo suplicante e ela nega.

 -Luna… só se preocupe… com ela, por favor!- pede soluçando e antes que eu consiga dizer alguma coisa, a ginecologista e a pediatra chegam e me tiram do caminho com um empurrão e começam a examiná-la.

 -Marque a sala de operações Saviñon, AGORA!- grita a última parte e eu corro pra for antes que uma das duas consigam dizer mais alguma coisa.

 -Bisturi!- pede a médica e eu lhe entrego na hora, a vendo cortar a barriga na vertical e depois me entregar de volta quando a abre completamente- Parece que vamos ver uma menininha vir para o mundo hoje Dul- a ginecologista diz com um sorriso e eu tento retribuir, mas muito preocupada com as duas pra isso.

 Depois de alguns segundos vejo a mágica acontecer e ela tirar o bebê de dentro do útero com um sorriso e me entregando com cuidado, corro e a coloco dentro da maca testando sua respiração e preocupada com ela por não chorar, verifico tudo e nada.

 -Por favor, chore!- imploro baixinho e pressiono seu nariz com cuidado e acontece, a menininha solta um grito potente e começa a chorar, mas a única coisa que eu faço é respirar aliviada e admito, limpar uma lágrima que conseguiu fugir- Isso Luna, você vai ficar bem!- digo com carinho e passando a mão por seu cabelo manchado de sangue e ela para de chorar quase na hora.

 -Muito bem Saviñon!- elogia a ginecologista e eu fico envergonhada e abro um pequeno sorriso, que se fecha quando o monitor cardíaco começa a apitar, mostrando altos índices- Dro/ga, ela tá tendo uma parada!- fala nervosa e eu corro de volta pra mesa de operações, mas eu não podia fazer nada e só observo enquanto May e a Dra. tentam salvar a vida daquela mulher que só queria que a filha ficasse segura.

 -Hora da morte: 2:47 da manhã- anuncia com pesar e eu abaixo a cabeça em sinal de respeito assim como todos na sala de cirurgia- Saviñon?- me chama a pediatra e eu dou um passo a frente e fico do seu lado, evitando olhar pro corpo aberto em cima da mesa- Vá lá fora e tende descobrir se os policiais acharam alguma informação de quem fez isso com essa garota- pede com a voz calma e tensa e eu concordo, mas antes de sair eu me viro.

 -Posso ficar no caso do bebê?- pergunto ansiosa e ela me olha por alguns segundos antes de concordar e eu saio da sala correndo em busca de informações.

 -Alô?- Ucker atende com a voz sonolenta pelo sono e mesmo assim eu fico sem sentir nada, apenas uma forte dor- Alô, Dul? Aconteceu alguma coisa?- pergunta preocupado e eu engulo um soluço e apoio a cabeça na parede, me arrastando até estar sentada no chão frio do corredor da pediatria.

 -Minha paciente morreu, ela foi estuprada e largada em um beco pra morrer. O estuprador nem ligou que ela estava grávida de 7 meses e a espancou e lhe estuprou, mesmo assim a polícia não tem nenhum suspeito!- desisto da minha força e começo a chorar, soluçando como uma criança, ouço Ucker se levantar da cama e começar a revirar em alguma coisa no quarto.

 -E o bebê querida?- pergunta calmo e eu sei que ele está falando desse jeito para me acalmar.

 -Ela está bem, mas agora é uma órfã porque sua mãe morreu na mesa de operações, por causa de um monstro. Por que as pessoas fazem isso Ucker?- pergunto escondendo o rosto nos braços e ele suspira e ouço ele se sentar de volta na cama.

 -Porque como você disse, elas são monstros. Só temos que agradecer que, pelo menos esse bebê sobreviveu Dul- diz tenso e eu concordo com a garganta, eu não sabia se ficaria bem se o bebê morresse também- Você quer que eu vá te buscar? São 5:54, você sai daqui a meia hora não é?- pergunta e eu concordo.

 -Por favor, eu preciso de você agora!- digo soluçando e eu concorda e se despede de mim dizendo que vai chegar o mais rápido possível.

 Fico mais uns minutos ali, só encarando a parede até que ouço um choro alto e insistente, sei que é dela no momento em que os gritos chegam aos meus ouvidos. Me levanto e corro até a área neonatal e a encontro no colo de uma enfermeira que tentava lhe fazer parar de chorar, mas sem sucesso. Ela me olha sem graça quando eu me aproximo e dá de ombros apontando pras mamadeiras.

 -Ela não tá com fome e não tá suja, acho que é cólicas mesmo!- explica e eu apenas olho pra Luna, que estava com lágrimas nos olhos e com a boquinha bem aberta em um grito agoniado.

 -Deixa que eu pego ela!- digo esticando os braços e ela me encara aliviada e me entrega o bebê com cuidado, que surpreende a nós duas quando para de chorar no mesmo segundo em que se aconchega no meu colo, pra logo depois bocejar e esconder o rosto no meu peito- Acho que ela só queria um pouco de carinho, pode ir agora, eu fico com ela!- tranquilizo a enfermeira e me sento em uma das poltronas, mal vejo a mulher sair, porque eu não consigo desviar o olhar daquele pequeno milagre no meu colo.