capitulo 1
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COM OS pés apoiados no parapeito baixo da janela e os tornozelos cruzados, Dulce Maria savinon se concentrou em seus dedos. Ou melhor, no esmalte nas unhas dos pés. Era de um azul intenso, a única cor vibrante em seu vestuário corporativo, de certo modo antiquado. Ela adorava o tom com uma paixão profana, mas também lhe servia a um propósito. Depois que a Preservações, sua empresa de engenharia ambiental, comemorou o primeiro ano completo operando no azul, dulce se mimou com três dias indulgentes em um spa de luxo. Ela havia comprado o esmalte para servir como um lembrete constante de que ela poderia, iria, transformar a Preservações em um sucesso. Aquela viagem tinha sido a primeira na qual ela se permitira respirar num período de mais de três anos. Mas agora, onze meses depois, ela estava apertando o cinto novamente.
Tanta coisa dependia de um e-mail da Agência de Proteção Ambiental. A Preservações fora agraciada com os contratos no terreno do Chok Resort, em Lake Washington, por seus projetos de escoamento de águas pluviais e erosão do solo. Dulce e sua equipe tinham trabalhado durante meses para criar soluções de longo prazo ambientalmente amigáveis. O planejamento deveria ser apresentado à construtora do resort, a Soberana Desenvolvimentos, em menos de uma semana. O conselho administrativo da Soberana, composto por homens velhos com dinheiro mais antigo ainda, queria uma solução barata para os problemas de escoamento e de erosão, mas também queria que o projeto fosse ecologicamente correto devido a fins fiscais e para cooptar apoio popular. Ela não podia apresentar o projeto antigo. E o mais recente? Estava totalmente coberto. Mas só se a Agência de Proteção Ambiental aprovasse os planos da Preservações. Se o fizesse, a Soberana ficaria um tanto constrangida de rejeitar a proposta.
E dulce teria o apoio do qual necessitava para convencer o CEO superconservador deles a avançar. Provavelmente. Talvez. Deus, ela tinha esperanças de que sim. Um pavor terrível, companheiro constante de dulce durante toda a negociação daquele contrato, ameaçava explodir. Pressionando o punho no diafragma, ela obrigou a respiração a se acalmar.
Só uma vez na vida seria a Princesa do Gelo desprovida de emoções que seus concorrentes a acusavam de ser. Era irônico que seu pai, Fernando savinon, fosse conhecido por seu sangue-frio nos negócios, enquanto seus colegas e concorrentes de empresas de engenharia jogavam isso na cara de dulce como se fosse um insulto.
Uma gaivota pegou uma corrente de ar e subiu à janela do quarto andar, chamando a atenção de Dulce. Nuvens baixas escondiam o horizonte de Seattle e cobriam os pedestres abaixo sob uma forte neblina. Atrás dela, o laptop tocou uma melodia. Aquele som baixinho e inócuo era o arauto de seu destino. Ela agarrou os braços da poltrona, mas não baixou os pés ou encarou o monitor. Ainda não. Dulce sabia que montar os escritórios naquela região tinha sido uma boa estratégia. Não lhe saíra barato, mas colocara a Preservações mais próxima do centro empresarial da cidade e perto das empreiteiras. A assinatura do contrato de cinco anos tinha sido um risco calculado.
– Quanto maior o risco, maior a recompensa – murmurou ela.
"Desde que o risco valha a pena."
A voz de barítono de seu pai ecoou em sua cabeça, nada bem-vinda. Particularmente agora. Vozes abafadas soavam lá fora enquanto o enxame de trabalhadores se reunia em frente à porta.
Continua....