Fanfic: •Amigas Inseparáveis•

Maite morava há três quarteirões de Any e Dilce. As duas garotas faziam o caminho atravessando e dando voltas pelas ruas e esquinas. As ruas estavam desertas, todas as casas escuras e bem trancadas.

Any achava essa quietude perturbadora. Ela dirigiu o olhar pela rua de Maite, observando a fileira de casas com suas janelas vazias. Desde que um fabricante de máquinas e um dos maiores empregadores da cidade, fechara seis meses antes, cerca de quarenta por cento das casas do Lado II estavam à venda ou para alugar e vazias. Das dez casas, somente três estavam ocupadas. Muitas das casas ainda pertenciam à Construtora Rosas. Any ouviu o pai comentar certa vez que era bom os Rosas terem tanta grana.

-         É meio arrepiante – Any sussurrou. – Estou com essa sensação, como se todas as casas estivessem nos observando.

-         Elas estão vazias Any. Ninguém mora nelas, então como podem estar nos observando? – respondeu Dulce.

Any se aproximou mais da amiga.

-         Elas devem estar vazias, mas e se não estiverem? Quer dizer, seria tão fácil para alguém se esconder em uma delas.

-         E fazer o quê? Pular para fora e agarrar alguma pobre desconhecida adolescente é? Acho que não.

Any fez uma careta pelo sarcasmo da amiga.

-         Pode acontecer. Olhe para aquelas casas no final da rua. Não há nada atrás delas, exceto os campos do velho Garza. E a da esquerda fez limite com um lote arborizado. – Any encolheu os ombros, imaginando. – Isso não lhe assusta nem um pouco Dul?

-         Não – Dulce negou com a cabeça. – Gosto que estejam vazias. Não há nenhum abelhudo curioso nos espiando da janela, ralhando conosco por atravessar seu quintal e ameaçar chamar nossos pais. Queria que todas elas estivessem vazias.

Elas chegaram na casa de Maite, bege, de dois andares com venezianas azul-escuras, e deram a volta até a parte de trás. O quarto da amiga era no segundo andar nos fundos. Por sorte, o quarto dos pais dela era do outro lado da casa.

Elas haviam feito isso antes, embora não abusassem da sorte. De todos os pais, o de Maite era o mais severo. Ele acreditava em punição como um ritual de limpeza diário. Não importava o que Maite fizesse, ela sempre fazia errado. Ele deixava claro que ela sempre o decepcionava.

Quando ela realmente o decepcionou, ele a puniu com atitudes que assustavam Any. Forçando sua filha a ficar de joelhos por horas lendo a Bíblia, humilhando-a publicamente, controlando-a de formas que iam além do que os outros pais faziam.

Any era da opinião de que o Bom Reverendo Perroni, como ela e Dulce o chamavam, era atormentado por pecado e pecaminosidade, e que ele meio que achava excitante. Não ajudava em nada o fato de Maite parecer mais uma modelo da Playboy do que uma garota normal de 15 anos. Any tbm achava que ele era um idiota completo e que Maite merecia uma pessoa mil vezes melhor do que ele como pai. Any só queria que Maite pensasse assim tbm.

Dulce esticou a mão para pegar algumas pedrinhas e jogou uma de cada vez na janela de Maite. Em minutos, Maite apareceu. Viu que eram elas, levantou a janela e pôs a cabeça para fora.

-         Meninas, o que vcs estão fazendo aqui? – ela sussurrou, depois olhou nervosamente por sobre o ombro.

Dulce deu um sorriso largo.

-         Desça e venha descobrir.

-         EU não sei – Maite olhou por sobre o ombro novamente, em seguida olhou de volta pra elas. – Papai estava bastante desconfiado esta noite. Depois que vcs saíram, fez-me muitas perguntas sobre como vc se machucou. Depois tivemos que rezar por pureza e perdão. – Ela apertou os olhos para enxergar melhor as amigas ali em baixo. – Como está sua perna Dul?

-         Dói, mas nada sério.

-         Ela levou vinte pontos – disse Any.

-         Vinte? – Maite arregalou os olhos. – Oh Dulce.

-         Esqueça a minha perna certo? Vamos, desça. – Dulce enfiou as mãos nos bolsos de trás. – Seu pai vai bater no seu traseiro mesmo se vc não vier. Ele vai achar alguma razão, vc sabe que vai.

Maite tirou seus cabelos negros do rosto e deu um sorriso largo.

-         Já que vou descer, espero que a gente pelo menos se divirta. Esperem um segundo.

Mais ou menos dois minutos depois, Maite apareceu na janela novamente, lançou-lhes um OK. Momentos depois, saiu da casa, trancando a porta atrás de si. Correu até elas.

-         Os pais de Any estão se separando – disse Dulce de uma só vez.

-         Oh meu Deus Any! – Maite virou o rosto para a amiga. – Não é verdade, não os seus pais Any!

Os olhos de Any inundaram-se de lágrimas.

-         Ele nos disse essa noite. Ele está... traindo minha mãe com a secretária dele.

-         Não! Aquela lourinha? – Andie balançou a cabeça afirmativamente e Maite a abraçou. – Isso realmente é chato Any. Sabe, sempre pensei que seus pais eram tão felizes. Tão perfeitos. Pensava que seu pai era o melhor q que vc tinha mta sorte em te-lo.

Any começou a chorar.

-         EU tbm.

-         Grande Maite. Vc a fez chorar.

-         Não quis fazer isso!

-         Bem, foi o que vc fez, oras.

Any emitiu um som que era meio riso, meio soluço, depois enxugou o nariz com as costas da mão.

-         Não é culpa da Maite. Só estou chateada, só isso.

-         Vamos sair daqui. – comandou Dulce. -, antes que o pai de Mai ou um dos fofoqueiros dos irmãos dela levante para dar uma espiada e nos veja aqui.

Foram embora, esquivando-se até que estivessem bem longe da vista da casa de Maite. Quando se aproximaram do final do beco sem saída, Any parou.

-         Esperem! – levantou a mão para silencia-las. – Estão escutando isso?

CONTINUA...