Fanfics Brasil - Capítulo 2 O sacrifício

Fanfic: O sacrifício | Tema: Policial, suspense, terror.


Capítulo: Capítulo 2

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                                                                                      1


 


         Antes de continuar, eu gostaria de me apresentar para vocês. Sou o agora ex-detetive Paulo Osório dos Santos ou simplesmente detetive Osório.


         Alguns de meus colegas e até mesmo meu capitão diziam que eu era um cara muito arrogante e muito cheio de mim e não tiro a razão deles. Estive nesta função durante vinte e cinco anos suando dia e noite arriscando minha vida para colocar bandidos atrás das grades. Foram muitos os bandidos que consegui prender e não foram apenas bandidinhos de esquina ou ladrões de galinha, coloquei muita gente graúda e poderosa na cadeia. Alguns desses criminosos estavam sendo procurados há anos por meus colegas, mas graças ao esforço que o Gio e eu tivemos eles agora estão onde devem estar.


Muitos políticos e empresários hoje estão vivendo nas cadeias por méritos meus. Claro que Gio sempre esteve ali comigo, afinal desde o inicio ele foi meu parceiro e até ele admite que muito foi feito por mim. 


         Dizem que não se deve sair por ai falando de nossos feitos, mas eu fazia isso por que já que poucos chegavam para pelo menos me dar um tapinha nas costas eu mesmo fazia isso e esse era um dos grandes motivos que me achavam arrogante e se esse foi o motivo como sei que foi, digo a eles que todos estão cobertos de razão.


         Nos meus longos anos de detetive trabalhei em inúmeros casos diferentes. Prendi quadrilhas de roubo de cargas, traficantes, empresários e políticos, acabei com corridas ilegais de carro e moto por onde circulava mais dinheiro do que muita empresa grande e prendi ao mesmo tempo em um galpão uma quadrilha de quarenta e cinco pessoas por roubo de carros, mas nenhum desses casos foi desafiador igual ao que vou contar para vocês.


Este caso não foi necessário fazer escutas e campanas. Não precisei me infiltrar em gangues e quadrilhas, não precisar formar uma gangue de motoqueiros e muito menos precisei gastar cinquenta mil reais que obviamente eu não tinha para comprar peças de um carro que eu nem sequer em foto havia visto. Só para constar, esse dinheiro me foi reembolsado após alguns meses.


Não posso falar pelo Gio ou por quem mais estava envolvido neste caso, mas para mim ele foi desafiador por ser algo sem motivo. Não que o resto dos crimes tenha alguma motivação aceitável ou que tenha sido necessário, é claro que não, pois nada é aceitável quando se comete algum crime, mas nos outros casos a morte de pessoas não era uma coisa que tinha que acontecer. É claro que acontecia assim como aconteceram muitas, pois nenhum traficante seja de drogas, armas, peças de carro ou balas de hortelã perdoa dividas, mas neste era diferente e agora quando eu contar para vocês talvez tenham a mesma sensação ruim que eu tive ou esteja dentre aqueles que acham que é mais um caso de muitos outros iguais que ocorrem por esse mundo afora.


 


                                                                                 2


 


         Ao entrar na pequena rua de paralelepípedo desnivelado por onde mal passava um carro, uma rua onde as calçadas eram estreitas e os prédios inacabados que quase ficavam no meio da rua já vimos que o que estava por vir seria no mínimo estranho.


         Paramos o carro em frente ao número noventa e cinco logo atrás da ambulância que estava cercada por curiosos querendo saber quem foi que morreu desta vez. Descemos do carro e ao olhar para o prédio já imaginei que tipo de coisa haveria lá dentro.


         Ali mesmo acendi um cigarro, o mais barato que pude achar, e entrei no prédio sendo seguido por Gio. Eu tinha quase certeza de que alguém um homem grande com muitos músculos e pouco cérebro exibindo suas tatuagens viria me pedir para apagar o cigarro, mas depois de subir dois andares comecei a achar que não viria ninguém. Afinal, eu era um policial e aquele lugar não poderia existir.


         Quando Gio e eu chegamos ao quarto e ultimo andar daquela espelunca sem reboco nas paredes, olhamos para o longo corredor do outro lado do que parecia ser uma recepção e no final dele vimos um amontoado de pessoas olhando por uma porta. Olhei para Gio que fazia uma cara de nojo para o local e apaguei meu cigarro em uma das paredes jogando o que sobrou dele pela janela sem vidros que havia logo atrás de nós.


         Caminhamos a passos largos na direção das pessoas e fomos tirando algumas pessoas que estavam no meio do caminho, muitos com puxões ou empurrões. Você pode achar que isso foi ignorância, mas neste tipo de lugar você caça ou é caçado.


         - Ei seu idiota, qual é o seu problema?


         Quando ouvi isso parei no mesmo instante e olhei para trás e vi uma menina que espero ter mais de dezoito anos com os seios nus apenas usando uma calcinha vermelha. Ela era linda, tinha olhos azuis que acho que eram lentes, mas isso não importa, cabelos compridos pretos, cintura bem desenhada e peitos maravilhosos. Sim, eu olhei para ela, foi mais forte do que eu.


         Atrás dela, quase escondido dentro do quarto com medo de achar algum conhecido, eu acho, estava um homem velho, sessenta anos talvez, barrigudo com os poucos cabelos que ainda lhe sobravam mais brancos que sua pele. Ele estava com uma cueca de couro, uma máscara e estava com um chicote na mão. Não olhei para Gio, pois eu sabia que começaríamos a rir como loucos se eu o olhasse. Fiz de tudo para esquecer isso, mas infelizmente eu não consegui.


         - Quantos anos você tem garota? – Perguntei a ela tentando olhar somente em seus olhos.


         - Vinte e três. – Ela me respondeu gaguejando.


         - Hum... Nem você acredita nisso. Sorte sua ter algo mais importante naquele quarto. Agora entre, se vista e espero que você e todas as outras já tenham sumido daqui quando eu sair daquele quarto.


         Ela não disse nada, apenas me olhou por alguns segundos e deu meia volta entrando no quarto quase derrubando o velho que estava com ela.


         Eu também dei meia volta e fui até o quarto no final do corredor. Ele era um pouco melhor do que o resto do local. As paredes eram rebocadas e pintadas, tinha um teto com gesso que parecia ser novo, cama grande e até ar-condicionado, mas o que chamou mesmo a atenção foi o que estava no chão e não era o tapete vermelho ou o piso de cerâmica que imitava madeira e sim o que estava nele.


 


                                                                                   3


 


         Gio ficou em estado de choque por alguns segundos parado na porta. Mesmo com toda aquela barba dava para ver sua boca entre aberta olhando pra o chão.


         Confesso que no inicio fiquei um pouco enjoado, mas foi por poucos minutos, logo eu já estava recuperado, assim como Gio que até acho que reagiu àquilo melhor do eu.


         - Meu Deus do céu! – Foi a primeira coisa que eu consegui dizer depois de algum tempo. – Que merda aconteceu aqui? – E essa foi a segunda, mas logo meu espanto foi substituído por raiva.


         Muita raiva posso dizer.


- Olha quem chegou! – Disse Corrêa, o primeiro a chegar ao local depois dos policiais. – “O príncipe das putas” – Ele soltou uma risada estranha, meio engasgada. – Esse é o trabalho ideal para você, meu amigo.


- Em primeiro lugar, não sou seu amigo e em segundo lugar, porque você não vai se foder, hein? Afinal este é o lugar certo.


Ele soltou aquela risada estranha novamente.


- Vá você, amigo. Afinal esse é o tipo de lugar que você gosta não é mesmo.


Enquanto ele ria, lembro-me de revirar os olhos e segurar minha vontade de enfiar um soco bem no nariz dele. Lembro que até já estava com os punhos prontos para socar ele, mas consegui me controlar.


         Senti a mão de Gio em meus ombros, logo após ele se recuperar do baque inicial, e aquelas palavras que não ajudam em nada. “Fique calmo”. Mas para a sorte de Corrêa eu já estava calmo antes mesmo de Gio intervir no assunto.


         Depois que ele parou com aquelas risadas forçadas e ridículas, olhei o mais sérios que eu pude para Corrêa tentando não demostrar toda a raiva que eu estava sentindo senão com certeza ele teria vencido essa batalha de humilhação.


         - O que houve aqui? – Perguntei a ele.


         - Pelo que consegui apurar do pessoal, estava tudo normal como sempre. O rapaz chegou à recepção, pediu uma cerveja e ficou cerca de quinze minutos sentado. Depois, como você sabe, ele foi levado até o quarto e as meninas foram “apresentadas” a ele. Tudo como sempre acontece de acordo com a dona do lugar.


         - E onde ela está?


         - Se ela disse a verdade, deve estar vomitando no banheiro da recepção ou fugiu como muitas já fizeram, pois como você já deve ter percebido este lugar está totalmente irregular. Você já conhece este lugar, Osório? – Perguntou ele com a cara de deboche que eu odiava.


         - Quem sabe nós possamos focar no que está acontecendo aqui e depois de tudo resolvido você começa a fazer as suas piadinhas sem graça.


         - Nossa! – Disse ele levantando as mãos. – Eu não quis ofender ninguém. Foi apenas uma pergunta inocente já que você adora essas putas baratas.


         Foi só o tempo de Corrêa fechar a boca e minha mão já estava segurando a camisa de marca dele na altura do peito. Empurrei-o até a parede e olhei bem no fundo dos olhos dele. Tive que olhar para cima, pois ele era bem mais alto do que eu, mas quem aparentemente estava com medo era ele, já que ele não passava de um bosta medroso que adora fazer piadas, mas não segura às próprias broncas. Ele estava à apenas seis meses na rua como detetive e já acha que é grande coisa, mas não passa de um burocrata medroso que estava há mais de dez anos atrás de uma mesa e por causa do casamento dele com a filha do chefe achava que podia faze e falar qualquer coisa. Mas não para mim.


         - Acho bom você medir bem suas palavras ou vai ter que aprender a falar por sinais, está me entendendo seu idiota. – Disse com o meu rosto o mais perto possível do dele praticamente espumando pela boca. Claro que eu não faria mais do que isso, mas Gio me puxou na hora certa.


         - Vai com calma Osório, não vale a pena, você sabe.


         Eu olhei para Corrêa que arrumava sua camisa branca com listras rosa que deve ter custado o que gasto com comida por mês. Mas quando se é sustentado pela esposa rica, por seus méritos é claro, pois Rosa sempre foi estudiosa e não tem culpa de ter casado com um idiota, e trabalha como policial apenas para “ver as coisas acontecerem” fica fácil.


         Ele aproximou-se de mim e esticou o braço para me entregar o pequeno bloco com algumas anotações, que eu não peguei de imediato, onde ele avia feito. Na maioria eram rabiscos do que as pessoas que estavam ali disseram para ele, mas nada que tivesse muita serventia e é óbvio que eu faria as minhas próprias perguntas.


         - Foi você que me chamou aqui?


         - Sim. – Disse ele.


         - E porque fez isso? Porque não pegou o caso para você?


         - Está na cara, não está? “Príncipe das putas” – Disse ele jogando o bloco de capa marrom em meu peito e saindo tranquilamente pela porta do quarto.


         Fiquei observando ele até que ele virasse para a direita no corredor e fosse, acredito, para a saída do prédio sem, reboco, sem algumas janelas e sem dignidade alguma.


         - Você não sabe a raiva que tenho desse cara Gio.


         - Se a minha raiva é muito grande, fico imaginando o tamanho da sua. – Disse ele voltando a olhar para o chão.


         Os enfermeiros da ambulância também já haviam descido, pois não havia nada o que eles pudessem fazer ficando apenas nós quatro dentro do quarto. Gio, eu, o assassino e a prostituta.         



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Autor(a): J.M.S. Efferon

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