Fanfics Brasil - Capítulo 3 O sacrifício

Fanfic: O sacrifício | Tema: Policial, suspense, terror.


Capítulo: Capítulo 3

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                                                                                       1


 


         Se havia alguém em toda corporação de quem eu realmente não gostava era dele. Juliano Batista Corrêa. Um cara todo “engomadinho” metido a “sabe tudo”, mas que na verdade ainda só estava na corporação por causa de seu sogro. Por algumas vezes fiquei de “sair na porrada” com ele, mas Gio me segurou em muitas dessas vezes e meu emprego na grande maioria.


         O fato de ele me ter colocado neste caso, que no começo para mim era apenas mais um descobrindo apenas dias depois que era no mínimo o mais estranho de minha vida como detetive, não muda o fato de ele ser um completo babaca.


         Ele me passou este caso apenas por dois motivos: O primeiro é que para ele, assim como para mim no começo, era mais um caso de assassinado seguido de suicídio e o segundo era por causa do apelido que ele me chamou quando chegamos ao puteiro de quinta classe. “O príncipe das putas”.


         O que posso dizer para vocês, é que de certa forma foi até bom que ele não quisesse ficar com esse caso e não digo isso hoje sabendo o caso que ele se tornou, mas sim por saber que Corrêa não teria capacidade para resolvê-lo, ele não faria o esforço necessário para resolvê-lo. Mas eu e Gio sim.


 Eu realmente poderia ter sido chamado para este caso apenas pelo fato de Gio e eu termos resolvido um caso semelhante há mais ou menos dois anos, mas se tratando de Corrêa tenho certeza de que não foi por isso que ele me colocou no caso e também não foi porque ele achava que este seria um caso pequeno. Foi por outro motivo que começa ao resolver os assassinatos anteriores.


Agora pensando, talvez, eu tenha tido sorte em pegar este caso em 2015 já que o caso de 2017 tem muitas semelhanças com ele e me ajudou a resolvê-lo. Na época não foi assim que pensei e agora vou contar como foi na época.


 


                                                                                     2


 


Era 13 de março de 2015 e eu estava sentado em minha mesa terminando de preencher os relatórios do último caso que deveria ter sido entregue à quase uma semana, mas fui enrolando para fazer e eu sabia que Gio não o faria, não sei nem se ele sabia escrever.


A tinta da caneta que estava escrevendo havia terminado bem no meio do que eu estava escrevendo e comecei a revirar por cima de minha mesa à procura de alguma outra caneta que eu sabia que estava por ali, mas como minha organização não a melhor eu não estava a encontrando. Passei a mão por cima da papelada que havia na minha mesa e em um pequeno descuido bati com minha mão esquerda na xícara cheia de café preto muito forte e sem açúcar que por um milagre não foi derramado por cima de tudo o que estava ali.


Ainda à procura de uma caneta, baixei a cabeça e comecei a procurar dentro de minhas gavetas, que assim como minha mesa era uma total bagunça, e depois de algum tempo consegui resgatar da última delas bem lá no fundo uma caneta de cor azul.


Quando voltei a olhar para cima, meu capitão estava parado em frente a minha mesa e como sempre não estava com uma cara das melhores. Ele olhava para minha bagunça e balançava a cabeça negativamente com as duas mãos na cintura onde em uma delas, na direita, segurava duas pastas.


Primeiro imaginei que ele estava em minha frente à espera do relatório que eu havia prometido entregar a ele antes de ontem, mas ainda não estava acabado, mas só depois vi que esse não era o real motivo.


- Eu já estou terminando o relatório capitão. Em menos de uma hora ele estará em sua mesa. – Falei para ele que pareceu não ouvir.


Ele jogou por cima de tudo que já estava jogado ali na minha mesa as pastas que trazia em sua mão e ainda sem mostrar um sorriso, que ele nunca mostrou para ser sincero, começou a me falar sobre os casos que tinha nas pastas.


- Temos dois casos importantes para resolver nestas pastas e você ficará com um deles. No primeiro temos um grupo especializado em roubos a joalherias, principalmente em shopping center. Pelo que sabemos eles são bons e rápidos e você provavelmente terá que fazer algumas campanas e escutas para acha-los.  No outro caso temos a morte de quatro prostitutas. Nesse temos o retrato falado do suspeito a aparentemente ele age sempre da mesma forma. Acredito que este será rápido para resolver.


É como dizem: “Não é porque algo parece fácil quer dizer que ele realmente seja.” E isso é uma grande verdade e esse caso chegou até mim para comprovar isso. Não que este tenha realmente um caso difícil de resolver, mas ele me trouxe uma grande exaustão. Talvez tudo o que passei seria passado de qualquer forma e com qualquer caso, mas acho que ele fez com que tudo acontecesse mais rápido do que era para acontecer.


- Eu posso mesmo escolher? – Perguntei desconfiado para o capitão Pereira que estava exatamente na mesma pose de quando chegou.


- Sim Osório, você pode escolher qualquer um dos dois casos, mas seja rápido antes que eu mude de ideia.


Não pensei muito, eu já sabia qual eu iria escolher.


- Fico com o do assassinato das prostitutas.


- Está bem. – Disse ele pegando o outro arquivo de cima de minha mesa e saindo em direção a sua sala.


- Por que o senhor está me dando à opção de escolher o caso. O senhor nunca faz isso? – Perguntei a ele que parou e virou novamente para mim vindo até minha mesa.


- Você é bom Osório, não como negar isso. Mas também é inegável que quando o caso é arrastado e você demora em resolver sua paciência diminui e você fica insuportável e no último caso que você trabalhou você encheu tanto o meu saco que isso me custou os últimos cabelos pretos da minha cabeça. Então por sorte você pegou o mais “fácil” – Ele fez o sinal de aspas com os dedos – e eu por sorte vou manter os cabelos do saco ainda pretos por mais algum tempo. Agora ache seu parceiro, arrume esse lixo de mesa e me entregue a porra do relatório até às dezessete horas. – Disse ele e saiu para sua sala sem ao menos deixar eu responder algo para ele. Claro que eu não falaria nada que não fosse Sim senhor.


  


                                                                                         3


 


         Apesar de ter apenas preenchido a papelada eu me sentia como se tivesse corrido o dia inteiro, eu estava exausto. Normalmente eu me sentia assim quando não estava nas ruas com algum caso e ficava apenas no escritório. Para muitos eu era um cara estranho, mas apenas gostava de fazer meu trabalho.


         Já estava escuro quando cheguei em casa, passava das oito horas da noite quando estacionei meu carro sedã 1998 quatro portas em frente à minha casa de cerca de ferro pintado de preto que ficava em condomínio fechado. A casa não era nada de mais, era uma casa de dois pisos de alvenaria de 120m² em um terreno padrão 7x25 pintada de azul com portas e janelas de madeira pintados de branco. Meu pátio era todo de basalto sem grama em parte alguma, pois eu odiava cortar grama, tinha apenas um canteiro no costado do muro onde Bia plantava suas flores e algumas verduras. Falando assim parece que eu era um homem com dinheiro, mas não. Bia e eu tínhamos uma boa poupança, mas boa parte de nosso dinheiro foi gasto com escola e faculdade para nossos dois filhos. Luísa era a mais velha, na época ela tinha 25 anos e era formada em medicina. Henrique, o mais novo, tinha 22 anos e estava cursando engenharia civil. Os dois eram ótimos no que faziam e cada centavo que gastamos em seus estudos forma muito bem investidos.


         No geral, minha saúde financeira não era ruim, só não podia me dar certos luxos, mas minha casa tinha tudo o que eu precisava e naquele momento um bom banho frio era o que eu mais queria.


         Como sempre, deixei o carro dentro da garagem, peguei os sacos de lixo que Bia havia deixado ao lado da garagem e os coloquei na lixeira como fazia toda segunda, quarta e sexta à noite para não haver correria quando os lixeiros passavam pela manhã. Entrei em casa pela porta da garagem que dava na sala de estar em frente à porta da cozinha e desde a garagem consegui sentir o perfume da comida que Bia preparava. Meu estômago roncava de fome e depois do banho eu iria “detonar” no mínimo dois pratos de comida. Era o que eu pensava.


         Entrei na cozinha e Bia estava na pia de costas para a porta e a abracei por trás lhe dando um beijo no pescoço achando que ganharia um sorriso, mas o que ganhei foi um “oi” meio abafado.


         - O que houve amor? – Pergunte com certo espanto para Bia.


         - Nada. – Disse ela sem olhar para mim, mas eu sabia que havia algo. – Como foi o serviço?


         - Só papelada. – Disse puxando uma cadeira e sentando. – Fiquei o dia todo escrevendo, mas amanhã começo em um novo caso.


         - E sobre o que é?


         - Alguém está matando prostitutas.


         Ela parou de lavar a louça na hora.


         - Prostitutas? Você vai ter que entrar nesses lugares.


         - Se for preciso sim.


         - Eu não acredito nisso! – Disse ela jogando uma colher ou garfo dentro da pia. – Você realmente vai entrar nos puteiros Paulo? – Não foi preciso olhar seu rosto, era possível sentir sua raiva em sua voz.


         - Calma meu amor. É só um trabalho como todos os outros.


         - Sei. – Disse ela. – Pelo visto você já começou a trabalhar neste caso, não é mesmo?


         - Do que você está falando? – Agora eu realmente estava confuso.


         - Porque chegou a essa hora em casa?


         - Amor, - Disse eu tentando acalmar as coisas. - você sabe que quarta sim quarta não os rapazes e eu vamos ao “Araras” tomar umas cervejas. Fazemos isso há cinco anos.


         - E há cinco anos você sabe que eu não gosto disso. Sabe que sou contra de você sair por aí com seus amigos para ficar bebendo. – Ela ainda não havia virado para mim e eu sentia a raiva dela aumentando. Bia era extremamente ciumenta.


         - Sair por aí? Como assim sair por aí? – Eu comecei a ficar nervoso. Eu perdia a paciência com muita facilidade e Bia e eu estávamos tendo alguns atritos nos últimos meses, anos talvez. Não era apenas a cerveja no “Araras” que a deixou brava. – O bar fica a duas quadras daqui, você pode ir a pé até lá.


         - Não me importa. Poderia ser do outro lado da rua. O que eu não gosto é de você estar sozinho em um bar com um monte de homens que eu sei que ficam procurando mulheres.


         Nós éramos entre oito amigos, eu e mais sete e três deles não gostavam muito da Bia e eu sabia disso. Bia era um pouco pavio curto, mas sempre tratou todos muito bem, mas mesmo assim eles não gostavam muito dela e uma vez eles fizeram de tudo para eu “pegar” uma mulher que sei lá de onde eles tiraram e também não sei como Bia descobriu isso. Ela também sabia que fiquei muito bravo com eles e que não quis nem conhecer a mulher e o dia que eles a levaram para o bar eu fui embora. Não tiro a razão de ela estar brava. Mas ela também deveria saber que fui fiel a ela durante todo o nosso relacionamento desde o primeiro beijo que roubei dela. Sei também que meus amigos erraram e eles me pediram mil desculpas e foram até minha casa pedir desculpas para Bia, mas ainda assim ela não gostava de me ver sair com os rapazes.


         - Isso faz cinco anos Bia. Eles já te pediram desculpas.


         - Não me interessa. Isso não me interessa. – Gritou ela já olhando para mim. – Eu não quero mais que você saia com eles.


         - Você só pode estar brincando.


         - Não Paulo. Nunca falei mais sério na minha vida.


         - Estamos juntos há 28 anos e nunca traí você, nem mesmo quando éramos namorados na adolescência e agora você acha que depois de velho e de tudo que passamos juntos eu vou fazer isso com você? Só pode esta maluca.


         Ela virou-se para a pia e não disse nada. Ficou em silêncio olhando pela janela que havia acima da pia.


         Eu fiquei sentado por mais alguns minutos batendo com os dedos em cima da mesa e isso era um sinal de que minha paciência já estava no limite e antes que a discussão começasse outra vez decidi subi para o banheiro e tomar meu banho frio que não seria mais para relaxar e sim para acalmar meus nervos.


         Não jantei junto com ela e as crianças, mas minha fome não ia embora de uma hora para outra e no meio da madrugada ataquei a geladeira.



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Autor(a): J.M.S. Efferon

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