Fanfics Brasil - Capítulo 4 O sacrifício

Fanfic: O sacrifício | Tema: Policial, suspense, terror.


Capítulo: Capítulo 4

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1


 


         Como vocês devem saber, não é fácil conseguir verbas para certas coisas e na policia isso não era diferente. Nós não tínhamos ar-condicionado eaquele dia estava muito quente, tenho certeza que estava mais quente que o inferno e minha mesa mesmo ficando quase embaixo de um ventilador de teto o suor escorria pelo meu rosto. Eu estava concentrado lendo os registros do meu novo caso quando escutei palavras animadoras ainda cedo da manhã, eram oito e vinte.


         - Cara, você está um lixo. – Disse Gio olhando para mim segurando um pastel e um copo de café.


         Depois dos vários bons dias dos quais respondi menos da metade, essa foi a primeira coisa que ouvi aquela manhã.


         - Por acaso você já se olhou no espelho? – Respondi sem olhando rapidamente para Gio voltando minha atenção para os relatórios.


         Ele arrastou alguns papeis de minha mesa para o lado com o braço abrindo um pequeno espaço largando o pastel e o copo plástico de café da forma que eu gostava. Forte, quente e sem açúcar. No inicio eu os ignorei, mas logo minha fome que era algo nunca tinha fim venceu a vontade de trabalhar e parei por alguns instantes para devorar o pastel de frango com queijo e meu café.


         - O que você tem? Você e a patroa brigaram outra vez? – Perguntou Gio com meio pastel na boca.


         No começo apenas balancei a cabeça positivamente, mas depois acabei falando com ele, afinal, ele sabia mais da minha vida do que eu mesmo.


         - Tivemos uma discussão ontem à noite quando cheguei em casa. – Disse um pouco relutante. Não gostava de falar de minha vida particular, mesmo para Gio que eu considerava da família.


         - E o que foi que aconteceu desta vez? O que você fez? – Perguntou ele rindo e eu acompanhei sem saber bem o motivo.


         - Eu não fiz nada Gio, você sabe que eu não faço nada. Como faço semana sim semana não vou a um bar perto da minha casa e tomo umas cervejas com meus amigos e ficamos botando papo fora e jogando sinuca às vezes, nada de mais, mas Bia fica furiosa com isso.


         - De certa forma – Começou ele. – Não tiro a razão dela. Afinal, foram esses seus amigos que tentaram te empurrar para cima de outra mulher e são eles que não gostam de sua esposa. Não que eu a esteja defendendo, conheço muito bem a Beatriz e sei como ela é geniosa, mas nesse caso acho que concordo com ela.


         Fiquei olhando para ele pensativo.


         - Eu sei que eles erraram. – Comecei minha defesa. – Mas isso já ficou no passado e eles foram até minha casa pedir desculpas para Bia. Achei que isso já não nos atrapalharia mais. E outra, estamos juntos há muito tempo e ela deveria saber que eu nunca a trairia.


         - Sim cara, nó dois sabemos disso. Você sabe que a Bia te ama muito e que ela é meio explosiva e isso que eles fizeram deixa qualquer um meio maluco, você não acha meu amigo?


         Coloquei o ultimo pedaço de pastel na boca e lavei-o com o restante do meu café.


         - Sei de tudo isso. Mas ela também deveria saber.


         Gio apenas mexeu a cabeça.


         - A conversa está ótima, mas o que você acha de começarmos a trabalhar? – Perguntei tentando fugir do assunto e consegui.


         - Claro. – Disse Gio. – E o que temos aí?


         - Resumindo, temos um assassino de prostitutas.


         - Prostitutas?


         - Sim. Temos um retrato falado e muitos depoimentos, mas quero ir nesses lugares novamente para conversar com quem estava no local no dia dos assassinatos.


         - E será que podemos transar com alguma, só para ver se conseguimos mais evidências? – Perguntou Gio soltando uma risada muito alta de algo que eu realmente não via graça alguma.


         - Não Gio. Ninguém vai transar.


 


                                                                  2


 


         Chegamos onde a primeira vítima “trabalhava”. Paramos em frente uma casa, que para quem não sabia era mais uma casa de alguma senhora solitária que fazia tricô e pães caseiros em seu velho forno do fogão a gás principalmente nos dias de hoje onde as pessoas estão cada vez mais apressadas como se o dia não tivesse mais vinte e quatro horas, mas se você parasse por um minuto apenas e prestasse atenção, saberia que aquela não é a casa da vovó.


         O portão alto de ferro cuidadosamente pintado estava aberto para quem quisesse entrar e ao chegar perto da porta da frente ela se abriu como por mágica, mas não era mágica. Acima da grande porta de madeira envernizada havia uma câmera de segurança e atrás dessa porta havia um homem alto com cara de poucos amigos que foi quem abriu a porta. Ele cuidava todo o movimento desde a calçada até a chegada à porta da casa por uma grande televisão que ficava à esquerda da porta pendurada na parede. Havia duas câmeras na rua e pelo menos seis delas dentro da casa, menos nos banheiros e nos quartos ou a imagem delas não passava naquela televisão.


         Ele não disse uma palavra sequer, apenas nos olhou de cima a baixo sabendo quem nos éramos e ficou nos observando seguir para a recepção. Nem eu e nem Gio olhamos para trás, mas eu pude sentir que ele estava nos observando.


         À esquerda da recepção havia dois sofás de couro preto de três lugares e dois sofás de dois lugares. À direita, ficavam as mesas e cadeiras de madeira onde os clientes podiam sentar e tomar sua bebida descansados olhando para a grande televisão na parede que na maioria das vezes passava jogos de futebol. Ao fundo da sala, havia o balcão onde ficava o freezer com as bebidas, balas, cigarros e a dona do lugar.


         Sinceramente não sei de onde surgiram duas meninas que quando vi uma já estava abraçada e Gio que a olhava com olhos de fome e outra passou os braços por cima de meus ombros. Olhei para a menina que tinha um grande sorriso que certamente era forçado em seu rosto mordendo o lábio inferior e confesso que pensei muitas coisas naquele momento. Ela estava apenas de lingerie e com uma maquiagem que realçava seus olhos orientais e seus cabelos escuros passavam do meio de suas costas.


         A que estava pendurada em Gio era baixa, menos de um e sessenta, mas o salto a deixava relativamente alta. Seus cabelos loiros eram curtos, na altura do pescoço e seus olhos eram de um verde como eu nunca havia visto e os dela era de verdade. Não usava muita maquiagem, apenas um batom vermelho muito forte que realçava sua boca carnuda. Ela usava um sutiã vermelho como o batom e uma calça preta muito apertada que pelo que podíamos ver não havia calcinha por baixo da calça.


         - O que você acha de nos divertimos? – Ela perguntou para Gio que engoliu a seco e respirou fundo.


         - Não viemos para diversão meninas, viemos aqui a trabalho. – Eu disse tirando meus óculos escuros e colocando-os em minha camisa.


         No mesmo momento que falei isso, elas deram dois passos para trás e o sorriso que estavam em seu rosto foi aos poucos desaparecendo. O grandalhão que cuidava das câmeras e da porta agora estava entre a recepção e a pequena entrada da casa com os braços cruzados nos olhando com uma cara que ele achava que nos colocava medo.


         - Não para esse trabalho que viemos, podem ficar calmos. – Falei olhando para o grandalhão. – E mesmo que tivemos vindo para isso, você certamente não iria me impedir.


         Ele continuou me encarando e eu a ele. Não desviamos nossos olhares um segundo sequer.


         - Está tudo bem. – Disse a mulher por trás do balcão. – Pode voltar para a porta que eu cuido disso. – Assim que ela terminou de falar o grandalhão voltou para seu posto. – Em que eu posso ajuda-los senhores? – Perguntou a mulher baixa e corpulenta, gorda para ser mais específico, de cabelos curtos e loiros tingidos que vestia uma roupa apertada e colorida.


         Aproximamo-nos do balcão, tirei meu chapéu e o coloquei em cima do mármore amarelado do balcão perto dos panfletos.


         - Bom dia! Eu sou o detetive Osório e esse é meu parceiro detetive Gonçalves e acredito que a senhora seja Tereza Coelho, a proprietária do estabelecimento. Ela apenas acenou que sim com a cabeça. - Estamos aqui para falar sobre o assassinato de Patrícia Aguilar.


         - O que mais vocês querem saber, eu já disse tudo o que sabia para os policiais que vieram aqui.


         - Sim, temos seu depoimento em nossos arquivos, mas agora vamos nos aprofundar mais no caso. Queremos saber todos os detalhes dos últimos dias ou até mesmo das últimas semanas de Patrícia aqui.


         - E o que exatamente vocês querem saber?


         - Bom, podemos começar com se você sabia de alguém que poderia querer Patrícia morta? Algum namorado que descobriu o que ela fazia, algum ex-namorado ou marido lunático ou algum cliente que tentou casar com ela e foi rejeitado.?


         - Não. – Disse ela balançando a cabeça e as gordurinhas do pescoço. – Patrícia era muito reservada e aqui ela não usava este nome. Ela usava o nome Britany.


         - Ela trabalhava a muito tempo para você?


         Ela fez uma careta de quem estava pensando, forçando a memória.


         - Um ano. No máximo.


         - Tem certeza.


         - Sim. Eu tenho. – Disse ela não muito satisfeita com as perguntas.


         - Certo. – Eu disse. – Teve algum cliente que procurava Britany com frequência e depois de sua morte desapareceu?


         - São muitos clientes, não conseguimos decorar todos os rostos e para falar a verdade não quero reconhecê-los na rua.


         Olhei para Gio que olhava sério para ela. Ele não gostava de enrolação.


         Peguei uma foto do meu bolso.


         - Conhece esse rapaz? – Larguei o retrato falado em cima do balcão e com era de costume ela olhou rapidamente para a foto.


         - Não conheço.


         - Dona Tereza, eu posso arranjar mil motivos para fechar esse lugar e mesmo que você vinte brucutus igual ao da porta eu farei isso se não colaborar.


         Contrariada, ela olhou novamente para a foto e respirou fundo balançando a cabeça.


         - Sim. – Disse ela com voz baixa, mas conseguimos ouvir. – Seu rosto é um pouco mais fino do que isso e o cabelo mais volumoso, mas sim, ele esteve aqui umas duas ou três vezes.


         - E nessas vezes ele procurava por Britany?


         - Sim. Todas as vezes.


         - E ela nunca mencionou alguma ameaça ou algo estranho que ele tenha falado para ela?


         - Não. O pouco que ela me disse era que ele parecia ser um cara um pouco depressivo e tinha problemas com mãe que o abandonou. Mas foi só isso.


         - Não há mais nada que a senhora lembre?


         - Não. – Ela era muito objetiva.


         - Certo. Vou precisar das gravações das câmeras. De todo o último mês.


         Ela me olhou no fundo dos olhos e eu conhecia e muito bem aquele olhar. Ela estava com muita raiva e se fosse possível ela me acertaria um soco bem no meio dos meus olhos ou mandaria seu brucutu de estimação fazer isso. Mas ela não fez.


         - Se eu lhe entregar as gravações vocês desaparecem daqui e não voltam mais, está bem?


         - Voltaremos apenas se for necessário.


         Ela balançou a cabeça e pediu para o seu segurança nos entregar uma cópia dos vídeos das câmeras de segurança.


         Ele foi fazer as cópias que pedimos e Gio e eu fomos até uma das mesas de madeira e ficamos lá observando o local que não havia nada de suspeito. Não demorou muito para as cópias serem feitas e assim que o grandalhão as entregou para nós, peguei meu chapéu de cima da mesa e saímos daquele lugar.


         - Até mais meninas. – Disse Gio com um sorriso bobo no rosto e é claro que elas acenaram com outro sorriso para ele. Eu nem olhei para os lados.


 


                                                                  3


        


          Na porta do apartamento não havia sinal de arrombamento e não foi encontrado nenhuma digital o que significa que tudo foi muito bem planejado pelo assassino de Patrícia Aguilar. Antes de Gio e eu entrarmos no prédio olhamos para todos os lados para ver se encontrávamos  alguma câmera de segurança que pudesse no ajudar, mas não havia nenhuma assim como dentro do prédio.


         O pequeno apartamento popular de 60m² em momentos melhores era muito bem decorado com belos quadros, muitas flores e cores que deixavam você confortável para sentar-se no sofá e assistir a um bom programa na tv.


         Não tínhamos nem ideia do que procurar, apenas queríamos ter a certeza de que nada foi deixado para trás no dia em que a policia foi acionada.


         Reviramos gavetas e armários e o máximo que achamos foram documentos e algumas fotos, a maioria de quando Patrícia era mais nova. Não que ela fosse velha, ela tinha 37 anos quando foi assassinada, mas as fotos que ali estavam guardadas era de quando ela devia ter entre cinco e oito anos e depois alguma de quando ela devia ter no máximo vinte e pelo que percebemos nas fotos ela já trabalhava como prostituta, pois em várias das fotos ela aparecia ao lado de outras meninas e alguns homens no que parecia ser uma festa particular. Uma foto que me chamou a atenção foi uma em que ela segurava um bebê em seu colo, mas não havia nada sobre Patrícia ter um filho. Depois pensei que ele poderia ser de outra pessoa.


         - Acho alguma coisa no quarto? – Gritou Gio.


         - Não. E você teve melhor sorte na cozinha?


         - Nada. Apenas pão mofado e um refrigerante sem gás.


         Balancei a cabeça e coloquei as fotos de volta na caixa de onde eu havia tirado e a devolvi para a prateleira de cima do guarda roupa.


        


                                                                  4


 


         Voltamos para o escritório por volta das duas horas da tarde e fomos direto para a sala do técnico de vídeo onde deixamos às nove e meia da manhã o cd com a gravação que o segurança havia no entregado. Como sempre as luzes da sala estavam apagadas e Caio ainda analisava as gravações da câmera de segurança.


         - Tem alguma coisa para nós. – Perguntei para Caio.


         - Sim. Na verdade sim. – Disse ele sem olhar para mim ou para Gio. – O seu homem apareceu lá duas vezes. A primeira foi dia 20 de fevereiro e a segunda dia 28 de fevereiro, no dia do assassinato. Foram poucas horas antes para ser mais exato. Ele chega ao local às cinco e meia da tarde e sai às sete horas e Patrícia foi morta por volta das nove horas.


         - Será que ele a seguiu até a casa dela? – Perguntou Gio.


         - Pode ser.  – Eu disse. – E depois da morte dela ele voltou ao local?


         - Ainda faltam cinco dias para eu terminar as gravações, mas por enquanto ele ainda não apareceu nelas.


         - E ele faz algo estranho nas imagens?


         - Não. Ele faz tudo igual. Ele chega, senta na mesma mesa, pede uma bebida e a toma rapidamente. No primeiro vídeo ele aponta para Patrícia que vai até ele e eles conversam por pouco tempo e depois vão para o quarto. No segundo vídeo ela vai direto até ele.


         - Então ela o reconheceu. – Eu disse.


         - Provavelmente. – Disse Caio. – E nos dois vídeos, depois de sair do quarto ele vai até o balcão, faz o pagamento e vai embora sem falar com ninguém a não ser Patrícia.


         - Faz o seguinte. – Eu disse. – Separe esses dois trechos para mim que quando eu voltar vou dar mais uma analisada.


         - Como quiser – Disse Caio.


         Gio e eu saímos da sala de vídeo fomos até nossas mesas e novamente comecei a olhar para os arquivos do caso.


         - O que você está procurando? – Me perguntou Gio.


         - Eu não sei. Não tenho bem certeza, mas acho que deixamos passar algo.


         Ele deu os ombros.


         - Vamos a algum outro lugar esta tarde?


         - Talvez. – Eu respondi pensativo. – Hoje vamos ao necrotério. Quero ver os corpos das mulheres e amanhã vamos começar com a segunda vítima. Vamos até onde ela trabalhava, a casa dela e até no mercado que ela comprava se for preciso. Tudo como fizemos hoje.


         - O que houve com você? Parece que ficou curioso com esse caso.


         - Não sei. Você não achou aquela Tereza meio estranha?


         - Estranha com certeza, mas não deve ser da mesma forma que você está falando. Explique-me o que você quer dizer com isso.


         - Você realmente acreditou em tudo o que ela disse?


         - Nós nunca acreditamos no que eles dizem, mas acredito que muito do que ela falou era verdade. Não sei se ela tinha motivos para mentir.


         - Eu não teria tanta certeza.


         - Porque você está dizendo isso.


         - Só um palpite, talvez.



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Autor(a): J.M.S. Efferon

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