Fanfic: O sacrifício | Tema: Policial, suspense, terror.
1
Subimos até o sétimo andar de um prédio que parecia ser bem antigo, mas muito bem conservado. Apenas mostramos os nossos distintivos e ele nos deixou passar sem fazer muitas perguntas, o que estava totalmente errado mesmo com os distintivos. Eles poderiam muito bem ser falsos.
Subimos pelas escadas (O prédio tinha elevador, mas Gio não gostava muito deles) chegando até o estreito corredor muito bem iluminado do sétimo andar. Mesmo bem treinados e com nosso fôlego em dia, Gio e eu estávamos ofegantes e paramos por poucos segundos ates de ir até o apartamento de numero 703. Tirei o chapéu e passei a mãos pelos meus cabelos suados e a sequei em minhas roupas continuando nosso caminho.
Paramos em frente a porta e Gio deu dois toques suaves no botão da campainha e conseguimos ouvir o som alto do Ding-Dong ecoar pelo apartamento. Não foi preciso tocar novamente, parecia que ela já estava no esperando. Escutamos o som das pelo menos três trancas que havia na porta antes de Maria Leal abrir um pequeno espaço por onde mal enxergávamos seus olhos.
- Em que posso ajudar senhores? – Ela perguntou gentilmente.
- Somos da polícia – Disse mostrando meu distintivo e Gio o dele. – Eu sou o detetive Paulo Osório e esse é o detetive Gonçalves e queremos fazer algumas perguntas sobre sua vizinha da frente. Adriana Monteiro.
Ela não disse nada, apenas fechou a porta e Gio e eu nos olhamos antes de ouvir o som da última tranca sendo aberta e a porta se escancarando a nossa frente.
- Por favor, entrem. – Disse ela.
Demos no máximo sete passos e ficamos esperando por Maria Leal novamente trancar tudo o que havia naquela porta. Aquela região da cidade era uma das mais antigas e quase todos os apartamentos ali eram amplos. Este por exemplo, não tinha menos de 120m², o mesmo tamanho da minha casa. Não era o lugar mais caro da cidade, mas também não era barato viver lá. Como sempre olhei para tudo até onde meus olhos alcançavam e percebi que pelo menos Maria Leal era muito religiosa. Havia muitas imagens e crucifixos espalhados pela sala.
Ela fazia bem o tipo beata. Saia comprida e cabelo longo sem grandes cuidados. Sua pele pelo menos era bem cuidada, sua aparência era de no máximo 30 anos, mas ela já tinha 37.
- Sentem-se senhores. – Ela apontou para um sofá cor de café com leite. – Posso oferecer algo para beber? Água, café ou suco? – Ela ensaiava um sorriso.
- Não senhora. – Disse Gio. – Estamos bem, obrigado.
Tirei meu chapéu e meus óculos sentando no confortável sofá.
Ela sentou-se logo à nossa frente e ficou nos olhando. Nós esparrávamos que ela fizesse a famosa pergunta “o que vocês querem saber”, mas acho que ela já estava esperando pelas nossas perguntas.
- Seu marido não está em casa? – Perguntou Gio.
- Não. – Disse ela. – Ele foi ao mercado na outra rua, mas logo deve estar de volta.
- Certo. – Eu disse.
– Há quanto tempo vocês eram vizinhos de porta de Adriana Monteiro? – Perguntou Gio antes de eu falar qualquer outra coisa.
- Bom. Eu e ela sempre moramos aqui. Crescemos juntas nesse prédio. O apartamento onde ela morava era dos pais dela e depois que a mãe dela morreu à oito ou dez anos atrás tudo ficou para ela. Eu também morava aqui com meus pais, mas quando Peterson e eu decidimos nos casar eles nos deram esse apartamento de presente e se mudaram para um apartamento menor onde fosse mais fácil de cuidar. Ah! Peterson conhecia ela há 10 anos, mas ele veio morar aqui há cinco anos.
- Então vocês duas eram amigas? – Realmente Gio queria trabalhar hoje.
- Não como antes. – Ela esfregava as mãos uma na outra. - Na infância até o começo da adolescência sim, éramos bem amigas. Mas depois com o meu trabalho e minha faculdade quase não nos víamos mais e depois ela seguiu outro caminho que eu não concordava.
- Ela se tornou prostituta. Eu disse e ela apenas assentiu.
- Você deixou de ser amiga dela depois que ela se tornou prostituta? – Eu perguntei.
- Amiga, na fidelidade a palavra sim, mas sempre fomos boas vizinhas. Conversávamos quando nos encontrávamos na portaria ou pelos corredores, pedi e emprestei coisas para ela, coisa de vizinhos sabe? Molhos de tomate, açúcar e essas coisas. Meu marido que não gostava muito dela. – Ela disse parecendo ter se arrependido.
- Porque não? – Perguntou Gio. – Por causa da profissão dela?
- Sim. – Disse ela. – Como vocês devem ter percebido – Ela apontou para as inúmeras imagens e crucifixos nas paredes. – Peterson e eu somos muito religiosos e ele não aprovava o que ela fazia, não era o que Deus queria. Eu na verdade também não aprovava as escolhas dela, mas não sou ninguém para julgar, já meu marido é um pouco mais rígido.
Eu e Gio nos olhamos rapidamente.
- Alguma vez eles tiveram algum tipo de discussão ou briga? – Perguntei.
- Não. – Ela ficou um pouco nervosa com a pergunta. -Peterson ou nunca faríamos esse tipo de coisa. Como eu disse, não somos ninguém para julgá-la.
- Mas você acabou de dizer que seu marido era mais rígido do que a senhora.
- Sim. Mas ele nunca faria nada contra ela. Mesmo Deus não aprovando as atitudes dela, Ele não gostaria de ver seus filhos mortos e sim recuperados para uma nova vida.
Tirei o retrato de assassino de meu bolso e mostrei para ela.
- Este foi o homem que viram na noite do assassinato?
- Sim.
- E como isso aconteceu?
- Era mais ou menos de horas da noite quando Peterson e eu escutamos um barulho vindo do corredor. Estávamos aqui na sala vendo televisão e escutamos vozes. Era ela e este homem. Achamos estranho, pois nunca veio homem algum no apartamento dela e sei que Deus não aprova isso, mas ficamos curiosos. Eu fiquei curiosa. Eu queria que ela achasse alguém legal que a tirasse dessa vida e a colocasse no caminho de Deus. Mas enfim, olhamos pelo olho mágico e o vimos parado no corredor enquanto ela abria a porta e ele estava bem na nossa frente.
- Você e seu marido viram o sujeito? – Perguntou Gio.
- Sim, nós dois. – Ela soltou um leve sorriso de canto de boca.
- E vocês o viram sair do apartamento? – Perguntei.
- Sim.
- Vocês ficaram espiando até ele sair? – Perguntou Gio.
- Não. É claro que não. – Ela pareceu um pouco incomodada. – Escutamos o que parecia ser uma discussão e depois um barulho de vidro quebrando, então voltamos para o olho mágico para ver o que estava acontecendo e não demorou muito para ele sair do apartamento.
- E vocês não quiseram saber o que era aquele barulho? – Perguntou Gio coçando a cabeça.
- Na verdade, não. Achei que as coisas tinham saído do controle na hora do pecado e não quis pensar nisso. Eu na verdade fiquei um pouco decepcionada achando que ela havia mudado outra vez e agora estava trazendo eles para casa, mas agora sei que não. Que foi alguma outra coisa. Ela sempre foi discreta, nunca faria esse tipo de coisa.
- Defina discreta, por favor. – Eu disse.
- Ela sempre chegava e saia no mesmo horário. Não fazia barulho nem mesmo quando limpava o apartamento. Na maioria das vezes não sabíamos se ela estava em casa ou não. A única extravagância que ela fazia era trazer suas amigas para cá todo o último sábado mês.
- E o que elas faziam exatamente?
- Nada de mais. Eram umas dez amigas, talvez. E pelo que ouvíamos elas riam muito, acho que por causa da bebida, mas era só. Não vinha homem algum. Eram apenas elas.
- Algo mais que a senhora lembre?
- Não é só isso.
- E seu marido será que se lembra de mais alguma coisa? – Eu perguntei
- Não. Com certeza não. Estávamos junto o tempo todo.
- Bom. – Disse eu levantando-me e colocando meu chapéu. – Agradeço por seu tempo e qualquer coisa que a senhora ou seu marido lembrem – Coloquei a mão em meu bolso e peguei um cartão. – é só me ligar.
- Está bem. – Disse ela nos levando até a porta.
Apertamos as mãos e na hora que saímos para o corredor Peterson apareceu. Ele nos olhou de cima a baixo.
- Quem são vocês? – Perguntou rispidamente.
- Somos os detetives Osório e Gonçalves e viemos pelo caso de Adriana Monteiro.
- Ah! – Disse ele com certo desdém.
- Mas já conversamos com sua esposa e ela nos disse tudo o que precisávamos saber.
- Quem bom. – Disse ele com certa arrogância. – Então se vocês me derem licença, vou para meu apartamento. – Disse ele entrando e fechando a porta e suas milhares de trancas.
Eu e Gio ficamos parados olhando para a porta por algum tempo e logo depois entramos no apartamento de Adriana Monteiro.
2
- Que cara mais estranho. – Disse Gio.
- Sim. – Respondi como sempre observando cada detalhe ao entrar no apartamento de Adriana. – Você também não achou a história da “crentezinha” meio estranha?
- Vamos ver se estamos pensando a mesma coisa. – Disse Gio. – Você está suspeitando do marido dela?
- Talvez. – Eu disse. (Em nossa profissão nada é descartado.).
- Ela me parecia muito nervosa para quem estava falando a verdade. – Disse Gio vasculhando a cozinha. Ele sempre ia primeiro na cozinha. Ele sempre me dizia que “tudo sempre começava pela cozinha”. Nunca entendi isso. Eu apenas balancei a cabeça, mas acho que ele não viu.
Se ele ia para a cozinha, eu sempre ia para o quarto e ao passar pela sala vi os cacos de vidro no chão e as manchas de sangue no sofá. Tudo aconteceu por aqui.
Revirei tudo o que podia, sempre com minhas luvas e em uma das gavetas achei um diário. Folhei-o, mas não havia nada de relevante, apenas que ela tinha um sonho de viajar pelo mundo.
Como todas as mulheres, ela havia em canto no roupeiro uma pequena caixa cheia de fotos, todas muito antigas, pois hoje em dia ninguém mais revela fotos. Olhei quase todas uma delas em especial me chamou a atenção.
Nela Adriana devia ter vinte anos e estava ao lado de outra mulher e Adriana segurava um bebê, mas Adriana, assim como Patrícia, não tinha registro de filhos. Olhei atrás da foto e nela estava escrito: “Para minha madrinha amada Adriana do seu docinho Pierre.”.
Olhei para a foto novamente e Adriana e a outra mulher estavam bem vestidas, mas pela decoração do lugar onde elas estavam na foto com certeza àquilo era um puteiro. Coloquei a foto no mesmo lugar e devolvi a caixa para e canto escuro do guarda-roupa voltando para a sala pensando em quem podia ser Pierre e quem era a mulher daquela foto. Ainda não sei por que não levei aquela foto comigo naquele mesmo dia.
Olhei para o canto onde ficava a mesa de jantar e vi duas taças de vinho. Uma pela metade e a outra quase não havia sido bebida. Aquilo não sei bem o porquê me deixou com uma pulga atrás da orelha.
Será que esse cara é apenas um lunático que mata putas?
O que ele ganha com isso?
Isso começou a me deixar com aquela vontade de cair a fundo no caso, não que eu não estivesse fazendo isso, mas confesso que ainda achava que ele se resolveria com facilidade. Talvez se eu me empenhasse ele se resolveria.
3
Enquanto descíamos as escadas fiquei pensando no porteiro. Mesmo Gio e eu entrando com facilidade no prédio, como ele faria?
- Ei amigo. – Eu disse logo ao chegar na portaria. – Como é aqui à noite? Tem alguém na portaria?
- Sim senhor, Max é quem fica aqui.
- E que horas ele chega?
- Às sete da noite senhor.
- Há câmeras no prédio.
- Não senhor, talvez seja colocado uma, mas só depois do meio do ano.
- Você sabe algo sobre o assassinato de uma moradora.
- Só o que eu ouvi pelos corredores senhor.
- Tem outras entradas no prédio, pelos fundos talvez?
- Não. Só a garagem, mas é esse portão ao lado, é preciso passar por nós.
- Então sem se identificar não há como entrar.
- Não. Só se estiver junto com um morador.
- Então o assassino pode ter entrado junto com ela?
- Sim senhor.
- Está bem. Obrigado.
- Sim senhor.
Então, - Pensei. - Talvez, a história que Maria Leal tenha nos contado seja verdadeira ou talvez o assassino já estivesse no prédio, talvez fosse Peterson.
Não. Não podia ser. Tinha o cara do retrato falado.
Afinal, ele estava nas câmeras de segurança do puteiro e ele estava com Patrícia, nas duas vezes que ele apareceu lá.
Podia ser coincidência. Mas acho difícil.
Ele também poderia ter sido contratado para fazer isso? Mas por quem? Peterson?
Ele não tem cara de quem faria isso. E Patrícia? Onde ela entra nessa história.
Será que há algum assassino de aluguel especializado em matar prostitutas?
E se ele entrou junto com Adriana? Eles se conheciam?
Talvez ela tenha sido forçada a isso? Mas e as duas taças de vinho? Ela não ofereceria vinho para ele, para seu assassino.
Eu não iria dormir essa noite.
Autor(a): J.M.S. Efferon
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1 - Pensei que não precisaríamos fazer este tipo de coisa neste caso? – Disse Gio um pouco descontente. - Eu também, se é que isso lhe consola. – Eu disse. – Achei que não precisaríamos fazer muitas coisas. Pa ...
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