Fanfic: Uma noite inesperada. | Tema: Suspense.
1
Ao longe dois seguranças olhavam para o homem parado ao lado de um dos pilares do apartamento que olhava para todos os convidados da festa como se analisasse um por um. Ele não estava mal vestido, usava uma calça jeans escura, uma camisa azul marinho, que mesmo de longe dava para ver que não era nova, e sapatos pretos também velhos, mas bem engraxados.
Por quase quarenta minutos ele ficou lá parado sem falar com ninguém, apenas observava o movimento de cada convidado sem beber uma taça de champanhe ou um copo de água sequer. Desde que ele chegou fez apenas dois movimentos. Passar a mão pelos cabelos castanhos e coçar ao redor de uma pequena cicatriz que havia no rosto próximo ao olho direito.
Havia se passado cinquenta minutos desde sua chegada e o seu terceiro movimento foi olhar para seu relógio, que estava escondido embaixo das mangas da camisa e logo após começou a caminhar.
Ele andava a passos titubeantes na direção de Renato Pereira, mas muito antes de ele se aproximar de Renato a mão de um dos seguranças segurou seu ombro esquerdo.
- Onde está indo meu rapaz? – Perguntou o segurança com uma cara carrancuda.
- Vou apenas andar pela festa. – Disse ele tremendo a voz.
- Quem sabe o senhor nos acompanha para conversarmos um pouco.
- Conversar? – Perguntou ele já um pouco assustado. – Mas conversar sobre o que?
Algumas poucas pessoas olhavam para a cena que estava acontecendo mesmo que a conversa em momento algum tenha sido com a voz alterada.
- Olhe meu rapaz, venha conosco e tudo vai se resolver sem problema algum.
- Está bem. – Disse o homem que começou a acompanhar os dois seguranças até uma sala próxima à cozinha olhando algumas vezes para Renato Pereira por sobre seu ombro.
Ele achava que estava cometendo um grande erro ao seguir os seguranças e ao chegar naquela sala pequena, úmida e escura ele teve certeza.
- Deixe-me ver seus documentos. – Disse o segurança carrancudo.
- Estou sem eles.
- Como você anda por ai sem documentos?
O homem não respondeu.
- Qual o seu nome? Você tem um não tem?
Ele balançou a cabeça e fez uma careta.
- Vocês não entendem! Eu preciso falar com o Renato. Preciso muito falar com ele.
- Eu acho que foi você quem não entendeu amigo. Você não irá falar com ninguém. Irá sair daqui imediatamente e pela saída de funcionários.
Ele olhou para os olhos do segurança por alguns segundos e repentinamente tentou sair da sala onde estavam, mas foi seguro pelo outro segurança que até agora apenas observava o que estava acontecendo.
Ele foi jogado de encontro à parede e antes que pudesse tentar qualquer coisa levou um soco no rosto fazendo com que ele caísse no chão.
- Acho que agora você vai entender meu amigo!
2
Seu sorriso era largo e encantador, sua falava suave hipnotizava a qualquer um que o escutava por muito tempo. Alto de pele negra, tinha a cabeça raspada e uma barba por fazer que é ao mesmo tempo rude e elegante. Vestia um terno e sapatos caríssimos, mas sua simpatia e humildade fazem com que Renato Pereira parecesse apenas mais um funcionário e não um dos homens mais bem sucedidos do país.
Todo ano ele promovia uma grande festa para todos os funcionários de sua empresa, desde o faxineiro até o seu vice-presidente bebiam do mesmo champanhe e comiam da mesma comida chique que Renato tinha em sua casa. Ele na poupava despesas.
- Mais uma vez você está de parabéns Senhor Renato. Essa festa realmente está maravilhosa. – Disse Ariane, sua secretária.
- Não, não Ariane minha querida. Em primeiro lugar nada de senhor. – Eles riram. E em segundo lugar não agradeça a mim. Agradeça a você mesmo e a todos que trabalharam duro e fazem desta empresa o que ela é e é só por esse carinho e dedicação que alcançamos esses objetivos, então nada mais justo que agradecê-los com uma festa grandiosa.
- Claro. Você tem toda razão... Renato. – Disse ela novamente e ele sorriu para ela.
- Eu amo trabalhar aqui, me sinto valorizada. – Disse Nicole.
- Vocês são o coração da empresa é claro que tenho que valoriza-los. – Disse ele também sorrindo para Nicole.
- E onde está Camila, ainda não a vi esta noite. – Perguntou Celso, um dos funcionários mais antigos de Renato.
- Sinceramente eu também ainda não à vi, mas sei que ela está aqui. Você sabe como são os jovens de hoje em dia. Não gostam de estar junto dos coroas.
Todos riram.
- Bom pessoal a conversa está ótima, mas vocês me desculpem, pois infelizmente preciso falar de negócios, afinal eles são os acionistas e querem resultados. Mas por favor, fiquem a vontade e divirtam-se. – Disse ele apertando a mão de seus funcionários e saindo, mas antes de completar dez passos Nicole segurou em seu braço.
- Eu sempre admirei o senhor e...
- Acho que sei aonde quer chegar, mas não posso ter esse tipo de envolvimento.
Nicole ficou olhando para ele com um olhar triste.
- Desculpe. Com licença. Disse ele saiu indo em direção a quatro pessoas paradas em circulo quase na outra extremidade daquela sala.
- Olhem, chegou o “pai de todos”. – Disse Aurora, a maior acionista da empresa depois de Renato.
- Me desculpem se isso os incomoda, mas não consigo ser indiferente com as pessoas. Tudo que tenho e muito do que vocês têm é graças ao esforço deles.
- Eles são uns coitados, apenas números. Você passa muito a mão por cima dessa ralé. Muitos dos que você protege não são suficientes e você os mantém aqui, apenas sugando o dinheiro da empresa. – Disse Carlos.
- Eu não passo a mão na cabeça de ninguém, apenas dou oportunidades que muitas vezes eu não tive. Não esqueçam que comecei vendendo balas na frente da minha casa e hoje tenho uma das maiores empresas do país, empresa essa que vocês se beneficiam com o trabalho deles.
- Já que você se referiu a isso Renato, - Disse Antonio. – Como anda a empresa? Vi que as ações tiveram ligeira queda.
- Sim, é verdade, mas o mercado como um todo está oscilando, mas logo tudo voltará ao normal.
- O que você pretende fazer para que isso aconteça? – Perguntou Fernando.
- Marcelo e eu estamos discutindo alguns planos de ação em várias frentes diferentes tanto para baixar custos como para alavancar as vendas.
- Marcelo? – Perguntou Aurora. – É aquele rapaz filho do faxineiro que você pegou para criar. – Ela riu acompanhada dos outros.
- Ele é um rapaz muito inteligente caso você queira saber Aurora. Ele tem boas ideias e será um ótimo administrador.
- Claro que será Renato, pelo menos até a próxima eleição para presidente que você sabe que será em dois anos, não sabe?
- É claro que sei Aurora, você me lembra disso quase todos os dias.
- Mas me diga, qual o grande plano de ação que você e esse rapaz tem em mente? – Perguntou Antonio.
- Calma senhores, logo vocês ficarão a par de tudo. Agora se me derem licença o veneno de vocês está começando a me fazer mal. Aproveitem. – Disse ele com um sorriso debochado.
3
Para um apartamento daquele tamanho, seiscentos metros quadrados, o terceiro maior daquele prédio, a sacada era um pouco pequena, mas Camila parecia não se importar com isso, pois a vista daquele ponto era maravilhosa. O céu estava estrelado e a lua estava enorme de uma forma que ela sentia que iria tocá-la se esticasse as mãos.
Ela olhava para a lua que fazia seu rosto belo rosto brilhar como nunca antes. Ela vestia um vestido longo decotado, que valorizava seus peitos, justo ao corpo definindo ainda mais cada curva que ele tinha.
Seus braços estavam apoiados no para peito da sacada e ao lado deles estava sua taça quase intocada de champanhe.
Seu olhar que estava penetrado na grande lua só foi desviado quando ela sentiu que alguém parou ao seu lado. Ela olhou rapidamente e balançou a cabeça negativamente.
- O que você quer? – Perguntou Camila.
- Apenas conversar, só isso. – Disse Marcelo um pouco tímido.
- Nós não temos nada para conversar e nunca vamos ter.
- Nossa. – Disse ele. – Por que você me trata assim? Eu sempre fiz de tudo para te agradar e você sempre me trata como se eu fosse um lixo.
- Entenda que nunca vai acontecer nada entre nós Marcelo. Entenda isso de uma vez por todas.
- Mas eu gosto muito de você Camila. Eu acordo pensando em você, pesando que em poucas horas vou te ver na empresa. Passo o dias pensando em você e durmo pensando em você. Eu só queria uma chance para te mostrar que eu...
- Olha aqui Marcelo. – Disse Ela virando-se para ele. – Eu tentei ser legal com você, mas pelo visto você é muito burro para entender. Eu não quero nada com você, entendeu? Você é um nada, é só mais um que meu pai acha que pode ser algo, mas nunca vai ser.
Ele olhava para ela com os olhos arregalados.
- Entenda isso Marcelo. – Disse ela pegando a taça de champanhe e voltando para dentro do apartamento.
Ele escorou-se no para peito da sacado e olhou para baixo. Os carros eram minúsculos a vinte e cinco andares acima, mas com certeza não eram tão pequenos como sua autoestima neste momento.
Depois de algum tempo ali pensativo, Marcelo sentiu uma mão segurar levemente em seu ombro e ele nem olhou, pois sabia quem era.
- Peço desculpas por ela. – Disse Renato.
- Não precisa desculpar-se. – Disse Marcelo cabisbaixo. – Não é culpa sua.
- Talvez eu tenha minha parcela de culpa. – Disse ele e Marcelo o olhou. – Talvez na construção deste império eu tenha esquecido de criar minha filha da forma que deveria ser e para piorar, dei a ela tudo que me foi pedido para compensar minha ausência.
- Tenho certeza de que o senhor foi um bom pai. Você é um bom pai para mim.
Renato sorriu e bateu de leve anãs costas de Marcelo.
- Vou conversar com ela.
Marcelo riu.
- Isso é estranho. Acho que nunca vi um pai acertar as coisas para um menino namorar sua filha. – Eles riram.
- Mas não é qualquer menino, é você Marcelo.
Marcelo abriu um sorriso tímido.
- Acabei de sair de uma desagradável conversa com os acionistas.
- Afff... - Fez Marcelo. –
- Eles estão preocupados com a crise que estamos passando.
- Mas nós temos um plano para isso.
- Sim. Foi o que disse para eles. Que temos um plano de ação para baixar os custos e alavancar as vendas.
Marcelo olhou para ele.
- E eles?
- O de sempre? Duvidam de mim e de você.
- idiotas. E ainda tem o Flávio que está com eles.
- Sim. Aurora veio novamente me falar das eleições. Ela que fique pensando que o Flavio vai ser um bom presidente. Nem bom vice ele é. Bom, mas não o deixaremos ser presidente.
- É. Não mesmo. – Disse Marcelo. – E o Nelson?
- Sob controle também.
- Ótimo.
Eles ficaram pensativos por algum tempo e Marcelo quebrou o silêncio.
- Conseguiu uma fã?
- Como assim?
- A menina nova, Nicole acho que é. Não tira os olhos do senhor.
Renato sorriu.
- Quem sabe, não é mesmo. – Eles riram. - Agora volte para a festa e tente se divertir um pouco que eu vou lá falar com os garçons.
Marcelo sorriu para ele.
4
Era uma pequena sala com uma enorme televisão grudada na parede onde passava a reprise de uma noticia onde o delegado de uma pequena cidade no Rio Grande do Sul falava sobre o desaparecimento e a morte de adolescentes, mas Estela não estava prestando atenção. Ela apenas olhava para a TV.
Eduardo abriu a porta e quando viu que Estela estava sentada nos grandes sofás azulados tentou voltar, mas Estela havia visto ele.
- Espere. – Disse Estela levantando-se. – Por que está fugindo de mim?
- Eu não estou fugindo de você. – Disse Eduardo entrando na sala e fechando a porta.
- Faz três dias que você não me olha nos olhos e hoje você passou a festa toda me evitando. Por quê?
- Você sabe muito bem o por que!
- Sim. Eu sei que aconteceu, mas não precisa agir assim.
- Eu não sei como você foi criada, mas eu não fui criado para aquele tipo de coisa. Tenho uma família.
- Mas não foi nada de mais, e você gostou.
- Eu estava alcoolizado.
- Não coloque a culpa na bebida. Ela apenas te deu coragem de fazer algo que você sempre teve vontade.
Ele não respondeu.
- Eu gostei muito do tempo que passamos juntos e gostaria que isso se repetisse.
- Não sei se isso é uma boa ideia.
- Claro que é. Mas você sabe que temos que manter entre nós.
- Mas outras pessoas sabem.
- Ah! Mas eles não conta. Eles nem sabe quem somos.
- Talvez. – Ele olhou para os lados. – Ao lado da cozinha tem um corredor onde ficam os armários. Quem sabe você me encontra no último armário em dez minutos?
- É uma ótima ideia. – Disse ela com um enorme sorriso no rosto.
5
- Então. Você trouxe?
- É claro, né. Acha que sou vacilão igual você.
- Você é um idiota isso sim.
- Me mostra aí, mas na manhã por que essa porra ta cheia de segurança.
- Eu sei o que eu to fazendo cara. Para com essa nóia senão é você que vai acabar melando tudo. – Disse ele abrindo o casaco e mostrando dois revolveres na cintura.
- É isso mesmo cara. – Ele sorriu. – E cadê a vagaba?
- A Nicole ta dando uns role pra ver se atrai o cara?
- E você confia nela?
- Claro cara. Já fizemos outras mãos junto e ela é bem ligada. Ela não vai vacilar não.
- E acha que o cara vai cair na dela?
- Todo mundo cai na dela e quando isso acontecer, nos faz o trabalho e damos o fora daqui antes dos rolos.
- Falando em rolos, você sabia que o Ronaldo veio?
- Não. Cadê ele?
- Não sei, já faz mais de hora que não vejo ele.
- Será que ele ta querendo outra surra.
- Pelo jeito sim. Acho que ainda não aprendeu. Pegamos tudo dele e ainda quer melar a coisa.
- Era só o que faltava aquele filho da puta entregar nosso lance, né.
- É. Ele parecia nervoso. Não sei se ele não vai abrir o bico.
- Então cara, acho bom agirmos logo.
- É. Também acho. Fala para a Nicole se apressar nisso.
- Então se prepara ai que daqui a pouco o show vai começar.
6
O corredor era estreito e um pouco escuro, mas Marcelo andava por ele como se estivesse passeando por uma praia em um dia ensolarado.
Ele havia dado uns vinte passos pelo longo corredor quando uma das poucas lâmpadas que ainda funcionavam ali começou a piscar e logo depois apagou. Marcelo olhou para trás e ouvi um pequeno barulho vindo de uma das portas que ficavam ali.
Ele foi diminuindo a intensidade de seus passos ao se aproximar de uma porta de ferro marrom escura enferrujada na parte de baixo. Quando ele estava a uns três passos da porta ela se abriu e uma mão o agarrou pelo braço e puxou para dentro.
Ali era escuro e quente, ele sentia que estava dentro de um forno.
As coisas ali realmente esquentaram quando ele recebeu um beijo acalorado e sentiu uma mão lá em baixo.
Suas mãos iam de cima a baixo e de baixo a cima pelo corpo dela.
Depois de algum tempo, ele tateou a parede em suas costas e acendeu a luz e viu Camila arrumando seu cabelo e ele ficou parado olhando para ela.
- O que foi? – Perguntou ela.
- Como você é linda. – Disse ele tirando um belo sorriso de Camila.
Ela veio em sua direção e mais uma vez beijou Marcelo e depois se afastou.
- Ele foi falar com você?
- Sim.
- E o que ele disse?
- O mesmo de sempre. Que eu sou um bom rapaz, que vai falar com você e blá blá blá.
- É. Então já sei que hoje vou ter que ouvi-lo por horas sem parar.
- Não sei se hoje, mas vai. – Disse ele rindo. – Você acha que isso vai dar certo, esse plano todo?
- É claro que sim. O que pode dar de errado?
- Tudo na verdade. Para começar nós nem tempo um plano real. Estamos só contando com o que achamos.
- Mas tudo o que achamos até agora aconteceu de uma maneira que se fosse planejado não daria tão certo.
- É. Pode até ser, mas ainda fico meio com um pé atrás.
- Acho que você está se preocupando à toa. Depois de hoje nossas chances vão aumentar muito e você sabe disso.
- Pode até ser, mas só não entendo onde esta parte de você me odiar e me desprezar vai nos ajudar.
- Porque ele gosta de você e vai querer te ver crescer para me conquistar e essas besteiras.
- Mas ai é que está! Ele gosta de mim. E mesmo que namorássemos hoje a probabilidade de eu ser o futuro presidente seria a mesma.
Ela riu.
- Eu sendo arrogante ele vai ficar com pena e vai fazer você ser o presidente da empresa custe o que custar só para me mostrar que você é um bom rapaz, coisa que ele já sabe. Mas se caso nós já fossemos namorados você seria o genro que teria de mostrar para ele que é bom o suficiente para a empresa e principalmente para a filha querida dele.
- Pode ser, talvez você tenha razão.
- É claro que tenho. Se um dia tivermos uma filha você vai entender.
Ele sorriu.
- E depois quando você for o presidente da empresa colocamos o velho de lado e acabou de viver de mesada. Vai ser só viagens e vida boa.
7
Renato como um fantasma apareceu em frente à Camila fazendo com que ela soltasse um pequeno som agudo de susto quando o viu.
- Para que isso pai, quer me matar de susto?
- Desculpe minha filha, não foi minha intenção.
- Onde você estava?
- Arrumando a maquiagem.
- Esse tempo todo.
Ela riu.
- Não foi para isso que você me parou. O que você quer?
- Acho que você sabe o que eu quero.
- Não pai. Hoje eu não quero falar sobre seu amiguinho.
- Filha, o Marcelo é um ótimo rapaz com um futuro brilhante pela frente e acho que você poderia pelo menos trata-lo com educação.
- Eu já falei para ele e para você mais de mil vezes que eu não tenho interesse algum por ele, e nada vai me fazer mudar de ideia.
- Não entendo essa sua relutância de pelo menos conversar com o rapaz. É só por que ele veio de uma família pobre ou por que não pode bancar seus luxos?
- Talvez pai, talvez seja exatamente esse o motivo de eu não querer me envolver com ele.
- Você sabe muito bem que eu venho de uma família pobre, você sabe que seus avós ainda moram na mesma casa onde nasci.
- Moram naquela porcaria de lugar por que querem, pois você já ofereceu tudo para eles milhares de vezes.
- Eles não se importam com o dinheiro Camila, eles são felizes lá. Eu fui muito feliz lá e sempre me sinto muito bem quando vou visita-los.
- É. Mas por você gostar e ser pobre não faz com que eu goste de ser pobre me dando aquela mesadinha de merda.
- Com você tudo se resume a dinheiro. Só dinheiro.
- Foi você quem me criou assim.
- Eu não te criei assim.
- Você é quem acha. – Disse ele e saiu andando.
8
- Meu Deus do céu! – Exclamou Ítalo. – Como ele esta grande. Ele está com o que? Três anos?
- Que nada. – Disse Isabela. – Ele fez cinco anos mês passado.
- Nossa. Como eles crescem rápido. Eu me lembro de você grávida pelos corredores da empresa e agora ele já está esse baita homem. A gente só pode estar velho mesmo.
- É mesmo. – Disse Isabela e começou a rir junto com Ítalo.
- Sua menina também já está uma moça não é Ítalo? – Perguntou Fabiane.
- Nem me fale. – Disse ele. – Ela vai fazer dezesseis anos em dois meses.
- Nossa. – Disse Fabiane. – Mas me diz Ítalo. E os namoradinhos.
- Ah! Têm aí os “crush” dela como eles dizem hoje em dia. Eles crescem e não tem como evitar essas coisas.
- É verdade, e as vezes nem vemos as coisas acontecerem. Meu filho mais novo vai fazer vinte e sete anos e está de casamento marcado para o ano que vêm e eu nem me acostumei que ele faz a barba.
Eles riram.
9
- Mas é sempre a mesma coisa, você corta para dentro e chuta de direita. – Disse Mario. – É muito previsível.
- Previsível? – Espantou-se Vilmar. – É tão previsível que a cada dez chutes você leva uns oito gols.
- Não é bem assim.
- Não é? Vamos ver. – Mario olhou para o lado. – Davi! – Gritou ele. – Vem cá rapidinho.
Davi veio quase que correndo.
- Ele fica dizendo que eu sou previsível no futebol, o que você acha disso?
Davi começou a rir.
- É previsível sim. Previsível que você vai fazer o gol nele.
Todos riram, inclusive Vilmar.
- Então no jogo da semana que vem vou mostrar para vocês. Não vou levar nenhum gol.
- Duvido. – Disse Davi.
- Eu também. – Disse Mario.
- Então se eu tomar gol eu pago um fardo de cerveja para cada um de vocês e se eu não levar gol vocês me pagam um fardo cada um. O que acham?
- Fechado. – Os dois falaram juntos.
10
Relutante, Renato seguia em direção aos acionistas da empresa respirando fundo, sabendo que mais uma vez não teria uma boa conversa. Ela seria cheia de sarcasmo, deboche e muito cinismo.
- Será que vocês poderiam me acompanhar até a outra sala, por favor?
- E nós faríamos isso por quê? – Perguntou Antonio
- Quero apenas tentar ter uma conversa agradável com vocês. Afinal trabalhamos juntos nesta empresa.
- Mas nós já estamos tendo uma conversa agradável. – Disse Fernando.
- Eu mais uma vez peço para vocês me acompanharem. Flávio e Nelson também vão nos acompanhar.
- Está bem. – Disse Aurora. – Se pelo visto você não vai acalmar enquanto não formos nós vamos com você.
- Obrigado.
Renato Pereira tomou a frente de todos e seguiu em direção a uma grande sala do outro lado de onde estavam. Ele abriu a porta e deixou que todos entrassem na iluminada sala com tapetes macios e sofás aconchegantes.
Renato caminhou até uma pequena mesa de madeira que estava próxima a uma enorme janela de vidro onde se podia ver quase toda a cidade e pegou de cima dela uma taça.
- Por favor, peguem uma taça.
- Nós já estamos bebendo. – Disse Flávio.
- Por favor. – Disse ele.
Todos foram até a mesa largando suas taças de champanhe e pegando uma das taças acima da mesa de madeira.
- Agora que estamos aqui e pegamos a sua bebida diga o que quer nos dizer. – Disse Carlos.
- Sei eu estamos em tempos de crise e como disse já estamos “mexendo os pauzinhos” para que tudo melhore...
- Sim. Você e seu bastardinho. – Disse Aurora.
- Ele não é meu bastardinho e você sabe disso.
Ela sorriu com deboche.
- Continuando. Mesmo com a crise que se instalou pelo país, nossa empresa ainda está com bons números e é claro que isso é bom para mim e para vocês. Então como vocês sabem, sou apaixonado por vinho branco e proponho um brinde ao nosso sucesso com uma taça de vinho branco.
- Você e suas excentricidades d sempre Renato. – Disse Fernando
- É apenas uma taça de vinho, nada de mais.
- Está bem. – Disse Aurora. – Ao nosso sucesso.
- Ao nosso sucesso. – Disseram todos e beberam o vinho.
Agora, vou brinda com nossos funcionários e espero que vocês me acompanhem no brinde.
- Vamos. Fazer o que? – Disse Aurora.
Renato pegou a garrafa de vinho branco e serviu mais um pouco para cada e saiu da sala seguindo para o grande salão.
Chagando lá, os garçons já haviam servido todos os convidados com uma taça de vinho branco, o preferido de Renato, e avisado para todos que era o vinho para o grande brinde ao sucesso da empresa.
- Amigos. – Começou Renato. – Sei que esse não foi o melhor dos anos para nossa empresa, mas quero que saibam que eu sei que cada um de vocês se doou o máximo para a crise batesse com menos força em nossa porta e digo a vocês que estou orgulhoso de cada um de vocês. Não vou me alongar muito, pois sei que vocês não querem ouvir o chefe bêbado falando e querem é a festa. – Todos riram. – Então muito obrigado a todos vocês e vamos brindar ao nosso sucesso.
Renato levantou sua taça e Cleber olhava da porta da cozinha com a certeza do dever comprido.
11
Renato saiu da sacada onde havia conversado com Marcelo e foi diretamente apara a cozinha.
Ele abriu a porta e todos ao mesmo tempo olharam para ele e por alguns segundos param sua atividades.
- Calma pessoal. – Disse Renato. – Não sou o presidente. Continuem o que estavam fazendo. – E eles continuaram.
- Algo está errado senhor? Algum problema com a comida? – Perguntou o chef Alan.
- Está tudo ótimo chef Alan. Perfeito.
- Que ótimo senhor.
- Na verdade procuro pelo Cléber, o rapaz das bebidas. Eu havia pedido para ele separar umas bebidas para mim.
- Sim, claro. Ele está no fundo da cozinha. Vou chama-lo.
- Não é necessário. Eu vou até lá. Obrigado. – Disse Renato seguindo para o local indicado pelo chef Alan.
- Olá Cléber.
- Senhor Renato? – Ele assustou-se
- O que lhe pedi está pronto.
- Sim senhor, o vinho branco já esta preparado e as taças que o senhor me pediu para levar para a reunião já está separada.
- Muito bem. Então naquelas taças coloque uma gota disso. – ele tirou um pequeno frasco do bolso da camisa olhando para os lados para ver se não havia mais ninguém ali. – e não esqueça de deixar a minha na ponta para eu diferencia-la.
- Si... sim senhor.
- Você está bem? Isso agora não Cléber.
- Desculpe senhor, apenas um pouco nervoso. E se todos morrerem agora?
- Não seja estúpido. Isso não vai acontecer. Me foi garantido que vai levar de duas a três semanas e que essa substância não sai em exame algum.
- Está bem senhor.
- Certo. Em um pouco mais de uma hora estarei lá, mas você será avisado. E cuide para não misturar as taças.
- Sim senhor. – Disse Cléber vendo Renato se afastar.
Cléber ficou por alguns segundos olhado para o pequeno frasco com liquido transparente como a água. Ele o pegou nas mãos e o segurou firme com o punho fechado e levemente bateu na cabeça.
Ele abriu rapidamente o frasco e despejou o liquido dentro de um ralo que havia ali perto e guardou o vidro em seu bolso.
12
- Ao nosso sucesso. – Gritaram todos.
Quase ao mesmo tempo do tilintar das taças, as luzes do prédio se apagam e todos acham que faz isso faz parte da festa até ouvirem um som de sirene e sentirem um pequeno tremor.
Vidros quebrando e coisa caindo.
Antes mesmo que qualquer ação pudesse ser tomada todos sentiram que o chão havia sumido e de fato ele sumiu.
Sete segundos e um enorme ruído depois o prédio inteiro estava no chão sem nenhum sobrevivente.
FIM.
Autor(a): J.M.S. Efferon
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