Fanfic: Guerras dos magos mestiços - Futuro | Tema: original
Acordei com uma dor de cabeça catastrófica, ela latejava freneticamente e me dava náuseas toda vez que eu tentava levantar.
—sonho idiota — resmunguei para mim mesma, passei as mãos pelo rosto para espantar o sono.
Minhas mãos estavam ásperas, como se as tivesse ralado no asfalto. Exatamente como no sonho.
Olhei horrorizada para minhas mãos arranhadas e tratadas, assim como joelho, tornozelo e outros diversos pequenos hematomas, tentei apalpar meu ombro, mas o machucado agora parecia ter uma dor distante, não mais com a intensidade de antes. Minhas roupas estavam empoeiradas e rasgadas em uma infinidade de lugares.
Olhei, abalada, para o meu quarto, ele parecia o mesmo, a mesma desordem de roupas com a qual deixara os mesmos tons de azul de sempre entrava pela janela através das cortinas fechadas, tudo parecia na mesma paz e silencio de sempre.
Se não fosse o barulho de panelas na cozinha.
Levantei com mais facilidade do que pensava, peguei o bastão de metal que estava ao lado de minha porta e sai do quarto.
Aquela era uma casa antiga, em estilo vitoriano, reformada inúmeras vezes para acompanhar a modernização, tinha muitos quartos e salas, quase nunca utilizados e o eco que uma peça produzia parecia poder ser escutada na casa inteira, o meu era o primeiro quarto após a escada, o que facilitava mil vezes para escutar os barulhos que ressoavam nas paredes.
Desci o mais silenciosamente possível e o som de armários se fechando e passos abafados confirmou que o invasor não era a minha imaginação, espiei pela porta, mas a geladeira estava aberta bloqueava minha visão, tudo o que podia ver era um rabo canino de pelagem preta, lembrei-me do lobo do meu sonho, uma fera negra que lutara com a raposa.
Se ele havia me protegido ou me guardado para o jantar, eu não ia ficar para descobrir.
Comecei a recuar calmamente em direção da porta de entrada, com esperança de fugir.
—quanto tempo você ainda vai ficar ai? —uma voz masculina se elevou no silencio da casa — e você e idiota ou o que para ficar comendo essas porcarias congeladas? — a porta da geladeira se fechou e revelou quem falava comigo.
Não sabia se ficava assustada, abismada ou admirada.
Carregando uma lasanha congelada estava um homem completamente lindo, parecendo um príncipe encantado encarnado. Se não fosse o mero detalhe de duas enormes orelhas lupinas que brotavam de sua cabeça e a cauda, obviamente. Ah! E o mero detalhe dos olhos amarelos predadores que nenhum príncipe da Disney teria.
Muitas garotas provavelmente matariam para estar no meu lugar, olhando aquele homem misterioso que, convenientemente, estava sem camisa, e eu entregaria com o maior prazer.
Ou talvez com não tanto prazer... Mas eu não ia cair nessa tão fácil.
Ele se aproximou de mim e limitei-me a pensar nas coisas básicas: homem seminu, invadindo a minha casa, um homem seminu lindo, o taco de metal estava em minhas mãos, me defender, atacar!
O rapaz que se aproximava agora estava perto o suficiente para eu acerta-lo e, sem hesitar, balancei o bastão em direção a sua cabeça. Ele pareceu surpreso por um momento, mas conseguiu desviar facilmente de minha investida e antes que a pequena vantagem de elemento surpresa se desfizesse, tentei acerta-lo novamente, agora no ombro, porem o invasor era rápido demais.
—mas que droga você está fazendo, imbecil? — ele graniu, irritado e desviou de um terceiro golpe.
O xingamento me deixou furiosa e coloquei toda a minha raiva em um ataque visando sua cabeça novamente, em vez de desviar, dessa vez, ele aparou o golpe com uma mão. Senti que tentava bater num bloco de concreto e ele segurava a arma tão forte que não consegui move-la um milímetro sequer e, como se não bastasse essa demonstração de força ele fechou levemente a mãos e, aparentemente sem esforço algum, afundou o metal como se fosse papelão, inutilizando a arma.
Tentei partir para outro ataque físico e acerta-lo no meio das pernas, mas ele previu meus movimentos, pois segurou meu joelho com a mão livre. Eu estava imobilizada. Ainda disputando o bastão inútil e agora em um pé só.
— dá para você se acalmar? — o homem rosnou, parecia frustrado e irritado — porque você está me atacando? É assim que você trata alguém que salvou a sua vida?
—ladrão! — gritei e puxei o bastão com toda a força que dispunha — fora da minha casa!
—hãm? — ele se aproximou e eu involuntariamente recuei — que tipo de piada e essa? Você me tirou daquela prisão e me colocou uma coleira! Você acha que eu queria isso? Pare com esses joguinhos só porque eu não tenho escolha de não participar.
— do que você está falando? — eu realmente sem entender o que aquele estranho falava, como se tudo o que dissesse fosse em outro idioma — não estou fazendo joguinho nenhum! E que coleira? Você por acaso e masoquista? Seu... Seu ladrão exibicionista de cosplay!
— cosplay? ... — ele suspirou exasperado.
Antes que eu pudesse reagir ele puxou o bastão para frente, me desequilibrando e então passou o braço entorno da minha cintura amparando minha queda e antes que eu pudesse protestar me jogou por cima de seu ombro, como um legitimo saco de batatas. Gritei. Me debati. Chutei e soquei o mais forte possível, mas nada parecia surtir efeito.
— você berra de mais — ele disse irritado enquanto andava — e tem uma voz aguda de mais, e irritante — ele disse carrancudo.
Chegamos à cozinha e ele me largou em uma cadeira em frente à mesa com a mesma gentileza com a qual me carregara e voltou a vasculhar a geladeira e os armários, fiquei alerta, pronta para fugir, mesmo sabendo que seria meio impossível correr mais que ele.
— o que você está fazendo? — perguntei, já estava recomeçando a sentir um pouco das dores no corpo, minha adrenalina já começava a me deixar e eu estava quebrada.
— comida — ele tirou uma frigideira e alguns ovos e começou a cozinhar, enquanto se movia a cauda preta que saia de suas costas ia de um lado para outro, acompanhando os movimentos que ele fazia — você mal consegue parar em pé — enrubesci, minha debilidade começava a me irritar profundamente e, como se invocado, meu estomago começava a roncar com o cheiro da comida — e meio obvio que você está com fome — ele apontou para a minha barriga com a colher de pau que segurava e deu um meio sorriso que resolvi interpretar como arrogante — fique quieta um instante, acho que nos dois precisamos entender o que está acontecendo, mas se você morrer pode ser um problema para mim.
— quem e você? — perguntei acusadoramente enquanto ele colocava um prato abarrotado de ovos mexidos com bacon na minha frente, olhei desconfiada para a comida.
— coma — ele ordenou e cruzou os braços e antes que eu pudesse fazer algum comentário infame ou protestar ele ameaçou — se você não começar a comer, eu vou fazer você comer — olhai para ele novamente, não restava mais dúvidas que ele era mais forte do que eu, então me resignei a comer vagarosamente — boa garota — ele disse entre dentes e ergueu uma sobrancelha quando ataquei com vontade o prato — primeiro, vamos começar com quem e você — ele fez uma pausa para me dar tempo de prestar atenção no que ele dizia — você e uma bruxa... Sabia disso?
Fiquei paralisada com o garfo no ar, entre o prato e minha boca aberta, achei que já tinha esgotado minha cota de maluquices, mas acho que finalmente poderia ganhar um prêmio.
—uma-uma o que? — gaguejei incrédula — desculpe, acho que não ouvi direito.
—bruxa — ele repetiu com convicção.
—ah! Sim! Claro! O que mais? — tripudiei — posso voar em vassouras? E você? É o que? Um lobisomem bonzinho que veio me ajudar? — repudiei aquela ideia absurda daquele homem absurdo, era obvio que eu ainda estava alucinando e agora eu via o resultado de assistir a filmes de fantasia de mais.
— esqueço desse maldito senso comum que os filmes criaram! — ele falou frustrado, como se lesse minha mente — e diferente daquelas que você por ai em filmes ou livros, uma bruxa e uma pessoa que possui uma percepção sobrenatural, e pode ter um controle sobre energia, no caso mais comum e se vincular a um servo, como eu sou seu.
Levei um segundo a mais para processar a frase “como eu sou seu” ... Desde quando eu tinha que pagar alguém e não sabia?
— e o quer dizer com ser meu servo? — balbuciei confusa.
—quer dizer que eu sirvo a você para você fazer o que quiser — ele me deu um sorriso malicioso e como se para enfatizar suas palavras ele cruzou os braços na nuca, exibindo o peito desnudo.
Engasguei com a comida e tossi sem parar e torci para que a o rubor que sentia no meu rosto fosse apenas por causa da falta de ar, o estranho ria de meu embaraço, o que me deixou zangada.
— mas que droga! — elevei a voz — vá colocar logo a porcaria de uma camisa!
—isso quer dizer que eu estou ligado a você — ele continuou ignorando completamente meu apelo — como eu posso dizer... — ele parecia mais sério agora, menos focado em me provocar — olhe — ele puxou alo com a mão, a princípio não pude ver, mas então franzi o cenho para a corrente que ele segurava ligada a um colar de couro que parecia uma coleira, mas a outra ponta sumia no ar — você não me parece muito inteligente, então vou resumir da forma mais simples possível — não sabia se deveria ficar ofendida por ele ter me chamado de burra ou grata por ter finalmente uma explicação do que estava acontecendo— criaturas como eu são chamados de demônios e pessoas como você, chamadas de bruxas, a muito tempo, um grupo de bruxas aprendeu a subjugar demônios e assim poder usar de seus poderem para interesse próprio e, para evitar rebeliões e coisas do tipo, os poderes são limitados pelo patrono, assim como há consequências se eu te ferir ou você se machucar ou acontecer algo por minha negligencia.
— que tipo de consequências? — o interrompi.
— uma morte longa e dolorosa se você morrer... Ou só a parte longa e dolorosa... Basicamente eu sinto suas dores elevadas ao triplo — ele explicou impacientemente.
— porque você estava dentro de um livro?
Ele suspirou, já prevendo a enxurrada de perguntas que viriam a seguir.
—servos podem ser aprisionados em objetos e selos. Podem ser presos por qualquer bruxa se forem pegos desprevenidos... Mas geralmente o próprio patrono os prende por punição ou algo assim. Eu fui preso após a morte de meu patrono, para evitar que eu ficasse livre.
—... Que clichê — empurrei o prato agora vazio, apoiei os cotovelos na mesa e o queixo no punho, numa pose seria — como eu me livro de você?
— você já quer me jogar fora? ... — as orelhas dele abaixaram, com um ar decepcionado — você pode me prender ou me libertar... — ele disse sem vontade.
— então eu te liberto, vai embora — balancei as mãos como se enxotando um cão de rua incomodo — xô, xô.
— e mesmo? E o que pretende fazer se aquela raposa voltar? — ele perguntou astutamente.
— já pensou que ela pode estar atrás de você e não de mim? Afinal ela apareceu onde você estava preso e antes de estar lá eu nunca tive problemas com nenhum animal selvagem anormalmente gigante me caçando antes — rebati afiada.
— é mesmo? — ele cruzou os braços e ignorou toda a minha sagacidade de resposta — e você vai se matar para me libertar?
Abri a boca para retrucar novamente, mas nenhum som saiu dela, pisquei diversas vezes tentando processar a palavra “morte”.
— como? — engasguei.
— eu só posso ser livre se meu mestre morrer — ele sorriu vitorioso.
— e como eu te prendo? — não sei por que, mas o sentimento de perdedor que eu estava sentindo começa a me irritar profundamente.
— por que eu te contaria? — ele se inclinou por cima da mesa em minha direção — me desculpe, mas voltar para uma prisão de vidro como aquela não está nos meus planos — antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele continuou — repito: e se a raposa voltar?
Bufei indignada com a derrota, incapaz de pensar em qualquer coisa que pudesse fazê-lo se calar e manda-lo embora. Mas nada aparecia em minha mente.
— e? —foi minha vez de cruzar os braços, se eu não podia vencer a discussão pelo menos ia conseguir algumas respostas — porque aquela besta está atrás de mim?
Ele franziu o cenho e pareceu pensar por um instante.
— vai saber? — ele concluiu — talvez seja só uma raposa-demônio selvagem e sentiu o seu cheiro de bruxa e resolveu te atacar por rancor... Ou talvez você tenha pisado no rabo dele o deixou furioso.
—ah! Ótimo! Achei que você era o senhor sabe-tudo! — eu tive vontade de rir histericamente, mas sabia que se fizesse isso o próximo passo seria o hospício então respirei fundo para me acalmar — e então? Devo simplesmente me com toda essa maluquice? — bati na mesa com as palmas das mãos, chegando a levantar as louças em cima da mesa — simplesmente tenho que aceitar que, do nada, eu sou uma bruxa, tenho um servo cachorro-príncipe da Disney e estou sendo caçada por uma raposa-demônio monstruosa?
Ele manteve a calma e pensou por um instante.
—... É — ele balançou a cabeça para enfatizar.
—não ferra comigo! — berrei — quem em sã consciência iria aceitar uma porcaria dessas?
Minhas palavras parecem não afeta-lo, mas eu realmente estava com vontade de socar aquela cara impassível o mais forte que podia.
— me surpreende você não saber nada disso — ele se levantou e tirou o prato e os talheres da minha frente, possivelmente prevendo que eu logo pegaria a faca e o acertaria — tudo o que lhe expliquei e básico... Passado de pai para filho.
— é isso que eu estou falando! — minha voz chorosa parecia a de uma criança de cinco anos — eu não sou uma bruxa ou o que quer que seja! Não sei de nada disso! Meus pais são só humanos normais e mundanos — eu o vi abrindo a boca para falar, já tinha uma ideia do que ia sair dali e era uma ideia que me irritava profundamente — não se atreva a me dizer que eu sou adotada! — fiz uma carranca mal humorada.
— eu não sei dizer o que aconteceu... — ele falou devagar e cautelosamente — eu acredito em você, ao que parece você não esconde sua energia e ela parece errática como a de uma criança sem controle, apesar de ser forte... Vou te ajudar com isso, não se preocupe — ele mudou para um tom de voz mais tranquilo — mas pode ser que seus pais não manifestem poderes e por isso não sabem... E então? Quando eles chegam?
Nesse momento eu tive duas certezas. Primeira: aquele homem na minha frente parecia um especialista em psicologia e relação de pessoas, ele parecia perfeito de mais em qualquer reação que tivesse e segundo: eu estava realmente louca, e aparentemente sem salvação.
— ninguém vai vir eu moro sozinha aqui — cocei os olhos com força, a fadiga parecia alimentar minha dor de cabeça — mas antes que você pense besteiras de novo, meu pai está na florida com a namorada vinte anos mais nova e minha mãe está trabalhando fora do país.
— isso explica o porquê só tem seu cheiro nesse lugar... — o fuzilei com o olhar — não estou dizendo que você fede idiota.
— ah é — comecei a me levantar — esqueço que cachorros tem um olfato apurado... Então você e um cão farejador não?
— onde você vai? — ele começou andar para me acompanhar.
— vou tomar banho e vou dormir... — fui em direção a porta da cozinha — e espero acordar amanhã e descobrir que e tudo um pesadelo macabro...
— e se não for? — ele perguntou e eu estanquei no lugar.
— e claro que é — resmunguei — não tem como tudo isso ser verdade... Mas se você ainda estiver ai de manhã ou eu me mato ou vou para um sanatório.
Voltei a caminhar lentamente para meu quarto, subindo as escadas numa lentidão quase agonizante.
— e eu sou um lobo! — ouvi o gritar da cozinha quando cheguei à porta do quarto.
Tomei meu banho sem pressa e quando sai percebi que meu relógio de cabeceira marcava ainda seis horas da tarde, mesmo assim, vesti meu pijama e deitei, escutando os incômodos barulhos de alguém no andar de baixo, demorei-me analisando a situação sem pressa, até, enfim sucumbir ao cansaço.
Autor(a): my_fair_lady
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Acordei com meu despertador do celular fazendo a algazarra de sempre, odiava ter que ir para a escola, acordar cedo era sempre um saco. Passei as mãos pelo rosto e, ao encontrá-las macias, lembrei-me do ocorrido no dia anterior, olhei para mim mesma, não havia machucados ou ataduras em qualquer lugar, não pude evitar rir e me joguei na cama de co ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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my_fair_lady Postado em 03/03/2017 - 06:20:26
pessoal... eu sei que talvez seja pedir demais... mas eu gostaria que pelo menos uma pessoa lesse e me desse uma opinião sincera... é a primeira vez que faço algo como mostrar o que eu escrevo e nao estou muito confiante... sera que alguém poderia dar uma de beta reader e me dizer se tem algo errado?