Fanfic: Let me know | Tema: Miraculous Ladybug
Correr pelos telhados era algo fácil para Chat Noir, mas nunca pareceu tão desafiador quanto naquela noite. As telhas estavam molhadas e escorregadias, a chuva forte escurecia sua visão e seus pensamentos estavam confusos.
Três meses haviam se passado desde que pessoas começaram a sumir. A cidade estava sitiada e em estado de alerta. Quatro de seus colegas de classe haviam desaparecido. Mylène, Nino, Marinette e Juleka, mas não era com eles que Adrien se preocupava, pelo menos não como estava preocupado com Ladybug.
— Droga! — Chat Noir pisou em falso e caiu derrapando por um telhado íngreme.
Usou as garras para frear a queda. Seus cabelos loiros estavam molhados, a roupa preta parecia pesar como o pelo de um gato de rua debaixo daquela chuva. Era isso, deveria estar parecendo um gato de rua abandonado sob a chuva, mas era assim que se sentia, então não importava. Chat Noir ficou de pé e olhou para baixo. Não reconheceu a rua, não tinha nada familiar por ali. Balançou a cabeça, sentindo gotas de chuva escorrer por seu rosto. O que estava tentando fazer? Ladybug não estaria ali, não estaria num beco ou rua qualquer. Estaria presa em algum lugar de Paris que ele não conseguia pensar. Chat olhou seu Miraculous. Ainda havia duas cargas, mas acabariam em qualquer segundo e não podia se arriscar.
Deu um salto calculado para um prédio mais alto e se encontrou. A Torre Eiffel brilhava, mesmo com o aguaceiro que caía do céu e Chat observou suas luzes ao longe. Ele queria ter uma pista tão brilhante quanto aquela maravilhosa torre. Uma pista que o ajudasse com sua busca solitária para encontrar os desaparecidos, mas quem tinha as melhores idéias e a melhor visão para tudo era Ladybug e ela não podia ajudar.
O gato fez o caminho de volta mais rápido que pode e assim que colocou os pés no chão de seu quarto seu Miraculous desativou.
— Essa busca cega não vai dar em nada e você sabe disso, não é? — Plagg disse pairando cansado ao lado de Adrien.
O garoto tirou a camisa molhada, ignorando Plagg. Abriu um pequeno pote cheio de queijos e deixou na mesa do computador. Entrou no banheiro ainda de calça e ligou o chuveiro quente. Deixou a água escorrer por seus ombros, sentindo as costas arderem. Quando se tornou desconfortável, deixou a água morna só para terminar.
— Adrien? — Uma voz chamou de seu quarto.
Adrien revirou os olhos com insatisfação só por pensar que teria que dar uma desculpa ao pai. Não queria vê-lo. Não queria ver ninguém. Só que precisava, seria isso ou ouvir sermões de Gabriel Agreste.
Saiu do banheiro com a toalha envolta da cintura. O pai examinou o garoto com a mesma expressão séria de sempre, mas Adrien já estava acostumado. Ser uma decepção aos olhos do pai foi algo que o atormentou por anos, mas agora não ligava. Apenas ouvia o que ele quisesse dizer quando lembrava que o filho vivia por ali e que podia estar fazendo algo errado. Como sair de casa no meio de uma tempestade sem dizer nada.
— Percebi que não estava no quarto quando passei aqui mais cedo. — Gabriel Agreste disse, olhando o quarto do garoto com ar de desaprovação. — Aonde estava?
— Por aí. — Adrien respondeu olhando o pai. O terno sempre bem arrumado, os cabelos loiros penteados com cuidado, o rosto pálido parecendo irritado.
— É perigoso sair, Adrien. — Olhou para o garoto.
Adrien sabia que Gabriel não gostava de olhar em seus olhos. Sabia que lembrava a mãe e que o pai via a semelhança de forma dolorosa. Descobriu isso quando ainda era criança, mas guardava para si.
— Não quero que saia escondido. Já deixei você estudar numa escola comum, não me faça repensar em ter te dado essa liberdade. — Gabriel pareceu realmente chateado em dizer isso e Adrien percebeu que ele queria protegê-lo, mesmo que sua relação com ele não fosse a melhor.
O garoto suspirou e levou a mão aos cabelos molhados, sacudindo-os.
— Era só isso? — Perguntou se dirigindo para o guarda-roupas, dando as costas para o pai.
— Não. Tem outra coisa. — Adrien se virou e viu quando Gabriel estendeu um envelope. — Deixaram aqui mais cedo pra você. Parece importante.
Hesitante, Adrien pegou o envelope e analisou os dois lados. Só havia uma escrita impressa na frente. Apenas para Adrien, dizia. Abaixo, o endereço da mansão Agreste. Sem remetente.
— Obrigado. — O garoto disse e Gabriel entendeu que deveria sair.
Adrien colocou uma roupa confortável e sentou na cadeira da mesa do computador. Depois de dar mais uma olhada no envelope, abriu. Plagg apareceu sobre seu ombro e olhou curioso o que Adrien fazia.
— Que é isso? — Seu Kwari perguntou, adiantando-se para frente. Adrien afastou ele com delicadeza. — Abre logo.
— Estou abrindo, Plagg, para de ser impaciente.
A folha que Adrien puxou do envelope era rosa claro. Haviam desenhos nas laterais e uma letra delicada preenchia parte da folha.
— Lê em voz alta. — Plagg pediu quando se sentou na tampa do pote de queijos e pegou um, que cheirava a meias sujas.
"Querido Adrien, eu estou escrevendo isso para que possa eu me sentir melhor. Eu sei que essa folha nunca estará em suas mãos, que você nunca lerá isso, o que em parte me conforta, em parte me entristece. Queria ter olhos para outra pessoa, alguém que me note, que saiba dos meus sentimentos e perceba os sinais que dou. Claro que ajudaria se eu não fosse tímida, fosse mais como a Chloe, desinibida e um pouco escandalosa, mas eu não consigo, então tudo que posso fazer são essas cartas que escrevo e guardo, que até mesmo queimo.
Não é a melhor declaração, mas pensando bem, nem mesmo é uma. Vou deixar por isso.
Com amor, Marinette."
Adrien releu pelo menos umas cinco vezes para ver se tinha entendido. A garota do chiclete estava apaixonada por ele? Não podia ser, ela não gostava dele, sabia disso. Ou pelo menos achava que sabia. Aquela carta era dela, só podia ser. Só não entendia se tinha lido certo. Marinette parecia nem gostar de falar com ele. Toda vez que ele a cumprimentava ou estava perto, ela parecia ignorar. Ficava calada, apenas olhando para ele.
— Humm, sabia desde o começo que seriam mais que amigos. — Plagg comentou mastigando o último queijo do pote.
— Não, isso está errado. Ela não pode gostar de mim.
— Por quê? — Plagg se esticou lambendo os dedos. — Algo errado nisso? Não gosta dela?
— Não é isso... — Adrien soltou o papel sobre a mesa, mas continuou olhando para ele, como se algo assustador pudesse sair dali. — Ela não me dava sinais... Quer dizer, agora ela está desaparecida.
— Se não tivesse, ia fazer o quê?
Adrien colou as costas na cadeira e fechou os olhos.
— É complicado, você sabe o que sinto pela Ladybug.
Plagg girou ao redor da cabeleira loira do garoto. Não disse nada, estava esperando ele continuar.
— Se ela não enviou isso, quem enviou? — o garoto pegou o envelope e procurou algo que pudesse ajudar.
No canto, uma mancha quase imperceptível chamou a atenção do garoto. Parecia poeira. A poeira fina que cobre as ruas nos dias de verão quando venta. Não era nada demais, mas pelo menos era algo e tinha que se agarrar a uma pista qualquer, porque se achasse Marinette, achava Ladybug.
A manhã que se seguiu a chuva estava ensolarada, mas as ruas ainda estavam molhadas e o tempo estava meio frio.
O Sr. Dupain já estava cansado e nem eram dez horas, mas não desistiria de espalhar cartazes por toda a Paris. Só descansaria por completo quando a filha estivesse na segurança de seus braços. Três meses e ele e a mulher continuavam firmes. Marinette estava bem, assim esperava, e logo eles a encontrariam e quem quer que estivesse mantendo todos os desaparecidos em cativeiro seria punido.
— Precisa comer algo, meu amor. — A Sra. Chang disse passando a mão pequena no braço do marido. — Precisamos ter forças para continuar.
— Tem razão, querida. — Frustado, ele olhou os cartazes com a foto da filha. Marinette sorria espontânea, feliz, no primeiro dia de aula do último ano e o Sr. Dupain adorava aquela foto. — Uma pausa me ajudaria um pouco. Vamos voltar para a padaria e posso preparar algo.
A Sra. Chang concordou devagar, colando mais um cartaz no muro ao seu lado.
No caminho de volta, os dois seguiram olhando para os muros. Não eram só fotos de Marinette que estampavam as ruas. Outros pais procuravam seus filhos. Crianças estavam desaparecendo e agora a cidade estava em estado de alerta.
Uma mulher ruiva chorava desesperada sentada numa calçada. Pilhas de papéis com fotos de um garoto, da idade de Marinette, voavam com o vento que circulava pela cidade. Uma folha rodopiou acima de suas cabeças e caiu aos pés do Sr. Dupain, que a pegou olhando para a mulher na calçada.
Leu a descrição abaixo da foto do garoto magricela na foto.
— Desapareceu no dia 29 de agosto. Última vez que foi visto estava desenhando em seu quarto. Qualquer informação, ligar imediatamente para os números abaixo. Atenciosamente, uma mãe desesperada. — Leu em voz alta para que a esposa pudesse acompanhar. — Foi noite passada.
Sra. Chang não falou nada. Sentiu a garganta fechar e lágrimas nos olhos. Sabia bem o que aquela mulher sentia. Sentira o mesmo três meses atrás e ainda sentia a dor da perda. Não queria pensar assim, que havia perdido a filha, mas já fazia tanto tempo sem nenhuma notícia que a esperança começava a ruir. Era terrível. Tinha que acreditar que sua tão amada Marinette estava bem. Ela tinha que estar bem.
Chegaram à padaria e viram um garoto loiro esperando na porta. Quando ele se virou, os pais de Marinette reconheceram Adrien Agreste.
— Bom dia, Sr. Dupain e Sra. Chang. — Cumprimentou melancólico. Parecia que todos naquela cidade estavam assim. — Eu vim ver se tem alguma notícia...
— Olá, Adrien. — Sr. Dupain respondeu abrindo a porta de vidro da padaria. — Nenhuma notícia. Já quase não tem lugar pra colar cartazes nessa cidade. Nunca achei Paris tão pequena.
O garoto concordou. Seus lábios estavam comprimidos, como se tentasse falar algo, mas tivesse dúvidas se fosse algo para se dizer. Por fim, decidiu falar.
— Sr. Dupain, humm... Queria saber se vocês enviaram essa encomenda para minha casa ontem. — Adrien estendeu o envelope aberto para o homem enorme à sua frente.
— Não, não enviamos nada. Por quê? — Respondeu Sr. Dupain olhando o envelope que tinha nas mãos.
— Nada, é uma carta sem remetente e... Achei que pudesse ser de vocês.
— É alguma coisa da Marinette? — Sra. Chang perguntou puxando o papel das mãos do marido.
Estava vazio. Adrien desviou os olhos quando os dois olharam para ele curiosos.
— Adrien, sabe que se souber de algo precisa nos avisar, não é? Marinette é nossa filha e a falta que faz não é pouca. Qualquer coisa sobre ela é importante. — Começou Sr. Dupain colocando o braço nos ombros da esposa. — Então, se tiver algo para falar, já sabe onde pode os encontrar.
Adrien assentiu. Um carro buzinou na esquina fazendo o garoto revirar os olhos. Relutante, ele se despediu dos Dupain-Chang e caminhou até o carro particular dos Agreste.
Sem Nino, a escola era um lugar ruim. Adrien sentou no lugar de sempre e se apoiou na mesa, sentindo os músculos doerem pela corrida da noite anterior. Olhou para o lugar vazio à sua frente e pensou em Marinette. Tentou lembrar quais sinais eram aqueles que ela deixava para ele, mas nada vinha a mente. Adrien pensou em quem era aquela garota de verdade. Além de ótima amiga e estilista, que ele já sabia que ela era, o que mais escondia?
— Adrien! — Chloe sentou ao seu lado. Os lábios cheios de gloss brilhavam num sorriso afetado. Ela se inclinou para ele e tocou seu braço com intimidade. — Adrien, querido. Como você está?
— Assustado? Sentindo falta dos colegas e de respostas para esses desaparecimentos? — Adrien estava cansado. Não queria Chloe sendo superficial perto dele. Queria Nino contando piadas e até mesmo Marinette sussurrando com sua melhor amiga.
— Bela resposta. Não era o que eu queria, mas tudo bem. — Chloe apertou os lábios desaprovando a resposta de Adrien, mas logo se recompôs. — É realmente preocupante o que está acontecendo e acho que pessoas como eu ou você temos que ter cuidado ao sairmos de casa. Quer dizer, meu pai é o prefeito e seu pai é Gabriel Agreste, então devemos ser um alvo constante. Eu por exemplo estou andando com dois seguranças para me proteger, até Sabrina tem um agora!
— Chloe, olha, não estou muito bem, ok? Queria ficar um pouco só. — Adrien falou, antes que a garota começasse outro discurso aleatório sobre ela mesma e sua segurança. — Por favor?
Chloe pensou um pouco. Franziu o cenho e estalou a língua.
— Tudo bem, entendo. Você não parece bem mesmo. — Chloe olhou para ele preocupada, algo que Adrien nunca havia visto nela.
Chloe não era totalmente fútil, mas alguns assuntos deixavam Adrien irritado. Claro que ele não demonstrava, gostava de ter amigos, mesmo que Chloe soasse esnobe e egoísta na maior parte do tempo.
— Obrigado por entender. Mais tarde a gente conversa então. — Ele tentou sorrir, mas não saiu. A cabeça estava trabalhando em volta da única pista que tinha.
Chloe esticou a mão e tirou uma mecha do rosto de Adrien, que se afastou um pouco, se sentindo desconfortável. Estava se tornando um hábito se sentir assim.
— Até mais. — Se despediu a amiga com a voz baixa, parecendo triste.
Alya entrou na sala e se jogou em seu lugar. Seu cabelo estava amarrado e a roupa ao contrário. Parecia cansada e Adrien não demorou a pensar no motivo. Alya era a mais empenhada nas buscas. Usava todos os recursos que tinha em mãos para procurar pistas.
— Alya? — Chamou. — Alya, preciso falar com você.
Alya virou para trás, para olhar Adrien. Os olhos estavam fundos das noites mal dormidas.
— Preciso da sua ajuda com uma coisa, podemos conversar no intervalo? — Perguntou Adrien, o mais baixo que pode para ninguém ouvir, mas reparou que Chloe o olhou parecendo ofendida. — É sobre Marinette.
Alya arregalou os olhos. Pareceu despertar de repente. Se inclinou para mais perto de Adrien, para que só ela pudesse ouvir o que ele tinha a dizer.
— Acho que tenho uma pista. — Continuou sem esperar uma resposta. — E preciso da sua ajuda.
Autor(a): Loretha
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
A biblioteca da escola estava quase vazia. Os poucos alunos espalhados pelo lugar estavam distraídos e nenhum deles olhou quando Adrien e Alya sentaram-se numa das mesas mais afastada. — Não entendo... Como isso chegou pra você? — Alya segurava a folha rosada, olhando a letra delicada da amiga. &n ...
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