Fanfic: Em Perigo. | Tema: Original
Acordei com uma dor agoniante em minha cabeça, uma agulha enfiada em minha veia, um liquido desconhecido escorregando para minha corrente sanguínea. Onde estou? Deitada numa cama de dossel esculpida numa madeira escura, na verdade todos os móveis eram feitos de madeira escura. Todo quarto era luxuoso mas era rústico, de outra época com móveis, estantes de livros, poltrona, sofá, escrivaninha, cadeira e tudo que estava ao alcance de meus olhos era antigo. A luz do quarto era baixa, as cortinas que pendiam até o chão estavam fechadas e eu tinha apenas uma luz amarelada que vinha do abajur sobre o criado-mudo ao lado da cama.
Num movimento puxei a agulha de minha veia, senti uma pontada de dor, logo o sangue escorreu por meu braço. Dois segundos depois um garoto apareceu no quarto abrindo a porta.
— Caramba! Achei que você ia ficar desacordada por mais um dia. — disse ele se aproximando de mim. Quem é ele? Me afastei dele para o outro lado da cama. Eu estava pronta para levantar e correr. — Não tenha medo. Eu me chamo Ryan. — estendeu a mão para mim. Coloquei minha mão na dele e apertei levemente. — E você como se chama?
— Lise… Me chamo Elise.
Ryan é jovem, seu cabelo é castanho escuro e longo, preso num coque bagunçado. Sua barba estava por fazer, pele branca como mármore. Ele usava uma blusa branca por dentro no cardigã cinza com detalhes em preto e branco de algodão com fecho frontal de botões, um jeans escuro surrado, o pés eu não pude observar.
—Você dormiu por três dias. — ele disse pegando uma bola de algodão e molhando com soro. Caminhou até o outro lado da cama, onde eu estava, limpou o sangue de meu braço passando o algodão molhado por onde o sangue escorreu muito rapidamente. Do bolso da calça ele pegou um curativo adesivo e colou no meu furo da agulha. — Não pode tirar nenhuma agulha da veia assim, é perigoso. — ele se afastou
— Hm… Desculpe. — me levantei — Por que estou aqui? Eu não te conheço e não faço a mínima ideia de onde eu esteja. Quero ir para minha casa, minha mãe deve estar me esperando e eu não quero que ela brigue comigo.
— Você não se lembra o que aconteceu com você, Elise?
Ele deixou de mexer nos livros da estante.
— Como assim o que aconteceu comigo?
— É bom que você se sente. — ordenou
Peguei meus tênis que estavam no chão aos pés da cama, caminhei até a poltrona antiga, me sentei no couro gelado e comecei a vestir minhas meias. — Pode dizer, estou escutando.
— Sua mãe não estava muito bem, creio que se lembre disso. Ela se envolveu com drogas e teve uma overdose… — disse ele encostado no dossel da cama e me olhando.
— O que? — levantei os olhos para ele
— Sim. Ela perdeu sua guarda e está internada numa clinica de reabilitação.
Mamãe, eu a amo mas eu já desisti de tentar ajudar com os problemas com as drogas. Já tentei várias vezes conversar, explicar o quão seria bom ela se livrar dos vícios, ter uma vida normal, sem a cocaína e a bebida. Era impossível conversar com ela sobre isso, ela sempre ameaçava me bater e que dizia que eu não tinha que me meter nos assuntos dela, que se eu insistisse nisso iria me colocar para fora de casa.
— Ela te bateu por tentar interná-la a força, você não se lembra? Seu corpo está cheio de hematomas. Seu olho está bem menos inchado desde quando você chegou aqui. — ele apontou para o espelho — A partir de agora você vai morar com sua tia, ela mora quatro quarteirões daqui.
Me levantei e fiquei em frente ao espelho. Meu olho direito estava com um hematoma horrível, grande e inchado. Passei os dedos devagar no roxo, estava dolorido. Levantei minhas blusa até a altura dos seios, um hematoma enorme em minha costela. Lágrimas pinicaram em meus olhos, desceram por minhas bochechas, como minha própria mãe pôde me espancar por querer ajuda-la? Tentar tirar de seu caminho drogas, bebidas e pessoas ruins que só queriam ver ela definhar até a morte, tirar de sua vida um cafetão nojento que só queria prostitui-la para ganhar dinheiro e é assim que ela me agradece? Com socos e pontapés, me deixando três dias desacordada na casa de um estranho. Isso foi a gota d’água.
Ryan se aproximou de mim enquanto eu permanecia imóvel de pé olhando meu corpo machucado enquanto lágrimas escorriam por minhas bochechas. Ele abaixou minha blusa devagar, roçando sem querer sua pele fria em minha barriga. Acordei do meu desvaneio.
— Como você sabe de tudo isso? — disse limpando as lágrimas com as costas de minha mão.
— Fui eu quem encontrei você aqui perto quando estava indo trabalhar a noite. Meu tio é delegado e então liguei para ele. Nós tentamos falar com sua tia. — ele senta na poltrona onde eu estava anteriormente. —Você tinha ligado para ela, usamos seu celular para tentar entrar em contato mas não conseguimos. Meu tio Tony entrou em contato com um médico e foi para sua casa atrás de sua mãe para dar entrada na clínica de reabilitação. O médico veio te examinar aqui e uma enfermeira ficou cuidando de você por esses três dias.
— Então eu preciso esperar o médico retornar para sair? — disse confusa com tantas informações de uma vez só.
—Exato. — ele se levantou — Mas você pode tentar falar com sua tia. — tirou do bolso do jeans surrado meu celular e me entregou. — Vou preparar um sanduíche para você, ficou muito tempo dormindo.
Ele saiu mais rápido do que eu pude ver.
Andando de um lado para o outro eu tentava falar com a minha tia Lucy. Na quarta tentativa Lucy atendeu.
— Querida, acabei de ouvir uma mensagem que estava no meu correio de voz do delegado Tony. Como você está?
— Estou confusa. Você chega hoje?
— Sim. Em três horas estarei em casa. Eu passo para te buscar, querida.
— T-tia… — minha voz falhou, prendi o choro em minha garganta.
— Não se preocupe Lise, tudo ficará bem. Te vejo daqui a pouco.
Desliguei. Caminhei até a janela, afastei uma cortina e olhei o céu lá fora. O dia era nublado, logo as gotas de chuva escorriam pelos vidros da janela enorme. Sentimentos ruins voltaram a mim e uma faca enorme fora enfiada em meu coração, de meus olhos jorravam lágrimas tristes. Eu não lembrava dos socos e pontapés que eu havia recebido de minha mãe drogada — pobre mulher —mas só por saber que tinha sido ela que me machucou daquela forma a faca enfiada em meu peito torcia e fazia meu coração sangrar cada vez mais.
Eu tinha boas lembranças de minha mãe, quando eu tinha seis anos ela costumava me levar todos os sábados ao parque para andar de bicicleta. Nós tomávamos sorvete, brincávamos de bonecas. Lucy adora cozinhar e quando não estava viajando fazia um assado maravilhoso, reunia nossa pequena família e nos dava um dia agradável e feliz. Mas depois que mamãe perdeu o emprego, o mundo dela desabou. Começou com bebidas, cerveja, whisky, vodca. Ela era agressiva quando estava bêbada e dormia fora de casa, muitas vezes nas portas dos bares onde costumava beber. Tudo piorou quando ela começou com a cocaína, não dormia e nem comia direito, se prostituía e se metia em brigas para conseguir nem que fosse um pouquinho da droga. Era horrível ver ela vender nossas coisas, gastar todas nossas economias por querer mais e mais se drogar, alimentar o vicio. Mas agora ela está internada e por mais que isso demore, um dia ela ficará bem.
Continuei olhando as árvores, as gotas de chuva molhando e limpando tudo: ruas, carros, casas, árvores, grama. Levando embora alguns sentimentos ruins junto com minhas lágrimas, eu estava um pouco aliviada agora.
Arrepios percorreram por todo meu o corpo, o tempo começou a esfriar. Tirei meus tênis rapidamente, escorreguei para dentro do cobertor na cama de dossel, abraçando um travesseiro de repente eu me senti cansada e entrei num sono profundo.
Autor(a): samjaime
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