Fanfic: SR. UCKERMANN | Tema: RBD
O motor da caminhonete amarela enferrujada de 1998 de Henry rugiu como se fosse explodir quando ele parou na rodoviária. O lugar estava lotado de famílias viajando, pessoas se abraçando, chorando e rindo. Pessoas mergulhando na arte da conexão humana. Tudo aquilo me deixava desconfortável. Fiquei sentada em cima da minha mala com a caixa de madeira da Ana no colo. Passando os dedos pelo cabelo, esperava evitar as mesmas conexões que o resto do mundo parecia buscar. Eu estava derretendo dentro do vestido preto, que batia na altura das coxas, e o ar da noite quente do Rio subia indesejavelmente por minhas pernas. Eu estava morrendo de calor mesmo tarde da noite, e não tinha pensado que teria de esperar mais de uma hora para Henry me pegar. Devia ter imaginado. Às vezes me perguntava se um dia eu ia aprender.
Esperei Henry se aproximar do meio-fio. Seu pneu dianteiro esmagou uma garrafa de água vazia. Vi como a garrafa de plástico tremeu sob a pressão da roda e como a tampa
saiu voando pela calçada, caindo no meu pé. Levantando-me da mala floral vintage que mamãe tinha me dado no meu aniversário de 16 anos, apertei o botão e puxei a alça para cima, levando a mala até a caminhonete. Céus, o carro precisava ser tão barulhento? Henry saltou do carro e foi até a frente me cumprimentar. Sua camisa verde-floresta estava enfiada até a metade na calça jeans, presa por um cinto. Seu sapato esquerdo estava desamarrado, e eu podia sentir o leve cheiro de tabaco na barba, mas, no geral, ele parecia bem.
Por uma fração de segundo, ele considerou a possibilidade de me abraçar e experimentar a mesma sensação que as pessoas a nossa volta estavam experimentando, mas mudou de ideia depois de notar que eu estava revezando o peso entre um calcanhar e o outro. Uma pequena risada escapou de seus lábios.
— Quem anda de vestido e salto alto em um trem?
— Eles eram os favoritos da Ana.
Ficamos em silêncio total, e a crescente onda de lembranças começou a encher minha mente. Henry provavelmente estava lembrando também. Diferentes lembranças da mesma garota extraordinária.
— Isso é tudo que você tem? — perguntou, apontando para minha vida, que estava dentro da mala. Não respondi. Que pergunta estúpida. Claro que era tudo. — Deixe-me pegar isso... — Ele se adiantou para apanhá-la e eu hesitei.
— Pode deixar que eu levo.
Ele suspirou, passando a mão pela barba grisalha. Parecia mais velho do que deveria, mas eu imaginava que arrependimento e culpa provocassem esses danos às pessoas.
— Tudo bem.
Joguei a mala na caçamba da caminhonete e fui até o lado do carona para entrar. Sem conseguir abrir a porta, revirei os olhos. Eu não deveria ter ficado surpresa por aquela porcaria estar quebrada. Henry era especialista em quebrar e ferrar coisas.
— Foi mal, filha. Essa porta não está funcionando bem. Pode subir pelo meu lado.
Revirei os olhos de novo e entrei pelo lado do motorista, tentando não mostrar a calcinha para os carros que passavam. Seguimos em silêncio, e imaginei que seriam assim meus próximos meses.
Silêncios constrangedores.
Interações estranhas.
Encontros desconfortáveis.
Henry podia ser o cara que tinha o nome na minha certidão de nascimento, mas quando o assunto era ser meu pai, ele não era conhecido por sua capacidade de participar.
— Foi mal pelo calor. A porcaria do ar-condicionado quebrou semana passada. Eu não esperava que fosse ficar tão quente aqui. Você sabia que deve chegar perto dos quarenta graus ainda esta semana? Maldito aquecimento global — constatou Henry. Não respondi, então acho que ele tomou isso como um convite para continuar falando.
Não foi um convite de espécie alguma. Eu realmente desejava que ele não tentasse puxar conversa fiada. Eu odiava conversa fiada.
— Ana disse que você estava escrevendo um livro, hein? Consegui colocar você na aula de inglês avançado com um ótimo professor. Sei que as pessoas dizem que nós contratamos o melhor dos melhores, mas, para ser honesto, às vezes aparecem algumas maçãs podres por aí. — Ele riu de si mesmo. Henry é o vice-diretor em uma escola, que em breve será minha escola depois que estes últimos dias de férias de verão chegarem ao fim. Os últimos 180 dias da minha vida escolar seriam gastos com meu pai biológico rondando pelos corredores. Perfeito.
— Tanto faz, Henry.
Prévia do próximo capítulo
Vi que ele se encolheu quando o chamei pelo nome, mas como deveria chamá-lo? “Papai” parecia muito pessoal, e “pai” parecia carinhoso demais. Então seria Henry. Abri um pouco minha janela, me sentindo esgotada por essa nova vida que enchia minha mente. Henry olhou para mim e pigarreou. — Sua mãe disse que você teve a ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4
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candy1896 Postado em 15/03/2017 - 10:00:24
CONTINUA
dulcita_ Postado em 18/03/2017 - 00:40:46
Postado amor!
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monauckermann Postado em 11/03/2017 - 01:39:16
Continua*-*
dulcita_ Postado em 18/03/2017 - 00:40:31
Prontinho amor!!