Fanfics Brasil - Capítulo 56 (PARTE 1) No Mundo da Dulce(adaptada)

Fanfic: No Mundo da Dulce(adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 56 (PARTE 1)

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— “Seis pessoas, entre elas uma jovem jornalista, foram mantidas reféns durante assalto a um posto de gasolina na manhã de ontem. Dulce Espinoza Saviñon, vinte e quatro anos, foi usada como escudo e participou ativamente da rendição do assaltante, Márcio Klaus, vinte e sete anos. O sequestro durou cerca de duas horas e terminou com um susto. A jornalista reagiu e tentou dominar o assaltante, que foi rapidamente contido pela polícia. Ninguém ficou ferido. Veja a cobertura completa no Jornal da Meia-Noite.



Desliguei a TV, bufando. Anahí riu ao meu lado.



— Minha amiga é uma celebridade! — ela exclamou, animada.



— Que maravilha — resmunguei.



— Ei, eu estava assistindo! — reclamou Raul, acomodado em sua cadeira.



— Raul, deixe sua irmã em paz — vovó disse ao sair da cozinha com uma bandeja nas mãos.



Ela deixou o chá e as rabanadas (eu amava as rabanadas da vovó. Sempre que ela queria me agradar, as preparava para mim, fosse no Natal ou numa manhã de Carnaval) sobre a mesinha de centro e se empoleirou no braço do sofá, bem ao meu lado.



— Como está se sentindo? — ela perguntou, alisando meus cabelos.



— Bem. Acho.



— Gente, preciso ir — Anahí se levantou, pescando uma rabanada. — Fico aliviada que vocês possam passar a tarde com a Dulce enquanto volto para o trabalho. Volto assim que puder.



Raul se esticou e pegou o controle remoto.



— Sem pressa, delícia.



Vovó deu um peteleco na cabeça do meu irmão.



— Ai, vó! Só quero ver TV.— Não foi essa a educação que te dei. Maldito seja aquele gadje.



Anahí sapecou um beijo em meu rosto e pendurou a bolsa no ombro.



— Qualquer coisa me liga.



— Tá bom, Any.



Ela saiu fechando a porta sem fazer barulho. Raul ligou a TV e se esticou para apanhar a travessa de rabanadas.



— Ei, são minhas! — reclamei, tentando pegá-las de volta.



Ele me ignorou, enfiando uma inteira na boca.



— Raul, é meu! Solta! — Alcancei a travessa, mas não consegui puxá-la.



— Dá licença, menina, tô comendo.



— Eu quase fui morta ontem. As rabanadas são minhas!



— Quase morri num acidente e não ganhei rabanada nenhuma. — Ele mordeu mais uma. — Oxê acha ixo justo? — falou de boca cheia, uma chuva de farelos caiu em minha blusa de cetim verde-menta.



— Não me importo se é justo. São minhas e pronto! Me dá aqui.



Ele engoliu rapidamente o que tinha na boca e me olhou de um jeito que eu conhecia bem.



— Raul, não se atreva a...



Ele cuspiu na bandeja antes que eu pudesse terminar.



— Pronto, pode comer tudo agora. — E me empurrou a travessa.



Meu sangue esquentou.



— Seu filho da...



Uma mão leve pousou em meu ombro, impedindo que eu voasse no pescoço do meu irmão estropiado.



— Deixei uma travessa na cozinha pra você — vó Cecília sussurrou.



Lancei um olhar de desprezo ao Raul.



— Idiota.



— Fominha — retrucou.



Ignorei o comentário. Talvez ele estivesse certo, e a culpa era toda dele. Eu era apenas um subproduto, por ter passado a vida toda com aquele esganado.



— Pega uma cerveja pra mim? — Ele pediu quando passei por ele.



— Pega você!



Vovó riu, sacudindo a cabeça.



— Vocês parecem ter sete anos. — E se levantou.Fui para a cozinha e abri a geladeira. Apanhei uma lata de cerveja e comecei a sacudir com força. Vovó abriu o forno e retirou a travessa com mais rabanadas, colocando-a sobre a mesa azul. Antes de me sentar, fui até a porta.



— Ei, pega aí! — gritei para Raul e arremessei a lata.



Ele a pegou no ar.



— Valeu, maninha. — Mas não desgrudou os olhos da TV.



Voltei para junto da vó Cecília, que servia mais chá de canela. Peguei a xícara e uma rabanada. Dei uma mordida. Tinha gosto de infância e de algo quase profano.



— Humm... isso aqui é o céu, vó.



Vovó deu risada.



— Você sempre diz isso.



— Porque é verdade. Ninguém faz rabanadas como a senhora.



Um tsk-tsssssssssssssssss veio da sala, seguido do grito furioso de Raul.



— Porra, Dulce!



Eu ri, voltando a comer o doce.



Vovó mantinha os olhos presos em mim, fazia esforço para manter a fachada reprovadora, mas os cantos de sua boca tremiam de leve.



— Vocês dois não parecem ter sete anos — ela brincou —, vocês têm!



Dei de ombros.



— Ele não pode roubar minha comida e sair impune.



Uma risada gostosa lhe escapou dos lábios.



— Sinto falta disso. Da baderna que vocês faziam.



— Eu também, vó. E... — Coloquei o que sobrara da rabanada no cantinho da travessa e limpei a boca. — Gostaria de poder voltar no tempo e ter aprendido o que a senhora queria me ensinar. Sobre a cultura cigana.



Ela arregalou os olhos, surpresa.



— Eu sei — continuei. — Nunca me senti uma cigana de verdade, mas também não acho que eu seja uma gadji. Por mais que eu tentasse evitar, algo da cultura rom sempre acabava entrando no meu caminho. E, se eu não tivesse sido tão cabeça-dura e ouvido a senhora, não teria me metido na encrenca em que me meti.



— Sempre rezei para que seu coração aceitasse quem você realmente é.



— E quem eu sou, vó?



— Minha neta! — Ela afirmou segura, altiva como uma rainha. — Pode ser o que quiser. E seja lá o que escolher, não esqueça sua essência. Sua alma é cigana, a magia sempre fará parte da sua vida, mas não a governará. Isso não. Seu destino tem essa função.



— Acho que comecei a entender.



Então vovó e eu tivemos aquela longa conversa sobre magia e charlatanismo.



Ela explicou que a magia cigana não era algo produzido em massa, que é preciso ter o conhecimento e mais um monte de coisas que eu não tinha. Peguei o baralho na bolsa e mostrei a ela.



Vovó ficou impressionada.



— Bonito. Mas é apenas um baralho — falou.



Assenti, brincando com a xícara de chá ainda cheia.



— Sabe, vó, eu meio que gostava de olhar as cartas.



Senti seu exame minucioso incidir sobre mim por um longo tempo.



— O que está me dizendo, filha?



— Que, se a senhora ainda estiver disposta a me ensinar, eu queria aprender a ler as cartas. E outras coisas ciganas.



Vovó inspirou fundo, me fazendo olhar para ela. A velha cigana tentava conter a umidade que lhe brotava nos olhos.



— Coisas ciganas...



Eu ri.



— Eu sei. Preciso da sua ajuda, vó. Quero muito aprender e entender essa metade de mim. No fundo sempre lutei contra ela, talvez porque temesse não me encaixar em lugar nenhum, sabe? Escolhendo um lado só, eu podia fingir que era normal.



— Ah, minha filha amada!



Foi impossível me manter na cadeira. Eu me levantei, contornei a mesa e abracei minha avó, ainda sentada, sentindo o calor e o orgulho emanando de sua pele fina.



— Eu ensinarei tudo o que sei a você — ela prometeu. — Passarei todo o conhecimento que possuo, e, mesmo que decida não usá-lo, poderá um dia repassar a seus filhos, assim nossa história continuará viva.



Soltei um suspiro. Não quis estragar o momento dizendo a ela que então poderíamos dar tudo por perdido já que eu não tinha a menor esperança de um dia amar alguém de novo. Esquecer Christopher já me parecia bastante impossível. Filhos era algo inimaginável na equação. Minha vó se afastou por um momento e ergueu os olhos para me examinar da cabeça aos pés. Sua testa encrespou.



— Dulce, tem algo que queira me contar?



— Não que eu saiba — respondi, confusa. Vovó já tinha sido informada sobre tudo o que eu aprontara nos últimos tempos.



— Humm... — Ela me soltou e ficou de pé, pegando minha xícara e despejando o conteúdo dentro da pia.



— Ei, nem tomei ainda.



— Acabei de lembrar que chá de canela pode não ser um bom calmante, depois de todo o estresse pelo qual passou. Vou fazer um de camomila. Não tome chá de canela ou cravo nos próximos dias, está bem?



Balancei a cabeça, concordando.



Ela sorriu e resmungou alguma coisa que pareceu “ora, se o destino não conseguiu surpreender essa velha cigana outra vez”. Eu pretendia perguntar o que ela quis dizer com aquilo, mas, como ela parecia radiante, presumi que não fossem mais problemas e deixei o assunto pra lá.



Raul e eu assistimos a dois filmes enquanto vovó preparava mais comida. Ele estava roncando quando Lorena apareceu para levá-lo para casa. Vovó aproveitou a carona e eu lhe prometi que em breve iria ao sítio para dar início a minhas aulas.



Anahí os encontrou no corredor e trazia uma caixa de pizza. Ela entrou em casa e levou a pizza direto para a geladeira, se detendo por um instante para analisar as prateleiras agora abarrotadas.



— Não sabia que a sua avó ia preparar o jantar, mas devia ter adivinhado.



— E o almoço e o jantar de amanhã — eu disse.



— Tô vendo. E aí, a gente vai gravar a reportagem do sequestro?



— Claro que não! Não quero nem lembrar, muito menos assistir de novo e de novo.



— Ué, não te entendo. Tudo bem que tem a coisa do sequestro e tal, mas todo mundo tá te chamando de jor-na-lis-ta! É o que você sempre quis. Você até deu uma exclusiva para a Fatos&Furos hoje cedo.



— Uma jornalista que ainda não escreveu um artigo de verdade — apontei.



— Mas que agora vai ter sua grande chance — ela frisou, rindo. — Seu e-mail tá lotado! Já se decidiu por alguma das propostas de emprego?



— Ainda não tive tempo de olhar todas.



Murilo cumprira sua palavra e, logo depois de eu responder às suas inúmeras perguntas, ofertas de emprego encheram minha caixa de e-mails e minha sala de flores — que foram rapidamente despachadas para o apê da Mai. Três jornais e nove revistas me queriam, entre elas a Na Mira. A Jéssica não largava o osso.



As propostas eram tudo aquilo com que eu sonhara: uma coluna só minha. Eu estava inclinada a aceitar a oferta da Abusada, uma revista de moda que queria que eu escrevesse sobre sapatos, e eu até que entendia do assunto. Mas Anahí não concordava, achava que a oferta do Jornal da Cidade era a melhor delas, uma coluna diária sem pauta definida, no estilo “cubra o que aparecer”. Passei a semana seguinte analisando todas aquelas propostas, sendo mimada por minha família e tendo aulas sobre cultura rom com a vovó. Era inacreditavelmente interessante e divertido.



Acabei seguindo o conselho de minha mamí e joguei o baralho dentro da gaveta do criado-mudo, ao lado de meu miniChristopher de Lego, após lhe prometer que nunca mais tocaria nele — no baralho, quero dizer.



O Christopher original sumira de minha vida. Tudo o que eu recebera dele depois do sequestro tinha sido uma caixa de bombons gigante com um cartão rápido, que dizia:



 



Feliz por tudo ter acabado bem.



Com carinho,



C. U.



Mai entendera tudo naquele jantar e me pressionara por detalhes diversas vezes, querendo saber que tipo de envolvimento eu tinha com seu irmão. Como a garota bacana que era, ela compreendeu que eu estava magoada demais e não queria falar sobre ele a cada cinco minutos. Mas supus que Mai apenas tivesse arquivado o assunto para futura investigação. Se comigo ou com Christopher, eu não tinha certeza.



Já não suportava mais aquela sensação de ardência e sufocamento em meu peito toda vez que pensava, falava ou ouvia o nome de Christopher. Por isso decidi esquecê-lo na marra. E falhei. Então mudei de estratégia e resolvi que não pensaria mais nele. Não deu certo também. Por fim, resolvi fingir que não pensava nele e que já o tinha esquecido, e, muito de vez em quando, quase conseguia. Imaginei que a melhor maneira de arrancá-lo de meu coração fosse encher a cabeça, de modo que me empenhei ainda mais em analisar todas as propostas de emprego. O problema foi que nenhuma delas me fez tremer por dentro, sentir aquele frisson. Não até chegar mais uma.



A revista Tempo ainda não existia, estavam acertando os últimos detalhes, contratando os profissionais, mas, se tudo corresse bem, seria lançada em alguns meses. Eles me queriam para duas colunas, uma comportamental e outra que seria discutida pessoalmente em uma reunião.



— Acho que você devia ir até lá — aconselhou Anahí durante o jantar, me pegando de surpresa. Ela era uma garota muito prática, nunca trocaria o certo pelo duvidoso, por isso suas palavras me chocaram tanto. — Ao menos para ouvir o que eles têm a oferecer. O que você tem a perder?



E quer saber? Eu não tinha nada a perder mesmo. Uma nova aventura que ocupasse meus dias e me desse uma razão para sair da cama todas as manhãs era tudo do que eu precisava naquele momento. Respondi ao e-mail pedindo mais informações e recebi um agendamento com a responsável pela publicação, Alexandra Caprio, para o dia seguinte.



Caprichei no visual para a entrevista, deixando os cachos soltos e domados graças à amostra grátis de uma pomada que Karen me dera dias antes de eu ferrar com tudo. O casaquinho azul acinturado sobre a regata branca comprida me fez parecer mais alta, a legging preta alongou minhas pernas. Já havia escolhido minhas inseparáveis sapatilhas de verniz que me impediam de tropeçar quando avistei minhas sandálias Vivienne Westwood largadas no fundo do guarda-roupa.



Eu as peguei, correndo os dedos pelo plástico frio e rijo. Elas haviam me trazido sorte da primeira vez. Talvez funcionasse de novo. Abandonei as sapatilhas e calcei as sandálias.



Eu estava tensa feito uma tábua ao estacionar o carro quase em frente ao edifício antigo, porém bem conservado, de cinco andares, no centro da cidade.



Assim como meu prédio, não havia elevador. Cheguei ao quarto andar e caixas de papelão se misturavam a escadas de madeira, latas de tinta, rolos e pincéis, computadores amontoados sobre as mesas. O pessoal da reforma notou minha presença e eu fui entrando, até chegar à grande sala que provavelmente seria o coração da revista. As paredes de tijolo à vista tinham grandes janelas a cada cinco ou seis metros, clareando e arejando o ambiente. Havia mais tralha amontoada de maneira pouco organizada ali.




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Autor(a): leticialsvondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 76



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  • anne_mx Postado em 09/10/2022 - 23:32:35

    Eu amei! Apesar de não curtir isso de cigana pq eu nao acrdito, mas a história de amor foi lindaaaa <3

  • roro Postado em 26/05/2020 - 22:24:53

    Amei parabéns

  • candydm Postado em 10/09/2017 - 02:05:49

    Meu Deus, eu não sei o que exatamente falar/escrever. Primeiramente, obrigada por voltar a postar, senti muita falta mesmo, meus olhos brilharam ao ver o tanto de capítulos novos que tinha para ler. Me desculpem por estar ausente nos comentários e consequentemente fazer você desanimar com a fic. Tentarei ser mais ativa daqui pra frente. Por fim, por favor, eu tô em choque querendo saber o que aconteceu com a Dulce, já estou (literalmente) chorando e sofrendo por antecipação. Posta mais, eu te imploro!

  • Juju Uckermann_ Postado em 07/09/2017 - 15:48:18

    voltou a postar FINALMENTEEEE <3!!!!!!!!! Continuuuuaaaaaaaaa!!!

  • tati0905 Postado em 06/09/2017 - 21:10:02

    Ahhhhhhhhh que bom que vc voltou a postar.....amei amei

  • Lilly Perronita Postado em 13/07/2017 - 15:41:56

    essa fic é tão maravilhosa!!! cade vc???

  • tati0905 Postado em 30/06/2017 - 21:49:38

    Como assim????Vai nos abandonar e nos deixar curiosas??? Postado mais.... não para não

  • drysouza Postado em 22/06/2017 - 02:24:26

    como vc para logo nessa parte? estou surtando, posta logo...

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 04/06/2017 - 16:48:02

    Chocada que a Alexia terminou com o Christopher pq leu o horoscopo da Dul *0* Espero que a Alexia ñ tente volta com o Christopher!! O horoscopo funciona, Dul podia escrever no dela assim: 'Vc casara com um maluco por LEGO e vivera feliz sem nenhuma vara pau no caminho', perfeito gente!! Continua!!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/06/2017 - 20:42:55

    Não acredito que o Poncho tava enganando a Annie, que safado e ainda tem noiva! Annie ñ devia fica braba com a Dul só pq ela escreveu aquilo do signo dela, ahh ñ quero as duas brigadas :( To vendo que essa historia do 'Na mira' vai trazer problemas pro casal vondy!! Afff la vem a vara pau da Alexia -_- Continua!!


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