Fanfic: No Mundo da Dulce(adaptada) | Tema: Vondy

— É horóscopo — corrigi. — E não sou boa coisa nenhuma. Você é uma profissional fantástica. Foi mérito, não magia.

— Pode até ser, mas você acertou de novo.

Fui para o banho, depois tomei duas aspirinas, mas não me senti melhor.

Estava inquieta e irritada demais. Não ajudou muito o fato de lembranças da noite anterior começarem a se tornar mais nítidas. Eu me perguntava o que teria acontecido com o meu bom senso quando aceitei ir até o quarto do Christopher. De todos os homens do planeta, ele era o último com quem eu imaginaria dividir uma noite de loucura.

Acabei cochilando no sofá quase a tarde toda e, perto das seis horas, cruzei o corredor para me despedir do Fernando e da Maite. O apartamento estava todo organizado, e o Nando, escondido sob uma pilha de malas.

— Quanto tempo vocês vão ficar em Portugal? Dez anos? — perguntei no mesmo instante em que a Madona pulou na minha perna. Eu acariciei sua cabeça e ela rolou, ficando de barriga para cima.

— Eu disse a ela — Fernando riu. — Mas a Maite não acredita que há lojas de roupas em Lisboa.

Mai revirou os olhos.

— Nunca se sabe do que vou precisar, tenho que estar preparada. — E, se voltando para mim, disse: — Eu já estava indo até o seu apartamento. Houve uma mudança de planos. Não vou precisar te incomodar... muito — acrescentou ela, apreensiva. Logo entendi o motivo. — O meu irmão e a mulher brigaram. Ele vai ficar um tempo aqui em casa e se ofereceu para cuidar da Madona. Mas eu queria te pedir um favor. O Chrisinho é fechadão, sabe? Não é muito de dividir o que está sentindo. Ele parecia bem, jurou que estava bem, mas eu não sei. Estou preocupada com ele. Seria abusar muito se eu te pedisse para dar uma espiadinha nele de vez em quando?

— Acho que ele não vai gostar muito de ser vigiado, Mai.

— Eu sei, por isso pensei em usar a Madona como desculpa. Você pode vir ver se ela está bem e tal. Pode fazer isso, Dulce? Ele sabe que não confio nele a ponto de deixar a Madona sem supervisão. Eu avisei que você ia aparecer por aqui para ter certeza de que ele não vai matar a minha princesa de sede.

Eu não tinha a menor intenção de bancar a babá de ninguém, mas sabia bem como era ter um irmão que não é de muita conversa. Um que nunca diz o que sente de verdade.

Ainda que um bocado relutante, acabei aceitando a missão.

— Tá bom. Eu apareço de vez em quando para ver como ele e a Madona estão se virando.

— Perfeito! Meu irmão vai encontrar a gente no aeroporto pra pegar as chaves e depois vai arrumar as coisas para vir pra cá amanhã. A Madona pode dormir lá com você só hoje, né?

— É claro, Mai.

— Ah, Dulce, você é o máximo! E, sabe, vou confessar que, apesar de estar preocupada, estou um pouco aliviada com o rompimento do Chrisinho. Parece que finalmente ele vai ter uma chance de ser feliz.

— Ele deve estar arrasado, Mai — eu a censurei.

— Não parece, mas esse é o problema com o meu irmão. Ele nunca demonstra o que sente. Falei com ele quase agora. Ele caiu na farra ontem e acordou com a maior ressaca. Parece que saiu com um amigo e chutou o pau da barraca. Você vai gostar dele. O Chrisinho é divertido e gente finíssima. Pensando bem... — Ela me analisou dos pés à cabeça, sorrindo de um jeito malicioso que eu não gostei nadinha. — Vocês dois têm tudo a ver. Você ainda está solteira, né? O encontro de ontem foi só... um encontro qualquer?

— Eu tomei um bolo — dei de ombros.

— Maravilha! — Ela bateu palmas.

— Mai! — Fernando a recriminou, acomodando as alças das malas de forma que pudesse carregar todas elas.

— Ai, desculpa, Dulce — ela se apressou. — Mas é que você acabou de tomar um chute, não foi?

— Na verdade, eu é que chutei o...

— Tanto faz — ela me cortou, empolgada. — O importante é que meu irmão também terminou uma história e...

— E em dois corações partidos pode florescer a chama do amor — Fernando gracejou.

— Isso! — ela concordou. — Espera só até você conhecer o Chrisinho. Você vai amar meu irmão assim que botar os olhos nele.