Fanfic: No Mundo da Dulce(adaptada) | Tema: Vondy
— Que susto, Christopher! — Viny falou, secando a testa com os dedos longos. — Pensei que você fosse passar por cima da gente.
Christopher exibiu um sorriso descarado e parou a dois passos do fotógrafo.
— Sinto muito. Não vi vocês — explicou, em um tom calmo que destoava da irritação em seus olhos.
— Sério? — retruquei, secando as mãos suadas na calça jeans. — De onde eu estava, tive a impressão de que você sabia muito bem o que estava fazendo.
— Estou sem óculos. — Ele arqueou uma única sobrancelha e, para provar seu argumento, retirou aquela aberração plástica do bolso da camisa e a colocou sobre o nariz.
— Você precisa andar mais na manha com isso aí, cara — Viny falou. — Pode acabar matando alguém de susto só com o ronco do motor.
— Essa é uma das razões de eu amar tanto a minha Ducati. O que foi que você fez com essa cachorra?
Eu já estava pronta para berrar um sonoro e nada educado “vai se ferrar” quando a Madona saltou na perna dele, exigindo carinho.
Ah, não era de mim que ele estava falando.
— Eu escovei — cuspi, aborrecida. — Coisa que você devia ter feito depois de dar banho nela.
Ele riu daquele jeito cínico que me matava de irritação.
— Você achou mesmo que eu ia escovar essa bola de pelos?
— Devia ter imaginado que não. Você não se dá o trabalho nem de pentear os próprios cabelos.
Ele corou e imediatamente levou a mão aos fios marrons, fazendo uma bagunça ainda maior na tentativa de domá-los.
— Que bom que você apareceu — Viny disse a ele. — O Murilo me pediu pra trazer as fotos que fizemos hoje no metrô. Se ainda der tempo, ele pediu para incluir na próxima edição. Ele vai te passar o texto mais tarde.
— Vou ver o que eu consigo. — Christopher pegou o pacote que Viny lhe oferecia, encarando o fotógrafo de cima. — Só isso?
Viny endireitou os ombros, fixando os olhos nos do chefe, em um claro desafio.
— Sim. Com você, sim.
— Certo. — Christopher me lançou um olhar de reprovação, fúria e decepção. — Obrigado por cuidar dela, Dulce — ele pegou a guia com cuidado para que nossos dedos não se tocassem.
— De nada.
Christopher e Madona desapareceram pelas grandes portas de vidro do prédio, e eu fiquei observando os dois se afastarem, me sentindo uma menina má pega no flagra. Mas eu não estava fazendo nada de errado! Era solteira, sem compromisso, e tinha um cara muito gato ali na calçada louco para me levar para jantar e, com sorte, para me beijar. Eu queria alguém assim. Eu merecia alguém assim, e o Christopher não tinha nada que se meter na minha vida.
— Ele não é muito sociável, né? — Viny comentou, chamando minha atenção.
— O Christopher tá passando por um período ruim. Dá um desconto. Ele e a mulher tiveram uma briga horrível hoje na redação. Todo mundo acabou ouvindo, e ele tá arrasado.
— Ele não parecia arrasado. Parecia irritado.
— E você não estaria se a sua ex não devolvesse o seu cachorro?
— Não sou muito ligado em cachorros. — Viny deu de ombros. — Na verdade, bichos em geral. Mal durmo em casa. Não seria justo condenar o bichinho ao encarceramento porque eu não tenho tempo pra cuidar dele.
Fiquei ali ouvindo tudo com a testa franzida, pensando se não haveria algo mais nas entrelinhas.
— Bom, já azucrinei você demais por hoje. — Ele me lançou um sorriso folgado. — Melhor não arriscar e ir embora antes que o Christopher volte e te proíba de falar comigo.
— Ele não é meu pai.
— Talvez você devesse lembrá-lo disso.
Eu ri, mas foi mais histeria que divertimento. Christopher agira mesmo como um pai raivoso, ou o Viny e eu estávamos imaginando coisas?
— Vou indo nessa, Dulce. Vou contar as horas até te ver amanhã.
— Tá bom.
— Você devia dizer: “Eu também vou contar as horas, Viny” — ele brincou, mas havia expectativa em seu semblante.
— Devia, mas isso inflaria demais o seu ego, e ele já chegou à estratosfera.
O fotógrafo exibiu os dentes brancos perfeitos.
— Adoro mulheres que me deixam no escuro. Te vejo amanhã, Dulce.
Ele se aproximou e se inclinou sobre mim, cuidadoso para que nosso corpo não se tocasse. Então plantou um beijo demorado em minha bochecha antes de sorrir e seguir seu caminho assobiando, gingando pela calçada daquele jeito que, semanas antes, fizera meu coração disparar.
Soltei um suspiro trêmulo. Entrei no prédio e não fiquei surpresa ao encontrar
Christopher encostado ao lado da minha porta, os braços cruzados, uma carranca no lugar do rosto.
— Você não devia estar em algum lugar da cidade bebendo até cair? — questionei.
— Mudei de ideia. Então o Vinícius é o tal cara de quem você tá a fim — acusou, mal-humorado.
— Isso não é da sua conta.
— Você sabe que eu não gosto que os meus funcionários se envolvam intimamente.
Eu o encarei com raiva, pousando as mãos nos quadris.
— Ah, é? Quer dizer que só o chefe tem essa regalia?
Ele se empertigou, descruzando os braços e me afrontando como se mísseis teleguiados fossem sair de seus olhos.
— Não, e você sabe disso.
— O que eu sei é que você é um grande hipócrita, no maior estilo faça o que eu digo, mas não o que eu faço.
— Você é tão infantil, sabia? Não sei por que ainda insisto em falar com você — ele resmungou, indo para seu apartamento e liberando a entrada do meu.
— Me pergunto a mesma coisa todo santo dia!
Ele bateu a porta com força depois de entrar, e, como não queria que ele desse a última palavra, eu fiz o mesmo e tentei ignorar os pensamentos homicidas contra ele pelo resto da noite.
Fechei a porta e descemos os três lances de escadas em uma camaradagem um tanto forçada. Não era assim que eu esperava me sentir quando estivesse perto dele. Só podia ser a culpa me devorando. Sabia que isso aconteceria, cedo ou tarde.
— Como foi no metrô? — perguntei, puxando conversa.
— Um terror. Muito sangue, mas nenhuma morte. Quer ver as fotos? — Ele me estendeu o envelope pardo.
— Não. — Fiz uma careta. — Não gosto muito desse tipo de foto. Fico deprimida.
Viny começou a rir.
— Uma jornalista que fica deprimida com as notícias? Tem certeza que tá na profissão certa?
Eu me empertiguei, um pouco ofendida.
— Eu não tenho que gostar de tragédias ou de todas as áreas da profissão. Não gosto de banho de sangue.
— Você não existe! — Ele riu ainda mais.
Desviei os olhos e o deixei rir à vontade. Era isso ou chutar sua canela.
Aos poucos ele conseguiu se controlar e, percebendo minha irritação, tentou tabular uma conversa mais banal. Fez diversas perguntas sobre mim, queria saber como acabei na Fatos&Furos, o que eu esperava do futuro, quais os meus sonhos.
Com medo de que ele risse mais quando eu dissesse que sonhava com uma coluna que falasse de comportamento humano, fui vaga e mencionei que ainda não sabia o que pretendia.
Viny começou a contar suas pretensões, que trabalhava com o pensamento voltado para o Pulitzer de fotografia, o prêmio máximo do jornalismo mundial.
Perto disso, até que ter uma coluna para chamar de minha parecia um sonho bem idiota.
Caminhamos em silêncio por um tempo. Madona se recusou a expor suas intimidades a um desconhecido, de modo que pedi para Viny se afastar um pouco, e ele, apesar de achar estranho, obedeceu. Depois, muito prestativo, recolheu a sujeira com a ajuda de um saco plástico. Como eu estava cansada e não queria ficar perambulando pelo bairro àquela hora da noite, fizemos o caminho de volta.
— Tomei um susto quando te vi na casa do Christopher. — ele explicou, olhando para frente. Já estávamos perto do meu prédio de novo. — Pensei que as coisas que o Murilo anda dizendo fossem verdade.
— Que eu e o Christopher estamos tendo um caso — concluí, mortificada.
— O Murilo não foi tão sutil, mas, basicamente, dá no mesmo. Vocês não estão envolvidos, né? — Ele me encarou.
— Não estamos tendo um caso — afirmei, esperando que ele não se desse conta da minha escolha de palavras.
Não que fosse mentira, mas nós não estávamos mesmo tendo um caso. O que acontecera entre mim e Christopher foram dois episódios isolados e não relacionados de demência seletiva e altamente contagiosa causada por alguma força maligna sobrenatural.
Ou algo assim.
Inspirei fundo. Vamos, Dulce, não seja covarde agora!
— Mas, Viny, eu preciso ser sincera com você. Eu... eu andei... Na sexta passada, depois que você...
— Você conheceu alguém — ele falou, desanimado.
Eu assenti, pois me pareceu menos cruel.
— Não é nada importante — me apressei. — Mas achei que você devia saber.
— Não é importante, mas você precisava me contar — ressaltou, tristonho.
— Eu... Olha, minha vida tá um bocado confusa agora. Eu terminei um relacionamento de anos faz poucos meses. Eu ainda estou machucada. No fim, tudo acabou se mostrando uma grande mentira. E eu não quero isso de novo. Não quero mais fechar os olhos e fingir não ver, fazer de conta que tá tudo bem. Por isso vou ser sincera com você, mesmo que a mentira seja o caminho mais fácil. Não sei o que deu em mim na sexta, acho que foi a bebida, mas a verdade é que esse...
Ele parou, erguendo a mão.
— Não precisa explicar. Já entendi. Tem outro cara na parada.
— Desculpa.
Ele ficou me encarando por um longo momento. Ele estava chateado, claro. E bravo, mas não sei ao certo se comigo ou com ele mesmo.
— Você ainda quer me conhecer melhor? — perguntou, por fim.
Eu queria? Sim, queria. E, com sorte, conhecer Viny mais a fundo acabaria de uma vez com aquela loucura que andava acontecendo entre mim e meu chefe.
Então assenti, meio tímida, e ele fez o impensável. Puxou-me para junto dele, enrolando os braços musculosos em minha cintura, me moldando a seu corpo rígido. Desde que eu o vira entrar na redação pela primeira vez, ansiei por estar tão perto dele daquela maneira. Estava totalmente preparada para me sentir arrebatada, embriagada, só que...
— Você é ainda melhor do que eu imaginava, Dulce — ele disse e acariciou meu rosto com a ponta dos dedos. Eu esperei pelo estremecimento, pelo arrepio gostoso subindo pela coluna, mas... — Além de linda, você é honesta. Obrigado por ser sincera. Não me importa se tem outro na parada. O que importa é quem vai ficar com o prêmio. E esse cara de sorte serei eu.
Com isso, ele se inclinou para me beijar, sem me dar tempo para pensar em tudo que acabara de dizer. Eu tinha quase certeza de que não queria ser um prêmio, mas como pensar com os olhos de Viny fixos nos meus, dizimando a distância entre nós?
Eu senti o calor de seu hálito sapecar meu rosto, seu cheiro almiscarado, e fechei os olhos numa expectativa crescente. O primeiro beijo era sempre um termômetro, uma prévia do que se podia esperar. E eu ansiava que fosse tão bom quanto eu havia fantasiado tempos antes.
O ronco alto de um motor perto demais me fez gritar. Viny me empurrou para trás, numa tentativa de me livrar do atropelamento iminente. Ergui a cabeça a tempo de ver o veículo a pouco mais de cinco metros de mim. E o automóvel conseguira fazer o que Viny não tivera tempo: meu coração martelar nas costelas, a adrenalina correr desenfreada pelo meu corpo, me deixando tonta e com as pernas bambas.
Desnorteada e engolindo em seco, encarei o brilho do farol da moto. Estava tão perto que nem tentei fechar os olhos. Entretanto, em vez de seguir em frente e me transformar em um disco de pizza, ela se calou, empinando raivosa sobre a roda dianteira.
Meu peito subia e descia rápido demais, e a descarga elétrica causada pelo medo me deixou entorpecida, fixa no lugar. O motoqueiro desligou o farol, estacionou habilmente a Ducati escarlate no meio-fio e tirou o capacete, exibindo as mechas castanhas desordenadas.
Então ergueu a cabeça e fixou os olhos furiosos em mim.
— O que você pensa que está fazendo? — gritei, quando consegui recuperar minha voz.
Autor(a): leticialsvondy
Este autor(a) escreve mais 15 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
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Eu observava com angústia as revistas sobre a mesinha de centro. Dois exemplares da Fatos&Furos estavam abertos em páginas diferentes, e um da Na Mira. Apoiei os cotovelos nos joelhos e sustentei o queixo na mão, examinando as matérias de cada revista. Eu havia escrito as três. Ali estava. Meu sonho concretizado. Três artigos meus ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 76
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anne_mx Postado em 09/10/2022 - 23:32:35
Eu amei! Apesar de não curtir isso de cigana pq eu nao acrdito, mas a história de amor foi lindaaaa <3
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roro Postado em 26/05/2020 - 22:24:53
Amei parabéns
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candydm Postado em 10/09/2017 - 02:05:49
Meu Deus, eu não sei o que exatamente falar/escrever. Primeiramente, obrigada por voltar a postar, senti muita falta mesmo, meus olhos brilharam ao ver o tanto de capítulos novos que tinha para ler. Me desculpem por estar ausente nos comentários e consequentemente fazer você desanimar com a fic. Tentarei ser mais ativa daqui pra frente. Por fim, por favor, eu tô em choque querendo saber o que aconteceu com a Dulce, já estou (literalmente) chorando e sofrendo por antecipação. Posta mais, eu te imploro!
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Juju Uckermann_ Postado em 07/09/2017 - 15:48:18
voltou a postar FINALMENTEEEE <3!!!!!!!!! Continuuuuaaaaaaaaa!!!
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tati0905 Postado em 06/09/2017 - 21:10:02
Ahhhhhhhhh que bom que vc voltou a postar.....amei amei
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Lilly Perronita Postado em 13/07/2017 - 15:41:56
essa fic é tão maravilhosa!!! cade vc???
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tati0905 Postado em 30/06/2017 - 21:49:38
Como assim????Vai nos abandonar e nos deixar curiosas??? Postado mais.... não para não
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drysouza Postado em 22/06/2017 - 02:24:26
como vc para logo nessa parte? estou surtando, posta logo...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 04/06/2017 - 16:48:02
Chocada que a Alexia terminou com o Christopher pq leu o horoscopo da Dul *0* Espero que a Alexia ñ tente volta com o Christopher!! O horoscopo funciona, Dul podia escrever no dela assim: 'Vc casara com um maluco por LEGO e vivera feliz sem nenhuma vara pau no caminho', perfeito gente!! Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/06/2017 - 20:42:55
Não acredito que o Poncho tava enganando a Annie, que safado e ainda tem noiva! Annie ñ devia fica braba com a Dul só pq ela escreveu aquilo do signo dela, ahh ñ quero as duas brigadas :( To vendo que essa historia do 'Na mira' vai trazer problemas pro casal vondy!! Afff la vem a vara pau da Alexia -_- Continua!!