Fanfic: No Mundo da Dulce(adaptada) | Tema: Vondy
Cheguei à revista atrasada no dia seguinte. Em parte porque fiquei esperando a Ducati vermelha desaparecer da frente do prédio, em parte porque meu carro não quis pegar.
Ao chegar ao edifício onde funcionava a Fatos&Furos, seu Josemar me esperava com um sorriso imenso no rosto.
— Bom dia, Dulce. Tem uma entrega especial aqui pra você. — Ele se abaixou para pegar algo atrás do balcão. — Olha que beleza! — Então enfiou um imenso ramalhete de flores no meu nariz.
Comecei a espirrar no mesmo instante. Meu nariz coçava e ardia, e, a cada espirro, eu sentia que meu cérebro corria o risco de sair pelas narinas. Espirrei tanto que seu Josemar deixou as flores de lado e veio me ajudar, tentando me segurar, mas minha cabeça ia para trás e voltava com violência para frente, liberando o spray úmido de um jeito bem escandaloso.
— Meu Deus, menina! O que foi que aconteceu?
— Alergia a... a... — Espirro, espirro, espirro. — ... a pó-pó... — Espirro, espirro. — ... pólen.
— Virgem santa! Você tem alergia a flor?
Tudo o que consegui fazer foi assentir antes de me lançar em outra bateria de espirros convulsivos. Meus ouvidos entupiram, os olhos lacrimejavam e meu nariz escorria sem parar.
— Quem te mandou isso com certeza não sabia desse seu probleminha — ele constatou.
— Provavelmente não. Deixaram cartão ou... — Espirro. — ... coisa assim?
Ele girou o ramalhete até encontrar um pequeno retângulo branco preso à fita de cetim dourada e me entregou. Abri o envelope e, apesar de mal conseguir manter os olhos abertos para ler o que estava escrito, um sorriso crescente se apoderou dos meus lábios ao reconhecer a caligrafia que predominava no quadro branco na sala de reuniões.
“Para minha enfermeira predileta, que recuperou seu cortador de grama e me deixou de castigo. Obrigado pelos momentos Inesquecíveis!
C. U.
P.S.: Como você pode ver, não existem flores no seu tom de azul favorito. Apenas calcinhas e ‘carros’.”
Dei uma rápida olhada no buquê gigantesco; eram rosas, gérberas, tulipas, cachos minúsculos de hortênsias e outras flores de tamanhos e texturas variados.
Todas em tons de azul. Eu ainda ria quando peguei o celular.
— Pode segurá-las para mim, seu Josemar? Quero tirar algumas fotos.
— Posso, claro. — Ele ajeitou o colarinho da camisa clara, passou a mão no rosto encovado e endireitou os ombros.
Tirei várias fotos, de diversos ângulos, e depois pedi para que ele deixasse as flores na copa da revista. Eu ainda não sabia o que faria com elas, mas jogá-las no lixo estava fora de questão.
Guardei o celular no bolso da calça, tirei um lenço da bolsa e entrei no elevador. Esfreguei o nariz da palma da mão, tentando me livrar da coceira insuportável, mas não resolveu muito. Assim que pisei na redação, segui direto para minha mesa, em busca do comprimido antialérgico que eu deixava na gaveta.
Cega pela ardência e com os ouvidos entupidos, demorei para perceber que o ruído cessou assim que entrei. Levantei a cabeça, piscando para me livrar das imagens borradas, grandes lágrimas escorreram por minha bochecha.
Todo mundo estava olhando para mim.
— Que foi? — perguntei, esfregando o lenço sob os olhos com cuidado, para não borrar o que provavelmente já estava borrado.
Ninguém disse nada, apenas me observaram, e então fitaram a porta de Christopher, que se abriu de repente.— Murilo, quero o artigo sobre o banqueiro assassinado na minha... Por que tá todo mundo parado? — Franzindo a testa, ele correu os olhos por cada rosto até encontrar o meu, tão confuso quando o dele.
E, subitamente, como em um passe de mágica, a carranca de redator-chefe desapareceu, dando lugar ao rosto preocupado do homem com quem eu passara a noite. Algumas noites, no caso.
Christopher não hesitou um único segundo; correu em minha direção, o semblante aflito, a boca pressionada em uma linha estreita, e não se deteve até que eu estivesse em seus braços com a cabeça enterrada em seu peito.
— Não fica assim — ele disse, beijando minha testa, segurando minha cabeça de encontro a muralha que era seu tórax, me aninhando a ele de forma tão protetora que eu desejei ficar ali para sempre. — Não chora, por favor.
— Não tô chorando — murmurei contra seu peito.
— O que foi que te deixou assim? Foi o Pablo outra vez?
Engraçado ter sido justamente Christopher quem me lembrou da existência do meu ex. E, mais estranho ainda, era eu não ter pensando no Pablo nos últimos... últimos...
Quando foi a última vez mesmo?
— Christopher, não tô chorando — insisti, fungando.
Ele tocou meu queixo, elevando minha cabeça até nossos olhos se encontrarem. Então deslizou o polegar por minha bochecha, capturando as últimas lágrimas que escorriam.
— Você mente muito mal. — E me mostrou um meio-sorriso angustiado.
— É sério! Não tô chorando, eu só tive uma... ahhh... atchim!
— Onde mesmo tenho que pôr as flores, Dulce? — perguntou seu Josemar, bem atrás de Christopher, com o buquê debaixo do sovaco, como se com isso me protegesse do ataque alérgico.
— Na co-copa. — A sessão de espirros convulsivos recomeçara.
Christopher afrouxou o abraço, me dando espaço, mas não me soltou. Assim que consegui me controlar outra vez e levantar a cabeça, uma nova torrente de lágrimas molhava meu rosto.
Minha maquiagem já era.
— Você gripou? — Christopher indagou, com as sobrancelhas unidas.
— S-sou alérgica a pólen. — Funguei e espirrei ao mesmo tempo. Christopher piscou, incrédulo, como se eu tivesse acabado de dizer que me transformava em lobisomem na lua cheia.
— Alérgica a pólen?! — Ele sacudiu a cabeça e começou a rir, desolado. — Não consigo acertar uma com você.
— Você não tinha como saber. — Tentei consolá-lo.
— A que mais você é alérgica?
— Prata, perfume, desinfetante, quase tudo que tem cheiro forte e, ah, a gente mal-educada também.
— Ainda bem que nunca uso perfume. — Seus lábios se curvaram, os dedos longos acariciaram minha bochecha, mas ele voltou os olhos para a copa. — Não, seu Josemar, aí não. Leva isso pra longe daqui.
— Ei! As flores são minhas! — objetei, mas Christopher me ignorou.
— E pra onde eu levo? — quis saber o porteiro, coçando a barriga.
— Não importa. Joga fora, leva pra sua filha, tanto faz, apenas tire isso de perto da Dulce. — E, se voltando para mim:. — Mais alguma coisa? — perguntou naquela voz baixa e íntima, que me fazia derreter por dentro.
— Você não pode jogar minhas flores fora. Gostei muito delas.
— Posso e vou. Não vou deixar aquilo te fazer mal.
— Mas são tão lindas!
— E letais — ele comentou, fazendo uma careta.
— Só se eu chegar muito perto. Por isso pedi ao seu Josemar que subisse com elas pra mim, mas tirei umas fotos para admirá-las pelo resto do dia.
Ele inclinou a cabeça, pegando o lenço da minha mão e deslizando com cuidado embaixo dos meus olhos.
— Você fotografou, é? — perguntou, surpreso.
Fiz que sim com a cabeça.
— Quase nunca ganho flores. Queria lembrar delas para sempre.
E, com isso, toda aquela apreensão e desconforto em seu rosto desapareceram, dando lugar a algo que era um misto de orgulho e contentamento. Acabei sorrindo enquanto ele terminava de deixar meu rosto apresentável.
— Quer ver as fotos? — ofereci. — O seu Josemar até fez pose.
— É mesmo? — Riu de leve.
— É sério! Ele... — Peguei o celular no bolso da calça e, por um breve segundo, desviei minha atenção de Christopher. Foi aí que percebi que éramos o alvo de todos os olhares. E suspeitei que meus colegas não perderam um só segundo do momento íntimo que eu desfrutava com o chefe. Em pânico, sem saber o que fazer, busquei o olhar de Christopher, mas sua expressão havia mudado. Ele recuou um passo, me soltando. E lá estava o redator-chefe outra vez, a cara amarrada e bastante irritada.
— Devo estipular o valor dos meus direitos de imagem agora ou no fechamento do mês, quando aprovar o salário de vocês? — Ele falou alto o bastante para ser ouvido dois andares abaixo.
Meus colegas pareceram despertar à menção de descontos salariais e, como se alguém tivesse apertado um botão, todos se puseram a fazer algo absolutamente importante e imprescindível, que não podia esperar nem mais um segundo. Todos, menos um.
Viny me encarava boquiaberto, um envelope pardo nas mãos, a mochila no ombro, a decepção clara como cristal em cada traço de seu rosto perfeito. Eu me senti tão insignificante naquele momento que desejei encolher até desparecer por completo.
— Quer falar comigo, Viny? — Christopher perguntou, a voz fria e cortante.
O fotógrafo assentiu, sem desgrudar os olhos de mim.
— Vamos até a minha sala — sugeriu ele, já se movendo.
Viny manteve o olhar fixo em mim por mais alguns segundos, então os desviou para o chão e seguiu, visivelmente abalado, para a sala do redator-chefe. Eu não tive coragem de olhar para Christopher.
Tá vendo? É por causa desse tipo de situação que não se deve ir para a cama com o chefe.
— Você e o Christopher são bem amiguinhos, hein? — Adriele cantarolou da sua mesa, sorrindo maliciosa.
— Ai, Adriele, hoje não!
Tentando deixar Adriele e meus colegas de lado, aguardei Viny sair da sala, pensando no que poderia dizer a ele para minimizar o estrago, algo que pudesse ao menos demonstrar como eu sentia muito por tê-lo decepcionado.
Quando ele finalmente saiu, tentei interceptá-lo, mas Murilo chegou antes e começou a lhe passar coordenadas. Logo a seguir, Christopher chamou todo mundo para a reunião de fechamento de edição. E Viny foi embora sem ao menos lançar um olhar em minha direção. Dentre todos naquela redação, ele era o único que sabia que Christopher e eu éramos mais próximos do que deixávamos transparecer até então.
Era também o único que eu gostaria que não soubesse disso.
Autor(a): leticialsvondy
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Segui para a sala de reuniões sob os olhares inquisitivos de meus colegas, evitando descaradamente cada um deles, fingindo estar absorta na papelada que carregava. Porém, antes que eu pudesse entrar, Júlia me puxou para o canto, perto do bebedouro. — Estou com bloqueio — avisou, em pânico. Os olhos escuros começaram a ficar bril ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 76
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anne_mx Postado em 09/10/2022 - 23:32:35
Eu amei! Apesar de não curtir isso de cigana pq eu nao acrdito, mas a história de amor foi lindaaaa <3
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roro Postado em 26/05/2020 - 22:24:53
Amei parabéns
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candydm Postado em 10/09/2017 - 02:05:49
Meu Deus, eu não sei o que exatamente falar/escrever. Primeiramente, obrigada por voltar a postar, senti muita falta mesmo, meus olhos brilharam ao ver o tanto de capítulos novos que tinha para ler. Me desculpem por estar ausente nos comentários e consequentemente fazer você desanimar com a fic. Tentarei ser mais ativa daqui pra frente. Por fim, por favor, eu tô em choque querendo saber o que aconteceu com a Dulce, já estou (literalmente) chorando e sofrendo por antecipação. Posta mais, eu te imploro!
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Juju Uckermann_ Postado em 07/09/2017 - 15:48:18
voltou a postar FINALMENTEEEE <3!!!!!!!!! Continuuuuaaaaaaaaa!!!
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tati0905 Postado em 06/09/2017 - 21:10:02
Ahhhhhhhhh que bom que vc voltou a postar.....amei amei
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Lilly Perronita Postado em 13/07/2017 - 15:41:56
essa fic é tão maravilhosa!!! cade vc???
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tati0905 Postado em 30/06/2017 - 21:49:38
Como assim????Vai nos abandonar e nos deixar curiosas??? Postado mais.... não para não
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drysouza Postado em 22/06/2017 - 02:24:26
como vc para logo nessa parte? estou surtando, posta logo...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 04/06/2017 - 16:48:02
Chocada que a Alexia terminou com o Christopher pq leu o horoscopo da Dul *0* Espero que a Alexia ñ tente volta com o Christopher!! O horoscopo funciona, Dul podia escrever no dela assim: 'Vc casara com um maluco por LEGO e vivera feliz sem nenhuma vara pau no caminho', perfeito gente!! Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/06/2017 - 20:42:55
Não acredito que o Poncho tava enganando a Annie, que safado e ainda tem noiva! Annie ñ devia fica braba com a Dul só pq ela escreveu aquilo do signo dela, ahh ñ quero as duas brigadas :( To vendo que essa historia do 'Na mira' vai trazer problemas pro casal vondy!! Afff la vem a vara pau da Alexia -_- Continua!!