Fanfics Brasil - Centro das atenções 9 Mil Memórias

Fanfic: 9 Mil Memórias | Tema: Original


Capítulo: Centro das atenções

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Ela sabia como fazer uma boa apresentação. Havia acabado de se mudar de uma cidade quente do litoral para a capital movimentada. Precisou ser transferida para um colégio mais próximo de sua nova casa. Seu pai havia sido contratado por outra companhia aérea e iria receber um salário maior com melhores benefícios. Uma oferta irrecusável. Seria complicado transferir a filha para outro colégio no meio do ano letivo, mas o instituto Coliseu aceitou uma pequena quantia em troca da matricula fora de época da filha. 


Em seu primeiro dia de aula o professor pediu para que fizesse uma breve apresentação sobre si mesma para a turma. 


Ela estava preparada e sabia o que dizer, exibia um sorriso largo e animado. Era uma garota hiperativa, alegre e brincalhona. Não era uma garota chamativa, não era bonita e nem era feia. Tinha certo charme em seu olhar, mas nada que impressionava os garotos de sua idade. Ela se apresentou de forma eufórica para a turma do segundo ano. Um sorriso perfeito, olhos castanhos e a pele branca. Cabelos encaracolados a altura da cintura numa cor confusa de louro escuro ou castanho, nada definido. Ela era bem baixinha até parecia ter menos idade. 


— Seja bem-vinda. — falou o professor surpreso com o entusiasmo da garota. —  pode se sentar atrás do Hélio. 


— Quem é esse? — perguntou a menina olhando para a turma.


— O preguiçoso que está dormindo de novo na minha aula. 


A menina se direcionou a carteira vazia atrás de um garoto debruçado sobre os braços. Outro garoto ao lado o cutucou duas vezes, mas ele nem se mexeu. Ela lançou um “oi” alegre ao menino, mas foi ignorada por completo. Ele a olhou inexpressivo e voltou à atenção ao professor. A aula prosseguiu assim. 


O sinal tocou chato. 


A sala se levantou e começou a arrumar os pertences. Ela por outro lado pareceu meio perdida. Deixou suas coisas na carteira e saiu da sala em direção ao refeitório. O primeiro dia de aula estava sendo uma porcaria, ela não conhecia ninguém e parecia que ninguém queria conhece-la. Isso deveria mudar e rápido. Maquinou algumas ideias para chamar atenção de alguém e ter algum amigo, mas nem os nerd’s estavam interessados na menina excluída. 


O recreio era igualmente chato em todos os colégios. A fila para comprar comida era a trilha do tormento na primeira câmara do inferno, sem contar os espertinhos que se aproveitavam para furar fila. Tentar se enturmar era tarefa difícil com adolescentes de escola nova, normalmente já se separavam em grupos desde crianças, alguns mal davam espaço para novos membros. Mas a novata não queria desistir, não sem tentar ser o centro das atenções e receber os holofotes da escola. 


Um pequeno tumulto se iniciou no meio do pátio entre dois garotos do terceiro ano. Um rapaz robusto de jaqueta do clube de esporte do colégio contra o magricela nerd do clube de ciências. Nem se sabe ao certo o motivo que levou os dois a um duelo, só se sabe que o valentão o chamou para briga. Se quisesse ser respeitado deveria enfrentar seus inimigos de frente. Era o que o pai do magrelo sempre dizia. Isso porque não era ele quem iria pra diretoria depois. Dois empurrões eram o suficiente para deixar o nerd caído no chão e ser humilhado na frente da multidão barulhenta. O garoto robusto zombava e nem ao menos se esforçava pra socar o magricela, mas isso não o fez desistir. Perderam-se as contas de quantas vezes ele se levantou e posicionou seus braços magros e sem músculos em postura de luta, mesmo que seu esforço fosse inútil ele ainda se levantava.


Eis a hora de brilhar. Se fosse escolher um momento certo para ter atenção; este era o momento. A baixinha novata se enfiou no meio da multidão até chegar à frente do valentão, estufou os pequenos seios cheios de coragem e apontou o dedo para cara do rapaz. 


— Ei! Se mete com alguém do seu tamanho. — disse ela em desafio. Como se ela fosse maior do que o magricela — Deixe-o em paz. 


— Se manda garota! Não quero bater em mocinhas. — zombou o rapaz. 


— Isso se você for capaz de encostar em mim. É claro. — cutucou ela.  


— Acha que não tenho coragem que quebrar sua cara, vadia.


— A vadia aqui é que vai quebrar sua cara.


A multidão de adolescentes vaiou o grandão provocando-o. 


A novata pensou rápido e logo se abaixou escapando de um certeiro de direita. Ela fechou os punhos e golpeou o abdômen do rapaz duas vezes. Saltou para trás esquivando de um contra-ataque. 


— Fracote! — gritou ele.  


Ela entrou em posição de luta. Era perfeito seu boxe, braços, pernas e mãos muito bem posicionadas. Ela se desviava de cada golpe frenético do rapaz com eficácia e sempre contra-atacava quando via chance. A multidão estava indo a loucura. A baixinha estava se divertindo. Tinha toda atenção que precisava. 


— Vai continuar com esses golpes? Fracote. Só podia ser mulher.


A menina sorriu com maldade. Realmente se divertia. Desviou de mais dois golpes e acertou em cheio o nariz do garoto.


Nos corredores entre as salas de aula um garoto corria frenético atropelando quem estivesse em sua frente. Na sala havia alguns garotos reunidos discutindo seus assuntos problemáticos.


— Pessoal! Vem ver! A novata tá dando uma surra no Gabriel.   


Os garotos se levantaram às pressas para seguir o anunciante. Todos queriam ver a novata sem graça quebrar a cara de um valentão brutamonte do clube de esportes. 


A multidão novamente ia aos delírios em cada desvio da baixinha. Ela acertou seu estômago com força, forçando ele se dobrar e apoiar o braço na barriga. Ele soltou um gemido imperceptível. Momento perfeito! Ela o acertou novamente em seu rosto deixando ele se ajoelhar com as mãos no rosto. Não forte o bastante para quebrar seu nariz ou deixar sangrando, mas o suficiente para deixar o grandão tonto.


O diretor começou a dispersar a multidão e vendo a cena levou os dois briguentos para diretoria. 


— Não admito esse tipo de atitude em meu colégio.


— Mas professor! Foi ela...  


— Silêncio! Já é a quinta vez que arruma briga este ano. Não vai passar desta vez. Vou dar suspensão aos dois. Logo no primeiro dia moça. Não esperava uma atitude dessas de uma dama.


— Mas foi ele quem começou. Ele me ameaçou. — A menina ficou em prantos com o rosto enterrado nas mãos e as lágrimas lambuzava sua pele branca. — Por favor, não me puna por me defender. 


O diretor olhou para a menina em prantos enquanto o garoto tentava se explicar e foi silenciado de imediato. O diretor a dispensou apenas com uma punição leve. Mas o brutamonte não escapou de uma suspensão.


A menina foi recebida com olhares admirados pela sala. Ela se sentou em sua carteira tinha uma expressão alegre. Seus colegas de sala logo se amontoaram ao seu redor para questionar o ocorrido e lhe fazer milhões de perguntas. O dorminhoco estava ligado ouvindo a menina se explicar aos colegas.


— Vantagens de ser mulher! — Explicou ela aos colegas em como se livrou da suspensão. 


A professora entrou na sala já mandando todos se sentarem em seus lugares. Era uma mulher magra com saia justa vermelha, sapato alto e blusa social branca. Os cabelos louros preso em um coque.


O dorminhoco deu um último olhar para a novata e voltou à atenção a professora. Ela o olhou de relance encontrando seus olhos azuis e os direcionou ao garoto que havia lhe ignorado mais cedo. Eram idênticos.  


— Vocês são irmãos gêmeos? — perguntou ela ao dorminhoco. 


Ele lhe lançou um olhar incomodado.


— Não. Somos amigos. Somos tão amigos que ficamos iguais. — respondeu ele num tom seco. 


— Você é um idiota. — disse ela irritada. 


— Você que é idiota por fazer pergunta tão óbvia.


— Não precisava ser grosso. 


— Não devia ser burra. — falou ele ríspido. Virou-se para frente, abriu o caderno e prendeu sua atenção a professora.


Seu irmão a olhou inexpressivo. Segundos depois deu atenção a aula. A novata o observava de vez em quando e olhava Hélio de costas. Eram idênticos. O cabelo era muito louros e curtos a pele muito branca, os olhos muitos azuis, muito magros, muito bonitos, muito altos, e muito estúpidos. Após três respostas curta e grossas direcionadas a ela a novata desistiu de tentar fazer amizade com os gêmeos. E assim se prosseguiu o seu dia. 


A última aula estava entediante e parecia que o relógio havia parado. O professor tentava explicar a invasão falha de Napoleão á Rússia. Hélio estava quase dormindo enquanto seu irmão desenhava em um pedaço de papel rabiscado.


— Ei. — chamou ela a atenção do gêmeo. — Qual seu nome? 


— Ryan. — respondeu ele sem vontade. 


— Prazer. — sorriu ela. 


— Oi. — disse ele num tom seco voltando à atenção ao desenho. 


— Está desenhando o que? 


— Nada em particular. — disse ele sem vontade após um suspiro. 


— Eu incomodo você, né? — perguntou ela. 


— Não, só não estou acostumado com garotas tagarelas.


— Eu sou Isabella. 


— Oi Isabella. — disse ele ainda sem vontade.


— Me chame de Isa. Eu prefiro. 


— Que nome sem graça. — Se manifestou Hélio virando para a garota. — Um nome sem graça para uma garota sem graça. Combina com você... Seu pai tem um péssimo gosto. 


— E você é um idiota. — retrucou ela aborrecida.  


— E você sem noção. Acha mesmo que todo mundo te adora só por que conseguiu quebrar a cara do Gabriel. Engano seu. 


— Fiz melhor do que você jamais faria.


— Então continue fazendo seu melhor em silêncio. 


— Qual problema de vocês dois? São dois imbecís. 


O sinal tocou mais uma vez encerrando o dia. Isa se levantou e saiu pisando duro aborrecida com os gêmeos. Eles por outro lado não estavam incomodados com a situação.


Um bilhete foi deixado na porta da geladeira. Um borrão em forma de letras deixou uma pequena e incompleta informação. 


“Seu jantar está na geladeira. Não temos hora para voltar.” 


Isa estava acostumada com os rabiscos em pedaços de papeis presos na geladeira com imãs, nunca ninguém estava em casa para recebê-la. Retirou a roupa e tomou um banho quente. Esquentou a comida no microondas e ligou a TV. A comida não era das mais saborosas, mas melhor do que nada. 


Diferente da casa dos gêmeos que ficava a um quarteirão de distância. A mãe cantarolava enquanto preparava o jantar. Seus filhos chegaram em casa arrastando a mochila no chão e jogando em qualquer lugar. Hélio se sentou à mesa da cozinha e observava a mãe em silêncio. Ryan disse um oi sutil e se direcionou ao seu quarto para revisar as matérias do dia. 


Hélio contava a mãe como foi seu dia na escola e sobre uma garota tagarela que brigou com o valentão. A mãe estava interessada no assunto. Ela sempre estava. Se preocupava com seus filhos e queria participar de cada detalhe de suas vidas, mas somente Hélio tinha o costume de compartilhar com a mãe sua difícil fase adolescente. Os gêmeos tinham quase 16 anos e ainda dividiam o quarto. Ryan era mais organizado e responsável, Hélio por outro lado era mais relaxado e despreocupado com suas coisas.


Hélio deitou na cama com os pés apoiados na cabeceira e jogava uma bola de tênis contra a parede. Ryan olhou de cara feia para o irmão e ele entendeu o recado. Silêncio quando estava estudando era um acordo entre os irmãos para manter respeito do no mesmo ambiente.


— O que achou da garota nova? — perguntou Hélio distraído.


— Além de ela me encher o saco o dia todo? Não acho nada, só queria que ela se sentasse em outro lugar.


— Não tem nenhuma garota legal em nossa sala. — suspirou Hélio.


— Não tem mesmo. Quem sabe ano que vem temos mais sorte.


— Não conheço nenhuma garota de outra sala que valha a pena.


— Como são exigentes. — falou a mãe recostada na porta do quarto. — Venham jantar. A comida está pronta.


Isa quebrava a cabeça para resolver os problemas de matemática, já havia perdido as contas em quantas vezes tentou resolver os problemas, apagando e rescrevendo, mas nunca chegava ao resultado que julgava correto. Finalmente sua paciência falhou e logo ela desistiu da matemática e partiu para história, mas já estava entediada de mais para continuar a estudar, ao invés disso ligou o laptop e começou a bater papo com seus amigos do colégio anterior.


O relógio do laptop marcou ás 22h30min. Isa estava sem sono, mas era hora de dormir se quisesse levantar cedo no outro dia. Ajeitou a cama e botou o pijama.


Hélio ficou tentado a usar sua bicicleta nova para ir à escola, mas não queria arriscar que algum babaca pudesse estragar ela quando estivesse no bicicletário da escola. Desta vez seu pai não compraria uma nova se esta fosse estragada, teria que economizar na mesada para concertar ou começar a trabalhar meio período. Já era uma ideia que seu pai estava colocando na cabeça da mãe. — Já havia passado da hora de ganhar esse tipo de responsabilidade. — Dizia o pai no jantar a noite anterior. — Tenho um amigo que abriu um restaurante no centro. — Mas para a mãe dos gêmeos ainda não era o momento os meninos deveriam se concentrar nos seus estudos e um emprego precoce mesmo que fosse por meio período atrapalharia. Hélio agradecia aos céus por ter sua mãe.


Os gêmeos andavam em passos lentos a caminho da escola, era apenas alguns quarteirões de distancia então poderiam ir a pé. Um pequeno ponto minúsculo ao longe se via uma criaturinha saindo de um sobrado rosado.


— Isabella. — Comentou Ryan.


— O que? — questionou o irmão distraído. Ryan apenas apontou. — Não sabia que ela morava perto. Que saco. Espero que não nos veja.


Isabella olhou em direção aos gêmeos e os ignorou. Isso o surpreendeu. Ela estava acompanhada de um senhor alto com uniforme da companhia área Avian’s. Ele a acompanhou até a entrada da escola e logo se apresentou ao diretor que estava saindo de seu carro no estacionamento em frente. Todos os alunos tinham olhos para ela, mas não parecia que ela estava gostando da atenção que estava chamando. A menina se despediu do homem e entrou no colégio. Na sala de aula estava quieta sentada em sua mesa com alguns materiais já expostos. Ryan se acomodou na carteira em silencio. Hélio também se sentou e ficou alguns segundos sentado de lado observando a garota escrever em sua agenda.


— O que foi? — perguntou ela com olhar torto.


— Nada.


— Então...


— Quem era o senhor que estava com você? — perguntou o menino curioso.


— Tem alguma importância pra você?


— Não.


— Então eu não tenho que lhe dizer. — falou ela ríspida.


Hélio lançou um olhar confuso ao irmão que o retribuiu surpreso.


— Ela acordou de mal humor. — falou Hélio ao irmão.


A aula prosseguiu. Isa ficou calada o tempo todo, os gêmeos também não se manifestavam. O dia estava quente além do calor a aula não estava interessante o suficiente. Hélio e Ryan cochichavam com dois outros garotos próximos sobre o programa de luta na TV. O professor pediu para o pequeno grupo fazer silencio enquanto ele explicava sobre os testes bimestrais avaliativos. Determinava seu conhecimento na escola, as pontuações eram uma garantia para o currículo e uma entrada para uma boa faculdade no futuro. Isa nunca havia prestado esse tipo de teste antes o colégio que frequentou não tinha esse tipo de avaliação.


— Era o meu pai. — disse ela ao léu, entediada com a explicação do professor.


— O que? — questionou Hélio se virando para a garota.


— O homem que estava comigo hoje de manhã. Ele é meu pai. Ele veio conversar com o diretor sobre o episodio da briga, mas sei que não vai dar em nada. O meu pai não liga com o que eu faço na escola.


— Ele é militar?


— Piloto de avião da companhia Avian’s.


— Poxa! É bem requisitada essa companhia.


— É sim. Ele foi piloto na aeronáutica. Serviu por 13 anos. Não sei exatamente porque saiu.


— Meu pai é militar também. Do exército.


— Legal. — falou ela com pouco interesse. — Seu pai é legal?


— Às vezes.


— O meu é legal também. Só que muito raramente.


— Os pais são um saco às vezes.


— Sim, eles são. Do que o professor está falando?


— Do teste avaliativo. Vai pro currículo de faculdade. Começa semana que vem.


— Eu entrei no colégio ontem, não posso fazer esse teste, eu nem sei a matéria direito.


— Vai ter que correr atrás do prejuízo. — Sorriu Hélio para a menina pela primeira vez.


— Você pode me ajudar a estudar? — perguntou ela desesperada.


— Só pode ser brincadeira. — reclamou Hélio. — Peça ao Ryan, ele é mais inteligente do que eu.


— Tô fora. — Se manifestou Ryan ouvindo a conversa.


— Por favor, Hélio, Ryan. Me ajude não vou conseguir sozinha.


 — Se vira. — falou o menino voltando à atenção a aula.


— Idiotas. — cochichou Isa para si mesmo fechando a cara.


No recreio Isa se sentou em uma mesa isolada do restante da turma. Ainda não foi bem aceita pelos adolescentes. Uma menina de sua sala sentou-se à mesa também de frente para ela, seguida de outras três garotas da mesma sala. A menina tinha um ar simpático. Era mulata e bem vestida, os cabelos negros preso em um rabo de cavalo, uma maquiagem clássica. As outras três garotas também igualmente bem vestidas e maquiadas. Eram as patricinhas do colégio.


— Ei. Eu sou Isadora. Somos da mesma sala. — se apresentou a menina. — Esta é Melissa, Giovana e Penelope.


— Oi. Eu sou Isa.


— Isa?


— Isabella. Me chamam de Isa.


— Não! Eu sou a Isa, você pode arrumar outro apelido. Pode ser Bella, apesar de não combinar muito com você.


— Obrigada. — falou Isabella com deboche. — O que você quer?


— Você é amiga do Hélio? Vocês se conhecem fora do colégio?


— Interessada no babaca? Não, só falo com ele na sala. Conheci ele ontem.


— Hélio é meu namorado. Não quero você de gracinha com ele ou eu acabo com você. E claro Ryan é namorado da Melissa. Está proibida de falar com eles.


— É claro. Eles só não sabem disso. Não vou parar de falar com ninguém, e se eles forem namorados de vocês, peçam para não falarem comigo. — Isa se levantou e saiu com olhar odioso.


Seguiu seu caminho até a biblioteca e percebeu que foi seguida pelas garotas ciumentas vendo que estava em desvantagem entrou na biblioteca vazia e se sentou na mesa com Ryan que estava lendo. Ele lhe lançou um olhar descontente e fechou o livro.


— Já disse que não vou te ajudar a estudar. — falou ele.


— Não quero sua ajuda, seu idiota, mas não tenho nada melhor pra fazer.


— São suas amigas novas? — Perguntou Ryan percebendo que as quatro garotas pararam na porta da biblioteca e observava Isa de longe com Ryan. Não estavam contentes.


— Estão me enchendo. Não quero bater nelas. Meu pai me disse que se eu for pra diretoria mais uma vez ele me dará uma surra.


— Ai você resolveu se esconder atrás de mim?


— Existe lugar melhor?


— Existe a diretoria.


— Não seja bobo, não vou correr para diretoria. Quero matar elas de raiva.


— De raiva?


— É. Sabe aquela loira? Ela é doidinha por você e a Isadora, pelo seu irmão. Elas querem que eu fique longe dos dois, para deixa-las furiosas vou ficar o mais próximo que eu puder. — Isa se aproximou do rosto de Ryan quase que colando seus lábios ao dele. O menino se afastou desconcertado.


— Não se esqueça de que são quatro contra uma. E nós não vamos ficar colados o tempo inteiro.


— Não preciso ficar colado o tempo inteiro. Somente dentro da escola. Lá fora será outro assunto. Eu sei me cuidar.


Ryan se levantou fechou o livro e colocou na prateleira da biblioteca. O sinal tocou e ele voltou para sala de aula com Isa em seus calcanhares. As garotas ciumentas estavam espumando pela boca, pois Isa estava fazendo de tudo para provoca-las ainda mais mesmo que os gêmeos não dessem a mínima atenção.


No final da aula Ryan e o irmão se despediram dos amigos e se acomodaram na biblioteca para estudar. Hélio estava ficando entediado de ter que explicar as equações ao irmão.


— Eu vou morrer se tiver que repetir tudo isso.


— Não posso tirar nota baixa nisso. Já que você melhor do que a mim, não custa nada me ajudar. Sou seu irmão.


— É claro! Não tenho escolha, né.


— Vamos continuar amanhã. Está ficando tarde. — comentou Ryan ao irmão.


— Vamos.


Hélio passou um tempo com a mãe depois do jantar, contar a ela sobre o dia. Entrou em seu quarto e encontrou Ryan jogando ping-pong contra a parede. Jogou a toalha molhada em cima da cama e procurou na cômoda qualquer roupa para vestir. Ligou o laptop na cama e revisou seus e-mails, conversou no bate-bapo com os poucos amigos que tinha. Até que seu coração disparou. Um e-mail com remetente conhecido, mas há muito tempo não o recebia. Certificou-se se ver quando a mensagem havia sido entregue para não correr o risco de estar lendo uma mensagem antiga, revisada várias vezes. A mensagem era do mesmo dia mais cedo. A fonte do texto era em rosa e a assinatura do e-mail em itálico com desenho de um ursinho e corações. Hélio leu a mensagem com o coração quase saindo pela boca. Leu e releu a mensagem, colocou um sorriso bobo no canto da boca, mas logo disfarçou para que Ryan não soubesse.


— O que a Raquel te escreveu. Disse que ainda te ama? — Perguntou Ryan com um sorriso malicioso.


— Você leu meus e-mails?


— Não. Ela me escreveu também.


— Sério? O que ela te disse.


— Nada de mais. Só que está adorando morar no exterior e que queria que a gente estivesse com ela. Então... Ela disse que ainda te ama?


— Não disse, mas que vem passar o próximo feriado com os avós, então ela vem nos ver.


— Legal.  Você ainda gosta dela?


— Não é uma garota fácil de esquecer.


— Percebi, mas se ela nunca mais voltar, acho melhor encontrar outra garota pra se apaixonar.


— Ela vai voltar. Ela disse que voltaria.


— Eu vou dormir. Tô cansado pra caramba.


A semana seguiu rápido. Isa quebrou a cabeça para estudar, pediu cadernos e livros dos colegas de sala para estudar, mas nenhuma boa alma quis ajuda-la. Resolveu recorrer à internet. O fim de semana também foi apenas de estudos e o tão ansioso dia da prova chegou. Seria uma semana inteira de testes somada com as atividades em sala.


Todos os alunos estavam ansiosos para fazer os testes. Hélio e Ryan se ajeitaram em suas carteiras, mas Isa era a única que ainda não havia chegado. O teste começou, todos os alunos estavam concentrados teriam três horas para realizar o teste, quem terminasse seria dispensado mais cedo. Não eram difíceis para Hélio e Ryan, eles tinham facilidade de aprendizado e poderiam fazer o teste de olhos vendados.


Duas horas se passaram desde que o teste havia começado. Os gêmeos e Isadora já estavam entregando suas folhas ao professor e recebendo uma pequena plaquinha azul que deveria ser entregue na saída comprovando que estavam sendo liberados. A menina disse um oi desajeitado para eles, mas foi ignorada. Isa ainda não havia chegado para fazer o teste e também a esta altura não poderia mais realizar. Os gêmeos chegaram em casa mais cedo. Passaram o dia no laptop e televisão. Sua mãe foi ao mercado fazer compras e não voltaria antes das cinco da tarde. Hélio vasculhou novamente seus e-mails e teve uma nova surpresa, recebeu uma resposta da amada Raquel, seu coração logo disparou de alegria. Porém a mensagem era revoltante e triste. Raquel estava com um novo namorado e era o homem dos seus sonhos, assim dizia na mensagem. Um pequeno pedido de desculpas ao menino que estava lendo e um recado para esquecê-la e se apaixonar por outra garota, afinal não teria nenhuma chance de ficar com sua amada. E provavelmente não retornaria ao seu país natal. Isso foi arrasador. Leu e releu a mensagem várias vezes para ter certeza que não era nenhuma brincadeira maldosa. Hélio passou toda tarde deprimido.


A mãe abriu a porta com dificuldade colocou as compras que carregava na mesa. Encontrando Hélio sentado na cadeira comendo bolo com leite.


— Pode me ajudar querido? Tem mais coisas no carro pra carregar.


O menino se levantou pesaroso e ajudou a mulher a retirar as compras. Quando terminado retirou as coisas da sacola e as colocou na mesa para que sua mãe as guardasse no lugar.


— Está tudo bem querido? — perguntou sua mãe, notando algo errado com o filho.


— A Raquel me dispensou.


— Oh meu amor. Sinto muito. Ela já voltou de viajem?


— Não, me dispensou por e-mail. Disse que tem um novo namorado e que era pra eu esquece-la porque não vamos ficar juntos. Ele é o homem da vida dela e daqui dois anos vão se casar.


— Bom, pelo menos ela não ficou te iludindo, né. O melhor a se fazer é tentar esquecer.


— Mas como? Eu a amo, mãe.


— Eu sei, mas isso passa. Assim que você encontrar outra pessoa que seja tão especial ou mais que Raquel.


— Missão impossível.


— Não será impossível, amor. Raquel é a primeira, e você é jovem. Encontrará alguém melhor.


— Não quero encontrar outra garota.


Raquel é um ano mais velha do que Hélio e Ryan. Ela morava com os avós que são vizinhos dos gêmeos. Passaram toda a infância juntos e quando fez doze anos Hélio a pediu em namoro e assim foram por dois anos. No ano anterior Raquel recebeu uma bolsa de estudos em uma das melhores escolas do exterior. Pensou em seu futuro e mesmo amando o gêmeo ela partiu. Com a promessa de retornar.


Hélio ainda estava deprimido no outro dia. Seu pai havia feito uma tentativa falha de aconselhar o filho nesse assunto de coração partido, mas não ajudou em muita coisa. A escola estava tão chata quanto antes. Os testes fáceis que nem sua deprimida mensagem lhe tirou a concentração. Isa não compareceu novamente para fazer a prova, mas os gêmeos não estavam se importando. Isadora novamente tentou conversar com Hélio, mas somente Ryan respondeu. O que deixou a garota eufórica já que isso era novidade. Os dois foram conversando a caminho da saída do colégio enquanto Hélio estava perdido em devaneios.


A caminho de casa avistou Isa sentada na janela usando apenas uma regata e calcinha. Logo o pai da menina lhe veio ao seu encontro aos berros. Ela apenas ficou com a cabeça baixa. Ele não usava o uniforme da companhia estava de camisa e parecia furioso. Hélio ficou por um tempo olhando os dois, apenas por curiosidade Ryan parou ao seu lado e também ficou observando a discussão. Isa levantou a cabeça e olhou direto nos olhos do pai, não disse nada, era o que dava pra se notar, mas o homem lhe deu uma bofetada na cara. Hélio fechou os punhos e franziu a testa. O homem chegou à janela e encarou o menino que estava parado na calçada olhando pra ele com o rosto fechado. Botou a cabeça pra dentro e fechou a cortina.


Hélio não sabia o que Isa havia feito para merecer tal punição, mas nada justificava bater em seu rosto. 



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Autor(a): Rosa_de_Oliva

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