Fanfics Brasil - Capitulo 8 Aconteceu em Paris (adaptada)

Fanfic: Aconteceu em Paris (adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 8

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CAPÍTULO 8


LIGUEI PARA A COMPANHIA de táxi.


— Vinte e cinco libras por uma corrida até Victoria? — gritei, horrorizada. — Pelo menos o Dick Turpin usava máscara! Isso é extorsão. É uma linha reta entre Balham e Clapham. Não vou me tornar uma vítima de sua desonestidade — me exaltei, ficando de pé.


— Você quer o táxi ou não, querida? — o controlador perguntou, desinteressado.


— É claro que não. Vai procurar outro idiota, seu ganancioso! — Eu o chamei de ladrão e ameacei denunciá-lo para o Watchdog. Não me restava outra alternativa a não ser usar o metrô. Nem liguei, pois era uma questão de princípios. Afinal, eram vinte e cinco libras. Conferi pela décima vez o visual no espelho. Usava meu tailleur azul-marinho da Karen Millen, com um comprimento um pouquinho acima do que usaria normalmente, minha blusa branca da Conrad, que Anahí dizia que tinha custado mais que nossa televisão, e as novíssimas sandálias de salto agulha que Anahí  havia comprado na Russell & Bromley. Ela provavelmente iria procurá-las o fim de semana inteiro. Montanhas de cabelo castanho caíram pelas minhas costas. Bem, apenas um pouco abaixo de meus ombros, na verdade. Chelsea Girl gloss da Nars, sombra lilás-claro da Bobbi Brown, um toque suave de blush e uma leve camada de rímel completavam o visual. Encorajada por estar me aventurando em território desconhecido, por ter acordado sem ressaca e num dia em que comi pouco, mal podia esperar o que me aguardava.


Mordi o lábio inferior enquanto olhava para minha mala Samsonite. Era bem grande. Pensei que, com um pouco de habilidade, poderia colocar Pablo dentro dela; o lado positivo era que ela tinha rodinhas. Com dificuldade, consegui manobrá-la para fora do apartamento, arrastando-a atrás de mim pelo estreito corredor de saída do prédio. Mal tinha chegado ao portão e já estava exausta. Comecei a temer a penosa tarefa de arrastá-la pela rua até a estação de metrô. Pensando bem, pagar 25 libras por um táxi já não me parecia tão caro. Afinal, o que você pode comprar nesses dias com 25 libras? Além disso, o motorista de táxi podia ser o pai de três crianças famintas precisando de dinheiro. Que tipo de pessoa reclamaria do preço de um estojo de sombra da Benefit, se ela tivesse a oportunidade de alimentar uma família inteira?


“Espero que outra pessoa atenda ao telefone na companhia de táxi, senão vou fingir que sou americana.” Larguei a alça da mala para procurar o celular na bolsa. Levei alguns segundos, talvez um pouquinho mais, para perceber que não havia nada pendurado em meu ombro. Apalpei peito, quadril, costas e coxas, de cima a baixo. Nada. Me senti péssima.


— Sem bolsa, sem bolsa — cantarolei. Meu coração despencou até alcançar os sapatos da Anahi. A bolsa que continha meu dinheiro, telefone, passaporte, chaves, lista de passageiros, guia de viagem e maquiagem estava sobre a cama. Meu coração disparou e meu ouvido começou a zumbir. Tentei respirar, sentindo que estava me afogando. Chutei a porta de entrada do prédio e, como um demônio, comecei a tocar as três campainhas. As pessoas que esperavam o ônibus na frente do portão me encararam com os olhos arregalados.


— O que vocês estão olhando? — gritei, com os olhos injetados como se estivesse louca. Eles fugiram como ratos lutando por um assento no ônibus para Shepherd’s Bush.


Os outros moradores do prédio são médicos residentes e, é claro, eles estavam salvando vidas ou dormindo, bêbados. E mesmo que eu consiga entrar no prédio, estarei trancada para fora do apartamento.


Joguei-me contra a porta e golpeei minha testa com os punhos. “Certo”, pensei. “Tudo que preciso fazer é ir de Tooting para Paris. Não pode ser tão difícil assim.” Dei uma risada nervosa. Não é como se tivesse de colocar três pontes de safena no coração de alguém. Sentei no muro do jardim e respirei profundamente. Na verdade, preferia fazer uma operação de ponte de safena. Levantei-me. “Seja positiva”, pensei. “Eu posso fazer isso.” Desabei de novo. “Não posso, não posso. Quero meu antigo emprego de volta.” Pulei e me pus de pé. “Pelo amor de Deus, esse é o meu trabalho. Sou uma guia de turismo europeia”, falei para mim mesma com convicção, minhas entranhas rosnando.


Arrastei, chutei e empurrei a mala pela rua até a estação Tooting Broadway.


— Preciso de ajuda! — gritei. — Preciso de ajuda! — Meus olhos examinaram a estação como um facho de luz num show do Black Eyed Peas. Localizei um guarda. Fui até ele e imprensei-o contra o guichê da bilheteria. Pam! Ele bateu as mãos e o rosto contra o vidro.


— Aaaiiii! — gemeu, preso entre meus seios e a porta do guichê. Virei-o de frente, agarrei sua lapela e puxei-o ao meu encontro.


— Tenho de chegar até Victoria...


— Não tenho bolsa...


— Nem dinheiro para a passagem...


— Nem passaporte...


Ele fez que sim com a cabeça, solidário, enquanto eu batia sua cabeça contra o vidro do guichê.


— Emprego novo...


Ele piscava ensandecido, seu queixo caiu e seus olhos se arregalaram ao compreender o que estava se passando. Limpei meu nariz gotejante em seu ombro.


— Minha conta furada em nove mil, preciso desse emprego, desesperadamente...


— Anahí vai adorar...


Eu continuava a bater sua cabeça contra o vidro ritmicamente, quando reparei que alguém nos observava.


— O que você está olhando? — gritei para um homem baixo, com uma cara impassível e dono de uma careca lustrosa.


Ele fugiu; o guarda fez o mesmo no minuto em que afrouxei a mão que segurava seu casaco. Estava prestes a agarrá-lo de novo quando ele deu um salto acrobático por sobre as catracas e abriu o portão. Joguei meu cabelo sobre o ombro e levantei a alça da mala.


— Que gentil! — falei, ofegante.


Passei pelo portão e desci a escada rolante, soluçando sem parar.


Quando cheguei ao vagão, havia um assento vazio e um homem elegantemente vestido se dirigia para lá. Segurei as costas de seu casaco e o empurrei para o meio do vagão. Sendo bem honesta, acho que ele apreciou a distância entre nós. Desabei no assento. Ninguém ousava me olhar. Faço a mesma coisa quando sobra um pedaço de bolo. Uma senhora de idade se sentou a meu lado. Ela olhou para minha mala e colocou a mão enrugada sobre a minha.


— Minha filha, os homens não servem mesmo para nada. Você fez bem em deixá-lo. Eu gostaria de ter tido essa coragem quando tinha sua idade. Mas as coisas eram diferentes na minha época. — Ela sorriu e fez um aceno positivo com a cabeça, pensativa.


Abracei a mim mesma, fungando ruidosamente. Balancei para frente e para trás, enquanto lágrimas escorriam copiosamente pelo meu rosto. Senti uma irresistível onda de alívio ao perceber que tinha tomado a decisão correta ao abandoná-lo.


— Fiz a coisa certa, fiz a coisa certa — repetia. Segurei suas mãos ossudas e procurei urgentemente seus olhos. — Será? Será mesmo? Fiz a coisa certa? — perguntei. Fechei meus olhos e tentei me lembrar de quem eu tinha abandonado.


— Você é linda, minha querida. Não vai ficar sozinha por muito tempo — ela disse, tentando livrar sua mão de meu aperto desesperado.


— Você acha — solucei — que vou encontrar logo outra pessoa? — Estava exaltada e delirante. Ela arrancou meus dedos de seus pulsos e se levantou, pronta para partir.


— Sim — falou sabiamente. — Com certeza.


— Não, não, não — gritei, enquanto ela se afastava. — Eu não vou deixá-lo! Lembrei agora. Não vá!


Ela foi embora e eu despejei toda a minha miserável história nos passageiros do vagão. E sabe o que aconteceu? Ninguém encontrou uma solução para meu problema.


Na estação Victoria, ergui e empurrei a mala para fora do trem e pela plataforma. Com os olhos injetados, cabelos desalinhados e parecendo uma louca, andei em direção ao guarda da catraca, com os braços estendidos, chorando e soluçando. Estava pensando como explicaria minha situação quando, sem precisar falar nada, ele se afastou de mim e abriu o portão.


Saí da estação carregando a mala, rumo a Bressenden Place. “Preciso achar o ônibus”, suspirei. Achei que haveria apenas um me esperando, mas havia uma longa fila. “Merda!”, xinguei com os olhos marejados.


O primeiro motorista com quem falei estava indo para Amsterdã, o segundo, para Paris, mas ele não era da Insignia Tours. Como era mesmo o nome da empresa de ônibus? Larguei a alça da minha mala e massageei as têmporas. “Pense... Começava com U ou D, não, com P... Acho que era Patterson’s”, pensei. “Sim, é isso mesmo: Excursões Patterson’s. Não, não, começava com U. Uckermann´s.”


Segui cambaleando, minha mala chiando atrás de mim, quando avistei três cintilantes ônibus marrons, alinhados orgulhosamente na curva, exibindo o logo dourado da Uckermann´s. Quase desmaiei, aliviada, quando o motorista do segundo ônibus me perguntou se eu me chamava Dulce.


— Olá! — ele disse, com os olhos brilhantes me dando boas-vindas. — Que bom...


Joguei a mala no chão e tropecei em sua direção, com o queixo e lábios tremendo. Ele franziu a testa, preocupado. Escondi meu nariz no nó de sua gravata.


— Sem dinheiro. Sem passaporte.


Ele segurava meus braços com delicadeza.


— Sem maquiagem! — lamentava inconsolável.


— Tudo bem. Fique calma. Vamos dar um jeito — ele me consolou, esfregando minhas costas um pouco sem jeito. Limpei meu nariz em seu ombro. Ele segurou meu rosto. Seus olhos azul-escuros fixos nos meus. — Chorar não vai ajudar em nada — ele disse, sorrindo com os olhos. Bufei e comecei a choramingar sem parar. Ele pressionou os polegares na minha bochecha. — Não faça isso — falou, com um aceno encorajador. — Não faça isso — ele repetiu.


Olhei para ele com olhos bem abertos e, após alguns minutos de vagarosos acenos positivos com a cabeça e de ele me repetir o mantra consolador “fique calma, fique calma”, parei de chorar.


— Assim é bem melhor — ele sussurrou suavemente.


Prendi a respiração. Ele ainda segurava meu rosto.


— Não se preocupe. Eu tenho dinheiro. Posso lhe comprar maquiagem. Isso não é o fim do mundo — ele me disse, com um sorriso confiante.


Eu funguei e solucei, e funguei e solucei mais um pouco. Estava começando a me sentir melhor.


— O único problema é o passaporte — ele falou, preocupado.


E como um motor de avião, eu acelerei.


— Não faça isso — ele me avisou.


Mordi os nós dos dedos. Ele observou meu rosto.


— Você trouxe sua carteira de motorista? — ele perguntou. Houve um breve silêncio.


— Não — tentei falar, mordendo os punhos babados. Ele segurou meu queixo como os dentes de uma armadilha.


— Preste atenção — falou com firmeza.


Eu era toda ouvidos. Afinal de contas, era a encarregada dessa viagem e ele era meu empregado.


— Quando chegarmos às docas de Dover, os passageiros têm de descer do ônibus para passar pelo controle de passaporte. Nós devemos permanecer a bordo e dirigir até o controle, onde entregamos os formulários com as declarações dos passageiros e onde nossos passaportes serão checados. Então, vamos fazer assim: enquanto você se esconde no banheiro do ônibus, eu passo os formulários e digo que estou trabalhando sozinho. Encontramos os passageiros na saída e embarcamos na balsa.


Um lampejo de esperança passou pelo meu peito, como acontece quando eu assisto ao sorteio da loteria pela TV, apertando meu cartão, excitada, animada, otimista.


— Você acha... Você acha que pode dar certo? — gemi.


— Por que não? — ele perguntou. — Os passageiros vão chegar em vinte minutos. Vou guardar sua mala e lhe pagar um café. — Suas mãos ainda seguravam o meu rosto.


— Você está apertando meu maxilar — reclamei.


— Estou? Me desculpe! — ele disse, dando um tapinha no meu ombro de um jeito masculino.


Alguns minutos depois, estávamos sentados numa mesa no fundo do café italiano da esquina, de frente para o ônibus. Ele me passou uma cópia da lista de passageiros, com sua prancheta e caneta.


— Você conhece bem Paris? — ele perguntou.


— Hummm, já estive lá quando eu tinha oito anos. Confesso que exagerei um pouco na entrevista — reconheci, embaraçada. Ele me lançou um olhar penetrante.


— Sei — ele interrompeu. — Há quanto tempo você trabalha como guia? — perguntou.


— Hum... há uma hora — admiti.


— Então você não conhece a cidade nem o trabalho? — ele perguntou num tom que não consegui identificar.


— Não, quer dizer... não.


— Certo — ele disse, acabando de tomar o café. — Certo — ele jogou a xícara vazia sobre o pires e se inclinou sobre a mesa, com os braços cruzados. — Quando os passageiros chegarem, confira os nomes na lista e peça para entregarem as malas para eu poder guardá-las no bagageiro. Me avise quando todos tiverem chegado. Depois, informe que a viagem até Dover levará duas horas e explique os procedimentos na alfândega e para o embarque na balsa.


Seria bom você verificar também se todos estão confortáveis no ônibus. — Ele me deu um sorriso encorajador. — Entendeu? — Ele se inclinou um pouco mais para apertar minha mão. Fiz um aceno positivo com a cabeça.


— Entendi — disse, tentando sorrir.


— Boa garota. Vamos — ele se levantou.


— Como você se chama? — perguntei.


— Chris. E você é Dulce, certo? — ele perguntou, sorrindo calorosamente.


Fiz um pequeno aceno de cabeça e apertei a prancheta contra o peito.


— Bem, Dulce, hora de partir — ele disse, abrindo um sorriso amplo.


Senti uma pontada de pânico ao ouvir a palavra “partir”. Ficaria mais feliz se pudesse permanecer sentada no café até segunda-feira à noite e, depois, voltar para casa e contar a Anahí sobre o fim de semana maravilhoso. Chris pousou delicadamente a mão sobre minhas costas e me guiou até a porta de saída.


OS PASSAGEIROS FORAM chegando pouco a pouco durante a meia hora seguinte. Todo mundo estava animado, com aquela alegria própria de um feriado. Acabei me contagiando, até lembrar que não tinha nenhuma razão para me sentir assim. Provavelmente seria demitida dali a duas horas. Chris papeava com os passageiros, enquanto guardava suas malas. Para cada um, ele tinha uma palavra gentil ou calorosa de boas-vindas. De vez em quando, ele me olhava e me dava uma piscada encorajadora ou um sorriso solidário.


Com todos os passageiros a bordo, entrei no ônibus, fiz a contagem final e, depois, saí e fui até a lateral, onde Chris fechava o bagageiro.


— Estão todos aqui — falei, meu estômago se retorcendo, enquanto uma nova onda de pânico tomava conta de mim.


— Não se preocupe — ele disse, seguro de si. — Tudo vai dar certo. Confie em mim.


— Isso já aconteceu antes? Quero dizer, você já conseguiu contrabandear alguém com sucesso? — perguntei, esperando que ele respondesse “acontece toda semana”.


— Não, nunca — admitiu. Fechou as últimas duas portas do bagageiro, enquanto eu mordia, ansiosa, meu polegar.


— Como você pode estar tão confiante?


Ele inspirou profundamente.


— A última coisa que gostaria, agora que a conheci, é passar um fim de semana em Paris sem você. — Sua voz era suave, enquanto prendia uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha. Ele colocou a mão nas minhas costas. — Vamos embora. Tudo vai dar certo.


Sentei-me ao lado de Chris e retirei o microfone do encosto de seu banco. O ônibus saiu do estacionamento, enquanto eu me dirigia, calma e segura, aos passageiros. Em meu antigo emprego, na agência de propaganda, precisava convencer os clientes. Na maioria das vezes, isso significava mentir ou exagerar. Então, para variar, era bom falar a verdade.


— Bom dia! Meu nome é Dulce e nosso motorista, nesse fim de semana, é Chris. Nossa viagem até Dover vai durar cerca de duas horas. Para seu conforto, o banheiro fica no centro do ônibus, do lado esquerdo. Em algum momento da viagem, gostaria que vocês checassem se estão com os passaportes em suas bagagens de mão, prontos para a inspeção em Dover. Se vocês o deixaram em suas malas, por favor, me avisem. Por enquanto, tudo o que vocês precisam fazer é se recostar e relaxar — coloquei o microfone de volta e olhei, de relance e com cautela, para Chris. Ele me deu uma piscada sexy.


Em teoria, eu deveria estar querendo me matar, mas sabem do que mais? Senti uma onda de desejo que me deixou sem fôlego. Estudei Chris por um minuto. Ele tinha cabelos loiros escuros, com reflexos cor de cobre polido, olhos turquesa emoldurados por cílios longos, maçãs do rosto salientes e um maxilar que mais parecia esculpido, de tão benfeito. Ele estava maravilhoso vestindo o paletó azul com botões dourados e um pequeno adorno, também dourado, no bolso do peito.


Inclinei o pescoço para ter uma visão melhor. Suas pernas estavam abertas enquanto ele sentava confortavelmente de frente para o volante. Olhei para as coxas e minha boca se abriu involuntariamente. Elas eram grossas. Não gordas, não, não, nem um pouquinho gordas. Apenas grossas. A barriga era esbelta, provavelmente não devia beber muita cerveja. “Isso seria uma boa mudança”, pensei. Sua franja teimava em cair na testa e uma pequena sombra se formava em sua face toda vez que piscava. Olhei, fascinada, quando ele casualmente soprou o cabelo para longe dos olhos, enquanto ajeitava o espelho retrovisor. “Hummmmmm”, pensei, “provavelmente mede mais de um metro e oitenta e deve ter uns vinte e oito anos”.


Sentei um pouco mais à frente e apertei o braço do assento para me equilibrar. Sem querer, meus olhos viajaram ao longo de sua gravata em direção à virilha. Deus, o que posso dizer? “Será que ele estava usando cuecas da Abercrombie?”, pensei. “Elas costumam fazer volume dentro da calça, não? E podem enganar uma garota, aumentando um pouquinho os apetrechos masculinos”. Inclinei-me para observar melhor.


— Dulce — Chris falou alto.


— Aiiiiiiiiiiii! O que foi? — gritei de volta.


— Senta direito. Você vai acabar caindo da cadeira daqui a pouco se não tomar cuidado — me avisou. — Você está bem na ponta. O que você está fazendo?


— Ah, desculpe. Estava olhando... Estava olhando, hum, a vitrine da Army & Navy — menti, sem graça.


— Então, pare. Vai acabar caindo no chão. Coloque o cinto e sente-se direito.


— Certo. Desculpe. Vou colocar o cinto.


Consegui ir de Londres para Blackheath sem atrair mais atenção para a minha pessoa, mas estava inquieta. Quando entramos na rodovia, estava balançando para frente e para trás na cadeira. Algum cantor geriátrico estava se esgoelando pelo sistema de som. Acho que era o Barry Manilow.


— Vou checar se todo mundo está bem — falei para Chris. Ele concordou e me olhou encorajadoramente.


Subi com cuidado os três degraus até onde ficavam os passageiros. Grata por Chris não ter olhos atrás da cabeça, dei mais uma boa olhada na sua virilha. “Puxa vida, será que é tudo isso?”, sorri, otimista. Eu disse “otimista”? Quer dizer... sorri automaticamente porque este é meu jeito de sorrir. Afinal de contas, acabei de conhecê-lo...


— Ok. Grite se precisar de ajuda — ele disse, educado, com os olhos voltados para a estrada.


Duas senhoras de idade, que tinham sido as primeiras a chegar, estavam sentadas na fileira da frente, logo atrás de mim.


— Olá — cumprimentei.


Um forte cheiro de lavanda penetrou minhas narinas.


— Olá, querida. Eu sou Doris e ela é Ellen — Doris disse, estendendo a mão.


— Você já esteve em Paris? — perguntei docemente.


— Nunca — Doris respondeu. Ela deu um tapinha no joelho de sua amiga. — E você, Helen?


— Nunca — Helen falou, colocando uma bala de limão na boca.


Elas carregavam enormes bolsas extravagantes, idênticas, e usavam o mesmo cabelo tingido de azul-claro. Continuei a conversa.


— Então será uma novidade para vocês.


— Com certeza — falaram em coro, concordando com um aceno de cabeça.


Doris apertou o cardigã, inclinou-se e falou em tom de conspiração: — Me diga, querida, as poltronas giram? — ela perguntou, séria.


Bem, o ônibus era muito confortável, provavelmente um dos melhores e mais modernos que eu já vira, mas esperar que as poltronas girassem era certamente um absurdo. Não estávamos dando uma volta nas xícaras gigantes de um parque de diversões. Revirei os olhos. Precisava lidar com essa questão da maneira mais educada e diplomática possível. Sorri tolerante.


— Não, Doris, infelizmente as poltronas não giram — respondi. — Mas elas reclinam — ofereci, como prêmio de consolação.


Doris olhou estupefata e franziu a testa. Pensei que sua expressão confusa podia ser devido à idade avançada. Provavelmente, ela esquecera o que tinha acabado de me perguntar. Ellen fazia a mesma expressão atordoada. Sorri tentando tranquilizá-las e deslizei majestosamente para conversar com o casal de trás. Achei que tinha lidado muito bem com a situação, apesar dessa ser apenas a minha opinião.


“Ah, parece que esses dois brigaram”, pensei. “Quem sabe eu posso acalmar os ânimos?” Ele estava virado para o lado, olhando pela janela, enquanto ela tentava conversar, animada, com a lateral de sua cabeça. Ela se virou irritada quando percebeu que eu estava parada a seu lado.


— Olá, querida! Christian está mal-humorado — ela acenou em direção ao marido.


— Ah, tenho certeza de que você está errada — eu disse alegremente.


— Não estou. Ele está sempre assim — ela o cutucou nas costelas. — Não é mesmo, Cristian?


Cristian era um homem grande e musculoso, com uma massa de grossos cabelos vermelhos, sobrancelhas cerradas, olhos cinza-escuros e ombros largos. Ele grunhiu e continuou olhando pela janela.


— Que se dane! — ela perdeu a paciência, dando um soco em seu ombro. — De qualquer maneira, querida, estava esperando ansiosa por esse fim de semana. Já estive em Paris algumas vezes, mas ele resolveu estragar minha viagem. Se você pudesse arranjar alguém que o afogasse no Canal da Mancha, em algum lugar entre Dover e Calais, eu seria grata. Por falar nisso, me chamo Maite — disse, animada. Ela beliscou o joelho de Christian, fazendo-o se contrair. — Christian é de Inverness e eu, de Harrogate. Nos mudamos para o sul nos últimos dois anos porque ele é um oficial de treinamento do Exército. — Maite cutucou as costelas do marido. — Ele era da Gestapo, mas o expulsaram por crueldade — ela disse, caindo na gargalhada, encantada com sua tirada repleta de ironia.


— Não ligue para ela. É uma chata profissional — Christian resmungou com um sotaque escocês. Ele me deu um sorriso de boas-vindas e se esticou sobre Maite para apertar minha mão. — Será que não sobrou nenhum lugar no bagageiro onde ela pudesse ficar? Só assim eu poderia tirar uma soneca até a balsa — ele brincou.


Maite agarrou sua mão, deu-lhe um beijo delicado no rosto e riu.


— Olha, querida, você operou um milagre. Ele está falando novamente.


Abri um grande sorriso e concordei com um aceno de cabeça. “Sou realmente boa nisso”, pensei, “inteligente. Sim, definitivamente parece que estive fazendo isso durante toda a minha vida. Já estou acalmando senhoras idosas e resolvendo disputas matrimoniais.”


Uma senhora ao lado de Maite estava em busca de minha atenção. Ela bateu de leve em meu braço e sussurrou timidamente.


— Dulce, querida, estava pensando se poderia lhe fazer algumas perguntas.


Meu sorriso morreu na hora. Eu queria conduzir a conversa. Não queria uma sessão de perguntas e respostas pela simples razão de que havia um número limitado de perguntas a que eu sabia responder.


— É claro. — Sorri, desanimada.


Seu rosto franziu de preocupação.


— Nunca estive numa balsa antes. Devo trocar meu dinheiro depois do café da manhã ou será que a fila do banco estará menor antes do café? Será que o banco ficará sem dinheiro se eu esperar o final do café? E se eu trocar meu dinheiro antes, posso pagar meu café em euros ou você acha que será mais barato pagar em libras? Outra coisa, minha filha gostaria de me ligar no hotel. Você teria o número do telefone? E quanto tempo vai durar a travessia?


Ela se moveu até onde eu estava e, discretamente, olhou para a direita e para a esquerda, checando se alguém estava ouvindo. Senti vontade de fazer o mesmo. Abaixei minha cabeça na direção dela, que suavizou o tom da voz, e continuou cautelosamente, com seu hálito quente em meu rosto.


— Você sabe se alguma balsa inglesa já afundou e se há barcos salva-vidas suficientes para todos os passageiros? Eu vi Titanic — ela disse, com ar de sabedoria. Arrumou os cachos prateados. — Ah, eu me chamo Patricia.


— Ahhhh, me dá licença um momento, Patricia. O motorista quer falar comigo — virei-me e dei um tapinha no braço de Maite, que estava lendo uma revista. — Maite, você poderia conversar com essa senhora? Chris precisa de mim, e Patricia quer saber algumas coisas.


Maite sorriu radiante.


— É claro, querida. Vá atender seu motorista, que mais parece um Adônis. — Ela jogou a revista sobre o colo de Christian e se inclinou até o outro lado do corredor, para conversar com Patricia.


Voltei correndo para o santuário da minha poltrona.


— Dulce — Chris disse baixinho.


— Oi.


Ele fez um sinal com o dedo.


— Chega mais perto.


Debrucei-me até ele.


— Na verdade, aquela senhora perguntou se haveria troca de lugar. Isso costuma acontecer para dar a oportunidade de todos sentarem na frente — ele me deu uma piscada diabólica. — Não quer dizer que as poltronas realmente girem... — Ele desenhou um círculo com o polegar — assim.


Me encolhi.


— Obrigada por me contar — retruquei, envergonhada.


— Não precisa agradecer — ele disse, abrindo um grande sorriso.


Virei-me para olhar os meus quarenta e oito passageiros confortavelmente sentados. Doris e Ellen estavam segurando suas bolsas idênticas, cantando junto com Barry. Os outros estavam ruminando barras de cereais, fofocando, lendo jornal, fazendo palavras cruzadas ou jogando Sudoku. Meu coração se acelerou. As perguntas de Patricia tinham me tirado do sério. “O que estou fazendo aqui?”, perguntei-me. Enquanto olhava para a paisagem bucólica de Kent, enfiei-me em meu assento e tentei esquecer a vontade de vomitar.



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Autor(a): gabyy

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Comentários da Fanfic 20



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  • AnazinhaCandyS2 Postado em 24/04/2017 - 19:02:58

    Mds quem é que faz promoção dando paracetamol??? kkkkkk. Coitada fico doente :( Annie sobe um nivel de loucura a cada capitulo kkkk. Christopher é um fofo cuidando da Dul *-* Mds que loucura esse apartamento do Pablo kkkkkkkk. Uau um pulseira de ouro branco, Christopher ta podendo *O* Huum Dul safadinha narrando oq ia faze, e o Christopher pula fora mas ele so n quer machuca ela *-* Continuaaaaaaaaaa

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 22/04/2017 - 18:45:44

    Christian é muito estranho, ele tem que se mais gentil com a Mai kkkk. Christopher é tão fofo, 3 semanas é uma vida já *-* Vdd se tem hora pra palita os dentes kkkkk. Dulce tentando da uma de medica é perigo. Tadinha da Ena :( Christopher é uma comedia tbm, se essa excursão existisse eu pagava quanto me pedissem só pra ir!! Christopher seu lindo, é claro que vc vai consegui, Dul n é boba kkk. Huuum eles se amam <3 Dul cantando o hino parecia eu cantando o hino do RS na escola, nunca decorei ele kkkkk. Caramba Christopher se transforma quando ve jogo na TV, deu ate um medinho dele, n to acreditando que ele amarrou ela pra ve o jogo kkkkkkk. Mds ela levanto pra corta as unhas dele, vc vai me mata um dia pq eu rio tanto que fico sem ar kkkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 24/04/2017 - 16:52:13

      Acho que não é só a Dulce que é meia louca!rs O chris tem seus momentos fofos mas ele também não gosta muito de ser perturbado na hora de seu futebol! Aqui todo mundo é louco, mas todos se amam! bjoo, continuando

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 21/04/2017 - 18:31:39

    A-M-E-I todos esses capítulos, uma leitura boa+feriado+frio=perfeito kkkkk. Que pessoas loucas kkkkkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 22/04/2017 - 18:13:02

      Continuando flor!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 20/04/2017 - 18:23:20

    Que bom que vc voltou!! Morro de ri com a Doris e a Ellen velhas safadas kkkkk. Que ideia otima essa do Christian adorei! Geeeente alguem me da ar pq eu to rindo muito kkkk. Ahhh agora aparece os sobrinhos da Dul. Annie sua loca kkkkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 21/04/2017 - 15:54:54

      Que bom que você se diverte lendo, a Dul realmente é meio louca! rs

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 13/04/2017 - 21:38:54

    Obg, achei q vc ia me acha uma chata por pedi kkk. Mai ta certa Dul ta apaixonada <3 Mds todo mundo bebado kkkkkkkk. Huuum se mudou pro quarto dela!! Nossa que namoro rapido né. 'Ela parace uma doninha' melhor xingamento ever. Eu pensei que ele ia quere um banheiro pra dar uns pega mais violento kkkkk. Mds morta de ri com esse capitulos essas pessoas sao loucas. Continua!!

    • gabyy Postado em 20/04/2017 - 13:19:19

      Este namoro foi muito rápido mesmo, mas o que que com a Dul não é rápido não é mesmo?! Ele foi um fofo cuidando dela né. estes dois são bem safadeeenhosss. Amore continuandoo.

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 04/04/2017 - 19:36:42

    Huuum segundas intenções é, AMO kkkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 04/04/2017 - 19:35:51

    Dulce é muito azarada, e o Christopher ta sendo muuuuitooo gentil com ela <3 Senhor George é um safadinho kkkk. Christian é muito mal humurado kkk. Ahhhhhhhhhhh teve beijo e coisinhas *-* Jurava que ia demora mais kkk. Queria te pedir uma coisa, mas n pense que eu sou uma chata kk, vc podia aumenta um pouco a letra?? Sou meio ceguinha kkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 13/04/2017 - 20:55:48

      Pois é, a Dulce não gosta muito de esperar. rsrs Bom dei uma aumentada na letra, mas qualquer coisa é só vc falar viu, tbm sou meia ceguinha. rsrs ;)

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 02/04/2017 - 13:56:21

    Eu tbm tô sentindo pena das pessoas que a Dulce vai cuida kkkk. Annie me mata de ri, 'Diga que fui fazer uma cesariana' kkkk. Ahh eu to achando que sera mais cansativo sim kkk. Mds Christopher ta sendo muito gentil com a Dulce, e ela ta precisando de muiiiitaa ajuda. AMO ESSSA FANFIC <33 Continuaaaaaa

    • gabyy Postado em 04/04/2017 - 00:02:21

      Christopher esta sendo um cavalheiro com a Dulce ner....mas vejo segundas intenções ai hein. Fico feliz em saber que vc esta se divertindo.

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/04/2017 - 20:25:19

    Vou pegar essas dicas pra preenche um curriculo kkkk. Não acredito que elas vão comprar o aparelho kkkk. Annie tem uma mente fertil 'Vc poderá terminar sequestrada e vendida como escrava no Iêmen ou se prostituindo na rua' kkkkk. Mds morro de ri com essa fanfic :) Ehhh ela consguiu o emprego!! Dulce é tão espontanea kkkk. Continuaaaa

    • gabyy Postado em 02/04/2017 - 12:13:22

      Continuando flor.... E como você pode perceber a Dulce é maluquinha e agora vai ficar ainda pior com a chegada do Christopher. Fico feliz em saber que esta gostando ;)

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 29/03/2017 - 20:19:40

    Jurei que a Dulce ia da a loka pelo Pablo convida ela pra ir na academia kkkk. Minha disposição ta igual a da Dul pra faze exercicio, o tempo ñ passa!! Huum sei bem pq ela gostou daquele aparelho kkkk. Continuaaaaa


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