Fanfics Brasil - Capitulo 30 Aconteceu em Paris (adaptada)

Fanfic: Aconteceu em Paris (adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 30

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CAPÍTULO 30


O APARTAMENTO DE PABLO é tudo que você esperaria encontrar na casa de um garoto de programa, solteiro e bonito. Tudo é minimalista. O assoalho com tacos de madeira cor de mel, paredes brancas, janelas vitorianas com cortinas de veludo controladas eletronicamente e sofás de couro cor de chocolate. Pôsteres contemporâneos enormes e coloridos de mulheres sumariamente vestidas adornavam as paredes, e tapetes de animais mortos estavam espalhados aleatoriamente. Uma enorme cama king-size, que Pablo havia me dito que comprara do Hotel Marriott, dominava o quarto de dormir.


Minha mala, menos a bolsa de maquiagem, estava em uma localidade secreta no norte de Londres, onde tudo seria lavado, passado e retornado para mim. Eu fui despida e banhada pela mãe e pela tia de Pablo, e vestida com o pijama dele, que, eu suspeito, foi sua mãe quem comprou. Acomodei-me confortavelmente na enorme cama de Pablo. O comprimido que tinha tomado começou a fazer efeito e me aconcheguei ainda mais, quando tio Spiros deixou o bar para me visitar. Sua figura impressionante, vestida com o uniforme branco de chef, dominou a porta. Suas sobrancelhas escuras e espessas se juntaram, enquanto ele caminhava vagarosamente até a cama. Ele se inclinou. Seus olhos escuros procuraram os meus. Eu me enterrei ainda mais no travesseiro. Visto assim tão de perto, ele é assustador. Sua mão tremia enquanto segurava meu queixo e seus olhos cor de carvão se comprimiram ameaçadoramente. Eu perdi o fio de meu sonho recheado com morfina. Ele se endireitou, com os punhos fechados no quadril.


— Pablo! — gritou para o teto. Imediatamente, um barulho frenético de passos sobre o piso de madeira. Pablo, sua mãe e sua tia entraram no quarto.


E o inferno desceu sobre a Terra.


Tio Spiros rugia como um leão, o peito inchado, o sangue correndo pelas faces e os olhos cintilando e escurecendo de raiva. A mãe e a tia se aninharam e se empurraram para ver quem enfrentaria, primeiro, a ira de Golias, o que, no final, provou ser demais para a tia. Ela se esvaiu em lágrimas, ajoelhou-se na minha cama e gentilmente me envolveu em seus braços. Ela estava consternada. Bem, apenas por um segundo ou dois, porque, de repente, um olhar demoníaco reluziu em seus olhos. Ela fungou, afagou seus cabelos, arrancou o relógio da mesinha de cabeceira e, tremendo bravamente, arremessou-o contra o ombro de tio Spiros. Arquejamos em uníssono. O relógio bateu em sua clavícula e caiu no chão. O relógio parou de funcionar, Pablo o pulverizou com o pé. Tio Spiros deu um soco no batente da porta. Arquejamos novamente. A mãe e a tia de Pablo trocaram olhares temerosos. E, apesar de achar que isso não fosse possível, a gritaria aumentou. A tia perdeu a coragem e se espremeu atrás de mim.


Eu estava um pouco chateada com tudo o que estava acontecendo. Estava ansiosa para viajar com a minha pílula da felicidade. Isso foi uma interrupção fora de hora. Em circunstâncias normais, eu gostaria de uma briga como essa, mas, naquele momento, perdi completamente a trama e nem saberia dizer por que eles estavam discutindo.


Pablo se apoiava num pé, depois no outro. Ele parecia envergonhado. Tio Spiros colocou o dedo no peito de Pablo e despejou uma estrondosa bronca. De repente, o humor de Pablo mudou completamente. Seu peito se expandiu e uma mancha rubra viajou pelo pescoço e queimou suas bochechas. Ele pegou um desodorante aerossol e jogou contra a parede. Tio Spiros socou a palma da própria mão repetidas vezes. E a discussão continuou sem parar. Quem me dera falar grego!


De repente, ele parou. Fez-se um silêncio incerto. Pablo e sua mãe ficaram a meu lado, a tia ainda estava atrás de mim. Tio Spiros estava parado ameaçadoramente aos pés da cama, sua figura enorme se agigantando sobre nós. Ficamos alguns segundos em suspense, na mais absoluta calma. Os quatro trocando olhares desconfiados e cheios de significado. Dei minha contribuição lançando alguns olhares desconfiados também. Seguiu-se uma série de acenos espontâneos de cabeça e de “não, não, não”, que significavam “sim, sim, sim”. Tio Spiros parecia ter se acalmado. Obviamente, ele havia conseguido fazer as coisas do jeito que queria. Acho que ele sempre conseguia. Com as sobrancelhas erguidas, ele curvou a cabeça laconicamente na direção de cada um deles, houve mais alguns “não, não, não” pela sala, e saiu pisando duro.


A porta bateu.


A tia caiu em minhas costas. A mãe de Pablo cambaleou para trás e se afundou numa poltrona, apertando o peito ofegante.


— O que foi isso? — perguntei, meio tonta, para Pablo.


— Tio Spiros mandou a mãe dele dormir no quarto de hóspedes. Ele acha que você precisa de uma acompanhante, para não ficar sozinha comigo à noite, então terei de dormir no sofá.


— Tudo bem — concordei, aturdida. “A mãe dele”, pensei. “Ele não deve estar brincando, então, acho que vai desenterrá-la antes de trazê-la.” Fiquei imaginando.


— Estou cansada, Pablo.


Ele deu um suspiro.


— Dá pra perceber. Você está confortável? — ele perguntou.


— Hummm — fiz que sim —, mas preciso dormir.


Ele olhou o relógio.


— Descanse agora e eu a acordo na hora do jantar.


— Ele é um porco — a mãe de Pablo disse, batendo com o dedo na porta do quarto, com as faces coradas de ousadia. — Vou pegar as chaves para limpar sua casa — ela afirmou, já mexendo na minha bolsa. — Ele, Spiros, meu irmão — ela reclamou, indignada —, pensa que é o rei do pedaço.


Acho que ela quis dizer “de tudo”.


PERDI O JANTAR e dormi o restante da noite. O viking e eu fomos assistir ao Girls Aloud no Royal Albert Hall. Anahí tinha duas espinhas enormes no queixo, como aquelas velinhas de aniversário que você assopra e assopra, mas não apaga nunca. Ela espremia e espremia, mas não importa o que fizesse, as espinhas sempre voltavam. A fatura de meu cartão de crédito chegou e era de apenas £ 1,09. O único item debitado era um sabão em pó. E me entregaram de graça uma cesta de cosméticos da Harrods por engano, que eu rapidamente escondi debaixo da cama.


Levei um susto quando uma figura desdentada, toda enrugada e vestida de preto, acordou-me. A princípio, pensei que fosse o fantasma do Natal passado, mas, então, notei que ela carregava uma bandeja repleta de suco de laranja, café e torradas. Como sou uma garota inteligente, deduzi que já era de manhã e que esta devia ser minha acompanhante, e eu estava certa. Eu tinha quatro ligações perdidas de Chris e uma mensagem:


“Amo vc saudades preciso vc C bjs bjs bjs”


Liguei para ele. Estava tudo bem. Ele ficaria na Bélgica ainda mais alguns dias e, então, junto com seus colegas, traria os novos veículos para Birmingham, antes de seguir para Londres. ESTARIA DE VOLTA o mais breve possível. Na verdade, acho que voltaria antes do planejado, porque contei a ele que estava na casa de Pablo. Ele pareceu bem irritado, surpreso e não muito entusiasmado. Suas palavras exatas foram: “Que merda é essa? Como isso foi acontecer?”. Eu nem consegui responder, pois não tinha ideia do que havia se passado, mas aqui estou e posso garantir que o serviço de quarto não é dos piores.


A mãe e a tia de Pablo entraram, assim que eu acordei. Em segundos, a chaleira estava ligada e meu banho foi preparado. Elas ficaram de pé, com os cabelos presos firmemente, olhando com atenção os vários frascos de remédios, tubos de creme, pacotes de gaze, potes de pomadas e rolos e caixas de ataduras. Mas as instruções estavam todas em francês.


— Não tem importância — a tia comentou, abrindo o celular. — Eu simplesmente vou ligar para uma amiga. — Quando o banho ficou pronto, uma enfermeira distrital grega chegou. Grega, quem diria!


Ainda bem que não sou tímida. Quatro delas participaram da remoção dos pijamas e da cerimônia da “descida ao banho”. Sim, Sophia, a mãe de tio Spiros, se juntou a nós. Ela confiscou a pomada e a gaze e substituiu-as por um frasco de vidro, que, ao que parecia, deveria conter toda cera de ouvido que ela fora capaz de guardar em oitenta anos. As outras três se opuseram veementemente, mas, por birra de Sophia, foi decidido por unanimidade que a cera de ouvido seria usada.


Sophia se ajoelhou no chão, tirou as ataduras da minha perna e as colocou decorativamente na borda da banheira, besuntou minha perna com cera de ouvido e cuidadosamente a colocou na água. Não doeu tanto quanto eu esperava. Então ela removeu a gaze de minha testa e da nuca e aplicou aquela mistura amarela grudenta. As outras três se entreolharam, mas não tiveram coragem de dizer nada. Maria (mãe de Pablo; estávamos íntimas agora) havia me trazido algumas roupas de baixo e um roupão do meu apartamento, mas ela insistiu que minha roupa de dormir era inadequada, por isso teve a ideia de me trazer uma de suas muitas camisolas de flanela, enormes e esvoaçantes. Eu a recusei diplomaticamente, preferindo usar um dos pijamas de Pablo, que repentinamente pareciam bem confortáveis e estilosos, e eu sabia que vinham em uma embalagem de quatro. Dei um gemido por dentro quando ouvi Maria se vangloriar de que havia arrumado a bagunça debaixo de minha cama e colocado tudo no guarda-roupa. Honestamente! E o tempo que eu gastei para separar todas aquelas roupas?


TENHO UMA ROTINA. Maria e tia Lola chegam às nove horas. Tomo banho e o café da manhã. Tia Lola vai embora. Então fico ali parada, meio nervosa, enquanto a mãe de Pablo fuça nos armários, gavetas, lê suas cartas, abre suas contas e remexe o conteúdo dos bolsos nas suas calças, enfiando o nariz bisbilhoteiro onde obviamente não é chamada. Mas ao menos este crédito eu devo lhe dar: ela trabalha com a delicadeza de um agente especial do FBI. Nunca vi ninguém se mexer tão depressa. Ela fica exausta.


— Pablo não pode nunca saber disso — ela insistiu, ofegante.


Ela se afundou no sofá. A echarpe de chiffon amarela que cobria sua cabeça estremeceu quando, com a cabeça curvada, folheou agilmente um maço de extratos bancários de Pablo.


— Jamais, jamais — disse enfaticamente, enquanto anotava uma série de números num bloco de papel. Seus olhos se arregalaram e ela me olhou como uma coruja. — Nunca! — repetiu.


— Nunca — eu ecoei.


Ela me apontou o dedo em riste, ameaçadoramente.


— Não vou dizer nada — assegurei, apressada.


Os olhos dela reluziram. — Nunca — ela papagueou.


— Nunca — confirmei, apavorada. Ela estava examinando atentamente os extratos. Se Pablo chegasse agora, ele mataria nós duas.


Tranquilizada, ela se desvencilhou do sofá e caiu de joelhos, e seu tronco desapareceu dentro do armário.


— Ah, ah, tá aqui, tá aqui. — Seu enorme traseiro oscilou quando ela retirou uma caixa marcada “Documentos do Papai”. Ela tinha encontrado o que estava procurando. Lutou para se levantar e segurar a carga preciosa junto ao peito avantajado. Colocou a mão em minha cabeça, como se estivesse me dando uma bênção. — Mesmo sob ameaça de morte — ela acenou gravemente —, ele nunca poderá saber.


Senti uma onda de indignação.


— Não vou contar nada — esbravejei. Quantas vezes teria que repetir a mesma coisa?


A mão dela ainda estava pousada em minha cabeça. Ela estava esperando.


Dei um suspiro e segurei a tipoia ao encontro do peito, num gesto de sinceridade.


— Mesmo sob ameaça de morte — prometi, com ar impenetrável.


Ela sorriu.


Eu a segui até a cozinha, onde ela espalhou seu corpo rechonchudo pelo balcão e segurou uma carta sobre o vapor da chaleira.


— Você é uma boa garota. Confio em você — ela murmurou, com carinho.


Ela iria embora ao meio-dia, com a pasta cheia, e então Lexy chegaria. Nós ficaríamos sentadas na sala, enquanto Sophia e duas amigas, que eu suspeito serem imortais, tomariam conta da cozinha. Quando Lexy fosse embora para pegar as crianças na creche, eu telefonaria para Chris e, depois, tiraria uma soneca. À noite, Pablo e eu jantaríamos juntos. Brigamos feito cão e gato nas primeiras noites, porque ele não queria me deixar tomar vinho.


— Você está tomando remédio! — Era sua explicação.


— Remédios! — eu berrei com rebeldia, causando uma dor intensa da minha testa até a base do crânio. — Os drogados fumam crack e maconha, tomam pilulazinhas azuis e injetam um monte de coisas nas veias, e ainda assim conseguem tomar umas cervejinhas.


Ele não cedeu.


NA TERCEIRA NOITE, ele nem quis comer comigo porque Sophia havia lambuzado meus cabelos com azeite de oliva. Aparentemente esse é o melhor condicionador de cabelo de todos os tempos. E com instruções detalhadas de minha parte, ela me cobriu com um bronzeado falso também.


— Você está cheirando igual a tênis velhos — Pablo gritou. — Saia já dessa cozinha e volte para a cama! — ele esbravejou, apontando-me a porta. — Vou lhe levar uma bandeja.


No meio da semana, fico feliz em dizer, já estava me sentindo bem melhor. O unguento amarelo grudento de Sophia provou ser maravilhoso. Meu olho preto agora estava amarelado, os pontos na testa estavam começando a se dissolver e o ferimento na perna estava cicatrizando. Meu pulso ainda ficaria numa tipoia por mais cinco semanas, mas dava para suportar, e meu ombro, embora ainda dolorido, estava relativamente mais flexível. A única coisa que ainda me incomodava era uma dor constante na nuca e o estado deplorável de meus cabelos. Mandar uma mensagem de texto era complicado por causa da tipoia no pulso, então eu passava o dia deitada no sofá, conversando com Chris, bebericando vinho Shiraz em uma caneca. Bebidas durante o dia eram estritamente proibidas. Se Pablo aparecesse e me pegasse em flagrante, eu estava perdida.


Sophia provou ser uma acompanhante bem porcaria. Lá pelas seis horas da tarde, ela já estava meio tonta e ia dormir, o que, de acordo com Pablo, era uma dádiva de Deus. Ele e eu passamos algumas noites juntos, tranquilos e sem brigas, o que foi muito agradável. Ele é um cara inteligente, divertido e bonito, e muito cheiroso. Mas ele é mandão, machão e um garotão mimado. Tem de ser tudo do jeito dele, ou não tem conversa. Uma noite jogamos Scrabble, e o jogo terminou em briga. Eu não queria permitir a palavra “krisps” e tivemos a mesma discussão com “krane”, “kream” e “krying”. Olhei para ele com desdém.


— Você não sabe soletrar, Pablo — informei, retirando as letras dele do tabuleiro.


Enlouquecido, ele tamborilou os dedos na mesa.


Olhei para ele de relance, com um olhar divertido.


— Você não sabe — repeti.


— Tudo bem, vamos jogar em grego e quero ver quem é que sabe — ele provocou, jogando o tabuleiro de Scrabble para o alto. Encostei-me na cadeira, cruzei os braços e olhei para ele se afastando.


Dois minutos mais tarde, enquanto estava arrumando as peças do jogo, ele voltou. Com um sorriso radiante, ele me entregou uma taça de champanhe. Estou começando a pensar que os gregos são uma nação de malucos, mas obviamente são os malucos mais gentis que alguém pode encontrar. Caímos no sono ao mesmo tempo, assistindo à TV no confortável sofá de couro, com a garrafa de champanhe vazia, caída entre nós. Na manhã seguinte, acordamos com Sophia nos cutucando com sua agulha de tricô. Pablo teve de suborná-la com cem paus e um bule de chá novo para ela não contar ao tio Spiros que nós tínhamos dormido juntos. Quem dera!


Os músculos dos braços e do pescoço de Pablo se retesaram enquanto ele contava as notas.


— Isso é extorsão! — ele protestou.


Mal dava para ver os olhos escuros, contraídos e brincalhões observando tudo, por trás das dobras de seu rosto enrugado.


— Não. É chantagem mesmo — ela corrigiu.


Fiquei muito impressionada porque a palavra “chantagem” significava que ela exigiria mais. Bem que eu queria poder guardar um segredo tempo suficiente para chantagear alguém.


No sexto dia, eu já estava subindo pelas paredes de tanto tédio e até pensando em eu mesma sair fuçando pelas coisas do Pablo. Liguei para o bar, pedi para Pablo ir até meu apartamento e pegar mais algumas roupas para mim. Queria me arrumar e sair para uma caminhada.


— Não — ele respondeu com firmeza.


— Mas, Pablo, não é longe. Só vai levar dois minutos.


— Eu sei onde é.


— Estou entediada — supliquei. — Você não está entediada, está descansando. Você não vai sair de casa! Se está sem ter o que fazer, pode pedir os vinhos ou outro destilado qualquer. Você sabe quem são nossos fornecedores e o quanto costumamos usar. Os formulários para os pedidos estão na minha escrivaninha. E, Dulce, chame o pessoal do conserto da geladeira. A máquina de gelo não está funcionando direito. Ah! E o extintor de incêndio precisa de manutenção, e o fluido de limpeza da bomba maior está acabando. E descubra onde se meteu o limpador de janelas. Você poderia pedir mais café e pagar a fatura do açougueiro? Descubra o quanto estamos devendo para ele e faça um cheque para eu assinar.


“Isso porque eu tenho que descansar”, pensei alegremente.


— Ah, tem mais uma coisa. A máquina Cardnet está se recusando a aceitar o cartão da Amex. Você pode dar uma ligada para eles? — Ele fez uma pausa. — Como está se sentindo?


— Bem.


CHRIS LIGOU E DISSE que voltaria no dia seguinte. Fiquei bem animada. Um dia antes!


— Isso é ótimo — Pablo comentou, distraído, quando lhe contei.


Eu estava empoleirada em cima da banheira, observando enquanto Pablo se barbeava. Ele tinha acabado de voltar da academia. Ele vai todas as manhãs, entre as seis e sete horas, e volta para casa por volta das nove horas. Ainda estava usando as calças escuras do agasalho de corrida e uma camiseta preta. O rabo de cavalo, que ele costuma usar na altura da nuca, estava preso um pouco mais alto. Ele ensaboou o pescoço, entregou-me a navalha e se levantou, apoiando as mãos na pia, curvado para frente.


— Tem certeza, Pablo? Com minha mão esquerda? — Dei uma risada.


— Claro que tenho certeza. Se você me cortar, eu mato você — ele brincou.


Aproximei-me e me apoiei nele com a tipoia; cuidadosamente raspei sua nuca.


— Chris nunca me deixaria fazer isso — reclamei.


— Então ele não sabe o que está perdendo, não é?


Dei uma gargalhada.


— Acho que ele preferiria o Sweeney Todd. Não ria, Pablo! Seu corpo balança quando você ri.


No espaço apertado do banheiro, ele parecia muito mais alto e maior e, bem, diferente. Ele parecia mais selvagem.


— Obrigada, Pablo! — disse meigamente.


— Obrigada por quê?


— Por me deixar ficar aqui. Sei o quanto você é ocupado no bar e ainda assim arruma um jeito de vir aqui me ver pelo menos umas três vezes ao dia. E sua mãe e sua tia são maravilhosas, e, bem, tudo o mais.


Ele pegou a navalha de minha mão, lavou-a rapidamente debaixo da torneira e a entregou de volta para mim.


— É de meu próprio interesse ver você bem novamente. — Os olhos dele encararam os meus através do espelho. — Desde que começou a trabalhar no bar, os lucros aumentaram em um terço.


— Verdade? — perguntei, surpresa.


— Sim, verdade.


— Como pode ser?


— Como pode ser? Pra começo de conversa, sua ideia para os Famosos Chás. — Ele deu uma risada. — A happy hour. — Ele riu de novo. — Você trocou a carta de vinhos da casa. O estoque novo custa 20% menos que o antigo. Ah! E você economizou uma fortuna criando sozinha o design dos cardápios e dos folhetos.


Enxaguei o pescoço dele e o sequei com a toalha de mão.


— E meu pai lhe deve uma — ele completou, arrogantemente. — Uma bem grande.


Dei uma risadinha.


— Seu pai? O que foi que eu fiz pra ele?


— Porque minha mãe está ocupada com você e o deixa livre todas as tardes.


Ele pegou o sabonete e esfregou o rosto com força.


— Ele não consegue assistir à televisão quando ela está em casa, porque ela montou um telescópio no meio da sala. — Ele jogou água no rosto. — Ela está vigiando o Centro Comunitário. —Enfiou o rosto na toalha. — Ela suspeita que suas duas irmãs estejam indo aos Vigilantes do Peso sem ela.


Nós dois demos risada.


— Ela vai morrer com o nariz prensado na porta de alguém — ele concluiu.


Jogamos a cabeça para trás e caímos na gargalhada.


— Ou no armário, nas gavetas, nos guarda-roupas ou nos bolsos de alguém — falei, ofegante, esfregando os olhos.


Ele se curvou para frente, rindo, e meteu a cabeça nas mãos.


— Não — ele gargalhou, batendo a mão várias vezes na pia. — No armário, gavetas ou nos bolsos de alguém? — ele repetiu.


— Sim! — dei um grito, sacudindo a cabeça. Estava praticamente curvada.


Ele hesitou.


— Por acaso, ela mexeu nas minhas coisas?


— Hummmmm — foi o que consegui responder, balançando a mão ligeiramente. Minha barriga estava doendo.


Ele jogou a toalha com força no suporte e levantou meu queixo com o dedo indicador. Seus olhos negros, comprimidos de raiva, fixaram-se nos meus. Parei de rir. Ele não havia dado nenhum passo a mais, mas posso jurar que estava mais perto de mim. Eu me encolhi, subitamente reconhecendo a necessidade de sair correndo dali.


— Ela fez isso? — ele berrou.


Meu coração se contorceu de pavor.


A mão dele apertou com força meu rosto.


— Ela fez isso, não fez? — ele esbravejou.


— Err... Sabe o que mais? Não tenho bem certeza — gaguejei, nervosa. — Estava cansada e completamente fora de mim quase que o tempo todo... Ah, sim, estou me lembrando agora. — Levantei as mãos, surpresa por não ter me lembrado disso antes. — Foi um sonho. Não, claro que ela não fez isso, claro que não. Ah, não, sim, foi... Eu sonhei. Agora me lembro bem.


— Ela fez isso, não foi? — ele gritou, saindo do banheiro.


Corri apressada atrás dele.


— Pablo, não, claro que não. Já lhe falei.


Ele revistou o bolso do casaco que estava pendurado nas costas da cadeira da cozinha, à procura do celular.


— Eu já a tinha avisado antes. Tive até de pegar de volta minhas chaves extras para ela não ficar bisbilhotando.


Meu coração batia descompassado. Comecei a transpirar copiosamente.


— Pablo, você está me chamando de mentirosa? — eu me ouvi gritar, enquanto corria atrás dele para pegar o telefone.


Depois de uma hora de xingamentos e palavrões, súplicas e juramentos, e finalmente choros e soluços, Pablo prometeu não dizer uma palavra para a mãe dele. Tudo parece meio vago agora, mas acho que, a certa altura, eu realmente fiquei de joelhos, rastejando pela cozinha, agarrando-me às pernas dele, desesperada.


Assim que ele saiu para o trabalho, voltei para a cama com uma terrível enxaqueca, exausta, com o coração descompassado e a pressão sanguínea subindo até as alturas.



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Autor(a): gabyy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 20



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  • AnazinhaCandyS2 Postado em 24/04/2017 - 19:02:58

    Mds quem é que faz promoção dando paracetamol??? kkkkkk. Coitada fico doente :( Annie sobe um nivel de loucura a cada capitulo kkkk. Christopher é um fofo cuidando da Dul *-* Mds que loucura esse apartamento do Pablo kkkkkkkk. Uau um pulseira de ouro branco, Christopher ta podendo *O* Huum Dul safadinha narrando oq ia faze, e o Christopher pula fora mas ele so n quer machuca ela *-* Continuaaaaaaaaaa

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 22/04/2017 - 18:45:44

    Christian é muito estranho, ele tem que se mais gentil com a Mai kkkk. Christopher é tão fofo, 3 semanas é uma vida já *-* Vdd se tem hora pra palita os dentes kkkkk. Dulce tentando da uma de medica é perigo. Tadinha da Ena :( Christopher é uma comedia tbm, se essa excursão existisse eu pagava quanto me pedissem só pra ir!! Christopher seu lindo, é claro que vc vai consegui, Dul n é boba kkk. Huuum eles se amam <3 Dul cantando o hino parecia eu cantando o hino do RS na escola, nunca decorei ele kkkkk. Caramba Christopher se transforma quando ve jogo na TV, deu ate um medinho dele, n to acreditando que ele amarrou ela pra ve o jogo kkkkkkk. Mds ela levanto pra corta as unhas dele, vc vai me mata um dia pq eu rio tanto que fico sem ar kkkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 24/04/2017 - 16:52:13

      Acho que não é só a Dulce que é meia louca!rs O chris tem seus momentos fofos mas ele também não gosta muito de ser perturbado na hora de seu futebol! Aqui todo mundo é louco, mas todos se amam! bjoo, continuando

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 21/04/2017 - 18:31:39

    A-M-E-I todos esses capítulos, uma leitura boa+feriado+frio=perfeito kkkkk. Que pessoas loucas kkkkkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 22/04/2017 - 18:13:02

      Continuando flor!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 20/04/2017 - 18:23:20

    Que bom que vc voltou!! Morro de ri com a Doris e a Ellen velhas safadas kkkkk. Que ideia otima essa do Christian adorei! Geeeente alguem me da ar pq eu to rindo muito kkkk. Ahhh agora aparece os sobrinhos da Dul. Annie sua loca kkkkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 21/04/2017 - 15:54:54

      Que bom que você se diverte lendo, a Dul realmente é meio louca! rs

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 13/04/2017 - 21:38:54

    Obg, achei q vc ia me acha uma chata por pedi kkk. Mai ta certa Dul ta apaixonada <3 Mds todo mundo bebado kkkkkkkk. Huuum se mudou pro quarto dela!! Nossa que namoro rapido né. 'Ela parace uma doninha' melhor xingamento ever. Eu pensei que ele ia quere um banheiro pra dar uns pega mais violento kkkkk. Mds morta de ri com esse capitulos essas pessoas sao loucas. Continua!!

    • gabyy Postado em 20/04/2017 - 13:19:19

      Este namoro foi muito rápido mesmo, mas o que que com a Dul não é rápido não é mesmo?! Ele foi um fofo cuidando dela né. estes dois são bem safadeeenhosss. Amore continuandoo.

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 04/04/2017 - 19:36:42

    Huuum segundas intenções é, AMO kkkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 04/04/2017 - 19:35:51

    Dulce é muito azarada, e o Christopher ta sendo muuuuitooo gentil com ela <3 Senhor George é um safadinho kkkk. Christian é muito mal humurado kkk. Ahhhhhhhhhhh teve beijo e coisinhas *-* Jurava que ia demora mais kkk. Queria te pedir uma coisa, mas n pense que eu sou uma chata kk, vc podia aumenta um pouco a letra?? Sou meio ceguinha kkk. Continua!!

    • gabyy Postado em 13/04/2017 - 20:55:48

      Pois é, a Dulce não gosta muito de esperar. rsrs Bom dei uma aumentada na letra, mas qualquer coisa é só vc falar viu, tbm sou meia ceguinha. rsrs ;)

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 02/04/2017 - 13:56:21

    Eu tbm tô sentindo pena das pessoas que a Dulce vai cuida kkkk. Annie me mata de ri, 'Diga que fui fazer uma cesariana' kkkk. Ahh eu to achando que sera mais cansativo sim kkk. Mds Christopher ta sendo muito gentil com a Dulce, e ela ta precisando de muiiiitaa ajuda. AMO ESSSA FANFIC <33 Continuaaaaaa

    • gabyy Postado em 04/04/2017 - 00:02:21

      Christopher esta sendo um cavalheiro com a Dulce ner....mas vejo segundas intenções ai hein. Fico feliz em saber que vc esta se divertindo.

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/04/2017 - 20:25:19

    Vou pegar essas dicas pra preenche um curriculo kkkk. Não acredito que elas vão comprar o aparelho kkkk. Annie tem uma mente fertil 'Vc poderá terminar sequestrada e vendida como escrava no Iêmen ou se prostituindo na rua' kkkkk. Mds morro de ri com essa fanfic :) Ehhh ela consguiu o emprego!! Dulce é tão espontanea kkkk. Continuaaaa

    • gabyy Postado em 02/04/2017 - 12:13:22

      Continuando flor.... E como você pode perceber a Dulce é maluquinha e agora vai ficar ainda pior com a chegada do Christopher. Fico feliz em saber que esta gostando ;)

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 29/03/2017 - 20:19:40

    Jurei que a Dulce ia da a loka pelo Pablo convida ela pra ir na academia kkkk. Minha disposição ta igual a da Dul pra faze exercicio, o tempo ñ passa!! Huum sei bem pq ela gostou daquele aparelho kkkk. Continuaaaaa


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