Capítulo Seis
A viagem de taxi pra casa com Anahi e Christopher naquela noite foi extremante desconfortável. Bentley tinha ficado louco e saiu no carro dele depois de saber que Christopher era meu meio-irmão. A causa do que aconteceu naquela lanchonete continuou um mistério pra mim. No caminho todo de volta Christopher não disse nada pra nenhuma de nós. Ele sentou na frente enquanto nós sentamos atrás.
Quando chegamos em casa ele subiu direto para o quarto dele, e bateu a porta tão forte que me fez pular. Eu pensei em ir falar com ele, mas meus instintos disseram pra simplesmente deixá-lo sozinho.
Quando eu acordei no sábado de manhã, Christopher já tinha saído pra trabalhar na oficina o dia todo.
Minha mãe sentou no banco ao meu lado no balcão de granito emnossa cozinha. — Você quer me contar o que aconteceu na noite passada? Victor recebeu uma ligação de um amigo policial dele dizendo que Christopher estava numa briga em uma lanchonete e que você estava com ele?
Eu deixei meu café e esfreguei minhas têmporas. — Nós estávamos jantando... Christopher, Anahi eu e esse cara, Bentley, da escola. christopher e ele brigaram. Nós não sabemos o porquê, pois começou quandoeu e Any estávamos no banheiro. Então eu realmente não sei muito mais que você.
— Bom, seu padrasto está furioso e eu não sei o que fazer sobre isso.
— Ele precisa simplesmente deixar isso pra lá. Rapazes são assim às vezes e pode ser que não tenha sido culpa do Christopher. Você precisa explicar isso pra ele.
— Não tem conversa com Victor quando se trata de Christopher. Eu não entendo isso.
— Nem eu.
****
Eu decidi que iria falar com Christopher naquela noite e tinha esperado por ele vir pra casa o dia todo. A oficina fechava às seis, então eu esperei que ele estivesse de volta às sete, mas ele não veio pra casa.
Incapaz de dormir, um sentimento de naufrágio veio sobre mim. Por volta da meia-noite finalmente eu ouvi passos e a maçaneta do quarto de Christopher lentamente se movimentar.
Pelo menos ele estava em casa. Um minuto depois, veio o som da sua porta sendo aberta
bruscamente.
— Que porra Christopher? Você está fedendo a álcool, — eu ouvi Victor gritar.
Eu pulei pra grudar meu ouvido na parede.
— Hey, Pa-pa, — Christopher parecia arrastar suas palavras.
— Garoto, você só continua a me deixar orgulhoso. Primeiro você começa uma briga e me humilha na frente da comunidade inteira, e agora você tem a audácia de por os pés na minha casa, a essa hora da noite, bêbado? Bom, você vai desejar nunca ter vindo pra casa.
— Sério? O que você vai fazer? Me bater? Essa é a única coisa que você não fez. Eu estou pronto pra isso.
— Você iria amar isso, não iria? Não. Eu não vou te bater.
— Certo... Você não vai me bater. Você vai simplesmente me odiar... Como você sempre fez. Às vezes eu gostaria que você simplesmente me batesse e me deixasse em paz de uma vez por todas.
— Você é um perdedor, Christopher.
— Diga algo que você não tenha dito antes.
— Ok, então eu tenho novidades pra você. Eu não vou ajudar você a pagar pela faculdade depois de tudo. Você está por sua conta. Eu decidi isso essa noite. Eu vou pegar o dinheiro que eu iria dar pra você e dá-lo todo para Dulce.
O quê? Não!
Victor continua, — Eu não vou desperdiçar meu dinheiro suado com um fodido que quer ser um escritor afeminado. Se você decidir que quer ter uma carreira de verdade algum dia, venha falar comigo. Até lá,eu não gasto um centavo com você.
— Você nunca planejou pagar pela minha faculdade e você sabe disso.
— Por que eu iria querer... Por alguém que não fez nada além de me desapontar desde o dia em que nasceu?
— Isso foi o começo, não foi... O dia em que eu nasci? Eu nunca tive a mínima chance, tive? Porque mamãe não me abortou como você pediu pra ela.
— Isso é uma mentira do caralho. Ela disse isso pra você?
— Mesmo que ela não tivesse me dito, eu teria deduzido. Essa é a razão pela qual você lentamente vir me matando com suas palavras minha vida inteira, pra compensar isso?
Meu coração estava quebrando.
— Eu tenho feito isso? Então por que você ainda não está morto, Christopher?
Eu engasguei horrorizada. Eu não podia mais ficar parada escutando isso. Eu corri para o quarto ao lado e fiquei ainda mais horrorizada por encontrar Christopher sentado na beira da cama com sua cabeça nas mãos. O cheiro de álcool era pungente nele. Suas costas estavam subindo e descendo com os pesados suspiros que escapavam dele.
— Victor... Pare! Pare, por favor! — Meu padrasto estava parado ali com seus braços cruzados me olhando com a expressão em branco. Naquele momento o homem em pé na minha frente poderia muito bem ser um total estranho.
— Ele é seu filho. Seu filho! Eu não me importo com o que você acha que ele fez para merecer isso, não há nada que jamais poderia justificar falar com seu filho dessa forma.
— Dulce, você não entende nossa história... — Victor diz.
— Eu não preciso saber qualquer coisa pra entender que as palavras que saíram da sua boca essa noite machucam mais do que qualquer arma poderia. E eu não vou ficar parada e deixar você abusar dele desse jeito.
Nenhum deles disse qualquer coisa. O quarto estava silencioso. A respiração de Christopher pareceu se acalmar assim como a minha.
Eu virei pra Victor.
— Você precisa sair.
— Dulce...
— Saia! — Eu gritei com toda força. Victor sacudiu a cabeça e caminhou pra fora do quarto, me deixando sozinha com Christopher, que estava ainda na mesma posição.