Capítulo Treze
Uma vez que finalmente consegui coragem de ir para dentro, sentei-me à mesa da sala de jantar e bebi água. Minha boca ainda estava seca. Parecia que a sala estava girando.
— Você está bem? — Perguntou minha mãe.
Eu deveria estar perguntado isso a ela. Balancei a cabeça, agarrando a água, tentando beber tudo. Eu precisava ser forte por ela, não podia me permitir perder a cabeça hoje.
Eles não tinham descido ainda.
Depois que a mulher misteriosa apareceu por trás de Christopher através do vidro, ele imediatamente se virou e desapareceu de vista. Levei alguns minutos para sair do meu lugar no jardim.
Ele tinha uma namorada... Ou uma esposa.
Mesmo que isso deveria ter passado pela minha cabeça como uma possibilidade provável depois de sete anos, não era algo que entrasse na equação quando eu imaginava vê-lo novamente.
O som de dois conjuntos de passos descendo as escadas em uníssono me fez endurecer e me sentar ereta na minha cadeira.
Thump.
Thump.
Thump.
Quando eles entraram na sala de jantar, meu corpo entrou em modo de luta ou fuga enquanto adrenalina bombeava através de mim.
Talvez eu devesse levantar e dizer alguma coisa, mas eu só fiquei colada à minha cadeira.
Minha mãe foi até Christopher e o puxou para um abraço.
— Christopher, é tão bom vê-lo. Sinto muito sobre seu pai. Eu sei que você e ele tiveram um tempo difícil, mas ele o amava. Ele com certeza o amava.
O corpo de Christopher estava rígido, mas ele não se afastou dela. Ele simplesmente disse. — Eu sinto muito por você.
Enquanto ele relutantemente deixou minha mãe abraçá-lo, seus olhos correram para mim e ficaram lá. Eu não poderia dizer o que ele estava pensando, mas eu tinha certeza que estava na mesma linha do que estava passando pela minha própria cabeça.
Esta reunião não deveria acontecer.
Depois de mamãe deixá-lo ir, a companheira de Christopher passou para abraçá-la. — Sra. Savinon, sou Belinda, a namorada de Christopher. Eu sinto muito pela sua perda.
— Me chame de Blanca. Obrigada, querida. Prazer em conhecê-la.
— Eu sinto muito que tenha que ser nestas circunstâncias, —disse ela enquanto esfregava as costas de minha mãe.
Meus olhos pousaram em suas unhas bem cuidadas. Ela era pequena, e sua forma corporal era semelhante a minha. Seus longos cabelos loiros caiam em cascata pelas suas costas em ondas praianas.
Ela era linda.
É claro que ela era. Minhas entranhas pareciam que estavam torcendo. Christopher caminhou lentamente em direção a mim. — Greta...
O som do meu nome saindo da sua boca tinha momentaneamente me levado de volta para sete anos atrás em um instante.
— Christopher. — Eu me levantei da minha cadeira. — Eu... Eu sinto muito... Sobre Victor — eu gaguejei, e meus lábios começaram a tremer. Parecia que toda a respiração deixou meu corpo quando ele estava na minha frente, e eu inalei o velho cheiro familiar de cigarros decravo e perfume. Tanto tempo se passou, mas emocionalmente ainda parecia como fosse ontem.
Como se fosse ontem.
A única diferença era que a pessoa que deixou o meu quarto naquele dia ainda era essencialmente um menino, e a pessoa diante de mim agora era claramente um homem.
Eu olhei para ele e fiquei maravilhada com a forma como ele cresceu e tornou-se mais bonito. Minhas características preferidas ainda estavam lá, mas com algumas mudanças. Seus olhos cinzentos ainda brilhavam, mas agora era através de óculos de armação preta. Ele ainda usava seu anel de lábio, mas tinha mais barba agora. Uma camisa de risca de giz preta que estava enrolada nas mangas até os cotovelos abraçava seu peito, que agora era maior, ainda mais definido.
Ele apenas ficou olhando para mim. Eu finalmente estendi o braço para abraçá-lo e senti sua mão quente nas minhas costas. Meu coração estava batendo muito rápido, parecia que ele podia parar completamente. Uma coisa que aparentemente não mudou foi a maneira como meu corpo reagia imediatamente ao seu toque. Assim que eu fechei os olhos, ouvi uma voz atrás dele.
— Você deve ser a filha de Blanca. Vocês duas parecem gêmeas.
Eu me separei dele de repente e segurei a minha mão estendida.— Sim... Oi, eu sou Dulce.
Ela não aceitou. Em vez disso, ela sorriu com simpatia e me abraçou. — Eu sou Belinda. Prazer em conhecê-la. Sinto muito pelo seu padrasto. — O cabelo dela cheirava como eu esperava que seria; um delicado aroma para combinar com sua personalidade aparentemente doce.
— Obrigada — eu disse. A tensão no ar era palpável enquanto nós três ficávamos em um
silêncio constrangedor.
Clara entrou carregando uma carne assada que ela tinha decorado com aspargos em um prato oval. Eu usei a oportunidade para escapar da situação e me ofereci para ajudá-la a trazer o resto dos itens, deixando Christopher e Belinda parados lá.
Minhas mãos nervosas atrapalharam-se com os talheres de Clara na simples tarefa de tirá-los da gaveta da cozinha. Fechei os olhos e respirei fundo antes de entrar novamente na sala de jantar.
Greg estava falando enquanto eu andava distribuindo os talheres. A minha mão tremia tanto que os garfos, as facas e as colheres escorregavam para fora de minhas mãos.
Sem nada para fazer, então eu me sentei em frente de onde Christopher e Belinda estavam sentados à mesa. Meus olhos ficaram colados ao reflexo do meu rosto no meu prato.
— Então, como vocês se conheceram?
Olhei para cima.
Chelsea sorriu e olhou com adoração para Christopher. — Nós dois trabalhamos no centro da juventude. Eu chefio o programa depois da escola, e Christopher é um conselheiro. Nós começamos como amigos. Eu realmente admirava como ele era bom com as crianças. Todos eles o amam. — Ela colocou a mão sobre a dele. — Agora, eu também.
Eu podia ver pelo canto do meu olho que ela se inclinou e beijou-o. O vestido preto que eu estava usando de repente parecia que estava me sufocando.
— Isso é muito doce, — disse Clara.
— Christopher, como está Alexandra? — Perguntou Greg.
— Ela não está indo bem, — disse ele abruptamente. Eu olhei para cima ao ouvi-lo falar. Ele não tinha falado nada desde que disse o meu nome.
Belinda apertou a mão dele. — Tentamos fazer com que ela viesse, mas ela não achava que poderia lidar com isso.
Nós. Ela estava perto da mãe dele.Isso era definitivamente sério.
— Bem, é melhor então que ela não veio, — disse Clara.
Provavelmente desconfortável com a menção de Alexandra, minha mãe tomou um longo gole de vinho. Ela sabia que ela era a razão número um para Alexandra não aparecer hoje.
Belinda virou-se para mim. — Onde você mora, Dulce?
— Eu moro em Nova York, na verdade. Eu só vim para a cidade um par de dias atrás.
— Isso deve ser emocionante. Eu sempre quis visitar NY. — Ela virou-se para Christopher. — Talvez a gente possa visitá-la algum dia? Nós teríamos um lugar para ficar.
Ele acenou com a cabeça uma vez, parecendo extremamente desconfortável enquanto brincava com sua comida. Em um ponto, eu podia sentir seus olhos em mim. Quando me virei para olhar para ele para confirmar isso, nossos olhos se encontraram por um segundo antes dele desviar o olhar de volta para o prato.
—Christopher nunca me disse que tinha uma meia-irmã, — disse Belinda.
Ele nunca falou de mim.
Minha mãe falou pela primeira vez. —Christopher só viveu conosco por um curto período de tempo quando eles eram adolescentes. — Ela olhou para mim. — Vocês dois não se davam muito bem na época.
Mamãe não sabia nada sobre o que realmente aconteceu entre Christopher e eu. Assim, a partir de sua perspectiva, esta afirmação era uma exata verdade.
A voz rouca e profunda de Christopher cortou através de mim. — Isso é verdade, Dulce?
Eu deixei cair meu garfo. — O que é verdade?
— Que nós não nos dávamos bem?
Certamente, o significado oculto na sua pergunta foi feito somente para que eu entendesse. Eu não tinha certeza por que ele estava me provocando no meio do que já era uma situação desconfortável.
— Tivemos nossos momentos.
Seus olhos travaram nos meus e sua voz baixou. — Sim, nós tivemos.
De repente, eu estava queimando. Sua boca se espalhou em um sorriso. — Do que era que você costumava me chamar?
— O que você quer dizer?
— “Meio-irmão mais querido”, era isso? Por causa da minha personalidade brilhante? — Ele virou-se para Belinda. — Eu era um fodido miserável naquela época.
Um miserável “fodido”. Ele não queria dizer dessa maneira, mas eu não pude evitar pensar nesse significado.
— Como é que você sabia sobre esse apelido? — Eu perguntei.
Ele sorriu.
Eu sorri. — Ah, certo. Você me espionava.
— Parece que esses foram momentos divertidos — Belinda disse enquanto olhava inocentemente entre Christopher e eu.
— Eles eram — disse ele, olhando para mim com um olhar que não era nada inocente.