Fanfic: ALTA FREQÜÊNCIA (Terminada)

A chuva continuou noite adentro. Mesmo no showroom Anahí podia ouvir os trovões.
Ela quase gostou de estar de pijama de flanela quando o guarda trancou as
portas. O mau tempo certamente deixara o ar mais frio. Talvez fosse a repreensão
da diretoria. Ela certamente dera uma reviravolta nos acontecimentos mais cedo,
mas pensando agora, a raiva e mágoa cresciam.

-Não acredito que se preocuparam com comentários
perfeitamente compatíveis com vim pijama - disse ela.

- É o clima atual. - Alfonso puxou a coberta sobre
o colo.

- Parece tão injusto tomar bronca por algo tão
banal.

- Eles precisam impor limites. - Ele se recostou
nos travesseiros. - E seja honesta. Logo que soube da promoção, você não me
falou que achava vulgar?

Ela concordou.

- A KROK é meio conhecida por promoções vulgares -
disse ela. - Mas depois que vim para cá, não achei nada de vulgar. - Ela o
tocou no braço.

Ele olhou para o teto, para a câmera que nenhum
dos dois podia esquecer.

- Precisamos ter cuidado.

- Eu sei. - Ela recuou a mão e sentou de pernas
cruzadas ao lado dele. - Então vamos conversar. Acho que sei por que Berlinda
me importunou tanto essa manhã. - disse ela.

- Ah é? Porquê?

- Está com ciúme. Ainda sente algo por você.

A respiração dele acelerou e ele se endireitou na
cama, tossindo.

- Berlinda me detesta - contestou ele.

- Não detesta, não. Por que traria o namorado, se
não fosse para exibi-lo na sua frente?

- Ela só se importa consigo mesma. É mais provável
que esteja com ciúme de você estar em evidência. Não é nenhum segredo que ela
quer seu próprio programa.

- Por que ainda não tem?

- Provavelmente porque Christian não confia nela.
Você ouviu dizer que ela me xingou no ar, certo?

Ela concordou.

- Mas ele te deu uma segunda chance. E me deu uma
segunda chance depois que troquei aqueles comerciais.

- Não estamos falando de um pequeno deslize -
disse ele. - Ela me chamou de tudo que é nome.

Ele não parecia tão chateado.

- O que houve? Quero dizer, o que resultou na
briga? Ele ficou em silêncio por um tempo. Anahí corou.

- Se não quiser falar a respeito...

- Não, tudo bem. - Ele a olhou. - Só detesto
admitir que fui tão tolo.

- O que quer dizer?

- Eu devia ter visto logo como é a Berlinda. Mas
ela era nova na cidade e fazia tempo que eu não tinha um relacionamento. E,
convenhamos, ela é atraente e eu sou homem. Não pensei muito quando ela deu em
cima dei mim. - Ele sacudiu os ombros. - Na época pareceu§ uma boa idéia.
Incomoda falar sobre isso?

- Claro que não. Fico feliz que esteja sendo tão
honesto comigo.

- De qualquer forma, só saímos alguns meses. Não
demorou para que eu notasse que ela não é uma pessoa legal.

- Então decidiu terminar.

- É. Foi quando cometi o segundo erro estúpido. O
primeiro foi me envolver com ela. Eu lhe disse que achava que tínhamos que dar
um tempo, justamente antes de começar o programa da tarde. Ao chegar para
apresentar a meteorologia, ela fez o estrago. Eu mal tive tempo de desligar o
microfone.

- E a FCC multou vocês dois.

- E a rádio. E Christian ameaçou nos demitir, mas
desistiu.

- Então, se ela não tem mais uma queda por você,
talvez tenha rancor. Ela é uma pessoa muito infeliz.

- Não perca tempo sentindo pena dela. - Não
perderei meu sono por causa dela, prometo. - Mas ela não achava que teria uma
noite de descanso. Não com Alfonso ao seu lado, tão perto e proibido.

Ele se acomodou no travesseiro.

- Estou pensando se conseguiremos dormir.

- Ontem foi incrível - disse ela.

- É melhor mudarmos de assunto.

- Não sei, mas se não podemos fazer nada, pode ser
divertido falar o que poderíamos fazer.

- Divertido ou torturante?

- Um pouco de cada. Mas vai nos dar um incentivo
para depois.

- É. - Ele ficou em silêncio e ela pensou se
deveria levar o assunto adiante. Havia algo erótico em ficar ali na abstinência
forçada.

- Então, o que você faria se tivesse liberdade
para fazer qualquer coisa? - A pergunta dele rompeu o silêncio.

Ela fechou os olhos e pensou.

- Começaria a te beijar muito.

- Eu passaria a língua nesse vãozinho que você tem
nos dentes - disse ele, com a voz rouca. - E beijaria esse lugar embaixo do
queixo, onde a pele é branquinha.

Ela engoliu em seco, mas continuou:

- Eu desceria beijando seu peito, provocaria com a
língua. - Ele limpou a garganta e se remexeu embaixo das cobertas.

- Hoje, quando deveria estar trabalhando me peguei
meia dúzia de vezes olhando seus seios.

Seus bicos se contraíram com a imagem que ele
pintou e ela os apertou, tentando deter a aflição.

- Você está tocando em si mesma? - Ele se apoiou
no cotovelo e se virou para ela, no escuro.

Ela parou as mãos.

- S-sim.

- Isso me excita, ficar pensando. Eu queria poder
acender a luz e assistir.

- Eu também. - Como seria vê-lo, com desejo nos
olhos, sabendo que estava rígido, ansiando por ela, vendo-a se masturbar até o
clímax?

Um raio cortou o céu. Ela olhou para a janela do showroom, mas não conseguia ver nada na
escuridão.

- Eu beijaria seus seios até deixá-la gemendo.

- É... - Ela resistiu à tentação de se aliviar. -
E depois, o que faria?

- Agora você - disse ele. - O que faria comigo?

- Desceria beijando até seu umbigo, desceria mais,
até seu sexo. Seguraria você e daria beijinhos de leve, por baixo, lambendo
devagarinho, sentindo-o pulsar em minhas mãos.

- Isso é loucura. Nenhum de nós vai dormir essa
noite.

- É loucura - disse ela. - Mas não lamento por
estar aqui com você, mesmo sem poder tocá-lo.

- Nem eu.

Um raio brilhante estrondou no showroom e o abajur ao lado da cama se
apagou, deixando tudo no escuro.