Fanfic: Possessive | Tema: Vondy
Na minha infância, eu pensava que memórias eram coisas que podiam se deixar para trás, sem que afetasse e absorvesse meu futuro. Que eram coisas que nós criávamos para se aproveitar somente naquele momento. Porém tudo que eu havia imaginado, foi se dispersando com o tempo, misturado com partículas de lembranças e doces saudades; como minha mãe foi.
Minha vida agora era algo que havia afundado vagarosamente, mais do que qualquer embarcação presa em suas entranhas no fundo de um oceano. Estava congelada, submersa, como se estivesse agarrada a uma situação que a deixasse desse jeito e que parecia que nunca iria mudar.
Eu apenas queria ter o poder de me livrar daquilo que me destrói.
Volto à realidade, piscando os olhos diversas vezes para aliviar a ardência que se habitava neles.
— Eu vou embora dessa casa! Não aguento mais essa droga de vida! — gritei indo em direção ao meu quarto.
Quando entrei nele peguei uma velha mochila, onde procurei colocar o máximo de roupas que conseguia a tempo de evitar que meu pai criasse mais argumentos para me impedir de ir embora.
Eu queria sair dali, queria me livre dessa casa, dessa prisão, das memórias ruins e principalmente dela, Sol.
A mulher que me fazia ver que a vida não é um conto de fadas onde há felizes para sempre, a mulher que agora tenta substituir o lugar da minha mãe, tenta de todas as maneiras preencher uma lacuna que não pode nunca ser preenchida. Ela é incompatível com qualquer lugar que minha mãe tenha estado.
— Dulce María, você não vai a lugar algum! — escutei meu pai gritar de volta.
Os passos dele estavam próximos, ele estava vindo atrás de mim. Quando ele entra no meu quarto eu o encaro nos olhos como se quisesse perfurá-lo.
Ele ainda é meu pai, o homem que me levava para tomar sorvete de baunilha sempre que eu machucava meu joelho ou contrabandeava gomas de mascar comigo quando mamãe me proibia de comer antes do almoço, a pessoa que me ajudou a dar meus primeiros passos e que cuidou de mim quando ela se foi. Mas agora ele parece tão distante, Sol criou um enorme penhasco entre a gente e é como se todos os momentos da minha infância fossem apenas sonhos que são esquecidos a cada dia que passa.
— Você não pode me impedir! Você não conseguiu nem impedir a mamãe de ir embora!
Continuei a encher minha bolsa com algumas roupas e produtos para higiene. Me lembrei de uma grana que eu estava guardando dentro do bolso de uma antiga calça para comprar algumas roupas novas, peguei todo o dinheiro sem nem contar e coloquei em um pequeno bolso que tinha na mochila.
Meu pai observava isso tudo incredulo
— Dulce…
— Já chega pai! Eu estou cansada disso, me deixa.
Nesse momento já estava colocando a mochila nas costas com toda a coragem do mundo junto a mim, pois meu pai era praticamente meu dobro, poderia me impedir numa facilidade só. Mas ele apenas ficou me encarando não acreditando que sua "menininha'' havia se tornado tão inconsequente.
— A questão é... — continuei a falar — eu não fico nem mais um segundo de baixo do mesmo teto dessa megera que você trouxe para casa e ainda chama de mulher.
— Dul, querida... — meu pai tentou se acalmar — você está sendo injusta com Sol, ela é como uma mãe para você.
Eu ri com raiva. Meus olhos estavam se enchendo de lágrimas. Nenhuma palavra que eu dissesse iria mudar essa situação.
Por que ele continuava com aquela ideia de substituição? Ele se esqueceu de tudo que passou com a mulher que ele dizia que amava, que a queria ao lado dele em todos os momentos da vida de ambos?
É engraçado demais. Seus sentimentos pareciam desaparecer em um passe de mágica quando pessoas novas surgiam para "tampar" o vazio que as outras deixavam. Ele pensava desse jeito.
E eu detestava esse tipo de pensamento.
— Nunca mais... — digo entredentes e respiro fundo, tentando voltar a um tom aceitável de voz para não acabar me descontrolando de verdade — compare essa mulher com a minha mãe, aliás, que Deus a tenha.
Minha mãe havia falecido quando eu tinha apenas dez anos, e quando eu tinha quatorze anos meu pai conheceu Sol, isso fez minha vida virar um inferno. Jamais superei morte dela, diferente do meu pai.
Ela ainda era minha mãe e isso nem o tempo poderia levar de mim.
— Minha mãe era uma mulher digna, não precisava se aproveitar de ninguém para se dar bem na vida, eu cansei de ver você sendo feito de idiota, pai. E também cansei dessa va... — me segurei — Mulherzinha... tentando tomar o lugar da minha mãe, e me tratando como um nada. Ela realmente conseguiu o que queria, eu vou embora.
Sol me seguiu com os olhos quando eu comecei a andar pelo corredor da casa, às vezes dava até para ver um sorriso vitorioso em seus lábios.
Como eu podia me sentir perante à convivência dela? Eu queria abrir os olhos de meu pai, que parecia se cegar propositalmente para não enxergar as coisas absurdas que eu via. Eu estava me autodestruindo por culpa daquela mulher, absorvendo todos esses sentimentos negativos que eu acumulava e depois despejava na base de palavrões contra meu pai.
Eu sentia como se tudo estivesse desmoronando ao meu redor. Um verdadeiro apocalipse.
Saí de lá sem olhar para trás uma única vez.
Só minutos depois de virar a esquina de casa que consegui me dar conta de tudo que aconteceu. Era o que parecia ser só mais uma das minhas brigas com Sol, como sempre ela veio sujar mais louça que eu tinha passado o dia inteiro lavando e estava longe de terminar enquanto ela se ocupava o dia no salão de beleza. Ela nunca ajudava em nada em casa e eu mal tinha tempo para estudar ainda tinha que limpar, cozinhar e lavar roupa.
Aquilo foi demais para mim. Quando ela colocou mais um prato lá de propósito eu não consegui deixar isso passar e comecei a explodir, papai logo apareceu, eu acabei xingando ele também e tomei a decisão mais precipitada da minha vida. Sair de casa.
Já era meia noite e meia e eu realmente não sabia para onde iria a essa hora e eu estava quase me arrependendo, com medo e com frio, pois o vento gelado que invadia minhas espinhas estava me fazendo alisar meus braços a todo instante.
Estava na companhia da minha insegurança.
Para onde eu iria?
Droga.
Pensei em um apartamento que meu pai possuía, mas ele ficava um pouco longe. Então a ideia era pegar um táxi e pagar com o dinheiro que havia pego.
E enquanto pensava comigo, passei por um grupo de garotos. Se eles não tivessem feito gracinhas, eu nem perceberia.
— Ei, garota. Isso é hora da princesinha estar na rua? — continuei andando o mais rápido possível, mas podia ver que eles começaram a me seguir.
— Qual é, gatinha? Vai mais devagar — os garotos riram e até onde deu para ver haviam quatro, não pude ver muito, o medo me impedia de olhar para atrás.
Só consegui pensar em continuar andando, como se nada estivesse acontecendo, embora meu coração estivesse mais acelerado do que nunca dentro do meu peito. Tentei me lembrar de alguma tática de autodefesa ou algum documentário que ensinava sobre como reagir nessas situações, mas meu medo era tanto que me impedia de raciocinar direito.
— Olha, Chris. Eu acho que ela está com pressa, hein? — um garoto com uma voz maravilhosamente rouca falou, e logo começou a rir.
Ok, ele podiam parecer uns babacas, mas do canto dos olhos eu conseguia ver que eles não eram muito mais velhos que eu, era aparentemente garotos mal criados fazendo coisas de garotos mal criados, ainda assim eu não deixei de ser cautelosa e temer os meninos.
A beleza deles era impressionante e se tornou um desperdício quando eles se submeteram a essa situação, eles não precisavam sair assediando garotas na rua durante a madrugada, eles tinham charme o suficiente para conseguir qualquer menininha boba do ensino médio.
— Ei, delícia, não corre, não — falou outro membro do grupo que eu não fazia ideia de quem se tratava.
Eu estava cada vez mais morrendo de medo, confesso, mas ao mesmo tempo eu já estava me irritando com aqueles babacas e meus pés já estavam doendo de tanto eu andar rápido. Então, congelei ao sentir uma mão segurar meu braço com força repentinamente. Eu mal pude ver quando ele se aproximou de mim.
Seu toque fez meu coração bater duas vezes mais rápido.
— Qual a parte do ''Ei, delícia, não corre, não'' você não entendeu? — agora foi a vez de um garoto moreno falar.
Ele tinha um olhar um tanto malicioso.
— Qual o seu problema? Me larga, seu idiota — respondi enquanto tentava tirar suas mãos de meu braço direito.
Pude observar todos se divertindo, exceto um garoto de cabelo loiro escurecido, e penetrantes olhos cor de mel, ele era realmente encantador e parecia estar entediado. Então eu me dei por conta de quem ele realmente era e estremeci. Seu celular tocou, ele atendeu e se pronunciou.
— Falou, seus imbecis. Peguem leve com a garotinha aí, ela está assustada. — ele se virou, não antes de soltar um risinho sarcástico e indiferente.
Qual era a deles?
Mordi meus lábios tentando conter minha raiva e consegui me soltar do braço do idiota que estava me segurando.
— Quem vocês pensam que são? — perguntei, levando minhas mãos à cintura, como se tivesse alguma moral com eles.
O que estava indo embora se virou novamente e soube que deveria temer ele assim que o par de olhos dourados me fitaram com frieza, mas ainda assim eu pouco me importei, minha noite não tinha como ficar pior, tinha? Ele caminhou na minha direção e sorriu outra vez como se eu fosse uma criança de quatro anos que não entendia nada do mundo e ele fosse um adulto que já tinha vivido tudo que tinha para viver e fosse me ensinar algo.
— O que você disse? — a voz dele saiu afiada.
— Quem vocês acham que são? — repeti deixando minha voz mais grossa que conseguia.
Ele era o líder dos The Canadians, uma das maiores gangues da cidade, todos ouviam falar neles.
Eu sabia disso porque eu morava no mesmo bairro que eles e minha melhor amiga, Annie, já havia me falado dos mesmos, ela sabia tudo e entrou em choque quando descobriu que essa gangue se situava no nosso bairro.
Ela já presenciou eles intimidando um conhecido em um beco escuro a noite quando voltava da minha casa.
— Prazer, Christopher Uckermann... — ele disse e me assustei ao confirmar que se tratava dele.
Sim. Eu estava diante do maior cafajeste de Los Angeles e mesmo assim, ele era o sonho de todas as menininhas iludidas — como minha linda melhor amiga — e também responsável por quebrar o coração delas.
— Eu sei quem você é — falei tentando parecer indiferente.
— Sabe? — ele arqueou as sobrancelhas — Então diga...
Droga!
Se eu dissesse que eu sabia que ele é um Canadian, eles dariam um jeito de calar minha boca.
Eu só tinha uma saída. Fingir que tinha me enganado.
— Desculpe... eu confundi você com outra pessoa — menti.
— Você está mentindo.
Essa situação já estava me irritando.
Refleti a respeito do que eu faria agora. E se ele não me deixasse ir embora?
Os outros garotos estavam me olhando e aguardando minha resposta ou alguma reação minha, rindo discretamente, e eu, sem alguma segurança. Ninguém estava na rua, aliás, ninguém fica aqui à noite, pois sempre temem que crimes piores aconteçam sem testemunhas por perto para, possivelmente, "proteger" a vítima.
— Você deveria ter medo.
— Só porque você é um Canadian? — era engraçado o jeito que eu me guiava para a minha própria morte. Eu praticamente entreguei o jogo e logo vi a sujeira que eu havia feito. Justin olhou para os garotos, nada surpreso.
— Me confundiu, não é? — ele disse, dando meia volta. — Levem ela para o apartamento, amanhã eu vou ver o que eu faço. Não encostem nenhum dedo nela.
Nessa hora me perguntei se era agora que eu tinha que me debater e pedir socorro enquanto me carregavam à força, mas a única arma que eu poderia usar ao meu favor foi tirada de mim quando um dos garotos tampou minha boca.
Confesso que eu nem me debati quando o tal de Chris segurou meu braço e começou a me puxar na direção de uma Range Rover. Eu não tinha chance alguma contra eles, esses garotos não eram como o meu pai, eles tinham um fisico bom, fôlego para me alcançar em 10 segundos se eu decidisse correr.
Mas eu não podia deixar de tentar sair disso.
— Por favor, me deixei ir para casa, eu não vou contar nada — murmurei.
O Chris sorriu de canto e abriu a porta dianteira do veículo, indicou para eu entrar lá, então eu obedeci.
Rezei para que eles fossem apenas garotos fazendo uma mera pegadinha.
Mas era Christopher Uckermann o líder deles.
E Christopher Uckermann não brinca em trabalho.
Autor(a): unbrokenxzz
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Acordei em um quarto totalmente escuro e com uma dor de cabeça muito forte, levantei-me procurando algo que pudesse iluminar aquela droga de lugar, mais provavelmente uma luz, e... sem sucesso. Consegui ouvir risos exagerados distantes, eram os filhos da puta, deduzi. A porta se abriu e com ela veio uma claridade infernal, o tal de Chris acendeu a luz ( a qual eu n&a ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 3
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AnazinhaCandyS2 Postado em 13/04/2017 - 22:14:45
Carai Christopher é um maluco, mas eu gosto kkkk. Oq sera q ele vai faze com a Dul?? Continua
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AnazinhaCandyS2 Postado em 12/04/2017 - 18:03:27
Omg adorei o primeiro capitulo :) Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 12/04/2017 - 17:31:32
Amo, amo, amo, amo eu já disse que amo? Pois é eu amo fanfic de possessividade. Posta logo por favor!!