Fanfic: PILLS • Frerard • | Tema: Frerard

28 de setembro de 2012.

Pílulas. E cartas. Tinha mesmo tanta necessidade de algumas coisas tão simples como estas serem escondidas? Só me restava ler as cartas para compreender mais sobre isso e para que elas serviam. Pois veja bem, eu ainda estava em abstinência dos meus cigarros e isso aqui tinha que servir para alguma coisa. Poderiam ser analgésicos, antidepressivos, calmantes, qualquer coisa, mas tinha que servir. Eu já estava começando a suar e a claridade nos céus indo embora por conta do temporal que estava por vir. Meu pai havia saído e eu estava sozinho em casa. Ótimo. Se eu por algum acaso engolir essas pílulas e entrar em colapso, meus pais não terão tempo suficiente para saber o que fiz, me resgatar e eu morrerei. Seria uma pena. Enfim.

Em uma das cartas não havia nada escrito, continha apenas algumas folhas em branco. Peguei a segunda, atrás do envelope estava escrito "1. Charlotte, 1996". Provavelmente deve ter sido a moradora antiga deste lugar quem a escreveu, até mesmo dona das pílulas. Abri o envelope e de lá tirei uma carta.

"Caro leitor,
Se está lendo esta carta, deve estar se perguntando por que elas estavam em um buraco em um canto do quarto junto com as pílulas. Fiz estas cartas para relatar o que essas pílulas me fizeram. Foi uma das mais fantásticas e magníficas coisas que já aconteceram em minha vida. Elas me fizeram encontrar um lugar isolado no mundo, sem guerras, sem responsabilidades ou dor. Era um refúgio para mim. A cada dia eu consumia uma pílula e simplesmente não estava mais em mim. Eu era parte de outra coisa, outro lugar, uma coisa muito maior do que eu poderia ter imaginado. Tentei fazer desenhos, retratar o que aquele lugar me fazia ver, as coisas que toquei, as que vi, as que ouvi e senti. Foram os melhores quatro dias da minha vida. Vamos ver o que acontecerá daqui para frente, o que mais essas pílulas tem a me oferecer. É um paraíso.
- Charlotte."

Eu realmente estava muito confuso. Não tinha como uma coisa dessas ter acontecido simplesmente por pílulas. Ela teve alucinações, certamente. Isso tudo era loucura, literalmente. Dobrei a carta e a devolvi para o envelope, arrumei as coisas dentro do buraco é o fechei. Pus a cômoda em seu lugar e me levantei para ir até a cozinha. Quando cheguei, retirei o telefone do gancho e disquei os números e enquanto esperava que ela atendesse do outro lado dá linha, bisbilhotei nas panelas a fim de saber o que minha mãe havia preparado.

– Gerard? - Jude atendeu com a voz hesitante, esperando minha resposta. A respondi, pedindo para que ela viesse até aqui e me trouxesse os cigarros ainda hoje. É bem chato passar um dia e meio sem eles. – Não posso ir hoje, desculpe. Minha mãe cismou que eu tinha que acompanhá-la com a cirurgia. É quase ridículo isso, ela quer parecer uma perua enchendo os peitos? Bom, perua ela já é, na verdade eu acho que ela quer virar uma perua master, haha! ...Mas enfim, se eu pudesse eu iria aí sim.

– Realmente, não posso deixar de concordar com você. Diz pra ela que desejei boa sorte - respondi.

– Certo... Amanhã os levo para você. Até mais.

– Até - e desliguei.

Ainda estava pensando nas coisas que li sobre Charlotte. E se fossem verdade? Valia mesmo a pena? Aquele suposto mundo alternativo ao qual ela começava a descrever poderia mesmo ter alguma coisa a ver com a realidade, ou era algo particular dela?
Eram muitas perguntas para nenhuma resposta. Não seria eu quem iria respondê-las.

A chuva havia ficado mais forte, as nuvens escuras, carregadas, não iriam embora tão cedo e a temperatura ia diminuindo gradativamente. Não havia absolutamente nada de interessante para se fazer com tanto tempo livre, portando tratei de ir para o meu quarto, tinham coisas mais interessantes para se fazer lá... "2. Charlotte, 1996."

"Caro leitor,
O meu paraíso vem se tornando cada vez mais interessante, a cada dia que se passa conheço coisas novas através de Mike. O encontrei no grande quintal na parte de trás de uma casa qualquer, onde acordo todos os dias após engolir as pílulas. Alí, diferente de minha casa, há um poço de pedras detalhado com desenhos e algumas cadeiras de balanço. Ele me conta coisas sobre como sua vida era maravilhosa naquele lugar e como sua vida ficou mais feliz com a minha chegada, que eu era uma pessoa maravilhosa e especial. Mike tinha dezenove anos, porém aparentava ser mais velho, devido a seus cabelos vermelhos acastanhados um pouco abaixo das orelhas, seu modo de falar, de agir diante de mim e seu porte forte mas não muito musculoso. Ele era muito belo. Ele me tratava muito bem, e eu gostava. Neste quinto dia, ele não só conversou comigo como de costume, mas também me levou para um lugar diferente. Tampou meus olhos por alguns poucos segundos e de repente estávamos de frente para um lago congelado, eu não estava sentindo muito frio pois estranhamente já estava bem agasalhada. Lá ele me contou que minha presença o fazia bem e que não queria que eu o deixasse, mas o sentimento de solidão me assolava no mesmo instante em que minha visão sobre ele ficava turva, até escurecer por completo. Mais uma vez espero que nos próximos dias as pílulas e Mike me tragam algo surpreendente, pois não pretendo interromper meu uso dessas pílulas tão cedo, esta é uma vida da qual eu daria tudo para ter...
- Charlotte."

Depois disso, eu teria que experimentar este mundo "magnífico" por mim mesmo.