Capítulo 42
DULCE
As férias de Natal demoram uma eternidade para chegar.
Estou literalmente um trapo ao embarcar no avião para Filadélfia — de moletom, descabelada e coberta de espinhas por causa do estresse. Desde o festival, topei com Christopher três vezes. Uma no Café Hut, uma no jardim do campus e uma na saída do auditório de ética, quando fui buscar minha nota final. Em todas as três vezes, ele me perguntou com quantos caras eu já tinha saído desde a separação.
Em todas as três vezes, entrei em pânico, deixei escapar alguma desculpa sobre estar atrasada e fugi feito uma covarde.
O problema de terminar com alguém sob falsos pretextos é o seguinte: a outra pessoa não aceita a sua desculpa, a menos que você faça o que disse que queria fazer. No meu caso, preciso sair com um monte de garotos aleatórios e começar a explorar, porque foi o que falei a Christopher que queria, e, se não partir logo para a ação, ele vai perceber que tem alguma coisa errada.
Acho que poderia chamar alguém para sair. Arrumar um encontro bem público, do qual Christopher sem dúvida ficasse sabendo, e convencer o cara que amo de que segui em frente. Mas a ideia de estar com alguém que não seja Christopher me dá náuseas.
Felizmente, não preciso me preocupar com nada disso agora.
Vou ter uma folga, porque vou passar as próximas três semanas com minha família.
Entro no avião e, pela primeira vez desde que o pai de Christopher deu seu penoso ultimato, sou capaz de finalmente respirar.
* * *
Ver meus pais é exatamente o que precisava. Não se iludam, ainda penso em Christopher o tempo inteiro, mas é muito mais fácil me distrair da dor assando biscoitos de Natal com meu pai ou sendo arrastada para a cidade para fazer compras com minha mãe e minha tia.
Na segunda noite na Filadélfia, contei à minha mãe sobre Christopher . Ou melhor, ela arrancou de mim depois que me pegou deprimida no quarto de hóspedes. Disse-me que eu parecia uma mendiga que tinha acabado ser tirada das ruas e começou a me empurrar para o chuveiro e me forçou a escovar o cabelo. Depois disso, coloquei tudo para fora, o que a fez dar início ao que está chamando de Operação Férias Animadas. Em outras palavras, está me enfiando um zilhão de atividades de férias goela abaixo, e a amo muito por isso.
Não estou com pressa de voltar para a Briar daqui a três dias, onde Christopher, sem dúvida, está com seus próprios planos não tão secretos — a Operação Fazer Dulce Admitir Que Estava Mentindo. Sei que está tentando me reconquistar.
Também sei que não vai precisar de muito esforço. Basta meolhar com aqueles olhos cinzentos maravilhosos, abrir aquele sorriso torto, e vou me debulhar em lágrimas, jogar os braços em volta dele e contar tudo.
Sinto sua falta.
“Ei, querida, você vai descer para passar a virada com a gente?” Minha mãe aparece na porta com uma tigela sedutora de pipoca, e me lembro da primeira vez que passei a noite na casa de
Christopher, quando enchemos a cara de pipoca e assistimos a horas de televisão.
“Já vou”, respondo. “Só vou botar uma roupa confortável.”
Quando ela se afasta, saio da cama e procuro uma calça de ginástica na mala. Tiro a calça jeans skinny e substituo pelo algodão macio, em seguida, desço as escadas até a sala, onde meus pais, meus tios e seus amigos Bill e Susan estão acomodados nos sofás em forma de L.
Vou passar a noite de Réveillon com três casais de meia- idade.
Iuuuuhuuu.
“E aí, Dulce?”, me cumprimenta Susan. “Sua mãe estava me contando que você acabou de ganhar uma bolsa de prestígio.”
Sinto-me corar. “Essa coisa de prestígio é uma baboseira. Mas, na verdade, todo ano eles distribuem bolsas nos festivais de inverno e de primavera. E é verdade, eu ganhei.”
Engula essa, Cass Donovan, exclama meu convencido monstro interior.
Não tinha planejado voltar ao auditório depois que encontrei Christopher no festival, mas Fiona acabou me pegando bem na hora em que tentava fugir e me arrastou de volta para o palco. E sim, não posso negar que a sensação de vitória ao ouvir meu nome ser anunciado na cerimônia da bolsa de estudos tenha me deixado nas nuvens. E nunca vou esquecer a indignação no rosto de Cass quando percebeu que o seu nome não foi chamado.
Agora estou cinco mil dólares mais rica, e meus pais podem respirar aliviados, porque vou ser capaz de pagar eu mesma pelas despesas com residência e comida no semestre que vem.
Às dez para a meia-noite, tio Mark põe um fim à nossa tagarelice ligando de novo o som da televisão para assistirmos à festa da Times Square. Tia Nicole distribui línguas de sogra com serpentinas cor-de-rosa, enquanto minha mãe passa punhados de confete para todo mundo. Minha família é cafona, mas não a trocaria por nada neste mundo.
Meus olhos estão surpreendentemente enevoados quando começamos a contagem regressiva junto com o locutor na TV. Até aí, talvez as lágrimas não sejam exatamente uma surpresa, porque quando o relógio chega ao zero e todos gritam “Feliz Ano-Novo!”, lembro que o bater da meia-noite não indica apenas o início de um novo ano.
Primeiro de janeiro é também o aniversário de Christopher.
Aperto os lábios para conter o turbilhão de lágrimas, forçando um riso quando meu pai me gira em seus braços e beija minha bochecha. “Feliz Ano-Novo, princesa.”
“Feliz Ano-Novo, pai.”