Capítulo 43
DULCE
No meu segundo dia de volta ao campus, embarco em minha própria missão: Operação Só Acredito Vendo. Porque está na cara que o único jeito de convencer Christopher a recuar é provar a ele que estou seguindo em frente. O que significa que preciso encontrar um cara para sair comigo. Para ontem.
A primeira oportunidade surge quando passo no Café Hut para pegar um chocolate quente. Está nevando horrores lá fora, e bato a neve das botas no capacho perto da porta antes de entrar na fila. É então que percebo que o cara na minha frente parece conhecido. Quando faz seu pedido e vai até o balcão para recebê-lo, vejo seu perfil de relance e me dou conta de que se trata de Jimmy.
Jimmy… o quê? Pauley? Não, Paulson. Jimmy Paulson, de literatura inglesa e da festa da Sigma. Perfeito. Temos passado. É praticamente um relacionamento.
“Oi, Jimmy”, cumprimento depois de pedir minha bebida e me juntar a ele no balcão.
Jimmy se enrijece visivelmente ao som da minha voz. “Ah. Oi.” Seus olhos disparam pelo ambiente, como se não quisesse que ninguém nos visse conversando.
“Escute”, começo. “Estava pensando, nunca mais nos falamos desde aquela festa em outubro…”
A barista coloca um copo de isopor na frente de Jimmy, que o pega tão rápido que nem sequer vejo sua mão.
Continuo depressa. “Achei que seria bom colocar a conversa em dia e…”
Jimmy já está se afastando de mim. Meu Deus, por que parece tão aterrorizado? Será que pensa que vou esfaqueá-lo ou algo assim?
“… talvez você queira tomar um café um dia desses”, termino.
“Ah.” Afasta-se ainda mais. “Hmm. Obrigado pelo convite, mas… hmm, é, não bebo café.”
Fico olhando para o copo em sua mão.
Ele segue meus olhos e engole em seco. “Desculpa, tenho que ir. Vou encontrar alguém… do outro lado do campus e… hmm… bem longe, então estou com um pouco de pressa.”
Bom, pelo menos não está mentindo sobre estar com pressa, porque voa porta afora como um velocista olímpico.
Certo, isso foi… estranho.
Franzindo a testa, pego meu chocolate quente e vou na direção da Bristol House. É um processo lento, porque a neve está caindo mais rápido do que a equipe de limpeza do campus é capaz de escavar, e minhas botas afundam meio metro a cada passo. Mas o ritmo forçado me permite encontrar outro elemento de estranheza.
Quando estava saindo com Christopher, as pessoas me cumprimentavam o tempo todo. Hoje, todo mundo por quem passo parece me evitar, principalmente os homens.
É assim que os amish desonrados se sentem quando são banidos? Porque ninguém está olhando para mim, e não gosto disso.
Também não entendo o que está acontecendo.
No caminho até o alojamento, decido ligar para Dexter e ver se ele quer sair hoje à noite. Talvez ir ao Malone’s — não, Christopher poderia estar lá. Outro bar na cidade, então. Ou o salão de festas da faculdade. Qualquer lugar em que eu poderia conhecer um cara.
Perto da Bristol House, o garoto oportunidade número dois sai do prédio ao lado. É Justin, e, ao contrário do restante do mundo, ergue a mão para um aceno.
Aceno de volta, em grande parte pelo alívio de que alguém pareça feliz em me ver.
“Oi, estranha”, cumprimenta ele, vindo na minha direção.
Está com o cabelo de quem acabou de sair da cama, e, no entanto, não acho mais isso tão bonitinho. Só o faz parecer um desleixado. Ou talvez um farsante, porque tenho certeza de que posso ver gel nos fios, o que significa que perdeu tempo criando o estilo “não estou nem aí”. E isso faz dele um mentiroso.
Também caminho em sua direção. “Oi. Como foi de férias?”
“Bem. Não chove muito em Seattle nesta época do ano, por isso tive que me contentar com uma tonelada de neve. Andei de snowboard, esquiei, fiz hidromassagem. Foi divertido.” As covinhas de Justin aparecem e não provocam nada em mim.
Mas… que inferno, é o único cara que olhou para mim hoje.
Pedintes não contam, certo?
“Parece divertido. Hmm, então…”
Não.
Não, não, não. Simplesmente… não.
Não posso fazer isso. Não com este cara. Christopher me ajudou a fazer ciúmes em Justin em outubro. Cancelei um encontro com ele quando percebi que queria estar com Christopher. E sei o quanto Christopher não gosta de Justin.
Não posso, de jeito nenhum, abrir esta porta, e não é apenas porque meus sentimentos por Justin sejam inexistentes, mas porque seria como esfaquear Christopher no peito.
“Então, oi”, termino. “Pois é… Só vim dizer oi.” Ergo meu copo de chocolate quente como se de alguma forma fizesse parte desta conversa. “E vou lá dentro beber isto. Bom ver você.”
Sua voz irritada faz minhas costas se arrepiarem. “O que diabos foi isso?”, pergunta.
A culpa borbulhando em meu estômago me impele a virar de volta para ele. “Desculpa”, digo, com um suspiro. “Sou uma idiota.”
Um sorriso irônico surge em seus lábios. “Bom, eu não ia falar nada, mas…”
Caminho de volta até ele, as mãos enluvadas ainda envolvendo o copo. “Nunca quis te dar falsas esperanças”, admito.
“Quando disse que ia sair com você, era algo que queria muito na época. De verdade.” A dor se instala em minha garganta. “Não achei que fosse me apaixonar por ele, Justin.”
Agora ele parece apenas resignado. “E as pessoas sabem quando vão se apaixonar por alguém? Acho que é algo que simplesmente acontece.”
“É, acho que sim. Ele… me pegou de surpresa.” Encontro seus olhos, torcendo para que veja o arrependimento genuíno que estou sentindo. “Mas eu estava interessada em você. Nunca menti sobre isso.”
“Estava, é?” Ele soa triste.
“Desculpa”, digo mais uma vez. “Eu… droga, estou um caco, e ainda apaixonada por Christopher, mas se você quiser começar de novo, como amigos, estou cem por cento dentro. Podemos falar de Hemingway de vez em quando.”
Justin franze os lábios. “Como você sabe que gosto de Hemingway?”
Ofereço-lhe um leve sorriso. “Hmm. Talvez eu tenha feito umas pesquisas quando tinha uma queda por você. Viu só? Não menti sobre isso.”
Em vez de fazer o sinal da cruz e gritar “Psicopata!”, ele ri baixinho. “É, acho que não. Bom saber, pelo menos.”