Só queria que eles também fossem capazes de recomeçar.
Quando desligamos, estou dividida entre uma alegria imensa e um profundo pesar. Adoro falar com minha mãe, mas saber que não vou ver meus pais no feriado me deixa com vontade de chorar.
Por sorte, Allie aparece no meu quarto antes de eu me render à tristeza e passar o restante do dia chorando na cama. “Ei”, diz, animada. “Quer tomar café da manhã na cidade? Tracy emprestou o
carro.”
“Só se formos a qualquer lugar que não o Della’s.” Não há nada pior do que comer onde se trabalha, principalmente porque, em geral, Della me faz ficar para pegar um turno extra.
Allie revira os olhos. “Não tem mais lugar nenhum que sirva café da manhã. Mas tudo bem. A gente pode comer no refeitório.”
Pulo para fora da cama, e Allie se joga no colchão, se esparramando em cima das cobertas enquanto caminho até a cômoda para pegar umas roupas.
“Estava no telefone com quem? Sua mãe?”
“É.” Visto um suéter azul-claro e ajeito a bainha. “Não vamos nos encontrar no dia de Ação de Graças.”
“Ah, sinto muito, amiga.” Allie senta na cama. “Por que não vem para Nova York comigo?”
É uma oferta tentadora, mas prometi à minha mãe mandar um dinheiro, e não quero torrar minha poupança de vez com um bilhete de trem e um fim de semana em Nova York. “Não tenho dinheiro”, respondo, desanimada.
“Droga. Eu pagaria se pudesse, mas ainda estou quebrada por causa da viagem ao México com Sean, na primavera.”
“De qualquer maneira, não deixaria você pagar para mim.”
Sorrio. “Depois da formatura, vamos ser duas artistas passando fome, lembra? Precisamos guardar todos os nossos mínimos centavos.”
Ela me mostra a língua. “De jeito nenhum. Vamos ser famosas já de cara. Você vai fechar um contrato para vários discos, e eu vou ser protagonista de uma comédia romântica com o Ryan Gosling. Que, por sinal, vai ficar perdidamente apaixonado por mim. E vamos morar numa casa de praia em Malibu.”
“Você e eu?”
“Não, eu e Ryan. Mas você pode visitar a gente. Sabe, quando não estiver saindo com a Beyoncé e a Lady Gaga.”
Dou risada. “Você sonha grande.”
“Isso vai acontecer, amiga. Pode apostar.”
Sinceramente, espero que sim, em especial por causa da Allie.
Ela está pensando em se mudar para Los Angeles assim que se formar, e, juro, realmente posso vê-la estrelando uma comédia romântica. Allie não é um mulherão como a Angelina Jolie, mas tem um olhar bonito, um rosto jovem e um timing para comédia que cairia como uma luva em papéis românticos excêntricos. A única coisa que me preocupa é… bem, ela é boazinha demais. Allie Hayes é, de longe, a pessoa mais compassiva que já conheci.
Recusou uma bolsa integral no curso de teatro da UCLA para ficar na Costa Leste, porque o pai está com esclerose múltipla e ela queria poder ir a Nova York num piscar de olhos, caso ele
precisasse dela.
Às vezes, tenho medo de que Hollywood a coma viva, mas Allie é tão forte quanto gentil, além de ser a pessoa mais ambiciosa que já conheci. Por isso, se alguém é capaz de transformar seus sonhos em realidade, é ela.
“Vou escovar os dentes e me arrumar, e a gente vai.” No caminho para a porta, olho para trás por cima do ombro. “Vai estar em casa hoje à noite? Vou dar aula até as seis, mas achei que a gente podia assistir a alguns episódios de Mad Men depois.”
Ela balança a cabeça. “Vou jantar com Sean. Acho que vou dormir por lá.”
Meus lábios se abrem num sorriso. “Ah, então o negócio tá ficando sério de novo?” Allie e Sean já terminaram três vezes desde o primeiro ano, mas os dois sempre acabam voltando para os braços um do outro.
“Acho que sim”, admite ela e me segue até a sala.
“Amadurecemos muito desde o último término. Mas não tô pensando no futuro. Estamos bem agora, e isso basta para mim.”
Ela dá uma piscadinha. “Com o bônus de que o sexo é incrível.”
Forço outro sorriso, mas, no fundo, não posso deixar de me perguntar como é isso. A parte do sexo incrível.
Minha vida sexual não foi exatamente um mar de rosas. Ela se resumiu a medo, raiva e anos de terapia, e quando estava finalmente pronta para tentar esse negócio de sexo, as coisas não funcionam do jeito que gostaria. Dois anos após o estupro, no primeiro ano de faculdade, dormi com um cara que conheci num café, na Filadélfia, quando estava visitando minha tia. Passamos o verão inteiro juntos, mas o sexo era desajeitado e não tinha paixão.
No começo, achei que talvez só faltasse alguma química entre a gente… até que aconteceu o mesmo com Devon.
Devon e eu tínhamos o tipo de sintonia de incendiar um quarto. Fiquei com ele por oito meses e era insanamente atraída pelo cara, mas não importa o quanto tentasse, não fui capaz de contornar minha… Certo, vou dar nomes aos bois: minha disfunção sexual.
Não conseguia ter orgasmos com ele.
Só de pensar é um suplício. É ainda mais humilhante quando lembro a frustração que foi para Devon. Ele tentou me agradar.
Nossa, tentou mesmo. E não é como se eu não pudesse ter meus próprios orgasmos sozinha, porque posso. Com muita facilidade.
Mas simplesmente não conseguia fazer acontecer com Devon, e ele acabou cansando de se dedicar tanto e não colher resultado nenhum.
E me largou.
Não o culpo. Deve ser um baque e tanto na masculinidade de um cara quando a namorada não gosta da vida sexual dos dois.
“Ei, você ficou branca feito uma folha de papel.” A voz preocupada de Allie me traz de volta ao presente. “Tudo bem?”
“Tudo”, afirmo. “Foi mal, viajei um pouco.”
Seus olhos azuis se suavizam. “Você tá mesmo chateada por não poder ver seus pais no dia de Ação de Graças, né?”
Ansiosamente, agarro-me ao pretexto que ela oferece e assinto com a cabeça. “Como você disse, é uma droga.” Dou de ombros.
“Mas vou vê-los no Natal. Já é alguma coisa.”
“É tudo!”, exclama, com firmeza. “Agora vá escovar os dentes e ficar bonita, gata. Vou passar um café enquanto isso.”
“Ah, nossa, você é a melhor esposa do mundo.”
Ela sorri. “Só por isso, vou cuspir no seu café.”
Oiie meus amores,tô com mtas coisas para fazer mais aqui está.
O que vocês estão achando?
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Beijos ♡