Capítulo 12
CHRISTOPHER
Adoro aquele momento logo antes de acordar, quando as finas teias de aranha em meu cérebro se tecem para formar um novelo coerente de consciência. É o cúmulo do ‘Onde estou?’. Aquele momento desorientado e nebuloso em que metade dos meus neurônios ainda estão perdidos em seja qual for o sonho que estou tendo.
Mas, esta manhã, tem alguma coisa diferente. Meu corpo está mais quente do que o normal, e me dou conta de um cheiro adocicado. Morango, talvez? Não, cereja. Definitivamente cereja. E algo pinicando embaixo do queixo, algo macio e duro ao mesmo tempo. Uma cabeça? É, tem uma cabeça aninhada na curva do meu pescoço. E um braço fino por cima da minha barriga. Uma perna quente enganchada na minha coxa, e um seio macio descansando no lado esquerdo do meu peitoral.
Abro os olhos lentamente e encontro Dulce aconchegada em mim. Estou deitado de costas, os braços em volta dela, segurando-a com força junto ao meu corpo. Não admira que meus músculos estejam tão rígidos. Será que passamos a noite inteira assim? Lembro de estarmos em lados opostos da cama quando peguei no sono, tão distantes que até esperava encontrá-la no chão ao acordar. Mas, agora, estamos emaranhados nos braços um do outro. É gostoso.
Estou ficando mais desperto. Desperto o suficiente para assimilar este último pensamento. É gostoso? O que está acontecendo comigo? Dormir abraçadinho é exclusividade de namoradas.
E não tenho namoradas.
Mas também não a solto. Estou completamente acordado agora, respirando o cheiro dela e desfrutando do calor do seu corpo.
Olho para o despertador, que vai tocar em cinco minutos.
Sempre acordo antes do alarme, como se meu corpo soubesse que é hora de se levantar, mas ainda ligo o despertador por precaução. São sete da manhã. Só tive quatro horas de sono, mas me sinto estranhamente descansado. Em paz. Não estou pronto para deixar esse sentimento ir embora ainda, então fico ali, deitado, com Dulce em meus braços, ouvindo sua respiração estável.
“Você está duro?”
A voz horrorizada de Dulce corta o silêncio sereno. Ela senta num sobressalto, e logo cai de volta no colchão. É isso aí, a srta. Piadista se desequilibra deitada, porque ainda está com a perna enganchada nas minhas coxas. E sim, definitivamente tem algo acontecendo lá nos países baixos.
“Relaxa”, digo numa voz sonolenta e grave. “É só uma meia-bomba matinal.”
“Meia-bomba matinal?”, repete ela. “Ai, meu Deus. Você é tão…”
“Homem?”, sugiro, secamente. “Sou sim, e é isso que acontece com os homens de manhã. Pura biologia, Saviny. Acordamos duros. Se isso faz você se sentir melhor, não estou com o menor tesão neste momento.”
“Tudo bem, vou aceitar sua justificativa biológica. Agora pode me explicar por que decidiu me abraçar no meio da noite?”
“Eu não decidi nada. Estava dormindo. Até onde sei, foi você que se arrastou para cima de mim.”
“Jamais. Nem em sonho. Meu inconsciente me conhece melhor do que isso.” Ela enfia o indicador no centro do meu peito e pula para fora da cama num movimento rápido.
Assim que se afasta, sinto uma sensação de perda. Já não estou quente e aconchegado, mas frio e sozinho. Enquanto sento e espreguiço os braços por cima da cabeça, seus olhos verdes se fixam no meu peito nu, e ela torce o nariz de desgosto.
“Não acredito que a minha cabeça estava nessa coisa a noite toda.”
“Meu peito não é uma coisa.” Faço uma cara feia para ela. “Outras mulheres parecem não ter o menor problema com ele.”
“Não sou ‘outras mulheres’.”
Não, ela não é. Porque ‘outras mulheres’ não me divertem tanto quanto Dulce. De repente, me pergunto como passei a vida inteira sem os comentários sarcásticos e os resmungos irritados de Dulce Saviñón.
“Para de sorrir”, exige ela.
Estou sorrindo? Nem percebi.
Dulce estreita os olhos enquanto cata as roupas no chão. Minha camiseta bate em seus joelhos, enfatizando o quanto ela é pequena.
“Não se atreva a contar a ninguém sobre isso”, ameaça.
“Por que não? Só vai aumentar a sua credibilidade nas ruas.”
“Não quero ser mais uma de suas maria-patins, e não quero que as pessoas pensem que sou, entendeu?”
Seu uso do termo me faz sorrir ainda mais. Gosto que esteja pegando o jargão do hóquei. Talvez, um dia desses, até consiga convencê-la a assistir a um jogo. Tenho a sensação de que iria vaiar bastante o outro time, o que é sempre uma vantagem em jogos em casa.
Mas, conhecendo a peça, provavelmente ela vaiaria a gente, o que daria a vantagem ao outro time.
“Bom, se você não quer mesmo que ninguém pense isso, melhor se vestir depressa.” Arqueio a sobrancelha. “A menos que você queira meus colegas de time testemunhando a sua caminhada da vergonha. E eles vão, porque temos treino em trinta minutos.”
O pânico brilha em seus olhos. “Merda.”
Preciso admitir, esta é a primeira vez que uma garota se preocupa em ser pega no meu quarto. Em geral, elas saem daqui como se tivessem acabado de fisgar o Brad Pitt.
Dulce respira fundo. “A gente estudou. Assistiu TV. Fui pra casa tarde. Foi isso que aconteceu. Entendido?”
Luto contra o riso. “Como quiser.”
“Nem venha com essa de A princesa prometida para cima de mim, ouviu?”
“Nossa, essa veio do fundo do baú!”
Ela me olha furiosa; em seguida, aponta um dedo na minha direção. “Quando sair do banheiro, quero ver você vestido e pronto para ir embora. Você vai me deixar em casa antes de os seus amigos acordarem.”
Uma risada contida me escapa, enquanto ela vai pisando duro na direção do banheiro e bate a porta.