Capítulo 19
DULCE
Está cada vez mais óbvio que Christopher tinha razão. Ele levanta mesmo a imagem de quem está ao seu redor. À medida que sigo a trilha de paralelepípedos em direção ao prédio de filosofia, pelo menos quinze pessoas me cumprimentam. Olá, como vai, bela roupa.
Sou acolhida por tantos sorrisos, acenos e “ois” que é como se tivesse acabado de pisar em outro planeta. Um planeta chamado Dulce, porque todo mundo parece me conhecer. Mas não tenho ideia de quem são, embora deva tê-los conhecido na festa de Beau.
Um desconforto se revira em meu estômago, com uma onda de constrangimento que me faz acelerar o passo. Perturbada por tanta atenção, praticamente corro para a aula e ocupo meu lugar ao lado de Nell. Christopher e Justin ainda não chegaram, o que é uma espécie de alívio. Não sei se quero falar com algum deles agora.
“Ouvi dizer que você saiu com Christopher Uckermann neste fim de semana”, é a primeira coisa que Nell me diz.
Deus do céu. Não posso passar um segundo sequer sem ser lembrada do cara?
“Ahn, foi”, respondo, vagamente.
“Só isso? Foi? Como assim, quero todos os detalhes sórdidos.”
“Não tem.” Dou de ombros. “Só saímos às vezes.” Ao que parece, essa é a minha resposta oficial agora.
“E a sua outra paixão?” Nell acena sugestivamente em direção ao corredor oposto Acompanho seu olhar e vejo que Justin acaba de chegar.
Instala-se em sua cadeira, puxa um MacBook para fora da capa e, como se sentisse meu olhar sobre ele, ergue a cabeça e sorri.
Sorrio de volta. Logo em seguida, Tolbert entra na sala, e desvio o olhar para me concentrar no tablado.
Christopher está atrasado, o que não é normal. Sei que saiu com os amigos na noite passada e não tinha treino de manhã, mas não é possível que tenha dormido até às quatro. Pego meu telefone discretamente para escrever para ele, mas a mensagem dele chega primeiro.
Ele: No meio de uma emergência. Vou chegar para a segunda parte da aula.
Tome notas pra mim até lá?
Eu: Td bem??
Ele: Td. Arrumando a bagunça do Logan. Longa história. Mais tarde te
conto.
Faço um monte de anotações durante a aula, mais por Christopher do que por mim, pois já tinha lido a matéria e decorado a última teoria. À medida que Tolbert se estende em seu tom monótono, minha mente viaja. Penso no jantar iminente com Justin, e a sensação de desconforto volta, trazendo também certa náusea.
Por que estou tão nervosa com isso? É só um jantar. E vai ser só isso. Outras meninas podem topar ir para a cama logo no primeiro encontro, mas eu certamente não sou uma delas.
Mas Justin é um jogador de futebol americano. As meninas com quem sai provavelmente tiram a roupa antes de o cardápio chegar. Será que ele espera isso de mim?
Será que ele…
Não, digo a mim mesma, com firmeza. Eu me recuso a acreditar que Justin seja do tipo que obrigaria alguém a dormir com ele.
Aos quarenta e cinco minutos de aula, Tolbert faz uma pausa, e todos os fumantes disparam até a porta como se estivessem presos numa mina há duas semanas. Também saio do auditório, não para fumar, mas para procurar por Christopher, que ainda não apareceu.
Justin vem atrás de mim até o corredor. “Vou pegar um café. Quer?”
“Não, obrigada.”
Seus lábios se curvam quando nossos olhos se encontram.
“Nosso jantar ainda tá de pé?”
“Opa!”
Ele acena, satisfeito. “Ótimo.”
Não posso deixar de admirar sua bun/da enquanto se afasta. A calça cargo não chega a ser apertada, mas envolve o quadril muito bem. Seu corpo é realmente incrível. Só queria saber mais da personalidade dele. Ainda acho difícil decifrá-lo, e isso me incomoda.
É por isso que você vai jantar com o cara — para conhecê-lo. Certo. Faço um esforço para me lembrar disso enquanto volto minha atenção para a porta do prédio, no exato instante em que Christopher passa por ela. Está com as bochechas coradas pelo frio e o casaco de hóquei fechado até o pescoço.
Os Timberlands pretos batem com força no chão polido à medida que se aproxima de mim. “Oi, o que eu perdi?”, pergunta.
“Não muito. Tolbert está falando de Rousseau.”
Christopher dá uma olhada para o auditório. “Ela tá lá dentro?”
Faço que sim com a cabeça.
“Ótimo. Vou ver se pode entregar minha prova agora, em vez de no fim da aula. Ainda estou lidando com a emergência, então não vou poder ficar.”
“Você vai me dizer o que aconteceu ou posso começar a tentar adivinhar?”
Ele sorri. “Logan perdeu a identidade falsa. E ele precisa disso, caso alguém peça no bar, hoje à noite, por isso tenho que dirigir até Boston para falar com um cara que arruma uma na hora.” Ele faz uma pausa. “Você tem identidade, né? O segurança do Malone’s me conhece e conhece os caras também, então não deve ter problema, mas talvez você precise.”
“Sim, tenho identidade. E, a propósito, por que Dean tem que comemorar o aniversário numa segunda-feira? Até que horas vocês planejam ficar na rua?”
“Não muito tarde, acho. Pode deixar que levo você pra casa a hora que quiser. E é na segunda porque Maxwell roubou a cena organizando a festa dele no sábado. Ah, e também porque não temos treino no gelo às terças. Ficamos só na sala de musculação, e de ressaca é muito mais fácil levantar peso do que patinar.”
Reviro os olhos. “Não seria muito mais fácil simplesmente não ficar de ressaca?”
Ele solta uma risada. “Diga isso pro aniversariante. Mas não se preocupe, sou o motorista da noite. Vou ficar totalmente sóbrio. Ah, e queria conversar sobre mais uma coisa com você… só um segundo, deixa eu falar com Tolbert primeiro. Já volto.”
Um momento depois de Christopher entrar no auditório, Justin
reaparece segurando um copo de isopor. “Vai voltar lá para dentro?”, pergunta, a caminho da porta.
“Já vou. Tô esperando uma pessoa.”
Dois minutos depois, Christopher volta para o corredor, e, pela sua expressão, sei que está prestes a me dar uma notícia boa.
“Você passou?”, exclamo.
Ele levanta a prova sobre a cabeça como se estivesse reproduzindo uma cena do Rei Leão. “Nota nove, ca/cete!”
Deixo escapar um gritinho. “Caramba! Jura?”
“Aham.”