CHRISTOPHER
O Malone’s, que já não é um bar muito grande, está absolutamente tomado de jogadores de hóquei. O lugar é tão pequeno que é impossível encontrar lugar para sentar.
Nesta noite, mal dá para respirar, que dirá ficar em pé confortavelmente.
O time inteiro veio para a festa de Dean, e, por acaso, segunda-feira é dia de karaokê, portanto o ambiente apertado está barulhento à beça e empanturrado de corpos. O lado bom é que nenhum de nós precisou mostrar as identidades falsas na porta.
De repente, percebo que, em poucos meses, ela não vai mais ter utilidade. Quando completar vinte e um anos, em janeiro, vou ganhar mais do que só status de adulto perante a lei — finalmente, vou ter acesso à herança que meus avós me deixaram, o que significa que vou estar a um passo de me libertar do meu velho.
Dulce chega uns vinte minutos depois de mim e dos caras.
Não a busquei porque o ensaio atrasou, e ela insistiu que não tinha problema em pegar um táxi. Também insistiu em passar no alojamento primeiro para tomar um banho e trocar de roupa, e, ao pousar os olhos nela, apoio a decisão do fundo do coração. Está absolutamente linda de legging, botas de salto alto e camiseta canelada. Tudo preto, claro, mas à medida que se aproxima, fico procurando o item colorido, sua marca registrada — e o vejo assim que vira a cabeça para cumprimentar Dean. Um enorme prendedor de cabelos amarelo com pequenas estrelas azuis sobre os fios escuros. Uma parte do cabelo ainda está solta e emoldura seu rosto corado.
“Oi”, diz. “Tá sufocante aqui dentro. Ainda bem que não trouxe casaco.”
“Oi.” Eu me inclino e beijo sua bochecha. Teria preferido que fossem os lábios deliciosos, mas, embora considere isso um encontro, tenho certeza de que Dulce não pensa da mesma forma.
“Como foi o ensaio?”
“O de sempre.” Ela me oferece um olhar triste. “A mesma merda de sempre.”
“O que Cass, o Babaca, fez dessa vez?”
“Nada demais. Só continua agindo como o idiota que é.”
Dulce suspira. “Ganhei a discussão sobre onde colocar a ponte no arranjo, mas ele venceu na questão do segundo refrão. Sabe, a hora em que o coral entra.”
Solto um gemido alto. “Ah, pelo amor de Deus, Saviny. Você cedeu nisso?”
“Foi dois contra um”, responde ela, sombriamente. “M.J. decidiu que sua canção precisava de um coral para alcançar o efeito máximo. Vamos começar a ensaiar com eles na quarta-feira.”
Ela está obviamente muito chateada, então aperto seu braço e digo: “Quer uma bebida?”.
Vejo seu pescoço se mover à medida que engole em seco.
Demora um pouco a responder. Só me olha nos olhos, como se estivesse tentando penetrar meu cérebro. Acabo prendendo o fôlego, porque sei que algo importante está para acontecer. Ou ela vai colocar sua confiança em minhas mãos, ou vai trancá-la a sete chaves, o que seria o equivalente a um soco de sacudir o esqueleto, porque, caramba, como quero que Dulce confie em mim.
Quando finalmente responde, sua voz é tão baixa que não posso ouvi-la por causa da música.
“O quê?”
Ela expira e levanta a voz. “Eu disse ‘com certeza’.”
Com essas duas palavrinhas, meu coração infla feito um maldito balão de hélio. A confiança de Dulce chega às mãos de Christopher.
Luto para manter a felicidade para mim mesmo, contentando-me com um aceno indiferente de cabeça enquanto a levo na direção do bar. “O que vai querer? Cerveja? Uísque?”
“Não, quero algo gostoso.”
“Juro por Deus, Saviny, se você pedir Schnapps de pêssego ou uma bebida de mulherzinha, não sou mais seu amigo.”
“Mas sou uma mulherzinha”, reclama. “Por que não posso tomar uma bebida de mulherzinha? Hmm, uma piña colada, talvez?”
Solto um suspiro. “Tudo bem. Melhor do que Schnapps, pelo menos.”
No bar, peço a bebida de Dulce e passo a examinar cada movimento do barman. Dulce também está com olhos de águia em cima dele.
Com dois dos clientes mais vigilantes do planeta acompanhando a confecção da piña colada do início ao fim, não há a menor chance de haver alguma droga na taça que coloco na mão de Dulce poucos minutos depois.
Ela dá um pequeno gole, então sorri para mim. “Hmm. Delícia.”
A alegria em meu coração quase transborda. “Vamos lá, deixe- me apresentar alguns dos caras.”
Pego seu braço de novo e caminhamos em direção ao grupo barulhento na mesa de sinuca, onde a apresento a Birdie e a Simms.
Logan e Tucker nos veem e se aproximam, os dois cumprimentam Dulce com um abraço. O de Logan é um pouco longo demais, mas quando vejo seu olhar, a expressão é inocente. Talvez seja apenas paranoia minha.
Mas que inferno, já estou competindo com Kohl pela atenção de Dulce, e a última coisa que quero é o meu melhor amigo entrando na disputa.
Só que… estou mesmo competindo? Ainda não tenho certeza do que quero com ela. Digo, tudo bem, quero sexo. Quero muito, muito mesmo. Mas, se por algum milagre, ela decidir me oferecer isso, e aí? O que acontece depois? Finco uma bandeira no chão e aviso para o mundo que Dulce é a minha namorada?
Namoradas são uma distração, e não posso ter distrações agora, sobretudo porque há duas semanas corria riscos de perder meu lugar na equipe.
Não concordo com meu pai em muitas coisas, mas quando se trata de foco e ambição, pensamos da mesma forma. Vou virar profissional depois de me formar. Até lá, preciso me concentrar em tirar boas notas e conduzir meu time para mais uma vitória no Frozen Four. Falhar não é uma opção.
Mas ver Dulce ficando com outro cara?
Também não é uma opção.
Apresento-lhes a cruz e a espada.
“Ai, meu Deus, isso é tão bom”, diz Dulce, ao dar mais um gole profundo. “Quero outro.”
Rio. “Que tal você terminar esse primeiro, depois a gente decide sobre um refil?”
“Tá”, bufa ela. Então vira a bebida num dos goles mais rápidos que já testemunhei, lambe os beiços e sorri para mim. “E aí. Que tal um refil?”
Não posso lutar contra o sorriso que se estende por todo o meu rosto. Rapaz, tenho a impressão de que Dulce vai ser uma bêbada muito… interessante.
E estou absolutamente certo.
Três piñas coladas depois, Dulce está no palco cantando no karaokê.
Isso mesmo. Bêbada do tipo que sobe no karaokê.
O que salva é que ela é uma cantora fenomenal. Não posso imaginar quão deprimente seria se estivesse bêbada e tivesse uma voz de taquara rachada.