Fanfic: Minha vida depois de você - Vondy | Tema: Vondy

Capitulo 21

Só consegui dizer:

Dul: Haha, minha mãe é muito engraçadinha, ela tem uma imaginação bem fértil, sabe...

Como se não tivesse ligado muito para aquilo ou talvez pra não me deixar envergonhada, ele mudou depressa de assunto.

Ucker: Com quem você veio?

Respirei fundo, tomei um gole grande de refrigerante pra recuperar o folego e então respondi que tinha sido com a Anahí e a Vanessa, mas que tinha um tempinho que eu não as via.

Ucker: Vocês chegaram a muito tempo? – ele apoiou as mãos no murinho da sacada, pra pegar embalo e se sentar e apontou para o lado para que eu fizesse o mesmo.

Dul: Ah, chegamos logo no comecinho – respondi me sentando também – Por que você demorou tanto? – perguntei me arrependendo no mesmo instante. E se ele achasse que eu estava me intrometendo na vida dele?

Mas ele não pareceu se importar.

Ucker: Ah, eu tive que cuidar do meu cachorro... você também gosta de animais, não é? Pelo que você me contou na entrevista da Glória.

Eu sorri e disse que eu não apenar gostava. Eu amava qualquer tipo de animal.

Ele pareceu feliz com a minha resposta e falou:

Ucker: Eu também adoro – o que acabou me deixando feliz também – E o meu cachorro ontem me deu o maior susto. Tive que correr com ele para o veterinário, mas não era nada de mais, ele só machucou um pouquinho a pata em uma brincadeira um pouco, digamos, intensa. Ele é muito levado. Eu moro em uma cobertura, e lá tem uma piscina. A gente geralmente deixa sem água, quando não está em uso. Só que meu cachorro inventou de correr atrás de um passarinho e caiu lá dentro! Agora ele vai ter que ficar uns dias usando um suporte, parecido inclusive com esse aí que você usa no pulso.

Olhei rapidamente pro meu braço, eu já estava com aquela tala há tanto tempo que nem lembrava mais da existência dela. Meu pulso já não doía nada e, graças a Deus, eu me veria livre daquilo já na semana seguinte.

Dul: Como é o nome dele? – eu perguntei, curiosa.

Ucker: Bombril – ele respondeu rindo – Mas lá em casa a gente o apelidou carinhosamente de bombom! Você disse que também tem cachorros... e um gato, um hamster, um furão e um papagaio, não é isso?

Fiquei surpresa por ele ter se lembrado de tudo e então eu contei que a Duna era uma Golden retriever, e o Biscoito um Cocker spaniel

Dul: Ah, e a minha gata, a Snow, é uma maine coon! E o Bombril, de que raça é?

Ele coçou a testa, tirou a franja do olho e falou:

Ucker: O Bombril é um vira-lata. Eu não comprei, eu o adotei... mas pra mim ele vale mais do que qualquer cachorro com pedigree.

Eu achei tão fofo ele falar com tanto carinho do cachorro! Mas antes que eu pudesse comentar, ele continuou:

Ucker: Eu estava chegando em casa, em um dia de chuva, e então eu vi na rua aquele cachorrinho todo molhado, machucado, o pelo dele parecia um bombril de tão embolado. Daí veio o nome. Ele estava todo assustado, mas eu o peguei, dei um banho e o levei no veterinário, que o examinou e falou que ele tinha sido muito maltratado... Ele devia ter apenas três meses, mas parecia que algumas pessoas o haviam chutado e até feito outras maldades com ele.

Eu não sabia o que dizer. Eu estava chocada tanto pela história quanto pelo ato dele, de ter salvado o cachorrinho.

Dul: Que outras maldades? – eu perguntei devagar, sem ter certeza se realmente queria saber.

Ele me olhou um tempinho e , adivinhando meus pensamentos, falou

Ucker: Ah, você não vai querer saber.

Eu fiquei meio admirada, e ele logo disse:

Ucker: Inclusive, lembra que eu escrevi no primeiro dia de aula que tinha um assunto pra conversar com você?

Claro que eu lembrava! Mas eu havia me convencido de que era sobre a série que ele queria me emprestar...

Fiz que sim com a cabeça, e ele continuou:

Ucker: Dulce, eu queria te fazer um convite desde que você falou lá na sala que era apaixonada por animais... Mas eu pensei que você gostasse de qualquer animal, não apenas os bonitinhos... só que agora que você contou que seus bichos são todos chiques, sangue puro... talvez não valha a pena.

Dul: Como assim? O que tem de mais os meus cachorros e gata serem de raça? – falei meio indignada – Eu gosto de qualquer animal, vou inclusive ser veterinária.

Ucker: Calma – ele levantou as mãos rindo – Eu sei que você gosta. Mas é que eu acho que você nunca viu animais como os do lugar aonde eu queria te levar... Na verdade, nem eu tinha visto. Foi o Bombril que me fez ter essa percepção, que me fez pensar que, como ele, devia existir muitos outros cachorrinhos abandonados por ai, precisando de cuidados e amor.

Ele me olhou pra ver se eu estava mais calma e então falou:

Ucker: Depois que o Bombom melhorou eu o levei pra casa, ele parecia até outro cachorro. Eu nem sabia que o pelo dele era branquinho, o pelo dele parecia cinza quando eu o resgatei! E ele cresceu tanto e agora é tão feliz! Quem não ficou muito feliz foi a minha mãe, pois, quando ela permitiu que ele ficasse lá em casa, pensou que ele continuaria pequeno pra sempre... Mas agora ele deve ser da altura da sua Golden e tão peludo quanto.

Eu fiquei morrendo de vontade de conhecer o cachorro dele.

Ucker: E então , eu senti uma sensação tão boa por ter tirado o Bombom da rua, e ele, até hoje, um ano e maio depois, parece que continua me olhando com gratidão no olhar, que eu resolvi que queria fazer algo por outros animais também.

Ele falava com tanta empolgação que nem parecia o mesmo menino tímido do colégio. Eu não conseguia tirar os olhos dele.

Ucker: Aí a minha avó, que também adora cachorros, me contou que tinha uma ONG perto da casa dela, lá na Pampulha, que recolhia os animais abandonados na rua e os levava para um local onde eles eram tratados, vacinados e colocados pra adoção. Ela me levou até lá pra conhecer, e eu confesso que nunca vi nada tão comovente. Eram tantos, e todos eles tão carentes.

No minuto em que eu coloquei os meus pés lá, vi que eu tinha que fazer alguma coisa pra ajudar. E, desde então, me tornei voluntario. Todos os sábados, na parte da manhã, eu vou lá pra dar banho, tratar, passear, lavar os canis e, especialmente dar muito carinho para os cachorros e gatos. O meu pai geralmente me leva. E nas férias, quando não viajo, eu vou quase todos os dias. Agora mesmo, em janeiro, eu praticamente fiquei o tempo inteiro lá.

De repente eu comecei a me sentir meio mal. Enquanto eu havia passado as minhas férias inteiras no clube e no shopping sem fazer nada de útil, esse menino tinha ficado trabalhando por vontade própria, ajudando os animais???

Dul: E você ia me chamar pra ir lá com você? – perguntei.

Ele me olhou parecendo meio indeciso.

Ucker: Dulce... Como eu disse, lá não é um pet shop... Os animais são maltratados. Não são bonitinhos como os seus devem ser, como o Bombom agora é.

Dul: Eu já entendi – falei meio sem paciência – Mas não é isso que você faz? Você não trata deles até que eles fiquem bonitos, para serem adotados?

Ele me olhou como se tivesse muito mais coisa que eu não soubesse, e então falou:

Ucker: Se você quer mesmo... Olha, eu vou lá amanhã. Normalmente vou aos sábados, mas hoje, porque eu fiquei cuidando do Bombom e também porque vinha pra cá, eu deixei pra ir no domingo. Se quiser, posso pedir pro meu pai te buscar. Onde você mora?

Eu explique, e ele falou que não teria problema, pois nós morávamos no mesmo bairro. Eu perguntei então por que no colégio ele não pegava o mesmo ônibus que eu e o Poncho, e ele respondeu que geralmente a mãe dele o buscava.

Então nós começamos a conversar sobre outros assuntos. Quando um tempo depois a minha mãe chegou pra me buscar, pedi que o Ucker fosse comigo até o carro, para explicar a ela sobre a tal ONG, onde era, o que ele fazia lá e também pra que ele perguntasse se eu poderia ir junto. Ele foi (percebi que completamente sem graça) e, por incrível que pareça, minha mãe concordou de cara e ainda o agradeceu por me passar um pouquinho de consciência social. Eu fiquei morrendo de vergonha, do jeito que ela falou ficou parecendo que eu era uma alienada.

A Vanessa e a Anahí, muito resistentes, entraram no carro. Por elas, teríamos ficado no churrasco até de madrugada. Só então me despedi do Ucker.

Dul: Até amanhã então... – eu falei, duplamente feliz, porque sabia que iria gostar de ajudar os animais e também, tive que admitir =, porque eu o veria novamente no dia seguinte.

Ucker: Até amanhã... – ele respondeu.

Eu me sentei, abri a janela e fiquei olhando pra ele, até minha mãe dar a partida no carro. Nessa hora, notei que a lua havia nascido e estava crescente. Só então eu me lembrei do que o Poncho tinha dito da poesia da lua, que havia sido feita por um amigo.

Senti uma batida mais forte no coração ao recordar que ele também havia insinuado quem... e também ao perceber que eu desejava muito que o tal amigo tivesse escrito aquilo para mim...