Fanfic: A Segunda Mulher - Adaptada - Finalizada | Tema: Vondy

Ele ficara naquele mesmo lugar na noite seguinte à fuga de Bel, tomado de esperança e desespero. Esperança de que talvez ela ainda não tivesse abandonado a cidade, permanecendo na casa da amiga. Poderiam conversar, e ele a persuadiria a voltar para casa. Ficara plantado ali até o amanhecer

Vira Harold Muensheimer entrar na casa, tomar uma bebida com Eliza e desaparecer com ela num dos quartos. Depois assistira à partida do joalheiro, duas horas mais tarde. Mas não vislumbrara o menor sinal de Bel. Fora durante aquela longa noite de sofrimento que ele concebera a ideia de dizer a todos que a esposa morrera. Depois de espalhar a mentira, não poderia procurar Eliza e perguntar-lhe se conhecia o paradeiro de Bel. A mulher nunca dissera uma palavra para desmenti-lo. Mas, a cada vez que se encontravam, ela o fitava de modo estranho, e Christopher percebera que ela sabia que Bel estava viva.

Talvez até soubesse onde estava. Saindo das reflexões, tornou a olhar para a casa e viu Bel entrar na sala. Ainda vestia o traje justo, cor de vinho, que usara para ir ao rancho. Continuava bela como sempre fora, ele não pôde deixar de notar.

 Lembrou-se da primeira vez em que a vira. Bastara um olhar para o rosto lindo e todo o resto desaparecera. A beleza de Bel fora como uma luz que o cegara e o enfeitiçara irremediavelmente.

Christopher riu, amargo e irônico.

 Recordou as últimas semanas da gravidez, quando não se cansava de dizer à mulher que estava mais linda que nunca, esperando o filho deles. Ela não se convencia, olhando-se no espelho com ar de profundo desgosto. O filho deles... Christopher sentiu uma pontada no peito ao lembrar-se de como ficara feliz quando ela lhe dissera que estava grávida. E quando o menino nascera, não pudera conter lágrimas de emoção, achando que a vida não podia ser mais perfeita.

 Depois Bel se fora, e ele pensara que fosse enlouquecer. Chegara a desejar a loucura, que o levaria para longe da realidade insuportável. Praguejava contra si mesmo e maldizia os traidores, enquanto pensamentos desesperados não paravam de encher-lhe a mente com imagens perversamente sedutoras.

 Via-se indo atrás deles, encontrando-os, matando-os a tiros na cama. Considerara a possibilidade de ir embora do rancho, partindo para um lugar onde ninguém o conhecesse, onde um bastardo não estaria chorando a noite inteira, lembrando-o da traição da mãe. Onde não precisasse fingir tristeza pela perda da esposa amada, quando o ódio o consumia como chamas do inferno.

 Apertou as mãos enluvadas ao redor dos braços cruzados, como teria apertado o pescoço de Bel se ela surgisse diante dele naqueles dias de tormento. Mas tudo passara. Readquirira o gosto pela vida, o ódio e a dor desapareceram. Ficara uma certa amargura, que talvez nunca mais o abandonasse.

Então, de repente, ela retornava. O que desejaria? O menino? Pediria que a perdoasse? Estaria pensando que ele a aceitaria de braços abertos? Só havia um meio de descobrir.

Ele atravessou a rua, ouvindo o estalar da neve sob as botas, um ruído que ecoava no silêncio. Mais alguns passos, uma batida na porta e ele estaria com ela, face a face, pela primeira vez, desde que tudo acontecera. Perguntou-se o que sentiria