Fanfic: A Segunda Mulher - Adaptada - Finalizada | Tema: Vondy

— Ele nem prestava atenção em mim ou em Mary. Ordenou que mamãe nos vestisse com luxo, para não denegrir sua imagem de homem rico, mas fora disso, nem nos via. Nem mesmo comíamos à mesa, com eles. Creio que sua indiferença nos salvou. Era apenas em mamãe que ele queria bater. Num minuto estava carinhoso e gentil. No outro, ficava furioso por qualquer bobagem e a espancava.

 — O que sua mãe dizia a você?

— Que não o compreendia. Pedia-me que não interferisse, instruindo-me para trancar-me com Mary no quarto quando ele começasse uma daquelas brigas sem sentido.

 Dulce sentiu os olhos úmidos ao pensar nas muitas vezes em que fora em socorro da mãe e Blanca gritara desesperada para que se pusesse a salvo, com a irmãzinha.

 — Coitadinha da Mary... — murmurou. — Eu a segurava no colo e tapava-lhe os ouvidos.

— Continue — Christopher pediu, quando ela silenciou.

— Além de ter um gênio violento, meu padrasto bebia em excesso e mantinha mulheres de má fama. Casou-se com mamãe para poder exibir uma esposa bemeducada e culta, mas ao mesmo tempo ressentia-se de sua superioridade, vendo nos modos dela um insulto. Quando a espancava, alegava querer quebrar-lhe o orgulho e ensiná-la a respeitá-lo. Então... três semanas atrás...

Dulce olhou para as mãos pousadas no colo, achando que não seria capaz de continuar. Depois de alguns segundos, olhou para o céu que clareava rapidamente.

— Três semanas atrás ele voltou para casa muito tarde — prosseguiu com esforço. — Completamente embriagado e tomado de fúria. Bateu a porta da frente com tanta força que quebrou o vidro. O barulho me acordou. Eu sabia o que ia acontecer; assim, vesti um roupão e ia passar para o quarto de Mary quando ele começou a bater em minha mãe.

Dulce fechou os olhos, angustiada. Jamais esqueceria aquela noite terrível.

— Estava saindo para o corredor, quando ouvi o corrimão da escada se partir. Ele tinha jogado minha mãe contra a grade de madeira. Ela tentava recuperar o equilíbrio e o maldito estendeu a mão. Pensei que fosse socorrê-la, mas ele a empurrou. Estávamos no terceiro andar e a escada descia ao redor de um vão profundo que terminava no vestíbulo, lá embaixo...

Dulce escondeu o rosto nas mãos, possuída de angústia, raiva e incredulidade.

 — Saiu de casa sem nem ao menos olhar para ela — murmurou com voz embargada. — Minha mãe estava morta quando cheguei ao vestíbulo. Chamei um vizinho e quando as autoridades chegaram contei-lhes tudo. David foi preso e acredito que seria enforcado — riu com amargura. — Seria, se não fosse rico, mas o dinheiro compra tudo, inclusive juizes. David pagou para que a morte de minha mãe fosse considerada acidental. Sei disso porque ele próprio vangloriou-se do fato, quando saiu da cadeia, dois dias atrás