Fanfic: A Segunda Mulher - Adaptada - Finalizada | Tema: Vondy

Mal acomodada na poltrona, Dulce mais cochilou que dormiu.O trem que os levaria para Topeka, na primeira etapa da viagem, partia de Joliet às dez e vinte da manhã. Ela teria pouco tempo para procurar o amigo de tia Ilda e vender as jóias da mãe, e preocupava-se em descobrir como faria para sair do hotel sem que Christopher percebesse. Por fim decidiu que sairia antes do amanhecer, enquanto o marido ainda estivesse dormindo. Com alguma sorte voltaria antes que ele despertasse.

Vestindo mais uma vez as roupas de viuvez da tia, nas quais não chamaria muita atenção, deixou o quarto do hotel, calçando os sapatos no corredor. Só então colocou o chapéu na cabeça, escondendo o cabelo e baixando o véu.

Derick lhe dera dez dólares, para o caso de ela precisar de algum dinheiro. Amarrara a nota e as jóias na anágua, formando uma bolsinha. Pronta, desceu o lance de escadas para o vestíbulo, onde perguntou como poderia encontrar uma carruagem de aluguel.

Mandou o cocheiro voltar, em vez de pedir-lhe que a esperasse. A luz da alvorada cintilava na enorme janela fronteira da casa de teto pontudo de Harol Diddleblock, mas não havia nenhum sinal de movimento no interior da moradia. Dulce respirou fundo, preparando-se para a recepção que teria, depois de acordar a todos tão cedo.

 Já começava a se desesperar de tanta chamar, quando um homem de olhos miúdos como contas azuis abriu aporta, fitando-a, carrancudo. O cabelo branco arrepiava-se no alto da cabeça e o roupão mal atado revelava um pijama listrado de verde e branco.

— Sr. Diddleblock? — ela perguntou — Sou Dulce Maria Savinon. Tia Ilda telegrafou, falando de mim.

O homem resmungou algo ininteligível, depois de pigarrear para limpar a garganta, mas desviou-se para um lado para deixá-la passar. Sem nada dizer, levou-a para uma sala de visita excessivamente adornada, deixando-se cair numa das poltronas que ladeavam uma mesinha baixa.

 — Sabe que horas são, jovem? — perguntou por fim. — Ilda não me avisou de que apareceria aqui de madrugada.

 — Lamento perturbá-lo, mas vou tomar um trem esta manhã e...

Ele dispensou explicações com um gesto da mão, erguendo os olhos míopes para ela, à espera. Dulce sabia que ele esperava que erguesse o véu do rosto, mas não tinha a intenção de chocá-lo com a visão das marcas arro-xeadas

— Tia Ilda explicou que eu tenho algumas jóias para vender? — indagou.

— Quero ver o que tem, mas não desejo entrar em detalhes de como conseguiu as jóias — o homem declarou, seco.

 Dulce olhou em volta.

 — Onde posso ficar sozinha para tirá-las de minhas roupas?

A ruga na testa do homem aprofundou-se, mas ele fez um sinal com o polegar, indicando uma porta em arco, através da qual via-se uma sala de jantar. Ela foi para lá e, encostando-se na parede que a ocultava dos olhos de Diddleblock, levantou a saia do vestido. Os dedos estavam duros de tensão e ela teve alguma dificuldade em desatar o nó que fizera na barra da anágua para formar um saquinho. Por fim, retirou o lenço que envolvia as jóias e voltou para a sala de visitas.

 Como o joalheiro não lhe oferecera uma cadeira, ela permaneceu de pé, observando-o estudar as peças.