Fanfic: A Segunda Mulher - Adaptada - Finalizada | Tema: Vondy

— Aonde foi, vestida em suas roupas domingueiras? — ele continuou com sarcasmo contundente.

 A luz da manhã filtrava-se pela cortina fina da janela. Christopher encontrava-se sentado no meio da cama, com as costas apoiadas na cabeceira. Um dos joelhos dobrados erguia o lençol como uma tenda, mas o torso nu estava à mostra. O cabelo despenteado caia-lhe na testa, e o rosto mostrava a sombra escura da barba. Ele a fitava com frieza zombeteira.

— Devo acreditar que se vestiu de luto, colocou o chapéu e escondeu o rosto, mas não saiu do hotel? — continuou, implacável, ao não obter a resposta.

Dulce tirou o chapéu e encarou-o, indiferente.

 — Por que não pergunta simplesmente aonde fui?

Ele deu de ombros.        

— Que seja. Onde esteve de madrugada, numa cidade estranha?

— Fui dar uma caminhada — ela explicou, admirada com a naturalidade com que mentia. — Não consegui dormir direito e decidi andar um pouco para exercitar os músculos, antes de ficar confinada num vagão de trem durante horas. Também enviei uma carta a minha família, avisando que nos casamos.

 — Por que não usou suas próprias roupas?

— Achei que ficaria mais protegida disfarçada de viúva, andando por ruas desertas. Não queria despertar a atenção de algum guarda-noturno.

— É mesmo?

— Melhor prevenir do que remediar — ela recitou. Depois, como se já tivesse dado explicações suficientes, guardou o chapéu numa das malas e caminhou para a porta. — Esperarei no corredor enquanto se veste e espero que me faça a mesma gentileza, depois.

 Ela saiu às pressas, antes que ele começasse a discutir sua decisão ou jogasse o lençol para o lado. Mas, parada no corredor, não conseguia tirá-lo da mente, continuando a vê-lo, seminu e atraente. Christopher causava-lhe o mais estranho dos efeitos, fazendo sua pulsação disparar.

Assustou-se quando ele abriu a porta, pouco depois. Notou que ele vestira calça marrom, camisa branca e colete de couro. Mantinha as mangas arregaçadas até os cotovelos e barbeara-se. Penteara o cabelo e cheirava a sabão. Saiu para o corredor, deixando o quarto livre para ela.

— Vamos parar com essa brincadeira, Dulce — avisou. — Acostume-se à idéia de que agora somos marido e mulher. Deve habituar-se a me ver nu, assim como eu a verei.

Dulce não respondeu, passando na frente dele e trancando-se no quarto.

— Vou buscar algo para comermos e voltarei já — ele comunicou através da porta fechada. — Vista-se depressa, porque não vou ficar esperando no corredor.

 — Arrogante, insuportável, rude — ela resmungou.

Rapidamente, tirou o lenço da barra da anágua. Com gestos bruscos, pegou o estojo de veludo púrpura e guardou o dinheiro e o restante das jóias. Envolveu a caixa num vestido e colocou-a no fundo da maleta.

 — Acostume-se à idéia de que agora somos marido e mulher — repetiu para si mesma.

Aquele homem não teria o mínimo de educação? Afinal eram estranhos. O que ele pensava que ela era? Algum tipo de leviana? Vestida com o traje de viagem, escovou o cabelo e enrolou-o num coque frouxo, apesar da dor que os movimentos lhe causavam nas costelas.