Fanfic: A Segunda Mulher - Adaptada - Finalizada | Tema: Vondy

Uma longa mecha do cabelo avermelhado escapou do coque e flutuou para baixo, pousando em seu peito. Lembrou-se do contato daquele cabelo em seus dedos e não resistiu ao impulso de segurar a mecha, deixando-a se enrolar em seu dedo. Fios sedosos e crespos, como nunca vira. Uma onda sutil de perfume subiu-lhe às narinas e, curioso, ele ergueu a mecha, cheirando-a. O perfume lembrava-o de alguma coisa que ele não conseguia definir. De repente lembrou-se. A primeira menina com quem dançara na vida tinha aquele cheiro gostoso e limpo, que o fizera esquecer os passos recém-aprendidos. Quando lhe perguntara que perfume era, a garota respondera que usava colônia de flores silvestres.

 A recordação o fez sorrir.

 Dulce mexeu-se e a cabeça escorregou do ombro para o peito de Christopher. A mão delicada pousara em sua cintura e o calor suave atravessava o tecido da camisa, aquecendo-lhe a pele. Ele sentiu que o coração se acelerava e num gesto impulsivo colocou a mão sobre a dela, firmando-a contra seu corpo.

Fazia tempo que não apertava uma mulher nos braços, que tocara e fora tocado. Esquecera como o cabelo feminino podia ser perfumado e como as mãos pequenas e macias sabiam provocar arrepios em sua pele e fazer seu sangue correr mais rápido. Acariciou os nós dos dedos rosados e desenhou o contorno da mão fina. Num ato insconsciente, ela virou a palma para cima, entrelaçando os dedos nos dele.

De súbito ele soltou a própria mão, deixando-a pousar na coxa. Prendeu a respiração até o desejo acalmar. Não sentiria nada parecido por uma governanta contratada para cuidar de sua casa e de seu filho. E Dulce, apesar de usar seu nome, não devia passar de uma empregada. Mas não havia como negar que o que sentira naqueles instantes era intenso. E perigoso.

Perigoso? Por quê? Os impulsos da carne eram simplesmente naturais e nada tinham a ver com sentimentos. Afinal, ele era homem, Dulce era mulher e estavam casados. Tinha o direito de sentir desejo por ela. Mas a ternura diante de seu desamparo no sono não fazia parte do plano. Sem muita gentileza, Christopher passou um braço pelos ombros dela e o outro por baixo dos joelhos, erguendo-a e deitando-a no banco da frente, virado para eles. Em seguida, voltou para seu lugar.

Continuou a fitá-la, sem poder tirar os olhos do rosto adormecido. O padrasto a chamara de feia e o pensamento encheu-o de raiva. Mesmo machucada e com o rosto quase deformado pelo inchaço, ela não era feia. Ficaria até bonita, quando as marcas humilhantes desaparecessem por completo.

Fechou os olhos para não vê-la, para não sentir a revolta que o dominava ao pensar que ela fora vítima daquela atrocidade. Também não queria a ternura que lhe envolvia o coração quando a visualizava tapando os ouvidos da irmãzinha para que a menina não ouvisse o choro da mãe e os impropérios do padrasto monstruoso.

Não queria o desejo que sentira ao beijá-la, depois da cerimônia de casamento, e ia lutar contra o impulso que o incitava a tocá-la, a acariciar o cabelo que tinha aparência de lã e maciez de seda.