Fanfic: A Segunda Mulher - Adaptada - Finalizada | Tema: Vondy

Dulce obrigou-se a pensar. Não poderia saltar por cima do réptil, agarrar Dean e correr com ele antes que o bote fosse desferido, atingindo um dos dois.

— Dean, vá para trás — ela gritou para o menino, que parecia indeciso entre a tentação dos biscoitos e a criatura que saía do chão, fascinando-o.

Em desespero, Dulce recuou e pegou o rolo de abrir massas, pendurado perto da porta da despensa. Enchendo-se de coragem, ergueu-o acima do ombro e aproximouse da serpente. Vencendo o medo e a repulsa, bateu com o rolo na cabeça do réptil, empregando toda a força que possuía nos braços. Naquele exato instante, percebeu que Dean era arrebatado do chão. O som de chocalho extinguiu-se. Ofegante e trêmula, finalmente ergueu os olhos.

 Christopher segurava o bebê contra o peito, em atitude protetora. Por um instante ela olhou a cena, tão chocada quanto ficara ao ver a cobra. Até aquele momento nunca vira Christopher tocar no menino, muito menos pegá-lo no colo. Mal olhava para a criança, na verdade. Agia como se o filho não significasse nada para ele. No entanto, lá estava ele, apertando a cabecinha castanha de encontro ao ombro, como qualquer pai amoroso faria.

 O som arrepiante do guiso da serpente chegou novamente aos seus ouvidos. Christopher colocou a criança no chão e, antes que a cobra estonteada tivesse tempo de se orientar e atacar, agarrou-a pelo pescoço e puxou-a para fora da fresta, segurando-a pela cauda com a mão livre.

— Você está bem? — perguntou a Dulce. Ela estremeceu, tomada de arrepios.

— Estou. Tire essa coisa repulsiva daqui, por favor.

Christopher olhou para o filho, que estava chorando, aos gritos.

— E o menino?

— Ele está bem — Dulce afirmou, com um sorriso trêmulo. — Pensou que fosse um gatinho.

Christopher riu, parecendo aliviado.

— Um gatinho perigoso demais — comentou.

Dulce fez um trejeito de nojo ao vê-lo encarar a cobra, fitando-a nos olhos perversos. Parecia curioso e divertido.

 — Tire isso daqui, por favor — tornou a pedir.

 Ele lançou-lhe um sorriso travesso e estendeu a serpente em sua direção.

 — Não quer pedir desculpas por ter batido nela? — Você é louco? Não agüento mais olhar para essa coisa nojenta.

 — Vou mandar empalhar, como lembrança — ele continuou, arreliando-a. — Um troféu e tanto. Poucas mulheres bateriam numa cascavel com um rolo de macarrão. — Riu ao vê-la recuar para a despensa, gesticulando para que se afastasse dela. — Não quer? Ficaria uma beleza, na sala. Bem, os porcos terão um banquete, hoje.

— Não! Peter e Paul foram ver os leitõezinhos.

— Não? Mas eles vão adorar o espetáculo! Porcos são inimigos naturais das serpentes. E os meninos vão gostar de ver a festa.

— Isso é bárbaro! — ela acusou.

Ele riu, divertindo-se com sua repulsa.

— Não. Apenas é assim que as coisas funcionam por aqui. Tudo ao natural. Os porcos comem serpentes, que comem pintinhos, que comem minhocas.

 — Mas jogar uma delas para ser devorada...

— Que diferença isso faz? — ele perguntou, saindo da cozinha, para imenso alívio de Dulce.

Ela correu para Dean e apanhou-o nos braços, contente em perceber que ele não a rejeitava. Quando o menino parou de chorar, foi com ele para a despensa. Depois de lhe dar alguns biscoitos, começou a varrer as migalhas dos outros, que largara no chão ao ver a cobra.

Mentalmente revia a cena formada por Christopher e Dean. O pai abraçado ao filho, protegendo-o. Ele podia estar tentando enganar-se, mas nutria sentimentos profundos pela criança.