Fanfic: até as últimas consequências | Tema: Rebelde [MyM]

até as últimas consequências

capítulo 23 – ya no tengo corazón ni ojos para nadie

 Música do capítulo: Sólo Para Tí (Camila)

Miguel não teve mais tranquilidade depois que Helena foi embora. As palavras da mãe martelavam em sua cabeça.

E Mia? O que ela fez além de apaixonar-se por você?

Seria verdade? Era possível que, por estar de fora da situação, a mãe tivesse visto algo que ele mesmo não vira (ou não quisera ver)?

Miguel não era idiota. Sabia que Mia estava profundamente envolvida, de um jeito que nunca tinha acontecido antes com ela, conforme lhe diziam todos que conheciam Mia há mais tempo do que ele (e a própria Mia admitia). Mas esse envolvido já teria chegado a paixão?

E ele? O que ele sentia?

Se fosse em outras circunstâncias, se fosse outra pessoa, Miguel não hesitaria em dizer que Mia tinha todas as características que ele procurava numa mulher. Era linda, inteligente, engraçada, divertida, esperta e muito gostosa. Além disso, a cada dia ela o surpreendia. Quando ele achava que sabia como ela ia reagir a determinada coisa, ela fazia exatamente o contrário do que ele imaginava, mantendo-o sempre curioso sobre ela.

Ela era seu primeiro pensamento ao acordar e o último ao dormir. Adorava conversar com ela sobre qualquer assunto, impressionava-se com a criatividade dela ao compor (e ao criticar as roupas de Pilar e Jaqueline, duas meninas da série deles de quem ela não gostava) e encantava-se com a versatilidade da voz dela nos ensaios e apresentações da banda, quando ela cantava de Shakira a Iron Maiden sem se vexar.

E estava completamente viciado no gosto do beijo e no aroma da pele dela. Adorava explorar cada centímetro de pele daquele corpo frágil e esguio, mapear cada curva, descobrir novas áreas de sensibilidade para acariciar e provocar quando estavam sozinhos. Deliciava-se com o tom rouco de sua voz quando ela murmurava seu nome nos momentos mais quentes dos amassos. Ansiava pelo momento em que a faria sua, em que seria o primeiro homem da vida dela.

Mas... paixão?

Não, não estava apaixonado por Mia... ou estava?

Com a cabeça em turbilhão, Miguel tomou a direção do quarto depois que a mãe entrou no táxi rumo à rodoviária. Depois de se despedir de Helena, Mia tinha voltado ao quarto, pois, segundo ela, estava dando apoio moral a Raquel que tinha recebido um convite para trabalhar nos Estados Unidos e não sabia se aceitava ou não.

Quando chegou à suíte que dividia com Nico e Téo, Miguel ficou aliviado ao descobrir que estava só. Não queria conversar com ninguém, não queria dividir com ninguém suas dúvidas e seus questionamentos. Sentou-se na cama e, procurando desesperadamente distrair-se dos próprios pensamentos, pegou o violão, um caderno e uma caneta, e começou a batucar no mesmo, na esperança de conseguir escrever algo.

Com o sucesso da banda, em especial da música composta por Mia e musicada por Miguel, Nico havia sugerido que cada um deles escrevesse algo e a levasse a Miguel para acrescentar a melodia, trazendo-a depois de pronta para a banda a fim de verem se valia a pena acrescentar ao repertório. Mia contribuíra com uma música chamada Enseñame. Roberta também acrescentara uma canção mais agitada, Fuego (cuja primeira apresentação levara os homens à loucura e deixara Diego com um mau humor que durou semanas). Lupita apresentou uma balada chamada Cuando El Amor Se Acaba. Giovanni há dias burilava algo em homenagem a Raquel, mas não havia apresentado a eles ainda.

Só Miguel ainda não havia composto algo, mas ultimamente andava com uma melodia em mente que não o deixava em paz. Como sempre acontecia, sua mente acabou voltando a esses acordes, tocando-os distraidamente, com a cabeça em Mia.

Pensando na namorada, frases soltas começaram a surgir em sua mente. Ele as anotou e começou a tentar encaixá-las na melodia que estava construindo, sem deixar de anotar as cifras.

Eres todo lo que pedí

Lo que mi alma vacía quería sentir

Eres lo que tanto esperaba

Lo que en sueños buscaba y que en ti descubrí

Tú has llegado a encender cada parte de mi alma

Cada espacio de mi ser

Ya no tengo corazón ni ojos para nadie

Sólo para ti

Ao reler o que tinha escrito, Miguel ficou paralisado. Seria verdade? Não havia mais espaço para outra em seu coração que não Mia? Irritado consigo mesmo e com os próprios pensamentos traidores, ele empurrou o caderno longe e deixou a guitarra cair ao seu lado na cama, jogando-se no colchão com um barulho abafado.

A cada dia, aproximava-se o momento de iniciar a segunda fase de sua vingança contra Franco. Seu plano era envolver-se com Mia, seduzi-la e depois abandoná-la. Há quase um mês estavam namorando e sabia que em breve teriam a primeira relação sexual. Depois disso, terminaria com ela.

Ela estaria livre para ficar com quem quisesse.

Só de pensar nisso, Miguel teve vontade de dar um soco em alguém. Involuntariamente, fechou a mão em um punho, o sangue fervendo de ciúme desse outro alguém com quem Mia viria a ficar depois que ele concluísse sua vingança contra o pai dela.

A ideia de outro homem fazendo com Mia tudo que ele fazia (e que viria a fazer) o deixava louco de ódio. Não queria nem imaginar outro beijando-a, acariciando-a, tocando-a como ele. Ela era sua! Pertencia-lhe!

Levantou-se de um pulo, inquieto, perambulando pelo quarto como um bicho enjaulado.  Sentindo-se sufocar dentro do aposento, abriu a porta e saiu sem destino, precisando respirar, organizar os próprios pensamentos, entender os próprios sentimentos. Se não fizesse isso, ia enlouquecer.

Uma risada amarga saiu da boca do rapaz quando ele voltou a si e percebeu para onde seus pés traidores o tinham levado. Estava na ala feminina do colégio, mais especificamente, em frente ao quarto de Mia. Sabendo que apenas a namorada podia acalmar seus pensamentos turbulentos, bateu na porta.

. . . .

Dentro do quarto, Mia, Vicki, Celina, Lupita e Roberta estavam ocupadas dando consolo e apoio moral a Raquel, que estava na cama da namorada de Miguel, usando moletom, de cabelo preso, sem maquiagem e com os olhos muito vermelhos. Mia estava à direita dela, Celina à esquerda e Lupita à frente. Roberta estava de pé no meio do quarto, com um caderno de Mia numa mão e uma caneta da outra. Vicki também estava armada de caderno e caneta.

A filha de Alma disse em voz alta, “Prós de ir trabalhar nos Estados Unidos: 1. É uma oportunidade imperdível de firmar sua carreira de modelo”.

“Contras de ir trabalhar no Estados Unidos”, leu Vicki. “1. Sua família toda mora aqui”.

“2. É uma excelente oportunidade de aprimorar o seu inglês”, continuou Roberta.

“3. Você teria de abrir mão da escola e dos amigos”, retrucou a ex de Diego.

Uma nova onda de lágrimas encheu os olhos de Raquel. “E do Giovanni”, murmurou a morena, com um soluço sufocado. “Meu Deus, eu teria de terminar com o Giovanni!”

“Não chora, amiga”, Mia abraçou a aspirante a modelo pelos ombros, tentando acalmá-la. “Eles te deram um prazo pra escolher, não foi?”

Pegando um lenço de papel da caixa que Lupita tinha na mão, Raquel assentiu enquanto enxugava os olhos. “Eu tenho 15 dias pra me decidir. Se até lá eu não chegar a uma decisão, eles vão mandar outra pessoa no meu lugar e-”

Uma batida forte na porta interrompeu a conversa das meninas, que em coletivo olharam naquela direção. Lupita, que estava mais perto, levantou-se e a abriu. A cabeça de Miguel, com uma expressão tempestuosa, apareceu na brecha, e Mia preocupou-se. O namorado tinha estado tão bem o dia todo, o que teria acontecido? “Miguel?” Disse, levantando-se e indo na direção da porta. Lupita afastou-se, ocupando o lugar da loira ao lado de Raquel.

O moreno deu um sorriso amarelo. “Bebê, a gente pode dar uma volta lá fora?”

Mia aceitou sem pensar duas vezes. Fechou a porta, deixando que Vicki e as outras se concentrassem nos problemas de Raquel, e apoiou as mãos no rosto do namorado, acariciando-o de leve. “Tá tudo bem?” Perguntou, em voz baixa, carinhosa.

Miguel, ainda cutucado de ciúme pela própria imaginação de outro homem fazendo com Mia tudo que ele fazia, puxou-a para si num beijo ardente e desesperado. Ela era sua! Só sua! Ninguém mais a teria, mataria o primeiro que tentasse tirá-la dele!

A moça surpreendeu-se com a intensidade da atitude do namorado, mas correspondeu ao beijo dele com disposição. A cada dia ficava mais difícil guardar para si a verdade de seus sentimentos por Miguel: amava-o. Amava-o profundamente, e tinha certeza que para sempre amaria.

Afastaram-se por fim, ambos ofegantes. Mia piscou e sorriu de leve. “Melhorou?” Perguntou, preocupada.

Não. Não tinha melhorado. Ainda não. “Mia... Se eu te pedir pra me dizer uma coisa, você diz?”

A loira estranhou aquela pergunta, mas disfarçou a estranheza com um sorriso. “Dependendo do que for, claro que digo”.

“Diz que você é minha?” Pediu o rapaz, num tom súplice que nunca tinha usado antes.

Mia relaxou. Diria isso todos os dias de sua vida se fosse preciso. Ficando na ponta dos pés, ela abraçou Miguel pelo pescoço e apoiou a testa na dele, fechando os olhos em seguida. “Nem precisa pedir, Miguel. Eu sou sua. Você sabe que sou”.

“Promete?”

Ela acenou uma única vez, confiante. “Prometo”.

Eres el amor de mi vida. El destino lo sabía y hoy te puso ante mí.