Fanfic: até as últimas consequências | Tema: Rebelde [MyM]

até as últimas consequências.

Capítulo 5.

Quando terminaram de fazer o experimento do laboratório de química e de responder as perguntas (com Mia copiando as respostas, já que, segundo o próprio Miguel, a letra dele era horrorosa), os dois começaram a conversar. Mia se comportava com certa reserva, respondendo até o básico com poucas palavras, mas, aos poucos, Miguel (levando em mente tudo que tinha ouvido de Raquel mais cedo naquele dia) foi conseguindo que ela relaxasse – pelo menos um pouco.

“E como é lá em Monterrey?” Perguntou ela.

“É ótimo. É uma cidade relativamente pequena se comparado com a capital, claro, mas eu morei toda a minha vida lá. Fui muito feliz”, respondeu ele, com um brilho de saudade nos olhos. Não pela primeira vez, a ausência da mãe e da irmã fez seu coração se apertar.

“Se lá é tão bom, por que você veio pra cá?” Continuou Mia, curiosa.

Ele tinha pensado em tudo – inclusive para a resposta a essa inevitável pergunta. “Aqui tem mais oportunidade de estudos. Minha mãe quer que eu faça a melhor faculdade, e o Elite Way é a melhor escola para me preparar para isso”.

“Mas e seus pais, sua irmã? Não é difícil ficar longe deles?”

Os olhos de Miguel ficaram sombrios. “Meu pai é falecido. Minha mãe e minha irmã têm a vida delas, eu não poderia exigir que abrissem mão disso para me acompanhar até aqui”.

“Ah, eu sinto muito. Não sabia. Desculpa”, disse, sem graça.

Mas ela é mesmo uma excelente atriz, pensou ele, com ironia, mas deu um pequeno sorriso para tranquilizá-la. “Não precisa se desculpar, como você disse, você não sabia”. Ele deixou o silêncio pairar por alguns minutos, e continuou, “E a sua família?”

O rosto normalmente alegre dela ficou um pouco triste. “Somos só eu e o meu pai. A minha mãe morreu quando eu era muito pequena, eu nem lembro dela direito. E meu pai não gosta de falar dela”.

“Sinto muito”, ele disse, a mente já ruminando essa novidade. Em nenhuma de suas pesquisas havia esbarrado no nome da mãe de Mia, até porque Franco raramente dava entrevistas falando da vida pessoal, e Mia nunca falava com a imprensa, evidentemente blindada pelo pai.

Estavam nesse silêncio pós-perguntas difíceis de responder, quando o sinal tocou marcando o fim daquela aula. Aproveitando que todos estavam relaxados tomando o rumo da sala de sempre, Celina aproximou-se. “Mia”, ela disse, timidamente, “você vai sentar com a gente na próxima aula”.

Miguel levantou-se da banqueta pegando a própria mochila, enquanto Mia levantou-se também e virou-se para a amiga, pegando seus materiais. “Claro que vou, amiga”, disse, sorridente. “Mas hoje ele vai sentar com a gente, tá?” Avisou, apontando Miguel com a cabeça.

“Ah... claro, sem problema”. Celina sorriu para Miguel. “Então vamos antes que a gente não ache lugar junto pra todo mundo na sala”.

Os dois assentiram, e se dirigiram até onde Vicki e Diego estavam. Vicki estava de mãos dadas a Diego, mas sorrindo de leve para Miguel, evidentemente tentando ser simpática. Mas o filho de Leon Bustamante estava de rosto sério, olhando fixamente para o novato. Mia, sentindo que a superproteção do amigo ia mostrar suas garras, tratou de agir.

“Vicki, Diego, esse é o Miguel. Miguel, essa é a Vicki, minha melhor amiga-”

“Uma das”, atalhou Celina, na hora, e Mia riu.

“Sim, uma das minhas melhores amigas, e esse é o Diego, meu amigo desde... desde sempre, eu acho, né, Dieguito?”

“Às vezes parece que a gente se conheceu ainda usando fralda, Mia”, respondeu Diego, sorrindo caloroso para ela, antes de voltar a fixar seu olhar sério em Miguel. “E aí, cara?”

“E aí?” Respondeu Miguel, tranquilo. Naquele clima meio esquisito que sempre fica depois de uma apresentação entre pessoas que não se conhecem, Vicki e Celina aproveitaram a brecha para arrastar Mia embora na direção da sala da próxima aula.

Só restou tempo à filha de Franco para dar um olhar preocupado na direção do novato antes de ser levada para a sala da aula seguinte.

Diego fez um aceno com a cabeça para Miguel e começou a andar na direção da sala, bem atrás das meninas, mas ainda com elas à vista. Mia, Celina e Vicki como sempre conversavam animadamente, parecia não faltar nunca assunto àquelas três. “Eu não sei o que você tá pensando em fazer com a Mia”, diz o filho de Leon, casualmente, andando devagar com Miguel no mesmo ritmo a seu lado, “mas se você armar alguma coisa com ela e fizer ela sofrer, pode se preparar pro pior”.

Miguel ergueu as sobrancelhas. Mia Colucci inquestionavelmente despertava a lealdade nas pessoas. “Isso é uma ameaça?”

“Ameaça? Não”, Diego fingiu estar perplexo. “É uma promessa. Ela é quase uma irmã pra mim, nos conhecemos ainda crianças. Eu não estava brincando quando disse que a conheci ainda usando fralda. Não suporto vê-la sofrer. Fique feliz que eu só tô te dizendo isso... A Vicki recebeu da Mia um sermão de horas quando a gente começou a namorar”. Ele deu um sorriso bem-humorado e por fim alcançaram as meninas. Diego passou um braço em torno da cintura de Vicki, beijou-a no rosto e disse, “Vamos entrar?”

Vicki acenou com a cabeça e Celina a imitou. Mia, que estava com Miguel agora ao seu lado, foi a única que não reagiu. Esperou que o outro casal e a amiga entrassem, antes de se virar para Miguel e perguntar em voz baixa, “Tá tudo bem?”

Miguel piscou, surpreso. “Tá, sim. Por que não estaria?”

Mia limitou-se a dar um olhar meio cético a Miguel, entrando na sala com ele atrás. “Não sou idiota, sabe? Sei como o Diego age. Ele te deu umas prensas muito sérias?”

Miguel riu. “Primeiro que ele não me prensou, só me deu um aviso. E não, não foi tão sério assim. Pelo que ele me falou, você fez pior com a Vicki”, disse, ainda rindo.

Mia também riu. “Ah, fiz mesmo. O Diego é quase como meu irmão, e ele nunca namora sério com ninguém, pelo menos não namorava até a Vicki”. Ela se sentou atrás de Diego, com Miguel à sua direita e Vicki na frente dele. Continuou com o assunto em voz baixa, “Mas mesmo com a Vicki não é tão sério assim. Não sinto o Diego apaixonado, sabe?”

Miguel acenou afirmativamente, com uma expressão de dúvida. “E tem como saber disso?”

“Ah, tem...” Mia sorriu, olhando para os dois amigos, que conversavam entre si. Celina e Nico estavam do outro lado de Diego (portanto, à esquerda de Mia, na frente), conversando sobre qualquer assunto. Lupita entrou com Roberta e Josy, e os olhos de Nico a seguiram como os de um cachorrinho que caiu do caminhão de mudança. “Aí, olha”, disse a loira, apontando para o colega de quarto de Miguel, “o Nico tá caidinho pela novata. Onde quer que ela esteja, os olhos dele estão nela”.

Miguel observou o colega, fez um muxoxo. “Pode ser só interesse”.

“Não, não é”, respondeu Mia. “É paixão. Não é amor ainda, mas paixão com certeza é. Os olhos não-” Mia percebeu então que Diego também seguia Roberta com os olhos e ficou paralisada. “Ah, meu Deus”, sussurrou.

Miguel ficou confuso. “O que foi?” Perguntou, olhando ao redor.

Mas ela disfarçou. “Nada. Não é nada, não. É o cabelo da Roberta, acho que tá soltando”, inventou, na hora, tentando esconder o que tinha descoberto. Desde quando ele tá a fim dela? Pensou, atordoada. Ai, Jesus, a Vicki!

Miguel olhou na direção de Roberta, mas estava tudo no lugar; ela conversava com Josy e Lupita, esta última olhando de vez em quando para...

... Nico.

“Acho que você tem razão”, admitiu em voz baixa. “Ela também não para de olhar pra ele”.

Ela deu um sorriso vitorioso. “Eu falei a você. Os olhos não mentem”.

“É mesmo?” Ele sorriu de volta. “E o que eu encontraria nos seus olhos se os examinasse agora?” Provocou.

“Curiosidade!” Respondeu ela, sincera. “Você é tão diferente dos outros que-”

Mas a entrada do prof. Mandariaga interrompeu a frase de Mia. “Vamos começar com a nossa aula, pessoal? Desculpem pelo atraso”.

Os dois se concentraram na aula, mas Miguel não pôde deixar de sentir um pequeno triunfo. Tinha recebido duas respostas sinceras de Mia – uma incluindo algo que, ele tinha certeza, pouquíssimas pessoas sabiam. Sendo apenas o segundo dia que a conhecia, e o primeiro que falava com ela, era um ótimo progresso.