Treze
Tirei a mão da boca e observei o sangue. Meu lábio ia inchar a qualquer momento. Sorri de lado e levantei meus olhos fixando-os nos dela. Instantaneamente, Dulce deu um passo para trás.
— Isso vai ter troco, Dul. Prepare-se! Não vai nem me ver chegando.
Ela deu de ombros desdenhando e dirigiu-se para a porta. Colocou a mão na maçaneta e virou-se para mim com um sorriso diabólico. Déjà vu!
— Ah, eu recusei a promoção, mas o aumento acho bom você manter. É meio que um bônus por ter que aturá-lo. Carrasco!
Saiu batendo forte a porta, me deixando ali lívido de raiva e extremamente excitado. Virei-me resmungando e peguei a gravata do chão, fui até o banheiro conferir minha boca machucada e recoloquei a gravata.
Peguei o celular e mandei mensagem para o Poncho. Tínhamos uma videoconferência em duas horas. Esperava que meu lábio desinchasse ou iria parecer mordido por uma abelha.
Perdi-me no tempo analisando os programas novos até que a voz da provocadora maluca soou no interfone.
— Senhor Uckermann, estão te esperando na sala de conferência.
Tive uma vontade infantil de mandá-la ir se fo/der, mas me contive, tinha que saber separar trabalho e prazer. Já que a maldita recusou a promoção, seria obrigado a aguentá-la.
— Obrigado, senhorita Saviñon. — Ouvi sua risadinha baixa do outro lado da linha e me lembrei das suas palavras.
“Você esteve dentro de mim em cima dessa mesa e te vi go/zar. Acho que as “formalidades” acabaram quando você rasgou minha calcinha e a guardou no bolso.”
Maldita memória fotográfica. Cenas do que fizemos invadiram minha mente.
Levantei-me, tinha uma reunião para conduzir. Respirei fundo antes de abrir a porta. Pelo canto do olho percebi Dulce me encarando, passei por ela sem ao menos cumprimentá-la. Quando cheguei ao elevador para subir ao andar da sala de conferência, respirei fundo.
Tinha que espantar minha frustração.
Assim que as portas se abriram, me virei para olhar no espelho. Minha boca tinha desinchado um pouco, mas a ferida estava bem visível.
— Filha da mãe!
Enquanto caminhava pelo corredor, as pessoas meio que se escondiam. Veja bem, eu não sou um cara mau. Não mesmo. Apenas gosto que meus funcionários deem o melhor de si no que fazem.
São pagos para isso, e muito bem pagos por sinal. Acho que é simplesmente o que eles devem, dar o melhor de si. Às vezes, confesso, posso ser ríspido ou exigente demais, porém esta é a minha natureza e não tem como mudar.
E não pense que eu desconheço os apelidos que inventaram pra mim, principalmente aquela provocadora gostosa. Droga, meus pensamentos estavam sempre direcionados para ela de alguma forma. Suspirei e entrei na sala. Everaldo, Ademar e Felipe já estavam ali com a webcam ligada, e Poncho do outro lado, encostado na cadeira do seu escritório. Percebi o exato momento que ele se aproximou do computador e apontou para a tela.
— O que é isso na sua boca?
— Acho que não é apropriado falar disso agora — tentei disfarçar olhando para o outro lado.
— Hum, sei. Andou brigando com gato, é?
— Alfonso, não seja inconveniente. — Me sentei e ignorei os outros que tentavam segurar suas risadas.
Olhei para meu amigo na tela e franzi a testa. Voltei minha atenção aos três na mesa.
— Everaldo, conseguiu arrumar o problema no programa?
— Ainda não. Tentamos com vários programadores e nenhum conseguiu achar o erro. Tentaram reiniciar o sistema, mas nada pode ser feito.
— Então, o gênio vai ter que se deslocar até aqui. — Olhei para Poncho, que sorria zombeteiro.
— Quero você aqui até segunda.
— Já vi que seu caso é sério. Tudo bem, dá para colocar tudo em ordem até domingo. Chego segunda de manhã. Vocês têm alguma ideia do que possa ser?
Olhei Felipe e ele colocou os cotovelos na mesa apoiando o queixo no punho fechado.
— Parece um bug, mas não conseguimos encontrar onde ele começou e temos apenas duas semanas para a entrega.
Estávamos trabalhando com um programa de dados para uma empresa que pretendia controlar máquinas operacionais com ela. Catalogando produtos, estoques, materiais utilizados, pedidos...
Enfim, uma empresa inteira dependia desse up para a melhoria da sua produção.