Vinte e Quatro
Claro, a mulher se ofendeu e não aguentava ouvir o nome dele. Eu, por outro lado, gostava da companhia de Angelique. Apesar de me incomodar com a quantidade de cirurgia plástica que fazia, ela era uma boa amiga.
— Bom, mas chega dessa brincadeira. Vai trabalhar.
Ele se levantou e colocou as mãos nos bolsos, me avaliando.
— Você está diferente, Ucker. Aquela tristeza e mau humor se foram. O que houve? Tem gatinha nova no pedaço?
Não fui capaz de segurar um sorriso que se instalou em meu rosto ao lembrar a “gatinha” que ele se referia. A safada tinha garras bem afiadas.
— Nada que seja do seu interesse.
— Então tem. A sua irmã ainda não conseguiu assustá-la?
Meu sorriso morreu. Não pensava em Belinda desde o fatídico dia em que minhas suspeitas quase se tornaram reais. E estava melhor assim.
— Não quero falar da Belinda.
— Vixi, já vi que andou dando trabalho. Mas, meu amigo, tenho que lhe dizer que sua meia-irmã me assusta. — Fez uma careta, enrugando a testa.
— A mim também, mas não vamos perder tempo falando de algo tão insignificante. Temos trabalho, depois passa aqui para irmos ao bar da esquina colocar o papo em dia.
Ele sorriu e balançando a cabeça, se afastou e saiu. Passado uns dois minutos, me lembrei de um detalhe sobre o programa e levantei-me para tentar alcançá-lo no elevador.
O setor de programação ficava cinco andares acima de nós e poderia dar tempo.
Abri a porta e a cena que se apresentou à minha frente fez uma fúria inigualável se formar em meu peito. Dulce estava parada no meio da recepção com papéis nos braços e Poncho falava com ela com aquele costumeiro sorriso pegador que o vi usar inúmeras vezes em outras ocasiões, e também acariciava seu rosto. A safada, por sua vez, sorria descaradamente, de boca aberta.
Muito bom, comigo era sempre a língua afiada; para ele, um sorriso sincero sem malícia.
Pigarreei e eles se afastaram, primeiramente uma culpa se instalou em seu rosto, mas logo ela me olhou com os olhos semicerrados e piscou, deu a volta e se acomodou em sua mesa.
— Esqueceu alguma coisa, Christopher? — Poncho arqueou uma sobrancelha.
Eu só iria lembrá-lo de algo sobre o programa, mas devido aos acontecimentos preferi me prevenir.
— Lembrei-me de uma coisa que tenho que te mostrar lá na sala de programação. Vou acompanhá-lo até o andar.
Poncho assentiu e voltou seus olhos para Isabella, que estava de cabeça baixa e sorrindo discretamente. Mulher provocadora.
— Depois nos falamos, beautiful girl.
— Vamos, Alfonso — rosnei entre dentes.
Marchei à sua frente para não socar a cara dele. Como uma mulher podia abalar uma amizade de anos? Eu estava a ponto de matar o Poncho. Nós nos conhecemos na faculdade que fiz no exterior e, quando assumi a On System do meu pai, o convidei para ser sócio e, então, ele tinha 20% das ações.
Foi minha melhor escolha, pois o cara era simplesmente o gênio da programação.
Fui estudar fora por conta de não suportar minha madrasta e sua filha odiosa.
Minha mãe faleceu quando eu tinha seis anos e logo meu pai se casou com a amante que carregava uma filha na barriga. Quando Belinda nasceu, eu me encantei, porque era uma menina doce e gentil. Mas ela foi crescendo e se envenenando com a mãe até ficar a mulher odiosa que era hoje. Fútil e sem perspectiva nenhuma na vida.
E Poncho sabia de todas as tramoias da cobra. Sim, eu a chamava assim, pois era igual à mãe, que já havia morrido, mas que lhe deixou de herança a falsidade.
— Cara, qual é o seu problema? — Parou ao meu lado com a testa franzida.
— Já disse que não quero você dando em cima da senhorita Saviñon — esbravejei, não precisava dizer mais nada. Ele tinha que entender de uma vez, era o melhor para nossa amizade.
— Eu só não entendo o motivo.
Eu me recusei a responder ou poderia acabar falando demais. Esperamos o elevador chegar em silêncio, mas pude notar a carranca do Poncho, que não conseguiria ficar muito tempo de bico fechado.
E quando a porta se fechou, nos prendendo naquela caixa de metal, ele despejou:
— Cara, não sei qual é o seu problema. Talvez precise sair mesmo para um drinque, ou foder alguma gata gostosa, mas não vai me impedir de dar em cima de ninguém. E outra coisa, se ela quiser ir para o hotel comigo não vou me fazer de rogado. Quem sabe não a transforme na melhor das funcionárias com o meu carinho?
Sabe aquele momento que você age sem pensar e quando viu a merda já estava feita? Pois é, me virei com os olhos pegando fogo, levei a mão até seu pescoço e o encostei à extremidade do elevador. Poncho arregalou os olhos e prendeu as duas mãos em meu punho. Eu não estava apertando, mas queria fazer meu ponto para que ele entendesse de uma vez, porque só falando não estava dando certo.
— Eu não vou falar de novo, Alfonso. Mantenha-se longe da Dulce! Nossa amizade é de longa data, mas se você se recusar a me ouvir, eu acabo com você num piscar de olhos. Sabe que eu consigo.
Ele engoliu em seco e senti seu pomo de adão se mexer sob minha mão fechada na garganta.
— Ucker, relaxa cara, acho que já entendi a merda toda. Você está com ela, né? É a garota que te mordeu aquele dia!
Soltei-o e virei de costas, Poncho começou a tossir e eu passei as mãos pelos cabelos tentando me acalmar.
— Brother, se você ainda não pegou acho melhor pegar de uma vez, ou vai acabar matando alguém por aí. Já entendi, não vou ficar atrás dela. Só que nada me impede de flertar... — Riu nervosamente. — Ela é diferente para você? Se fosse outra época você adoraria dividir.
Virei-me, fuzilando-o com o olhar, e Poncho deu um passo para trás levantando as mãos.
— Ela não. É minha e ninguém toca! Entendeu?
Chegamos ao andar e ele saiu do elevador. Virou-se com um sorriso no rosto.
— Entendi, mas dê um jeito na gatinha safada, porque ela estava gostando do flerte.
Estreitei os olhos e foi bom pra ele que as portas se fecharam. Soquei o botão para o meu andar e fiquei respirando fundo, tentando me acalmar. Mas não conseguia, só via as mãos do Poncho nela. E aquilo estava me enlouquecendo. Olhei no espelho e meus olhos verdes estavam brilhando vidrados.
Quando apitou que tinha chegado ao andar, desci e marchei pra minha sala.
Dulce estava em sua mesa e nem parei, não queria falar com ela. Seria capaz de apenas gritar com a doida.
Entrei no meu escritório batendo a porta. Andei de um lado para o outro tentando me controlar.
Estava furioso! Comigo, por ser um idiota que está obcecado por uma mulher, porque não queria isso, não precisava disso. Com o Poncho por ser um filho da puta. E Dulce por ser tão sensual, linda e safada.
Estava de costas olhando pela janela com as mãos na cintura, respirando fortemente e tentando relaxar quando ela entrou na sala.
— Ora, ora. O carrasco está bravinho?
Fechei os olhos e tentei me conter. Dulce provocava o pior e o melhor de mim.
Naquele momento, o lado ruim estava ganhando disparado. Um sorriso diabólico surgiu em meu rosto. Virei-me devagar e o que ela viu pode tê-la assustado, pois deu um passo atrás.
— Não, querida provocadora. Eu estou furioso, no momento eu quero tanto fo/dê-la que está difícil de segurar. E sabe de uma coisa? Não sei se quero me segurar.
— Christopher, o que aconteceu com os seus olhos? Estão negros.
Uma risada sinistra, que nunca tinha ouvido, exalou de minha garganta.
— Você, minha linda, não me conhece completamente. Talvez devesse pensar antes de se esfregar em qualquer um.
E a maldita provocadora não sabia quando parar. Ela sorriu e se aproximou, colocou a mão espalmada em meu pê/nis que estava ereto desde o minuto que entrou na sala.
— Quer dizer que a adrenalina te deixa excitado. — Aproximou-se do meu ouvido e mordeu o lóbulo da minha orelha. — Quem sabe, me ver com outra pessoa também não deixa?
Peguei-a pelo braço com raiva e encarei seus olhos arregalados. Sei que a assustei com a intensidade do movimento, mas pouco me importava. Dulce estava mexendo onde não devia.
— O ca/ralho! Mulher, acho bom saber quando parar. Já disse que não permito ninguém tocando em você. Acabo com o primeiro que tentar. É melhor parar de provocar os caras. Ou vai se arrepender. Você é minha e não divido com ninguém.
— Me solta, seu des/graçado. — Desvencilhou-se com um puxão e a soltei para não machucá-la.
Ela deu um passo para trás, encostando-se à porta.
— Já disse, seu idiota. Eu não pertenço a ninguém, e nada vai me impedir de transar com quem eu quiser. Não se iluda com essa possessividade de homem das cavernas. — Sorriu. — E seu amigo me pareceu bem gostoso. Acho que vou investir.
Girou a maçaneta e saiu. Minha vontade era de urrar de raiva, a mulher me levaria à loucura, não tinha dúvidas. Mas ela não sabia com quem estava lidando, a safada. Se achou que teria a última palavra, estava muito enganada.
Respirei fundo e fui atrás da des/graçada que estava fazendo da minha vida um inferno.
Oi amores, capítulo grandinho. Bom eu vou agilizar as coisas por aqui, pois vou sair do site por Um tempo. Mas só quando essa fic acabar.
Beijos♡