Vinte e Oito
Era simplesmente mais fácil do que lidar com uma mulher provocadora. E só de lembrar suas palavras ferinas e lábios de pecado, meu corpo respondia prontamente.
E agora eu estava sentado na porra de um bar esperando dar a hora da minha última noite com Dulce . Meu peito se apertava só com a perspectiva de não sentir mais seu sabor, o corpo quente que tanto me enlouquecia e as curvas pecaminosas, que adorava tocar.
Fechei meus olhos e bebi o resto do whisky. Precisava de algo para me distrair, ou iria sair quebrando tudo, tamanha a fúria que havia dentro de mim.
— Parece que alguém não teve um bom dia.
Abri os olhos e encarei o rosto sorridente do Poncho. Voltei minha atenção para o gelo que tilintava no copo e o ignorei, não estava a fim de responder perguntas que tinha certeza que ele teria.
Pelo menos, tentei. O cara não calava a boca.
— Que foi, Ucker? A sua secretária gostosa anda dando trabalho?
Bati o copo com força no balcão e o fuzilei com o olhar.
— O que você quer, Herrera? Não estou com paciência para as suas gracinhas.
Ele levantou as sobrancelhas, se virou para o barman e pediu uma dose do mesmo whisky que eu bebia.
— Nunca te vi assim por ninguém. Nem mesmo Maite te deixou dessa maneira.
Prendi os lábios numa linha fina e desviei o olhar, foquei em qualquer coisa para não ter que enfrentar meu amigo. Poncho sabia tudo que passei quando perdi minha noiva. Não foi nem perto de fácil, e ele aguentou as pontas junto comigo.
Acho que percebendo que eu não iria dizer nada, apenas me fez companhia. Por pouco tempo manteve sua boca fechada.
— É isso, Dulce me lembra muito a Maite. Cara, por isso você está se sentindo tão possessivo com ela?
Bufei. Já tinha tirado isso da cabeça.
— Só lembra, não é nada parecida com a Maite. Essa mulher me deixa doido. Nunca me senti assim.
— Vixi, tão boa assim? — Riu, balançando as sobrancelhas.
Virei o rosto com os olhos estreitos. Ele se afastou levantando as mãos.
Provavelmente em meu rosto tinha se formado aquela sombra sinistra de quando ficava com raiva.
— Acho bom lavar a boca pra falar dela. Já te disse, não brinca com isso.
— Estou sabendo. Mas o que não entendo é o motivo para você estar com essa cara de bun/da espantando os clientes do bar.
Respirei fundo antes de fazer alguma coisa que fosse me arrepender, tipo jogar meu sócio por cima do balcão.
— Poncho, você não tem nada pra fazer? Alguém para visitar no Brasil? Sei lá, alguma namorada? Ou fo/da regular?
— Na verdade, não. Quero a companhia do meu melhor amigo. Mulheres só dão dor de cabeça.
Beberiquei um gole do líquido âmbar que estava conseguindo me acalmar um pouco, e claro, a tagarelice do Poncho.
Na verdade, queria me perder no corpo daquela provocadora, e me tranquilizar era a última coisa que poderia querer. Certo?
Bem, minha adrenalina estava a mil. Minha cabeça não formava um pensamento coerente. Meu corpo parecia que iria explodir de tanta excitação. Pretendia prolongar a noite o maior tempo possível. E estando em ponto de bala não seria possível esse feito.
— Sei... E como foi com o bug? Resolveu o problema? — Virei o rosto e Poncho fez uma careta ao virar o líquido todo na boca.
— Não, está mais difícil que imaginei. Mas, Christopher, aquilo não foi bug do sistema. Estou achando que é um malware implantado.
— Como assim? Isso teria que vir de um dos programadores. Nosso sistema é muito bem estruturado, muito difícil de invadir.
Ele balançou a cabeça e apoiou o copo devagar no balcão. Respirou fundo, e eu estranhei sua atitude. Se estava tão chateado, a coisa deveria ser séria.
— Estou achando que é mesmo. Amanhã vou verificar, e se ficar comprovado, vamos ter que fazer uma varredura geral e tentar rastrear o IP que gerou o problema. Então, meu amigo, vamos ter que adiar a entrega do programa, isso é demorado, sabe?
Já podia prever a chateação que seria ter que explicar ao cliente que fomos invadidos. Não era um bom marketing para a empresa.
— Vou ligar para eles e tentar resolver. Quanto tempo acha que leva?
— No mínimo um mês para ficar tudo bem. Isso se o vírus, ao ser descoberto, não fritar todo o sistema.
Respirei fundo e pensei no monte de dinheiro jogado fora se acontecesse.
Levantei-me, estava na hora de ir ao encontro da provocadora. Quem sabe isso não aliviaria o meu estresse?
— Bom, vou indo, Poncho, tenho um compromisso agora. Amanhã a gente se fala na empresa. Não se atrase.
Ele sorriu malicioso.
— Sei bem, com certa ruiva de olhos fogosos.
Segurei-me para não responder nada, dei um tapinha em suas costas e saí do bar.
Realmente, Dulce tinha um olhar de puro desejo que contrastava com seu rosto inocente.
Entrei em meu carro que estava estacionado em frente ao bar e me dirigi à sua casa. Dulce morava num apartamento distante da empresa. Estava nervoso e sentia meu corpo acelerado. Era como se eu fosse a um primeiro encontro.
Quando cheguei ao seu prédio, o porteiro já estava avisado da minha chegada.
Subi os sete andares de escada. Estava adiando? Com certeza. Precisava colocar meus pensamentos em ordem.
Eu estava uma bagunça de dar pena. Por mais que ela fosse uma safada provocadora, seu jeito decidido e que rebatia tudo o que eu falava era encantador, a seu modo.
E saber que essa seria a nossa última noite, estava me deixando perdido. Na verdade, acho que me perdi quando coloquei as mãos em seu corpo. Não tinha salvação para mim, estava em meu inferno particular sem ela e queria ir para o céu em seu corpo. Dulce tinha se tornado tão importante como respirar.
Ao chegar à sua porta, meu corpo entrou em estado de alerta. Respirei fundo e bati devagar.
Escutei passos vindo de dentro e logo a visão mais bela e maldita apareceu à minha frente. Dulce tinha os cabelos soltos e revoltos e vestia uma lingerie extremamente sexy, com direito a cinta-liga. Seu corpo esguio estava à mostra não deixando nada para a imaginação.
Estava quase uivando de tão excitado que fiquei. Fixei meu olhar em seu rosto e a provocadora sorria maliciosamente, mordendo os lábios. Quando ela falou até sua voz doce tinha dado lugar a um timbre rouco, totalmente sensual.
— Vai ficar muito tempo aí na porta? — Deu um passo para trás e se virou caminhando até o sofá creme que estava no canto da sua pequena sala. Sentou-se e cruzou as pernas. — Vem, cachorro, vem.
Nessa hora perdi toda a noção de mim, quem eu era, onde morava. Não havia nada que me impedisse de alcançá-la.
Sorri amplamente mostrando a ela o que a esperava. Fechei a porta com uma batida deixando todo o resto do lado de fora. Essa noite, seríamos apenas dois amantes amando o corpo um do outro, sem restrições.