Fanfics Brasil - Capítulo 10 - Parte 01 À procura de alguém (Vondy)

Fanfic: À procura de alguém (Vondy) | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 10 - Parte 01

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     Christopher passou a mão no cabelo, ajeitou a gravata e bebeu um copo d'água antes de receber o próximo cliente. Ele estava exausto, mal dormia à noite e sua rotina de trabalho andava enlouquecida, como se estivesse enfrentando um tipo de inferno astral. Ainda se surpreendia com a quantidade de casais ricos que não tinham feito acordos pré-nupciais, e com os outros tantos que gastavam milhões tentando escapar deles.



    Foi até a janela, ignorando o estômago que roncava. Outro dia sem almoço. Ele apreciava os princípios básicos da assistência ao próximo e amava a lei. Encaixando casos antigos para completar um quebra-cabeça, a rica história do sistema judiciário americano o enchia de orgulho - a pedra fundamental que garantia igualdade e justiça, mesmo em instituições que se deterioravam rapidamente, como o casamento.



      Mas os divórcios às vezes eram uma merda.



    A neblina cobria o horizonte em Manhattan, e a neve que havia coberto tudo de branco agora derretia, suja. Bolas disformes de gelo entupiam calçadas e ruas, mas não diminuíam o ritmo frenético da cidade. Olhou para onde as adoradas Torres Gêmeas tinham reinado, uma tristeza sempre lhe apertando no coração quando ele via como a paisagem da cidade havia mudado radicalmente depois do Onze de Setembro. O novo memorial era um símbolo de esperança, é verdade, que abrandava um pouco do vazio e da dor dos nova-iorquinos.



     Christopher terminou a água, jogou o copo no lixo e pegou suas anotações. Seu escritório era decorado com uma mesa de cerejeira que tomava metade da sala, estantes cobrindo as paredes e poltronas cor de vinho que inspiravam os clientes a contar tudo. Fotos de George Washington, Abraham Lincoln e da assinatura da Declaração de Independência enfeitavam as paredes e evocavam a justiça. O tapete cor de vinho era macio sob os pés, e o cheiro de madeira, cera de limão e café pairava no ar.



    Se conseguisse virar sócio, se mudaria para a cobertura, com janelas do chão ao teto, bar completo e banheiro privativo, com espaço para trocar de roupa. Christopher achava que os benefícios eram ótimos, mas não era por causa deles que queria ser promovido, nem por causa do dinheiro. Ele sabia que, sendo sócio, poderia selecionar melhor os casos e assumir um pouco mais de atendimento pro bono. Teria o poder necessário para tomar decisões importantes. O resto era extra.



     "Dr. Uckermann, seu cliente da uma hora chegou."



     Ele atravessou a sala até a mesa e apertou o botão do interfone. "Manda ele entrar, por favor."



     Christopher respirou fundo para se acalmar e poder se concentrar no cliente. Sua agenda estava superlotada, mas quando um amigo da faculdade pedia um favor, Christopher nunca hesitava. Pete Troy passou pela porta. Imediatamente, Christopher soube que ele era o lado fraco do relacionamento. Ele andava curvado e penteava o cabelo falhado para o lado, numa tentativa desesperada de adiar a calvície. Magro feito um pau, de jeans, suéter já um tanto surrado e tênis confortáveis, se apresentou e sentou. Suas mãos tremiam sobre o colo, e seu rosto era marcado por linhas angulosas, que lhe conferiam um ar gentil, embora um tanto fora do ar. Os olhos castanhos pareciam intimidados, com um pouco de medo.



   "Dr. Uckermann, estou um pouco deslocado aqui. Nunca tive reunião com advogados antes, mas meu amigo Trent me recomendou o senhor e disse que iria me ajudar."



    "Me chame de Christopher. Trent somos amigos desde Harvard...Ele é um cara legal. Me contou um pouco do seu caso, mas gostaria de ouvir mais detalhes. Tudo o que conversamos aqui é confidencial; estou aqui para ajudá-lo"



     Pete relaxou um pouco. "Minha mulher quer o divórcio."



    Christopher assentiu, enquanto tomava notas com a caneta de ouro. Ele sempre preferia fazer as anotações do prórpio punho, em vez de usar o computador; dava mais intimidade às reuniões. "Você pode me contar os fatos que antecederam o pedido de divórcio?"



     Ele esfregou as mãos no jeans e assentiu. "Ela é CEO de uma grande empresa de abastecimento, então é ela quem bota o dinheiro em casa. O trabalho é bem estressante, ela viaja muito, e eu decidi ficar em casa com as crianças."



     "Quantos filhos?"



     "Três. Oito anos, cinco e dois. Dois meninos e depois, finalmente, uma menina."



     "Ótimo. Você ficou em casa desde que o primeiro nasceu?"



     "Não, tivemos uma babá por alguns anos, mas eu notei muitos problemas. Ele reclamava dela, e eu finalmente instalei uma destas câmeras. Pegamos ela no flagra, dopando o menino com xarope pra tosse pra ficar quieto. Disse à minha mulher que um de nós teria que ficar em casa, e concordamos que seria eu. Meu emprego rendia muito menos e, com a economia do salário da babá, saímos ganhando."



     Christopher rabiscou mais algumas notas. "Muitas famílias estão tomando decisões difíceis como esta. Então você passou a ficar em casa quando os outros dois nasceram?"



     "Sim. Minha mulher voltou a trabalhar depois de quatro semanas, porque precisavam dela na empresa. A gente não estava bem nos últimos tempos, eu sei que não, mas não fazia ideia de que fosse tão grave. Ela começou a ficar até mais tarde no escritório, ter viagens de negócios nos fins de semana. Comecei a achar que ia enlouquecer, sem nenhuma companhia além das crianças, como se meu cérebro estivesse fritando. Então peguei as crianças e decidi fazer uma surpresa para ela em Catskills. Temos um chalé alugado lá, e ela tinha ido trabalhar na cidade."



     Christopher sabia onde a história ia dar, como milhões de outras antes desta do Pete. Viu o homem enxugar a testa, sua boca curvada numa careta triste. "Peguei ela com outro. Graças a Deus, as crianças tinham ficado no carro."



     "O que aconteceu?"



     Pete piscou, parecendo se concentrar furiosamente nas linhas das mãos. "Nada. Ela não parou. Ela...Ela ficou com aquele homem e, quando terminou, saiu e gritou comigo. Disse que era pra eu levar as crianças de volta pra casa, que falaríamos a respeito no domingo. Sabe qual é a pior parte? Eu obedeci. Como eu sempre fiz. Não sei como é que me tornei esse tipo de pessoa...Este arremedo de homem. Minha mulher estava transando com outro cara e eu fui embora, sem dizer nada, esperar por ela em casa."



     Christopher engoliu em seco, com o coração apertado de dor pelo homem do outro lado da mesa. Ela já ouvira incontáveis relatos vindo de mulheres, mas poucos homens admitiam aquele tipo de sofrimento. Cuidadoso, direcionou a conversa de volta para os fatos, ciente de que não era um bom conselheiro. "Não posso nem imaginar como deve ter sido duro. No domingo, quando ela chegou, o que ela disse?"



    Pete respirou fundo. " Que queria o divórcio. Disse que era pra eu me mudar, que ela ia contratar uma babá para as crianças. Disse que eu era um inútil e que se recusava a me deixar estragar nossos filhos com a minha atitude preguiçosa e sem ambição."



     "Hum, interessante. Então cuidar de três crianças é ser preguiçoso, não é?"



    "Para minha mulher, é " A amargura escorria de suas palavras. "Ela perdeu todos os acontecimentos importantes da vida dos meus filhos e agora quer ficar com eles, como se fossem bens. Ela não quer arranhar a reputação dela."



     "Qual foi sua resposta?"



    "Disse a ela que jamais. Jamais vou abrir mão das crianças. Me recusei a sair de casa, com medo de não poder mais voltar."



     "Ótima decisão."



     "Ela fez um escândalo, gritou, me ameaçou. Veja bem, ela tem todo o dinheiro. As contas são todas no nome dela. Nunca pensei nisso. Ela paga as contas, me dá uma mesada para as despesas com as crianças, e eu nunca preciso de mais nada. Agora, eu não tenho cartão de crédito, nem emprego, nem dinheiro. Ela fechou a conta principal e transferiu tudo para outro lugar. Não sei o que fazer, Christopher. Não posso perder os meus filhos."



      Aquele pedido singelo tocou fundo dentro de Christopher. Com os dedos, apertou forte a caneta. Meu Deus, as coisas que as pessoas que supostamente se amavam eram capazes de fazer. E as crianças eram sempre as vítimas na derradeira batalha do egoísmo.



     Christopher não deixaria de jeito nenhum Pete ser intimidado. Ele era o principal cuidador e tinha feito o que incontáveis mães faziam - pôr as crianças em primeiro lugar. Christopher iria entrar com tudo no caso e não descansaria até conseguir a guarda das crianças. Raramente os pais recebiam a guarda, mas esse caso seria um ponto de virada. No pior cenário conseguiria a guarda parcial, mas com as ferramentes e os contatos certos, Christopher tinha certeza de que ganharia.



      "Você sabe quem é o advogado dela?"



      "Bronte Edwardes."



      Christopher estremeceu. "Superdurona, mas já nos enfrentamos muitas vezes nos tribunais. Ela vai direto na jugular, mas a gente tem um caso sólido. Vou entrar imediatamente com uma petição para você continuar na casa. Vou precisar de documentos e provas sobre as babás anteriores, e tudo o que você conseguir recolher. Quero que você entre em contato com seu antigo empregador, também."



     "A gente tem uma chance? Sou um pai desempregado. Existe uma possibilidade?"



    Christopher olhou para o homem, os ombros caídos e o rosto cansado, símbolo de um relacionamento falido e esperança perdida. Escolheu as palavras com cuidado. "Não vai ser fácil. Muitos juízes ainda favorecem a mãe, e se ela for à corte com uma postura chorosa, sofrida, isso pode nos crucificar. Eu tenho que te avisar, na verdade. Vai ser feio e duro. É uma maratona, não uma corrida de cem metros. Você vai ter que encontrar forças para lutar pelas crianças como nunca fez antes. Se você estiver comprometido, eu prometo fazer tudo que estiver ao meu alcance para te conseguir a guarda deles. Mas não há garantias."



      Pete hesitou, abaixou a cabeça.  Christopher aguardou, ciente de que aquela era a chave para o caso. Muitos clientes não davam conta de lidar com a pressão emocional a longo prazo e desistiam logo. Ele não os culpava - muitos não se importavam com o que haviam deixado para trás, só queriam recomeçar do zero.



      "Meus filhos são a minha vida", respondeu simplesmente. "Eu topo."



     Christopher trabalhou com ele por mais meia hora e lhe deu uma lista de tarefas, algumas para recuperar o foco, outras para auxiliá-lo no tribunal.



   Pete enfiou as mãos trêmulas nos bolsos. "Obrigado, me sinto muito mais confiante agora. Hum, eu estou tão envergonhado, eu sei quanto você costuma cobrar, mas você sabe quanto tempo vai levar? Não tenho....Não tenho nada para te dar agora."



      Christopher balançou a cabeça. "Se ganharmos a guarda e a pensão alimentícia, você pode me pagar no final. Senão, o caso é pro bono. "



        Pete franziu o rosto. "Não entendi. Você quer dizer de graça? Você nem me conhece, por que faria uma coisa dessas?"



      Christopher sorriu. "Porque você é amigo do Trent. Porque é um homem que está lutando pela família. Porque você foi enganado. E eu pego alguns casos assim ao longo do ano, então não quero que fique achando que estou fazendo isso por pena. Só quero garantir que seus filhos fiquem em segurança."



          Pete assentiu sem jeito e virou rapidamente a cabeça. "Obrigado. Obrigado."



        "Vou manter contato."



      O cliente saiu apressado, deixando-o em silêncio. O zumbido dos telefones e o murmúrio das conversas em voz baixa preenchiam o ar. Algo oprimia seu peito, dificultando a respiração. Aquela seria uma longa batalha e uma tonelada de dinheiro. Teria que entrar com um pouco do seu, ou seu chefe ficaria louco. Ainda assim, não permitiria que Pete tivesse que contratar um advogado incompetente, que só se preocupasse com os honorários. Aquelas crianças precisavam dele.



       Ele grunhiu e esfregou as mãos no rosto. Estava louco para se meter na sua poltrona, tomar uma cerveja gelada e assistir um filme. Em vez disto, tinha que ir ao encontro com Emma, uma mulher que poderia ser perfeita para ele.



        Uma mulher que não era  Dulce.



                                                                 



      Mesmo assim, ele havia jurado tentar. Se alguém fosse capaz de arrancar Dulce Saviõn de dentro dele. seria eternamente grato. Persegui-la em bares e roubar beijos não era o estilo dele. Claro, ele também nunca tinha precisado correr atrás de uma mulher daquele jeito antes.



        hristopher deu uma olhada no relógio e voltou ao trabalho.



                                                                                                                       




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Autor(a): minhavidavondy

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      Dez da noite.      Dulce fazia carinho na cabeça de Robert, distraída, enquanto tentava se concentrar no Missão madrinha de casamento. Ela normalmente morria de rir, mas a imagem de Christopher no encontro com Emma ficava interrompendo sua concentração. Tão idiota. Ela era tão idiota. ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 97



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  • tahhvondy Postado em 27/10/2017 - 23:02:31

    amei que final lindo

    • minhavidavondy Postado em 30/10/2017 - 09:37:42

      Lindo, né!!

  • beatris Postado em 23/10/2017 - 17:28:47

    ai q final lindo amei o fato de ter sido no pontto de vista do robert e as palavras finais realmente nos instiga a refletir parabéns essa fic foii demais

    • minhavidavondy Postado em 24/10/2017 - 09:07:05

      Tb achei interessante ao ler. Foi de uma importância muito legal o Robert mostrar como se sentia. Afinal ele foi uns dos personagens mais ativos kkk

  • beatris Postado em 22/10/2017 - 00:34:36

    meu deus me arrepiei c essa parada do feiitiço coitada da dul se meteu na maior increnca quero ver como vai sai....

  • btrutte Postado em 21/10/2017 - 11:59:14

    Ca-ce-te. Christopher realmente tá com medo assim? Gente, o casamento dele deve ter terminado muito, muito mal pra ele fugir desse jeito. Até a Jane sacou que rola um climão entre ele e Dulce. Onde clica pra esses dois se resolverem? Que dó da Dulce, meu Deus!!!

  • mimila Postado em 21/10/2017 - 10:54:31

    O Ucker é um idiota ou oq? Ele tem q ver q nem todos os relacionamentos são como os que ele resolve e nem como foi o dele e se ele ama a Dul e ela o ama eles tem q tentar pra ver oq dá. Pois como diz quatro frase que li um dia desse q: "Porque o futuro pertence a Deus, e ele só revela em circunstâncias extraordinárias." "O futuro a Deus Pertence." "O amanhã Pertence a Deus." "Viva o Hoje e o Resto Você Vive Conforme For Acontecendo." Então é isso, ele tem q pensar nessas frases e ser feliz com a Dul... Posta maissssss

  • tainara_vondy Postado em 21/10/2017 - 01:08:51

    Posta mais ***

  • mimila Postado em 19/10/2017 - 16:12:00

    Quero mais e quero que a Dul e o Ucker parem com esse chove não molha veem que ambos são perfeitos um pro outro, posta maissssssssssssssss

  • tahhvondy Postado em 18/10/2017 - 17:57:22

    continua

  • tainara_vondy Postado em 17/10/2017 - 18:35:19

    Continua....

    • minhavidavondy Postado em 18/10/2017 - 08:39:54

      Pode deixar kkkk

  • btrutte Postado em 17/10/2017 - 13:12:55

    Meu Deus, ela vai procurar o Chris. Por que eu tenho a sensação de que ele vai ficar apavorado? Nossa, me dá agonia só de pensar nele dando um fora na coitada da Dulce. O cara não consegue raciocinar direito quando se trata dela.

    • minhavidavondy Postado em 18/10/2017 - 08:39:31

      Obrigada pelos comentários


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