Fanfic: À procura de alguém (Vondy) | Tema: Vondy

      "Você quer que eu marque encontros com outras mulheres pra ele."

      Anahí trocou um olhar com Maite. Elas tinham se reunido na casa de Dulce depois do trabalho para repassar as conversas da feira e botar os assuntos em dia. Espalhavam-se confortavelmente pela sala de estar - Maite de pernas cruzadas no tapete, Anahí esticada no sofá e Dulce reinando na poltrona favorita. Vestiam calça de malha e camiseta e já tinham traçado quase toda a pizza grande de queijo. A garrafa de chardonnay tinha só um restinho. A televisão mostrava o fim dos créditos de algum filme de choradeira, bem mulherzinha. Dulce tinha perdido a aposta para Maite. Margaridas de aço ou qualquer coisa igualmente rídicula. Robert dormia satisfeito em sua caminha, ao lado do coelho de pelúcia e com a barriga cheia das bordas de pizza que Maite e Any tinham dado a ele.

     Dulce precisava dar um crédito às amigas; as duas tinham respeitado o espaço dela, sem perguntar nada sobre a noite com Christopher. Dulce tinha evitado contar à equipe, para angariar um pouco mais de tempo e conseguir colocar as emoções em ordem. Sabia que tinha sido mais difícil para Any. A amiga chegava a estar com um tique nervoso no olho, explodindo de curiosidade para saber os detalhes, então Dulce tomou coragem e convidou as duas para comer uma pizza.

      "Isso", Dulce finalmente respondeu. "Eu quero que vocês apresentem outras mulheres para ele."

       Anahí encostou as unhas pintadas de fúcsia na boca e aguardou alguns segundos. "Você transou com ele, certo?"

      Dulce entregou os pontos. "Transei."

       Any arqueou uma sobrancelha. "E então? Detalhes, por favor. Todos."

    Ela suspirou e contou por alto como foi a noite. A sala ficou em silêncio, enquanto as amigas tentavam processar a informação.

    "Meu Deus, Dulce, você conseguiu gozar na primeira vez? ", Any resmungou. "Que sorte! Eu levei um tempão pra descobrir por que é que as mulheres gostavam de sexo, pra começar."

       Dulce inclinou a cabeça. "Não brinca. Você não teve um orgasmo na primeira vez?"

      Any bufou. "Nem perto disso. Até que conheci o bad boy Caleb Street. Ele era três anos mais velho que eu e tinha uma moto. Uma noite, eu fugi pela janela do quarto e fui dar um passeio com ele." Suspirou saudosa. "E que passeio...Depois disso jurei que nunca mais teria nada com caras bonzinhos; eles sempre decepcionam. E você, Maite?"

      Maite mexeu no cabelo preto e passou-o para o outro ombro. "Não. Ele nem sabia o que era um clitóris, quanto mais onde ficava."

     Dulce segurou uma risada ao ouvir a declaração sincera da amiga. "Uau, eu não fazia ideia de que era tão difícil. Na verdade, eu gozei três vezes."

     Elas olharam para Dulce como se, de repente, ela tivesse uma segunda cabeça. "Três?" Any engasgou. "Ele é um mestre."

      Um calor subiu-lhe o rosto, mas também sentiu uma espécie de orgulho inusitado de expertise de seu amante. "Sim, pena que quando soube que eu era virgem ele ficou apavorado e se mandou. Sério, qual é o problema?"

     Maite balançou a cabeça. "Ele provavelmente sentiu que estava se envolvendo demais com você. Quando os homens criam laços, a primeira coisa que fazem é tentar escapar deles. Tipo um lobo capturado por uma armadilha. Eles são capazes de mastigar a própria pata para conseguir se soltar."

       Any riu. "Ótima imagem. Caramba, como se você tivesse dito 'eu te amo e quero casar com você'...Você foi supertranquila em relação a tudo isso. O.k. Vamos repassar aqui. Vocês tiveram uma noite incrível, ele se comportou como um idiota, vocês meio que terminaram, e agora você quer que eu o mantenha na Kinnections e marque outros encontros pra ele?"

         "Exato."

         Maite se inclinou para frente e apoiou os polegares nos joelhos. "Minha querida, você acha que isso é saudável? Talvez fosse melhor você se afastar dele."

       "Não. O que precisamos é selecionar novas mulheres. Eu cometi um erro tático ao achar que poderia forçar o Christopher a acreditar no amor, mas a verdade é que a gente nunca ganharia essa batalha. Temos que juntá-lo com uma mulher que tenha a mesma filosofia que ele. Ele vai se sentir seguro ao lado dela e talvez se abra para um relacionamento de longo prazo."

        Maite balançou a cabeça, concordando, mas Dulce sabia que ela estava só se armando com os argumentos de terapeuta. "O.k. Se é isso o que você quer de verdade...Está pronta para entregar o Christopher para outra?"

        "Sim."

       "Mentirosa." Anahí olhou feio e apontou um dedo para ela. "Você está afim dele. A gente tentou fazer isso antes e ele acabou vindo aqui bater na sua porta e te levando pra cama. O que te faz pensar que não vai acontecer de novo?"

         Dulce cruzou os braços. "Nós nos entendemos agora. Percebemos que queremos coisas diferentes. Além disso, foi preciso tirar o sexo do meio do caminho."

        "E isso te trouxe o dom de volta?"

        Dulce agarrou o copo de vinho e enxugou-o. "Não", respondeu baixinho.

        As amigas suspiraram. "Ah, que merda", reclamou Any. "Eu realmente achei que o sexo fosse resolver. O que a sua mãe falou?"

        "Uma visita já foi estrago suficiente. Ela quase me botou na cadeia, metendo um baseado na minha bolsa. Me recuso a incomodá-la com isso. Vamos seguir em frente e ver se ele volta. Além disso, já estamos no caminho do sucesso, com ou sem meu toque. Não vamos perder de vista o objetivo."

         Maite assentiu, entusiasmada. "A Dulce está certa. Isso está acontecendo por alguma razão, para fazer com que ela dê o próximo passo em uma jornada. Vamos ser pacientes e receptivas. Deixar o universo nos levar."

        "O universo e eu raramente nos entendemos. Eu acho que o sucesso acontece quando você dá um chute na bunda do universo e faz o que bem quer", disse Any.

          Maite lançou um olhar perspicaz. "Talvez você precise de uma sessão de hot ioga."

         "Talvez eu precise de uma sessão de uma outra coisa hot, muito mais agradável." Dulce se esforçou para sorrir. "Estamos de acordo? A Any vai assumir o atendimento do Christopher e nós vamos seguir em frente."

            Any suspirou, contrariada. "Tudo bem. Eu acho este plano uma droga, mas vou obedecer, por sua causa. Pelo menos ele foi gentil em ficar com o Robert enquanto você foi para a feira."

         A lembrança de quando acordou na casa de Christopher voltou à sua cabeça. Toda coberta, com Robert aos seus pés. Ela se sentiu segura, cuidada. Christopher não tinha tentado levá-la para a cama nem se aproveitado da atração sexual entre eles.

           Imaginou-se tomando um belo café da manhã com ele e não conseguiu mais se segurar. Não havia a menor possibilidade de continuar lutando contra o instinto que lhe dizia para se entregar a ele. Então, de madrugada, pegou Robert e saiu de fininho, como se tudo aquilo não passasse de sexo casual.

          Ela se perguntou se ele teria sentido falta dela pela manhã. Talvez não tivesse nem se importado, nem pensado no assunto, ou talvez tenha ficado aliviado por não ter que lidar com a companhia dela. É, ela estava oficialmente louca por Christopher. Tinha que arrumar outra mulher para ele, antes que fosse tarde demais.

          "Olha  está passando Como eliminar seu chefe!", Any gritou.

           Dulce virou a cabeça. O filme clássico das amigas sempre a fazia rir. Maite deu pulinhos de entusiasmo. "Amo esse filme! Precisamos de mais vinho."

         "Eu vou buscar." Dulce marchou até a cozinha para pegar outra garrafa. "Pra mim, o melhor é quando elas ficam doidonas e começam a imaginar maneiras criativas de matar o chefe."

            "Adoro quando elas saem do hospital e depois são flagradas com ele na mala!"

           "Espera!", Anahí gritou. "Tenho uma ideia."

          Dulce e Maite se entreolharam. "Isso nunca é boa coisa, Any. Ou é contra a lei, ou envolve algum gatinho."

          A amiga ficou envaidecida. "É uma noite das meninas. A gente precisa relaxar. Aposto que a Dulce ainda tem aí o baseado que a Branca deu a ela. Não tem, gata?"

         "Você quer fumar?", Dulce deu um gritinho.

         "Claro que sim! Vai buscar."

        Dulce fez uma pausa. Maite parecia intrigada com a ideia. Decidiu que, pelo menos por alguns instantes, não queria mais se preocupar com Christopher, com regras, com nada. Queria só matar o tempo com as amigas e relaxar. "O.k. Vou pegar."

        Tirou-o do bolsinho com zíper dentro da bolsa, revirou a gaveta de tranqueiras atrás do fósforo e voltou para a sala. Sentaram-se próximas, em volta da mesa de centro já gasta enquanto Dolly Parton desfilava seus atributos no escritório do chefe.

           "Não acredito que a gente vai fazer mesmo isso", murmurou Maite. Mesmo assim, tragou com força e segurou o ar. Dulce e Anahí riram feito adolescentes e passaram o baseado entre elas.

            "Vocês tinham que ver a cara do Christopher quando esse troço caiu da minha bolsa!", Dulce comentou, tragando também.

        "O que você falou?", Maite perguntou.

        Dulce bufou. "Eu neguei tudo! Disse que não era meu."

       As três caíram na gargalhada. "Por que os homens complicam tanto a vida?" Anahí resmungou, segurando o baseado com destreza entre os dedos e levando-os até os lábios.

        Maite deu um suspiro sonhador. "Porque eles são a nossa outra metade. Ser complicado faz parte."

       "O professor de ioga está complicando as coisas pra você, Maite?", Any perguntou, maliciosa.

        Dulce observou as bochechas da amiga ficarem rosadas. "Você está tendo um caso com o seu professor?", perguntou, surpresa. Maite era durona quando se tratava de não sair com professores ou alunos. Ela cobrava a si mesma muito mais do que aos outros.

         Maite franziu o rosto e graciosamente roubou o baseado de volta. "Tive um deslize. Um. Dois. O.k. Talvez tenham sido algumas vezes."

            Any se aproximou. "Que divertido. E você está escondendo isso de todo mundo? Vocês transam no estúdio dele ou só à noite?"

         "Nossa." Dulce riu. Maite sempre conseguia surpreendê-la, desafindo as perguntas mais diretas da Any. "Digamos que a posição do cachorro olhando para baixo nunca mais será a mesma pra mim."

         Any respirou fundo. "Muito bem, garota."

        "Não é nada sério. Ele não acredita em monogamia, então não vou ficar com ele por muito tempo."

        Dulce soltou o ar bem devagar. "Christopher também não. Ele acredita em oxitocina. Um hormônio que é liberado depois do sexo, e que dá a impressão de ser amor."

        Maite esticou o baseado para a amiga. "Aqui, amiga. Dá mais um tapa."

       "Obrigada."

      "Eu só digo o seguinte: não precisamos de homem nenhum. Que se danem eles."

       Dulce balançou a cabeça, concordando com a declaração bombástica de Anahí. Engraçado, ela sentia como se sua cabeça estivesse flutuando um pouco acima dos ombros, mas estava bem daquele jeito. Como se fosse uma fada. "É, você está certa. Não precisamos mesmo deles. Só precisamos umas das outras."

        "E de filmes legais", completou Maite.

        "E de vinho", declarou Anahí. "Para sempre."

        "Garotas poderosas!", gritaram juntas

      Ela não se lembrava do que aconteceu depois. O cômodo vibrava, quente e aconchegante, e as vozes das amigas eram música em seus ouvidos. Ela viajou até um lugar mais feliz, onde não se importava com Christopher Uckermann, nem com o próximo encontro dele, nem com a droga da oxitocina. Dali em diante, ela se concentraria na própria jornada, em se divertir e, quem sabe, encontrar alguém que a amasse também.

       Um dia.