Fanfic: Oceanos nada pacíficos | Tema: Romance

Chuva.

As gotas batendo tão forte na minha janela que eu pensei que o vidro fosse quebrar a qualquer momento. Foi assim que começou tudo. Quando eu digo tudo, me refiro às mudanças que aconteceram na minha vida a partir daquele dia.

Não que tudo tenha mudado exatamente naquele dia, pra falar a verdade, as coisas estavam exatamente como sempre foram. Tirando aquela chuva pesada, era mais um dia comum.

Arrumei-me para a faculdade e no caminho bati repetidamente na porta do quarto da Rebecca.

— Rebecca, levanta, já são quase sete da manhã.

Continuei meu trajeto até a cozinha para fazer o café. Coloquei café na minha garrafa e saí apressada antes que eu me atrasasse para a prova. Distraí-me guardando a garrafa na bolsa e acabei esbarrando em alguém e quando levantei o olhar, percebi que não era qualquer alguém. Era o homem mais bonito que eu já tinha visto nesse prédio desde que eu me mudei, aliás, era um dos mais bonitos que eu já tinha visto em toda a minha vida.

Ele era alto, cabelo castanho claro e os olhos azuis mais lindos que eu já vi. Devo ter ficado com cara de retardada admirando ele:

— Está tudo bem, moça?

— Está sim, desculpa, eu estava distraída.

— Imagina, a culpa foi minha. - Ele sorriu e eu juro que minhas pernas bambearam um pouquinho.

Já ia continuar andando até o elevador quando ele me chamou:

— Ei... Se não for incomodar, será que você pode me ensinar como chegar ao supermercado mais próximo? É que eu sou novo por aqui.

— Ah, posso. Se você quiser, eu posso te dar carona até lá, fica no caminho pra mim.

— Tem certeza?

— Claro. - Sorri.

Entramos juntos no elevador e começamos a conversar enquanto chegávamos ao estacionamento.

Caíque.

Caíque era o nome da primeira das várias mudanças que viriam, ele havia se mudado na tarde anterior para o apartamento ao lado do meu e por coincidência iria estudar na mesma faculdade que eu, com a diferença que eu fazia Engenharia civil e ele Arquitetura.

Fomos conversando no caminho até o supermercado e ele me pareceu simpático. Deixei o vizinho gato no supermercado e continuei meu caminho até a faculdade.

Quando eu cheguei ao campus encontrei a Sofia e o Caio. Ele estava bem tranquilo, tranquilo até demais para quem iria fazer prova logo. A Sof, como sempre, parecia desesperada com uma apostila no colo, apesar de provavelmente ter toda a matéria na cabeça.

— Bom dia amores da minha vida. - Abracei os dois.

— Nem adianta falar com a Sof, porque ela só vai soltar esses livros quando for o último segundo.

— Até parece que ela precisa disso.

— Exato. Agora convence ela disso.

— Vocês já podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui. Obrigada. - Ela falou de cabeça ainda abaixada olhando para a apostila.

— Quem não parece preocupado é você, Caio.

— Como se eu fosse cansar minha bela cútis tentando decorar alguma coisa aos 45 do segundo tempo. - Nós rimos. - E a Rebecca, cadê?

— Adivinha.

— Já sei. Ficou até tarde na festa da Amanda ontem?

— Exato. O que não surpreende vindo dela né?

Continuamos conversando e zoando a Sof até dar a hora das provas. A Becca chegou em cima da hora, mas ainda a tempo de entrar. Depois da prova saímos para almoçar em um restaurante próximo e depois fomos para casa.

Cheguei quase na mesma hora que a Rebecca em casa, e o vizinho gato estava saindo de casa quando saímos do elevador.

— Oi. - Ele me cumprimentou sorrindo.

— Oi. - Sorri de volta - Foi muito difícil voltar?

— Nem foi, quando eu terminei as compras a chuva já estava fraca.

— Que bom.

Ficamos em um silêncio meio constrangedor que incluiu eu com cara de idiota babando no sorriso dele, por sorte a Rebecca nos salvou.

— Oi, eu sou a Rebecca. Mas pode me chamar de Becca. - Ela lançou o melhor sorriso matador dela e eu percebi que não tinha a menor chance com ele.

— Eu sou Caíque, prazer. - Ele cumprimentou-a com um beijo na bochecha. - Eu ia adorar ficar aqui conversando com vocês meninas, mas eu tenho que ir. A gente se vê depois.

Logo depois de falar isso ele me deu uma piscada e eu quase pude ver meu corpo derretendo ali no meio do corredor. Eu provavelmente teria ficado parada olhando ele entrar no elevador, mas a Becca salvou o restinho de dignidade que eu ainda tinha e me puxou para o nosso apartamento.

— Ok, nós não conhecemos esse deus grego por quê? - Ela falou jogando a bolsa no chão.

— Porque ele é novo no prédio, chegou ontem a tarde e, por acaso, vai fazer faculdade junto com a gente.

— Espera, o que eu perdi? Quando você virou especialista em vizinhos extremamente sexys?

— Desde que eu dei carona para ele, hoje de manhã, até o supermercado.

— OIII? - Ela quase cuspiu a água que estava bebendo - Espera, você deu carona para o cara mais lindo do nosso prédio e eu não fiquei sabendo?!

— Ah, é verdade, que pessoa horrível eu sou, é óbvio que eu deveria ter pedido para adiarem a nossa prova e eu poder te contar isso, né Becca?

— Óbvio. - Ela parecia séria, mas começou a rir, junto comigo.

— Bom, o fato, minha querida Bárbara, é que você precisa investir nesse boy, não se fazem mais vizinhos com um sorriso daqueles.

— Até parece Becca. Depois daquele seu sorriso matador para ele, eu não tenho a menor chance.

— Vai me dizer que você não viu?

— Não vi o que?

— Ah pelo amor de Deus, eu só faltei babar em cima dele e parecia que eu nem tava ali também, que só você estava lá conversando com ele.

— Ah, cala a boca, Becca, não teve nada disso.

— Ah não?! Então me diz pra quem foi que ele piscou quando foi embora? - Eu ia responder, mas ela me interrompeu - Reflita sobre isso enquanto eu vou tomar banho, migs.

Ela foi tomar banho, enquanto eu fiquei rindo das bobagens dela. Quer dizer, até parece que um gato daqueles ia me dar mole com a Becca do meu lado. Não me interpretem mal, não tenho autoestima baixa nem nada disso, eu me considero bonita, mas a Becca é aquele tipo de garota que atrai todos os olhares por onde anda. Então eu meio que fico apagada ao lado dela e NÃO, eu não tenho inveja dela, nossa amizade é forte demais para ter espaço para isso. Desencanei da ideia louca dela e fui tomar banho também.

Passei o resto da tarde estudando e a noitinha, fui para a sala ver TV.

— Eu não estou com a menor paciência para cozinhar hoje. - A Becca falou se jogando ao meu lado no sofá.

— Somos duas então.

— A gente podia pedir pizza.

— Metade muzarella, metade portuguesa?

— E uma Pepsi.

— Eu ligo.

— E eu arrumo a mesa.

Levantei do sofá e fui ajeitar tudo na cozinha enquanto a Becca ligava para a pizzaria. Vinte minutos depois a pizza chegou e eu fui atender. Já estava fechando a porta quando vi uma loira estonteante tocar a campainha do Caíque e os dois conversarem na porta, fiquei observando a cena até que ele pareceu me notar. Fechei a porta o mais rápido que pude.