Fanfic: A dama de Vermelho (Vondy) Terminada

Arriscou outro
olhar na direção de Christopher, que con­tinuava curioso a respeito do que
acontecera.

- Eu poderia lhe
contar mais detalhes - disse a ele - mas a regra número três me proíbe de fazer
isso.

Christopher revirou
os olhos. - Pensei que houvéssemos colocado um ponto final nessa história.

- Concordei com
isso. - Fingindo inocência, ela acrescen­tou: - A menos  que queira trazê-la à tona novamente. Afinal,
é o chefe e pode desfazer as regras quando quiser...

- Obrigado pela
oferta, mas eu a dispenso - replicou ele.

- Vai deixar
Manchado aqui?

- Bem, não sei
quais são os planos dele para o fim de semana. Terei de conversar com ele
primeiro.

Christopher
respirou fundo, esforçando-se para manter a paciência. - Eu gostaria muito que
o convencesse a ficar por aqui. Talvez Joel possa cuidar dele.

- Vou sugerir isso.

- Obrigado.

- Que tipo de roupa
terei de levar?

- Tailleurs, um ou
dois vestidos para coquetel, roupas in­formais para um piquenique e um biquíni.

Dulce empalideceu.
- Um biquíni? - repetiu, em um fio de voz.

- Há um lago onde
acontecerá o piquenique e...

- Não sei nadar.
Isso é tudo? Preciso voltar para o trabalho.- Ela ficou de pé.

Christopher também
ficou. -       Por que um anjo teria medo
de um lago de águas rasas? -   perguntou
ele, com gentileza.-Pensei que não tivesse medo de nada.

- Ficaria surpreso
se soubesse o que sinto. Nadar é um dos meus medos. - Dulce olhou para o bebê.
- Lamentar os caminhos que não segui é outro.

- Não saia ainda.

Sem dar atenção ao
pedido, ela seguiu até a porta. Contudo, antes de sair voltou-se novamente para
ele.

- Você não sabe
quanto tem sorte. Tem idéia do eu daria para ter um futuro e ter chances de
escolher, como você?

- Dulce, por
favor...

- Você tem uma
chance, Christopher. Uma chance de ter tudo: amor, casamento, filhos... Nunca
saberei o que é ter tudo isso. E mesmo tendo tudo à mão você...

Ela não terminou a
frase. Tomando Kip novamente nos bra­ços, escondeu o rosto na manta do bebê por
um instante.

- Você não
entende... - Christopher tentou explicar, mesmo sa­bendo que não conseguiria.

Não podia falar sobre
Emily nem sobre o tormento que o per­seguia nos últimos dois anos. Segurar Kip
nos braços fora tão torturante para ele quanto estava sendo para ela. Ele
também tinha um filho em algum lugar. Uma criança que deveria ser um pouco mais
velha do que Kip, mas cujo rosto ele desconhecia.

- Tem razão -
murmurou ela. - Não entendo. Nem nunca entenderei.

Sem dizer mais
nada, Dulce se retirou, deixando Christopher con­fuso e pensativo ao mesmo
tempo.

- Tem certeza de
que não se lembrarão de você? - indagou Christopher, quando os dois entraram no
saguão do Hotel Grand Majesty.

Dulce riu. - Sim,
eles se lembrarão de mim.

Christopher admitiu
que a pergunta fora idiota. Quem conseguiria se esquecer de Dulce depois de
conhecê-la?

Quando eles se
aproximaram da recepção, bastou um olhar para Dulce e o atendente empalideceu.

- Srta. Saviñón?

- Olá, Tick! Como
vão os negócios por aqui?

- Bem melhor,
obrigado. Veio se hospedar no hotel? - perguntou ele, com uma expressão
apreensiva.

- Receio que sim.
Mas não se preocupe. Prometo que ficarei bem longe dos encanamentos.

Um sorriso de
alívio surgiu no rosto dele. - Os donos do hotel ficarão muito satisfeitos ao
ouvir isso.

Aproximando-se mais
do rapaz, ela sussurrou: - Chuck cuidou de tudo?

- Oh, o Sr. Cross
fez um trabalho excepcional - respondeu o atendente, no mesmo tom de
confidência.

- Ótimo. - Ela
sorriu. - Ele é mesmo muito bom.

- Podemos assinar
as reservas, por favor? - sugeriu Christopher, decidindo acabar com aquela
conversa sem sentido.

- Claro, senhor -
respondeu Tick, abrindo o livro de ime­diato. - A reserva está no nome da srta.
Saviñón?

- Não. Meu
sobrenome é Uckermann. A reserva foi para dois quartos.

O atendente
conferiu os dados no computador.

- Oh, está aqui.
Vocês ganharam uma suíte dupla, sem nenhum custo adicional.

- Ora, muito
obrigada, Tick - Dulce agradeceu. - Foi muita gentileza do pessoal do hotel.

- O Sr. Jenson
ainda tem muita estima por você - confi­denciou Tick, em um sussurro. - Foi ele
quem mandou que fizéssemos isso.

Dulce também
abaixou o tom de voz. -       Agradecerei
pessoalmente a ele, pode deixar.

Christopher
tamborilou os dedos sobre o balcão, com impaciência.

- Quem é Sr.
Jenson?

- Um dos donos -
explicou ela. - Ele foi o escolhido para minha décima primeira missão. Um
grande fracasso, mas não posso culpá-lo por isso.

- Claro que não. - Christopher
pegou o envelope com as chaves dos quartos. - Peça que nossa bagagem seja
entregue o mais rápido possível, sim?

- Pode deixar,
senhor - respondeu Tick.

Os dois entraram no
elevador panorâmico logo em seguida.

- Qual foi sua
missão com esse tal Sr. Jenson? - per­guntou Christopher.

- Convencê-lo a
deixar o neto administrar o hotel. Só que havia um problema: quanto mais eu
tentava ajudar Ralph, mais ele se atrapalhava.

- Coitado do rapaz.

- Infelizmente, o
único anjo disponível para o caso dele naquele momento era eu mesma. Meu
trabalho não foi dos melhores.

- Ele não conseguiu
o cargo?

- Digamos que Ralph
tinha um pequeno problema com senso de autoridade.

- Ele não gostava
de receber ordens? - indagou Christopher.

Dulce riu.   - Na verdade, ele não gostava de dá-las.

- E como você
resolveu o problema?

Dulce se tornou
séria de repente. - Não consegui resolvê-lo. Chuck teve que vir me substituir e
consertar meu fiasco, depois da inundação do hotel.

A essa altura, já
estavam no corredor que ia dar nos quartos e Christopher virou-se para olhá-la,
espantado.

- E o que provocou
a inundação?

Pensei que se
surgisse uma situação de emergência Ralph seria forçado a dar ordens.

Christopher abriu a
porta do quarto reservado para ele próprio. -E...?

Dulce suspirou. -Bem,
ele entrou em pânico. Em vez de agir rápido, ele
chamou os bombeiros. Mas quando eles chegaram, o estrago já havia sido feito.
Por isso Gentil me tirou da missão e mandou Charles Virtuoso para me substituir.

Christopher arqueou
uma sobrancelha, incrédulo. -Virtuoso? - Quando Dulce assentiu, ele
acrescentou: - História divertida, srta. Saviñón.

- Mas é verdade!

- Sim, você nunca
mente.

- Nunca.

-Apenas... modifica
um pouco a verdade?

Dulce levantou o queixo.
-Nada disso - respondeu. - Não é permitido.

Cansado de ouvir
tanta maluquice, Christopher observou o quarto. - Lugar bonito - disse. - Deve
ser muito bom ter amigos influentes.

- Às vezes. - Dulce
sorriu. - Oh, veja! Deixaram uma cesta de frutas sobre a mesa de refeições.
Aposto que foi idéia do Sr. Jenson.

- Muito gentil da
parte dele.

Ao ler o cartão
deixado sobre a cesta, Dulce ficou boquiaberta.

- Acho que me
enganei. A idéia foi de Ralph e... Meu Deus! Ele se casou com Ruthie Evans, a
camareira! Isso deve ter sido alguma proeza de Chuck. - Olhou para o teto. -
Por que não pensei nisso? Ela seria uma ótima esposa para Ralph.
Afinal, nunca entrava em pânico em momentos difíceis...

- Lá vem a palavra
novamente - protestou Christopher. Dulce voltou a olhá-lo, surpresa.

- Que palavra?

- Esposa.

Ela sorriu. - Acha
que meu método de trazer o assunto à tona não foi muito sutil?

Ele arqueou uma
sobrancelha. - Você acha que foi? - respondeu com outra pergunta. - Enquanto
pensa na resposta, vou sair para meu primeiro com­promisso. Dessa vez, não
precisa me acompanhar. Aproveite para descansar porque teremos um banquete essa
noite. Pre­pare um de seus vestidos mais formais.

- Christopher?

- Sim?

- Eu não ia repetir
isso, mas talvez algum dia você acredite quando eu lhe contar algo. Eu nunca
minto. Lembra?

Christopher sorriu.
- Tentarei me lembrar. Agora preciso ir.

- Estarei aqui
quando você voltar - Dulce prometeu. Um sorriso charmoso curvou os lábios de Christopher.

- Sabe que eu
poderia me acostumar a ouvir isso?

Alguns minutos
depois que ele havia saído, Dulce continuava de pé no meio do quarto, aturdida
com a conclusão a que che­gara. Ela própria também poderia se acostumar a dizer
aquilo.

- Dulce?

Ela abriu os olhos
devagar, despertando aos poucos. - O quê? Quem está aí?