CAPÍTULO 002

01 nov. 2016.

Agora ruiva dos cabelos lisos, terminando em pontas cacheadas, Dulce Saviñon respirava com dificuldade, passando, nervosamente, seu hidratante sobre seu corpo. Em quatro dias fariam quatro anos que veio morar ali em Veneza com seu pequenino à procura de paz, à procura de uma nova vida, longe de seu grande amor. Este que a machucou profundamente, mesmo não sabendo que cometeu a dor nela. Mas cometeu e foi por esse motivo que ela decidiu terminar tudo com ele e ir para longe. No começo foi doloroso para ela, porque morava em Calgary desde muito pequena com os pais. Passou por tantas coisas, e surpreendemente a traição era a que mais convivia em sua vida, afinal quando completaria seis anos sua mãe fugiu com o amante para Roma e durante a viagem morreu em um acidente de avião. Dulce lembrava-se muito bem daquela época, seu pai foi o que mais sentiu, ela somente o via chorando pelos cantos, porém ele nunca confessara a ela o motivo da sua tristeza. Soube da morte da sua mãe na adolescência. Apesar de tudo, Dulce foi criada com muito amor, paciência e ensinamentos, seu pai se esforçou muito para cria-la sozinha.

Outra vez que Dulce viu Marlon Saviñon, seu pai, tão arrasado foi quando começou a namorar com Christopher, ao quatorze anos, depois quando noivou com o mesmo e por fim nunca tinha o visto tão melancólico, quando ela lhe disse que iria morar em Veneza. Foi difícil para ambos, Marlon não aceitava perder sua única preciosidade: sua filha. Ele pensava que ela fugiria dele assim como a mãe fez, era irredutível! Mas depois que ele começou a ficar mais em Veneza do que em Calgary, ele voltou “a falar normalmente” com a filha.

Céus, estava morrendo de saudades de seu pai!- ela pensou vestindo um vestido preto básico, observou seu filho ressonando. Era um anjinho.

Pegou seu celular e arregalou os olhos com a quantidade de chamadas perdidas. Havia vinte noves chamadas perdidas de Jonathan, trinta e sete chamadas de Clara e por último três chamadas perdidas de Lara.

A única pessoa que Dulce mantinha contato da família Uckermann era Lara, apesar que confiasse demais nela lhe omitia o pequeno Heitor, seu filho. Temia que Lara comentasse, mesmo que sem querer para Christopher e sem nenhuma hesitação ele arrancaria Heitor de seus braços. Também havia a pequena, esperta e quieta Melgace. Melgace filha de Bianca. Sim, Dulce criou a pequenina por Maite morrer no parto, a gravidez era arriscada desde do principio, mas infelizmente Maite e o outro pequeno bebê não suportaram e faleceram. Dulce jamais abandonaria aquela pequenininha tão indefesa, tão linda, tão perfeita como era/é Melgace, não teria motivos de odiar a pequena criança, céus ela não tinha culpa de nada!  Dulce não era e nunca foi uma sem coração, não poderia ter abandonado aquelas safiras hipnotizantes, não mesmo. E não se arrepende também, obviamente, amava Melgace demais, apesar de que fosse uma criança bastante reservada.  Melgace era quatro meses mais velha que Heitor.

Dulce descobriu que estava grávida no dia que soube de Maite e Christopher. Céus, ela jamais descobriria dos dois se cartas e avisos, fotos dos dois tão próximos não estivessem chegado a si. Foi extremamente doloroso para ela, insuportavelmente foi quando descobriu por uma Maite muito abalada a notícia: ela engravidara, acidentalmente, de Christopher. Sim, Maite confessou a Dulce isso pedindo muitos perdões. Dulce jamais se esquecera daquele dia.

“5 de Novembro, 2012.

 Dulce desligou seu carro mirando suas pequenas esmeraldas para o edifício a sua frente. Não fazia a menor ideia da urgência de Maite lhe chamar.

Ela suspirou mais algumas vezes e logo choramingou, encostando sua testa ao volante.    Fazia dois dias que cartas chegavam até ela, avisando-a sobre o envolvimento de Christopher com alguma mulher, sua infidelidade. Mas ela as ignorava, jamais acreditaria em cartas. Achava a pessoa que escrevia as cartas muito covarde e mentiroso, pois se realmente era verdade, por que ela não lhe dizia pessoalmente?

Olhou para o retrovisor do carro e abriu a porta, finalmente saindo e fechando a mesma logo em seguida. Travou o carro e caminhou em direção ao porteiro velhinho, mas de cabelos da cor preta.

- Olá senhorita – ele a saudou com um sorriso sincero.

- Olá senhor, a senhorita Maite se encontra? – indaga relutante e um pouco sem jeito.

- Oh, sim... Você deve ser a senhorita Saviñon, a senhorita Maite realmente está te esperando. Por favor, siga-me lhe mostrarei onde ela está.

Então ele liberou o portão, esperando Dulce juntar-se a ele. Caminharam em um total silencio até um elevador.  Ele entrou e segurou a porta do elevador, até ela entrar também.

- Obrigada.

O porteiro sorriu para logo apertar no quinto andar. Assim, que chegaram ao andar desejado o porteiro apontou para a porta a sua frente.

- É só bater, ela está a sua espera, senhorita. – disse, voltando a entrar no elevador.

- Por favor, espere. – relutante ela pediu. E o porteiro segurou a porta que estava se fechando.

- Sim?

- Obrigada – Dulce somente agradeceu, desistindo de fazer um pedido ao homem.

- Eu que agradeço senhorita – ele sorriu em um gesto educado e então as portas do elevador fecharam e Dulce ainda ficou encarando.

- Dulce?

Dulce estremeceu ao ouvir seu nome.

- Olá, Maite. – virou-se e encontrou a moça totalmente diferente da forma habitual que costuma ver. Ela era sempre tão caprichosa, os fios de seus cabelos nunca estavam fora do lugar, sempre tão penteados e arrumados, seu rosto sempre com maquiagem fortes, mas não vulgar. Os olhos castanhos e profundos sempre estavam marcados por camadas expressas de lápis e rímel juntamente com seu habitual batom roxo.

- Dulce – Maite soluçou e logo abraçou Dulce, fazendo-a sair de seus devaneios.

A pobre Dulce solta um suspiro. Maite realmente estava um caos. Na verdade, sua aparência estava um caos, olhos muito avermelhados assim como seu nariz, além das profundas olheiras que davam maior destaque em seu rosto bonito, incrivelmente estava sem maquiagem, já que tinha muitas sardas em seu rosto o que normalmente era difícil de perceber por conta de tanta maquiagem que a moça usava.

- Dulce, por favor, me perdoe! Por favor, me perdoe! – Maite suplicou para logo cair de joelhos e abraçar as pernas de Dulce.

- Maite! Maite, pare com isso! – o tom de voz de Dulce foi firme. Puxou Maite pelo braço.

- Eu juro que não foi minha intenção. Por favor, eu suplico me perdoe e não me odeie, foi um erro. Uma loucura, pode ficar tranquilos eu irei abortar...

- MAITE – Dulce gritou, estremecendo ao ouvir o “abortar” da secretária de Christopher.

Então Maite começou mais uma crise de soluços e lágrimas.

- Que história é essa de abortar, Maite? Matar um inocente? – Dulce perguntou indagou, tentando manter a compostura.

- Eu não queria estragar a vida de vocês e se essa criança nascer é exatamente isso que acontecerá – sussurrou, soluçando baixinho.

- Estragar nossas vidas? Do que você está falando, Maite?

- Ai meu Deus, ele não te contou! Ai meu Deus eu sou um monstro. – tampou o rosto com as mãos chorando compulsivamente novamente.

- Por Deus, Maite, pare de chorar! – Dulce pediu, em uma voz doce. – Respire fundo e fale, querida.

Maite engoliu o choro, seus lábios tremiam. E então a encarou.

- Eu e o senhor Uckermann... Ai meu Deus – voltou a chorar e Saviñon passou suas mãos trêmulas pelo cabelo.

Então um súbito silencio se fez.

- O que vocês dois fizeram, Maite? – a voz de Dulce Saviñon, vacilou. As peças começavam a se encaixar. – Você e Christopher tiveram um relacionamento sexual?

A secretária nada respondeu e muito menos a olhou, somente aumentou seu choro.

 - Maite, me diga, por favor, caramba! – elevou um pouco mais a voz.

- Sim, Dulce, por favor, me perdoe! Foi um acidente! – a mulher suplicou em uma voz tremula, sem conseguir levantar o rosto.

Dulce sentiu uma enorme dor crescer em seu peito e sem ao menos perceber dava alguns passos para trás.

- Um acidente? – Dulce vociferou, mas logo de uma risada sarcástica. – Quantas vezes?

- O que? – Maite ergueu a cabeça, arregalando os olhos. – Senhorita Saviñon, por favor!

Certamente não queria dizer quantas vezes se relacionou com seu patrão, nem ao menos se lembrava.

- Quanta vezes, Maite? – rugiu.

- Não sei ao certo, talvez três ou quatro...

- Você está de quantas semanas?

- Senhorita... Eu irei abortar.

- QUANTAS SEMANAS? – Dulce perdeu totalmente a compostura e gritou, percebendo que sua voz ameaçava embargar. – só me diga, preciso ir embora. – disse numa voz baixa e cansada. Oh, se o tom da sua voz aumentasse um pouquinho mais, Maite perceberia que Dulce estava acabada, prestes a se encolher no chão e chorar como um bebezinho.

- Onze semanas de gravidez, senhorita Saviñon.

- Okay – respirou fundo, engolindo um choro. Não choraria, não agora! – Me escute bem, Maite! – se aproximou da secretária, pegando seu queixo para que ela a olhasse. – Você em hipótese nenhuma irá abortar esse filho. Estamos entendidas? – seu olhar era frio e calculista, Maite reparou. – Estamos entendidas? – repetiu mais uma vez, rangendo os dentes.

- S-sim – gaguejou.

- Ótimo. – Dulce se distanciou da menina indo em direção ao elevador.

- Senhorita Saviñon, o que está pensando em fazer? – indagou baixinho. – Não quero parir um filho bastardo, prefiro abortar.

Dulce fechou os olhos com força e encarou as portas metálicas do elevador com ódio. Sorte que estava de costas para Maite. Com certeza a mataria só com o seu olhar.

- Você não irá abortar, Maite! Vida nenhuma tem que se responsabilizar por atos de irresponsáveis.

Quando Dulce terminou de falar o elevador apita, abrindo as portas.

- Passar bem! – entra no elevador e direciona seu olhar para frente encontrando o olhar da menina.”

A noite tem mais continuação desse capítulo... HEUEHEUEHEU. Altas revelações, e aí o que acharam???????????????? Gostaram? Continuo?

Um beijo e um Queijo,

Fuime~