Fiquei parada na porta do quarto de Poncho como uma sonsa. Na verdade, eu não queria dizer nada a ele. E certamente não ia me oferecer para fazer nada por ele, como eu tinha insinuado para Christopher. Fiquei ali por alguns segundos e estava prestes a me virar quando vi Christopher vindo em direção ao quarto com um sorriso de escárnio no rosto.
-Poncho já te expulsou do quarto?
-Perdão? -retruquei, fuzilando-o com o olhar.
-Você está plantada no corredor toda envergonhada. -disse, e deu de ombros ao parar do meu lado. -Imaginei que você tivesse sido dispensada.
-Os homens não me dispensam. -declarei, erguendo a cabeça a fim de evitar olhar para o peitoral dele.
-É verdade, você não é bem o tipo que um homem dispensaria. -declarou ele, lambendo os lábios. -Eu acho...
-Posso ajudar, Christopher? -interrompi-o, sem querer começar uma sessão de flertes com ele.
-Você está tão sexy agora de manhã. -disse ele, analisando minha regata e meus shorts curtos.
-Tá, e daí? -eu não me deixaria ceder novamente.
-E isso me dá vontade de beijar você.
-Não quero beijar você. -falei com um sorriso cínico. -Eu não repito o prato a não ser que a comida esteja muito, muito boa. -olhei-o de cima a baixo. -E você, Christopher Uckermann, não foi tão bom assim. -menti, mas o orgulho me fez tentar atingi-lo.
-Não? -retrucou ele com os olhos arregalados, e sorriu. -Você chama de Sr. Língua todo cara que conhece?
-Você é bom para me chu/par. -falei, enrubescendo. -Mas é só. Eu não dormiria com você de novo.
-Então a única parte boa em mim é a língua?
-É. -assenti. -E todo homem tem língua, por isso nem é algo especial.
-Então sou um homem mediano que tem uma habilidade mediana com a língua e péssimas habilidades na hora de fo/der? -sugeriu ele, inclinando a cabeça para o lado e analisando meu rosto.
-Sim, habilidade mediana com a língua e nota zero na cama. -menti, incapaz de falar "fo/der" em voz alta.
Eu me perguntei se meu rosto me desmentiu. Christopher tinha habilidade nota dez tanto com a língua quanto para fod/er. Meu corpo esquentou conforme conversávamos, lembrando-me de que estava contando uma mentira deslavada.
-Mediana e zero? -repetiu ele, estreitando os lábios. -Hum, estou caindo no seu conceito.
-Sinto muito, eu não quis ser grosseira antes, sabe como é.
-Sei. -ele assentiu, pegou minha mão, abriu a porta do quarto de Poncho e me puxou com ele.
-O que está fazendo? -ofeguei quando me empurrou contra a porta e se postou diante de mim. Ele não respondeu, e seus olhos zombavam de mim enquanto aproximava o rosto. -O que está fazendo? -repeti, quando ele desceu a boca até a minha.
Seus lábios eram firmes ao desabar sobre os meus, e sua língua deslizou para minha boca com facilidade. Gemi quando sua rigidez pressionou minha barriga e retribuí o beijo por alguns segundos antes de me lembrar de onde estávamos. Que mer/da, o que Poncho devia estar pensando?
-O que acha que está fazendo? -empurrando-o passei os olhos pelo quarto loucamente, com o rosto muito vermelho.
-Poncho não está aqui. -disse ele, levantando uma das sobrancelhas, e riu. -Pode parar de fingir que ficou afrontada.
-Não estou fingindo nada. -declarei, fazendo cara feia. -Onde ele está? E, se você sabia que ele não estava aqui, por que disse que ele me expulsou?
-Não faça joguinhos comigo, Dul. Não sou o tipo de cara que gosta de joguinhos.
-Que joguinhos? -guinchei.
Ele sabia que eu não tinha o menor interesse em Poncho? Que constrangedor.
-Olha, eu sei que a situação é desconfortável e sei que você deve estar magoada, mas me comprometi com sua irmã. Mesmo se eu quisesse voltar atrás, não seria algo muito cavalheiresco da minha parte.
-Mas você não é um cavalheiro.
-Não, eu não era. -suspirou ele. -Eu ia atrás do que queria quando queria e, se não conseguisse com facilidade, eu ia lá e tomava de qualquer jeito, mas a vida é maior do que meu ego.
-Tudo bem. -dei um passo para longe dele, pois parecia que ele ia me beijar de novo. -Que bom para você e sua vida perfeita.
-Dul, só estou dizendo que não precisa fingir que está a fim do Poncho.
-Não estou fingindo. -insisti, balançando a cabeça para ele, de sa/co cheio de sua arrogância. -Ele é bonito, solteiro e, ao que parece, um homem adorável. Estou interessada em conhecê-lo melhor. É tão difícil acreditar nisso?
-Ele é meu irmão. -disse ele, de cenho franzido, nem sinal daquele sorriso convencido.
-E daí? Annie é minha irmã. -rebati, olhando-o nos olhos. -Você parece não ver problema com isso. Acho hipócrita da sua parte não querer que eu namore seu irmão.
-Para que namorar meu irmão se sou eu quem você deseja?
-Não desejo você, Christopher. Você é que parece me querer. O que acha que Annie diria se soubesse que você acabou de me beijar?
-Não me importo. -rosnou ele. -O que Annie e eu temos é uma relação comercial.
-Bom para vocês.
-Você não entende. -disse ele, balançando a cabeça, depois me agarrou pela cintura e me puxou para perto. -O que houve com aquela garota despreocupada e divertida que conheci no final de semana passado?
-Ela foi embora quando me apresentaram você como o noivo da minha irmã.
-O que posso fazer para mudar isso? -seus dedos afastaram do meu rosto alguns fios de cabelo. -Não quero mais discutir.
-Não estou discutindo. Estou expondo os fatos. -dei de ombros e tentei afastá-lo de mim, mas dessa vez não consegui empurrar seu corpo. Minhas mãos estavam achatadas no peitoral dele, e eu engoli em seco. Por que ele tinha que dificultar tanto? Por que não me deixava em paz?
-Ainda precisamos ser amigos, Dul. -disse ele, passando os dedos pelos meus lábios. -Vamos nos tornar uma família.
Quase vomitei ao ouvir isso.
Quer dizer, esse cara estava falando sério?
-Christopher... -falei, olhando-o nos olhos. -Não tenho a intenção de vê-lo novamente depois deste final de semana, a não ser no casamento. Não precisamos ser nada.
Nossos olhares se encontraram e nos encaramos por alguns segundos, e notei que ele estava refletindo.
Esperei que dissesse que eu estava sendo tola. Que é claro que nos veríamos outras vezes.
Esperei que me repreendesse e me chamasse de imatura.
Esperei que me falasse que eu estava agindo como uma garotinha boba. Eu sabia que não tinha a menor possibilidade de vê-lo só no casamento e depois nunca mais. Apesar de todas as nossas brigas e discussões, minha família era unida, e meus pais não me deixariam furar todos os jantares e reuniões, mesmo que eu quisesse.
Fiquei ali encarando-o impassível e esperei que me dissesse que eu era imatura, mas, em vez disso, ele começou a rir. Impressionada e chocada, observei a gargalhada tomar conta de seu rosto: seus olhos brilhavam, sua boca estava aberta, e sua cabeça pendeu para trás.
-Qual é a graça? -perguntei em tom suave, com ainda mais raiva dele. Eu odiava não entendê-lo e não ser capaz de entender suas intenções. Odiava amar isso nele. Odiava querer conhecê-lo melhor. Odiava o fato de que nunca teria a chance de aprofundar a relação com ele.
-Você. -respondeu ele, então respirou fundo e, por fim, parou de rir. -Você é uma lufada de ar fresco. -disse, sorrindo para mim. -Sim, você também é um pouco chata, mas é uma lufada de ar fresco.
-Tá bom, obrigada, então.
-Quero fazer amor com você de novo. -sussurrou ele, e sua expressão tornou-se luxuriosa enquanto ele dava um passo em minha direção.
-Não, nós não podemos. -falei, e mordi o lábio inferior.
-Ah, podemos fazer o que quisermos. -sorriu, se virou e trancou a porta antes de voltar até mim.
-O que está fazendo? -perguntei, chocada, quando ele tirou a cueca e ficou nu para mim, seu p/au já atento.
-Estou mostrando que não sou nota zero na cama. -ele sorriu e deu mais um passo à frente. -Gosto de um bom desafio.
-Christopher. -resmunguei quando ele me puxou para si. Meu corpo tremia de expectativa, e me senti culpada e confusa. -Não podemos... -ele me interrompeu ao me pegar no colo e me jogar na cama. Arrancou com os dedos meus shorts e minha calcinha antes de se deitar sobre mim e beijar meu pescoço. -Christopher. -gemi, e mexi o corpo contra ele. -Não podemos.
-Podemos, sim. -seus dedos desceram por minhas pernas e me acariciaram com delicadeza. Fechei os olhos por dois segundos e aproveitei a excitação que percorreu meu corpo. Então, empurrei-o para o lado e rolei para fora da cama.
-O que você está fazendo? -ele piscou para mim, surpreso, quando peguei a calcinha no chão.
-Vou embora. -declarei, e esfreguei os lábios para me livrar do gosto dele. -Você não pode me possuir sempre que tiver vontade.
-Por que não? -perguntou ele, de cenho franzido, e eu estava prestes a protestar quando ele riu. -Não estou falando sério. -ele suspirou e se sentou. Olhei para baixo e vi que sua masculinidade estava rígida e pronunciada. Ele também olhou para baixo a fim de ver o que eu estava observando e sorriu. -Pois é, é assim que você vai me deixar.
-Peça a Annie para ajudar você. -disparei, irritada.
-Isso sempre vai ser um problema entre nós, não é?
-O que você acha? -retruquei, olhando para ele sem acreditar. Para um cara inteligente, até que às vezes Christopher podia ser bem burro. Observei-o saltar da cama, se debruçar, pegar a cueca e vesti-la. Em seguida, ele olhou para mim com um sorriso preguiçoso e deu de ombros.
-Então, seus pais parecem legais, e acho que eles gostaram de mim. -comentou casualmente, como se fosse a coisa mais normal de se dizer naquela situação.
-Eles são legais. -me segurei para não dizer que eles não seriam tão legais assim se soubessem que tipo de cara ele era.
-Acho que vou gostar de tê-los como sogros.
-Que bom.
-Vão ser ótimos avós.
-É. -desviei o olhar, porque estava louca para tirar aquele sorriso presunçoso da cara dele com um belo de um tapa.
Qual era o problema dele?
Como podia tentar dormir comigo e depois falar dos meus pais?
-Não tem mais nada a dizer? -perguntou ele, estreitando os olhos enquanto me observava.
-O que mais você quer que eu diga? -repliquei, olhando-o nos olhos.
-Não sei, algo que me diga que estou cometendo um erro. -ele deu de ombros, indiferente.
-Quem vai cometer esse erro, ou não, é você. -eu não ia cair nessa armadilha de novo. Não ia dar a entender que o desejava.
-Ah, ha, então você acha que estou cometendo um erro?
-Não me importo com o que você faz. -menti, e me virei. -Vou voltar pro meu quarto agora.
-Mas Mai está lá com Chris e Will.
-E daí? -perguntei.
-Você não quer ficar segurando vela.
-O quê?
-Mai está a fim de um deles, não está?
-Como sabia?
-Era óbvio, ela estava reluzindo de orelha a orelha. -disse ele, e deu de ombros. -Não acho que foi por minha causa.
-Não que isso fosse um problema para você, né? Você adoraria ter três mulheres desta casa aos seus pés.
-Então você está dizendo que duas mulheres desta casa me desejam? -ele sorriu e levantou uma das sobrancelhas.
-Não. -respondi depressa. -Agora me diga, quem você acha que gosta de Mai?
-Quem? -indagou ele, rindo. -Acho que Mai tem um pequeno problema.
-Ah, é? -franzi o cenho e esfreguei a testa. -Você não acha que nenhum dos dois gosta dela?
-Ah, pelo contrário. -disse Christopher, passando a palma das mãos pela barriga. -Acho que os dois gostam dela.
-O quê? -perguntei, olhando-o nos olhos para ver se estava falando sério.
-Acho que seus dois irmãos estão interessados em Mai. -reforçou ele, assentindo. -Com sorte, os dois não tentaram alguma coisa com ela ao mesmo tempo. Ela está interessada em um deles, não está?
-Sim. -confirmei, e mordi o lábio inferior.
Como ele sabia que meus irmãos gostavam de Mai?
O que isso significava?
Como Chris se sentiria se Mai e Will começassem a namorar?
Mai gostava de Will e era óbvio que ela o escolheria, não era?
-Vai me dizer qual dos dois?
-Não. -falei, balançando a cabeça, e me voltei para a porta. -Não é da sua conta.
-Você vai ser sempre assim, Dul? -indagou ele, e me segurou pelo ombro. -Será que não podemos ser só amigos?
-Não, não podemos. -respondi, abrindo a porta, e saí do quarto.
Quem diabos Christopher Uckermann achava que era?
Ele achava mesmo eu podia esquecer tudo e ficar amiga dele?
Ele realmente achava que isso era possível?